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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

PERDI O SONO - M.luiza de C.Malina






PERDI O SONO
M.luiza de C.Malina

Uma noite eu não conseguia dormir.

Girava e desvirava.  Acabei levantando.

“Vou fazer como minha irmã. Saio da cama e tiro o pijama. Desço a escada, abro a porta e já estou fora de casa”- pensei

Lá fui eu!   A rua estava meio escura.  Fui até a esquina, como quando a gente passeia com o Tutu, nosso cachorrinho.  Não passava nenhum carro na rua.
“Opa, onde estou?”

Achei melhor perguntar para um homem de capa preta.

— Moço, o senhor sabe onde eu moro? É que eu não sei.

— Ah! Menino, eu sei sim. Vou te levar pra casa. O que você está fazendo aqui fora pelado?

— Eu acordei, tirei o pijama e vim passear. A gente não passeia de pijama, não é? 

— Sua mãe vai levar um susto muito grande!

O vigia da rua olha as horas. São 3:00 da manhã, mas precisa tocar a campainha.

A correria da campainha se tornou um alvoroço maior com a surpresa do “malandrinho” correndo para os braços da mãe, justificando muito feliz:

— Fui passear e o Tutu não foi comigo!

— Dona! Olhe, o seu filho  saiu para a rua a esta hora da madrugada, e  saiu assim, pelado! Eu estava quase cochilando na guarita quando senti uma coisinha se mexendo no outro lado da calçada, pensei que estava sonhando. Firmei bem os olhos e vi que era seu filho, saí correndo e o trouxe. Agora, se ele virasse a esquina, nunca mais a gente iria encontrá-lo!

— Fui passear mamãe, e o Tutu não foi comigo!  - repeti.

Tudo em ordem. O guarda aconselha:


—Dona, sua casa precisa  de muro e portão. Vai que eu durmo numa noite destas!

À PROCURA DO NOSSO CRAQUE! - Dinah Ribeiro de Amorim



À PROCURA DO NOSSO CRAQUE!
Dinah Ribeiro de Amorim

   Estudo em uma escola estadual conhecida por ter o melhor time de futebol da região. Estamos ficando famosos, o que nos orgulha e envaidece, embora tenhamos relaxado um pouco nos estudos. Às vezes, levamos umas broncas dos professores e de nossos pais, mas, quando o time “Campeões” entra em ação, todos se esquecem e torcem com a gente.

  Somos mesmo fortes, sendo o nosso goleiro Gustavo, o melhor jogador de todos, nunca perdendo uma bola! Já o elegemos nosso capitão! Verdadeiro representante. Segundo os treinadores mais velhos, promete muito...

  Treinamos às sextas e sábados, quando não há partidas. Estranhamos que nos últimos treinos, Gustavo não apareceu. Foi difícil substituí-lo e logo pensamos em viagem ou doença. Não costuma faltar.

  Na semana seguinte, tive uma forte dor de dente, fazendo com que mamãe, preocupada, levasse-me até o dentista. Enquanto esperava minha hora, folheei algumas revistas, principalmente de esportes, mas, outra, logo chamou atenção: menino desaparecido de casa há uma semana, chamado Gustavo. Fiquei super impressionado quando deparei com sua foto sorridente e amiga, numa manchete daquelas! Esqueci-me da dor de dente e quis sair imediatamente, ouvindo zanga de mamãe: “Está louco, filho! Já está chegando sua vez. Pode até dar uma infecção sem tratamento!” Não queria ouvir, só pensava no meu amigo, desaparecido; por isso, não tinha ido aos treinos.

  Fui correndo para a escola, reunir a turma. Tínhamos que fazer alguma coisa! Ver com a família quais foram seus últimos passos, se avisaram a polícia, que providências já tinham sido tomadas...

 Na sua casa, disseram que sua última saída fora numa sexta-feira, cedo, para ir ao ginásio, treinar. Não foi, não voltou, nem sabiam mais de nada.

  Conhecíamos times de outras escolas de olho em nós, com inveja de nossas vitórias, mas sempre achamos que não chegariam  a tanto. O espírito esportivo havia no meio estudantil. Pelo menos, achávamos!

 Pergunta daqui, escuta de lá, fizemos grande interrogatório em todo o bairro. Se a polícia estava agindo, nós também ajudaríamos. Ficamos sabendo de um tal Tonhão, meio perigoso, que costumava fazer apostas durante as partidas de futebol dentro dos colégios. Era o seu ganha-pão! Não foi muito fácil encontrá-lo! Ele escorregava dos lugares como bolas de sabão. Sumia no ar. Finalmente, encontramo-nos com ele num boteco afastado, namorando uma menina, e, após muita insistência e ameaças, concordou em falar conosco. Primeiro respondeu que nem sabia quem era Gustavo. Demos uma prensa, e ele disse que tinha um outro time, “Os Enquadrados”, de outra escola, que andava comentando que ele deveria ser afastado. Era bom demais e atrapalhava os outros times, que sempre acabavam derrotados. Isso não os estava agradando!

  Sem comentar muito, chegamos ao local que “Os Enquadrados” se reuniam para treino. Local bem afastado, preparando-se para uma partida de final de ano, importante. Ficamos sentados, assistindo ao treino, fingindo nem sermos jogadores de futebol. Nosso colega “Figura”, assim chamado por acabar observando tudo, sem que notássemos, descobriu um galpão, no fundo do terreno, bastante fechado. Achou que deveríamos dar uma olhada lá, meio disfarçados, pois poderia chamar a atenção e deveria ser local onde guardavam seus uniformes, bolas, etc... Figura foi andando, sozinho, à frente, no auge do treino, enquanto todos torciam. Reparou que tinha uma porta fortemente trancada, com uma pequena janela, meio escondida, mas semiaberta.

 Espiou através dela e quase não viu nada. Desconfiado, chamou por Gustavo e ouviu um barulho lá dentro. Chamou de novo e o barulho repetiu. Cauteloso, voltou para o resto da turma e disse que havia alguém preso lá. Fomos todos para lá e tentamos arrombar a porta. Figura, sabendo que os inimigos eram perigosos, chamou antes, a polícia. Fizemos tamanho barulho que o time parou de jogar e avançou em cima da gente. Foi um rolo de meninos se debatendo, esmurrando, empurrando pra valer, mas “Os campeões” venceram mais uma vez. Achamos Gustavo preso a uma cadeira, quase desfalecido, com a boca fechada por um pano.
  Pegamos o amigo, com cuidado, enquanto os sequestradores maldosos fugiam cada um para seu lado. A polícia chegou e pegou-os em flagrante. Não escapou nenhum!

  Gustavo, feliz por ter sido encontrado, abraçou seus amigos e voltou para casa, recuperando-se logo do trauma e voltando ao seu time do coração. Resolvemos todos andar sempre juntos, para maior proteção.

  Quanto aos Enquadrados por serem menores de idade e primários, iriam responder em liberdade, mas, proibidos de jogarem por muito tempo, e sob observação da polícia.


  Foi um choque para o colégio de ambos os times, que não esperavam que a violência estivesse assim tão alastrada no meio estudantil. Resolveram trabalhar mais nesse sentido.

Resistir essa saudade - Jorge da Paixão





Resistir essa saudade
Jorge da Paixão

Quem gosta de fazer trovas,
se considere poeta....
que a rima é uma prova,
que a poesia está certa...

A vida é uma canção,
para quem sabe amar...
E expulsar a solidão,
para a esperança chegar...

Uma flor lá na janela,
à Natureza a enfeitar....
A vida é sempre bela,
para quem sabe amar...

Resistir essa saudade,
meu coração tem que fazer...
Hoje aqui nesta cidade,
não me esqueço de você...

Um amor tão diferente,
é que sinto por São Paulo,,,
Cidade apinhada de gente,

dedicada ao trabalho...

UM GRITO DE SOCORRO! - Dinah Ribeiro de Amorim



UM GRITO DE SOCORRO!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Gosto muito de circo! É a maior atração de nossa pequena cidade. Quando chega, o povo fica alvoroçado, escolhendo os melhores lugares, disputando cadeiras e dias melhores.

  Na verdade, eu e minhas amigas gostamos das exibições, mas mais da movimentação de pessoas, principalmente dos rapazes que costumamos paquerar!
 Nesse ano, prometiam grandes atrações como peças de teatro, malabaristas, motocicletas que se cruzavam, bailarinas famosas e, como sempre, engraçados palhaços.

  Chegou o dia da apresentação e o circo logo ficou cheio de convidados. Eu e Marita, minha melhor amiga, procuramos lugares meio no fundão, de onde veríamos melhor a apresentação e, também, os frequentadores. Estávamos loucas para arrumar namorado! Já tínhamos catorze anos.

  Quando as luzes se apagaram, o palco iluminou-se e o dono do circo, todo paramentado, com um belo casaco vermelho de lantejoulas,  ia dizendo: “Respeitável público! Muito boa noite! Teremos hoje...Não chegou a terminar. Ouviu-se um grito estridente, pavoroso, vindo de alguém da platéia.

  As luzes se acenderam imediatamente e as pessoas se levantaram, rápidas, para ver o acontecido.

 Os empregados do circo vieram num corre-corre danado e examinaram tudo. Não conseguiram descobrir nada! Até que apareceu uma mulher, vestida com folhas, de longos cabelos vermelhos, pintura exagerada,  chamando pelo nome a sua bichinha de estimação, que havia escapado: “Maninha!”. Fazia parte do seu número. Surgiu de baixo de umas cadeiras, roçando nos pés das pessoas, uma horrorosa e amedrontadora cobra verde, muito comprida, que tinha escapado do seu viveiro e só obedecia à sua dona. O pânico dominou os presentes que começaram a sair, desistindo daquele circo.

  Eu e Marita, aborrecidas com o acontecido, principalmente pelo fato de não termos conhecido ninguém, saímos resmungando e lamentando o azar que tivemos.


  O circo ainda ficou alguns dias na cidade, mas com poucos frequentadores. Só os mais corajosos, munidos de lanternas e facões. Os artistas e seu apresentador, diante disso, perderam também o entusiasmo e foram rápido para bem longe, onde ninguém tivesse ouvido falar nessa história. O medo de ir ao circo logo se instalou na região!

TODO MUNDO JUNTO! - Dinah Ribeiro de Amorim

Tela: “Família”, de Tarsila do Amaral.


TODO MUNDO JUNTO!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Pedrinho adora festas! A casa fica cheia de gente, seus amigos, avós, tios, primos, até sua professora com seus filhos, muitas vezes aparece!

 Dias de Natal, Páscoa, aniversários, vive esperando com o calendário na cabeceira da cama, com grande ansiedade!

Sua alegria é tanta que um dia perguntou ao pai:

— Paê, ô pai! Por que não moramos todos juntos, na mesma casa?

 Seu pai, espantado, respondeu:

— Nós moramos, filho! Eu, você, sua mãe, sua irmã! O que você acha?

— Não, pai! Todo mundo mesmo! A vovó, o vovô, os tios, o homem da farmácia, minha professora, seus filhos, as crianças do vizinho, seus pais.  Seria, então, uma grande festa, todos os dias!

  O pai de Pedrinho sorriu, pensou um pouco e ficou matutando como responder esta pergunta, sem magoá-lo e para que ele entendesse.

 — No começo do mundo, filho, era assim mesmo. Todos moravam juntos, numa grande casa, parecendo uma aldeia de índios, como você viu na televisão. Comiam o que plantavam ou caçavam, dormiam em redes, protegiam-se do frio e da chuva em palhoças ou uma grande oca, feita de palha. Formavam um pequeno grupo ou tribo.

— Era assim mesmo... pai!?

_ Com o tempo, filho, esse grupo foi crescendo, aumentando, conhecendo coisas novas, alguns querendo mudanças de vida, conhecer novos lugares! Aprenderam muitas coisas... Foram surgindo povoados, com casas próprias para cada família, igrejas para cultos, cartórios para registros de quem nascesse, um juizado para impor ordem porque algumas pessoas queriam mais que as outras, as primeiras brigas, campos de futebol, etc...

— Nossa pai, brigavam muito também!

— Sim filho, cada família gostava de uma coisa, uns queriam, outros não queriam, discutiam muito. Aí resolveram formar pequenos grupos que discutiam entre si, trocando ideias. Vencia quem convencesse mais. Houve, então, a necessidade de um chefe para todos, com formação de leis que todos obedeciam...Cada família mandava em sua casa e o pai era o chefe, mas para todos, havia um chefe geral, que cuidava do bem-estar de cada um... E foi assim que surgiram os municípios, cidades, estados, países, etc... O mundo como é hoje!

— Puxa pai! Que difícil, não!

— Sim, Filho! Quando você for para a escola irá entender melhor!


— Queria ir logo para a escola. - respondeu Pedrinho. Tanta coisa que não sei!


ADORO BRIGADEIROS! - Dinah Ribeiro de Amorim



ADORO BRIGADEIROS!
Dinah Ribeiro de Amorim

Sou louca por brigadeiros! Festa, para mim, sem brigadeiro, não tem cara de festa!

  Outro dia, fui convidada para um aniversário de uma coleguinha de escola. Logo pensei:

Que delícia, comer brigadeiro! Tomara que tenha!

Não tinha. Só o bolo de chocolate. A menina é meio alérgica, e muito chocolate faz mal. Comentei com mamãe sobre isso e ela respondeu:

Por que você não aprende! É tão fácil! Só precisa tomar cuidado com o fogo. Usar sempre fogo baixo para não queimar.

  Outro dia aprendi uma receita muito boa, dada por Belinha, uma amiga de meu irmão. É quase igual às outras, mas leva um pote de iogurte junto ao leite condensado. Fica mais leve e menos doce!

  Resolvi experimentar só que coloquei a lata de leite condensado dentro da panela de pressão, para virar doce de leite, primeiro. Tudo errado! Fiquei entretida na televisão e me esqueci da tal lata. De repente, ouvi um estouro, parecia uma explosão dentro da cozinha! A tampa da panela abriu, a lata estourou, a água secou e o doce se espalhou por toda a cozinha branca de mamãe, grudando até no teto!

 E, para limpar tudo, antes que ela chegasse! Foi muito difícil! Eu e meu irmão tivemos que colocar um pano molhado na vassoura, subir numa escadinha do quintal e tentar limpar o teto para que o doce desgrudasse.

  Mesmo assim, ficou todo manchado e, eu, esperando a hora que ela olhasse para cima. Seria bronca na certa!

  A dificuldade foi tanta que desisti de querer fazer o doce. Acho bom ficar só com os de festa, mas sempre pergunto antes:


Vai ter brigadeiro? 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O bicho papão - Dinah Ribeiro de Amorim


BICHO – PAPÃO!
Dinah Ribeiro de Amorim
  Toda vez que quero brincar na calçada, Dª Zezé, a empregada lá de casa, avisa que é perigoso: vem o bicho – papão e te pega! Não é só na rua, não! Qualquer outra coisa perigosa que ainda desconheço, pode aparecer o tal bicho – papão, comedor de crianças, muito ruim mesmo, carregando um saco nas costas!
  De tanto ouvir falar nele, deu-me até vontade de vê-lo! Feio, narigudo, cara de mau, de roupas sujas e compridas, com grande saco nas costas, cheio de criancinhas, sempre pronto a carregar mais uma para quando tiver fome! Que coisa horrível! É para ter medo, mesmo!
  Outro dia, descobri que além de medroso, sou também muito curioso! Nem sei o que é maior em mim: curiosidade ou medo. Saí para a rua, escondido de mamãe e de Dª Zezé, que vivem pegando no meu pé! Até brincar com Pedrinho, meu amiguinho da casa ao lado, pode ser perigoso e  aparecer o tal bicho! Achei demais!
  Abri o portão, devagarzinho, e, fui saindo, sozinho, em direção à esquina. Nossa casa fica mais ou menos no meio de várias outras  iguais.
  Tudo bem, ninguém à vista! Tento dobrar a esquina e, para voltar, penso, seria fácil, virar as costas e fazer o caminho de volta. Ando um pouco rápido, já meio amedrontado. Nunca havia saído sozinho, mas “adorando” essa grande aventura!
  De repente, avisto um velho, muito velho, arrastando a perna, lembrando um pouco meu avô. Com um braço, segura uma bengala e, com o outro, uma sacola sobre os ombros. Lembrei na hora: “É o tal do bicho – papão! Preciso dar meia volta e correr para casa. Sua sacola deve estar cheia de crianças e usa uma bengala comprida para apanhá-las. Quero correr, mas não consigo. Quase tropeço nas minhas pernas pequenas e frágeis! Acho que ele irá vai me alcançar! Por que fui fazer isso!”
  Começo a chorar alto e percebo que minha casa está mais longe do que eu pensava. O velho, feio e sujo, mancando, mesmo assim me alcança. Olho para ele, apavorado, já esperando levar uma bengalada, mas seu olhar é bondoso, humilde, perguntando-me gentilmente por que choro! Espantado, respondo que não consigo achar a minha casa. Ele, com cara de dó, acha-me vendo que sou muito pequeno para andar sozinho pelas ruas,  resolve me acompanhar até a encontrarmos.
  Como? - penso eu - Não é o bicho-papão!
Sinto-me seguro ao seu lado e ele afirma que as ruas são perigosas para crianças sozinhas, nossa casa é um bem muito grande e, se a perdemos, ficamos como ele, velho, doente, caminhando pelas ruas, sem lugar para descansar.
  Arrisco uma pergunta: “O que o senhor tem nesse saco?”
— Roupas velhas e restos de comida que encontro por aí! Só isso! Responde ele.  Esse era o tão terrível bicho-papão da minha infância!
  Logo chegamos a minha casa, com mamãe e Dª Zezé à porta, desesperadas à minha procura. Assim que me vêem, correm a abraçar-me, olhando desconfiadas para o velho. Digo que ele é um bom amigo, que eu estava perdido e ele me encontrou achou, precisando agora de alguma comida e um pouco de roupa velha, porque não tem onde morar! Não era o bicho-papão, não, era um homem velho e bondoso, necessitando de ajuda.

  As duas entenderam, foram buscar algumas sobras do almoço para ele, que ficou horas sentado à nossa porta, descansando um pouco dessa vida longa e triste de homem sem direção! Na minha inocência, passei também muito tempo espiando-o, com curiosidade, atrás da janela da sala, descobrindo um mundo novo!

O lápis mágico - Dinah Ribeiro de Amorim





O LÁPIS MÁGICO!
 Dinah Ribeiro de Amorim

  No dia do meu aniversário, mamãe e minha irmã organizaram uma festa linda! Oito anos! Acho que nunca vou esquecer. Teve balões, brigadeiros, presentes, muitos amiguinhos 

 e o famoso bolo de aniversário, com todos querendo soprar as velinhas junto comigo. Quando tudo acabou, fui abrir com calma meus embrulhos, cada um mais alegre que o outro. Dava dó  desmanchar cada  nó ou desdobrar  tantos papéis coloridos. Minha mãe gosta de guardar embalagens, então, tomei muito cuidado para não rasgá-los.

 Minha curiosidade foi grande porque cada um era mais interessante que o outro. Carrinhos, trem, jogos de diversão, educativos, bola de futebol, arco e flecha, livros,  até uma peteca!  

Chamou atenção um presente simples, pequeno, parecendo um estojo. O que seria! Abri com cuidado, não lembro mais quem o trouxe, descobrindo que era apenas um lápis colorido! Tudo bem, pensei eu, presente é presente, seja lá o que for.

  Fiquei horas no dia seguinte, brincando com todos eles, esquecendo até de fazer minhas refeições, o que mamãe reclamou um pouco, mas entendeu...

  Finalmente, peguei o lápis colorido para escrever um bilhete de agradecimento a um coleguinha que não pode vir, mas mandou um presente.

Estava viajando. Qual não foi minha surpresa! Eu pensava no que escrever e o lápis obedecia, parecia que me entendia! Era mágico! Que maravilha! Chamei minha irmã gritando:

_ Marianaaa! Eu ganhei um lápis mágico! Corre aqui! Ele me obedece e ainda escreve coisas engraçadas! Parece que fala comigo.

  Minha irmã veio correndo e perguntou se estava ficando maluco! Ficou olhando um pouco e pegou o lápis também. Mandou que ele riscasse todo o papel e ele riscou e ainda escreveu que ela era meio boba, deveria mandar fazer outras coisas!

  Muito espantado, tomei-o da mão dela e mandei que escrevesse um bilhete de agradecimento. À medida que eu pensava, ele escrevia, obedecendo. Quando terminava, deixava um comentário, como se fosse gente. Parecia um lápis robotizado, sensível ao toque da gente.

  Mariana pegou nele e mandou que escrevesse um recado para sua colega: “Não vou poder ir até sua casa hoje, preciso estudar!. O lápis obedeceu e ainda escreveu, no final: muito bem!

  Caramba, pensei, esse lápis é um sucesso! Imagine na minha escola! Nem preciso mais fazer a lição. Ele fará para mim.

“Nisso você se engana, escreveu ele! Só escrevo e obedeço coisas que você já sabe. Sou mágico, sim, um mágico honesto, que age segundo sua sensibilidade e conhecimento. Posso ajudar em alguma coisa, mas não em tudo. Você precisa saber primeiro e aí eu dou a minha opinião. Entendeu! Ajo de acordo com o seu toque! Gostou!”

  Muito, pensei eu, que presente legal! Foi o melhor de todos! O maior sucesso!  O meu sucesso de aniversário! E eu pensando que era o presente mais comum, de alguém que não tinha se incomodado muito comigo.
  
Ih, o lápis mágico despertou a atenção até de minha professora, que pedia emprestado quando corrigia nossas lições. Ia ser legal saber quem me deu esse presente! Eu poderia escrever um  agradecimento com ele.

A VIDA MUDA A GENTE! Dinah Ribeiro de Amorim





A VIDA MUDA A GENTE!
Dinah Ribeiro de Amorim

  João Grandão era o seu nome. Muito alto para a idade, forte, valentão, era o machão da rua! Saíra parecido ao pai, ex-pugilista, que o educara para ser corajoso e violento, "homem forte não chora"!

  Era temido pelos outros moleques, principalmente na escola. Ninguém o contrariava e, se acontecesse, rolava pancadaria, na certa.

  Ele ria de todo mundo. Se alguma coisa o desgostava, ninguém escapava. É isso, queria ser conhecido como malvado. Homem bom era homem frouxo! - aprendera com seu pai.

  Só tinha uma pessoa que o amolecia por dentro, embora tentasse disfarçar: sua mãe. Achava-a delicada, carinhosa, bonita, gostaria de beijá-la e abraçá-la, mas nunca o fizera.

  Imitava seu pai ao tratá-la embora isso o perturbasse um pouco! Não o agradava quando ela ficava triste e cabisbaixa, ouvindo o marido lhe fazer maus tratos.

  Certa tarde, ao voltar da escola, jogando seus cadernos no chão, como fazia sempre, chamou pela mãe dizendo que estava com fome. Não ouviu  resposta. Então, procurou-a  na cozinha, quintal, e nada. Subiu ao seu quarto e encontrou-a desfalecida na cama, parecendo mal. Pegou-a, com cuidado, em suas mãos e notou que queimava de febre.

  Seu coração amoleceu, nunca a vira assim. Gritou pelo pai e avisou que iria chamar hum médico. Conseguiu com muito custo alguém que o atendesse, pois sua fama de mau corria na cidade e ninguém o levava muito a sério. Finalmente, um doutor novo nenhum hospitalar, recém-chegado, resolveu atendê-lo.  Examinou-a. Diagnostico pneumonia em estado avançado. Necessitava de internação urgente, senão morreria. Transferiu-a para o hospital.

  João Grandão ficou apavorado. Nunca acontecera nenhuma doença em sua casa. Tinham fama de serem muito fortes! Justo sua mãe, que ele gostava tanto! Toda a braveza que possuía foi diminuindo e se transformando em forte dor e, choro. Tinha vergonha do pai e se trancou no para chorar quarto.

  Colegas seus, amedrontados mesmo, vieram consolá-lo. Isso o enterneceu mais ainda. Tinham medo, ou raiva dele, mas na hora da dor, tratavam-no como igual.

  Ia de todos os dias ao hospitalar para saber do Estado da mãe, ao contrário do pai, que só reclamava da falta que ela fazia para o trabalho doméstico. Procurava ajudar em casa, substituí-la de algum jeito, mas era impossível. O lugar dela, o trabalho que fazia, seu modo de lidar com eles "tão embrutecidos",  só de ela conseguia.

  Como sua mãe não melhorasse, passou por uma igreja e orou pela primeira vez em sua vida. Pediu humildemente a Deus que a salvasse. Ao Deus, que alguns amigos diziam que existia, e ele zombava, chamando-os de "maricas"! Prometeu que mudaria, arrependido de tudo que havia feito de errado. Seria ainda o João Grandão, mas em defesa dos pobres e oprimidos.

   Saiu dali mais aliviado e, chamado ao hospital às pressas. Correu, esperando uma má notícia. Sua surpresa foi grande! Sua mãe melhorara e estava para ter alta, chamando-o para buscá-la.

 E assim, João Grandão modificou-se, sendo conhecido como o protetor dos fracos, auxiliar dos doentes, coragem usando sua, força e valentia para ajudar e não maltratar.  

Bolinho de chuva! - Dinah Ribeiro de Amorim


Bolinho de chuva!
Dinah Ribeiro de Amorim

              Desde que me entendo por gente, adoro bolinho de chuva, com sol ou não! Vovó Bela mora lá em casa, e essa é sua especialidade. Toda tarde, após jogo de futebol com meus amigos, já virou costume, vamos para casa saborear os seus famosos bolinhos. Quando ela está indisposta ou não os faz por algum motivo, fazemos mil caretas de desagrado, de tanto que ficamos acostumados. Café com leite e bolinhos de chuva...
  Outro dia, terminada a partida, corremos para nossa cozinha, esperando os cheirosos e saborosos bolinhos de vovó. Primeiro nos mandou lavar pelo menos as mãos, tal era o nosso suor, para depois entrarmos em sua cozinha imaculada.
  Que surpresa!” Vó, cadê os bolinhos?”, perguntei aflito. Ela veio depressa, batendo as suas chinelas grossas de pano, respondendo que estavam em cima do fogão, cobertos por um pano de prato. Qual nada, alguém havia roubado nossos bolinhos!
 Deve ser o gato do vizinho, que vive rondando por aqui, quando faço qualquer coisa cheirosa - disse vovó -  surpresa!
Gato! – exclamei - Que gato! Nunca vi gato nenhum.
Existe sim, meu filho, tenho sempre que espantá-lo quando estou na cozinha. Já me queixei com a vizinha, mas ela não consegue controlá-lo, ele foge pelo buraco do muro.
  Lá fomos nós: Luizinho, Paulinho, Marquinhos e eu, com vassouras na mão, procurando o gato. Cadê ele gente?  Vamos encontrá-lo, dar-lhe uma surra e um susto, que nunca mais pisará em nossa casa! -  berramos em voz alta. Coitado desse gato! - pensou vovó.  Se a turma o encontra, pau nele!
  Procura daqui, procura de lá, e nada de encontrar o ladrão de bolinhos. Batemos na casa da vizinha e ela não o tinha visto, nem escutado nada. Saímos meio contrariados e combinamos dar uma volta no quarteirão.
  Nada ainda, que gato sem vergonha! Xingamos em voz alta. Aonde será que se meteu?  Deve estar comendo tudo, bem satisfeito, escondido no meio das plantas. Nossos bolinhos! Demos meia volta e quando nos aproximamos de casa, ouvimos um miado, logo após, outro... Fomos até ele e o descobrimos de barriga pra cima, contorcendo-se, com o prato vazio ao lado, gemendo de dor! Comera tantos bolinhos que estava passando mal!
  Até que era pequeno e bonitinho! Ficamos com dó e escondemos nossas vassouras. Como bater e espantar um animalzinho daquele que, com certeza, já estava castigado! Acho que nunca mais iria cheirar os bolinhos da vovó! Carregamo-lo até a vizinha que quase chorou quando o viu assim mal. Isso é para aprender a não roubar mais nossos bolinhos! - disse eu, ainda com raiva.  Precisava falar alguma coisa, nem sabia bem o quê! Dar uma de machão!
  Voltamos para casa e vovó Bela, carinhosa como sempre, havia feito outro prato cheinho de bolinhos de chuva! Deixa pra lá esse gatinho, coitadinho, devia estar com muita vontade para fazer esse esforço. O prato estava pesado.
Diante daquele cheiro gostoso, resolvemos esquecer mesmo o gato da vizinha!

Invisível protetor - Jany Patricio


 Invisível protetor
Jany Patricio



     Tenho um amigo invisível, invisível mesmo!

        Um amigo que eu nunca vejo e nunca ouço, mas ontem à tarde, quando eu voltava da escola, vislumbrei um vulto no canteiro de rosas!

        Vi os galhos da roseira balançando e corri para pegar o intruso. Mas, qual não foi a minha surpresa ao deparar com um filhote de tamanduá encolhido atrás de uma pedra. Quando me viu, deu um pulo e foi se esconder num buraco. Soltei minha mochila na grama e com cuidado apalpei a terra tentando encontra-lo. Quando de repente, abriu-se uma cratera. Fui caindo, caindo até parar sobre uma folhagem.

        Observei uma verdejante mata, sons de pássaros e pequenos animais, e no alto das árvores saguis divertiam-se pulando de galho em galho.

        Samambaias, trepadeiras e bromélias se beneficiavam do ambiente úmido.

        Perdido, comecei a caminhar, mas tinha a sensação de estar sendo observado.

        Ouvi um barulho atrás de uma árvore e fui verificar. Lá encontrei o tamanduá fujão, com outros filhotes e a mamãe tamanduá que estava machucada. Os filhotes estavam famintos e andavam em torno da mãe.

        Fiquei desesperado, sem saber o que fazer, quando lembrei que estava com o celular no bolso.  Liguei para o meu pai, que estava trabalhando numa clínica veterinária. Tentei lhe contar a história, mas ele não entendia nada! Porém, quando notou que comecei a chorar, resolveu ir para nossa casa ver o que estava acontecendo.

        Encontrando a cratera, fez o mesmo percurso que eu, porém, levando equipamentos de sobrevivência na mata e primeiros socorros Lembrou-se, antes, de avisar minha mãe, que fazia compras no supermercado. Assustada, voltou para casa imediatamente.

        Meu pai notou que o ferimento tinha resíduos de pólvora e achou por bem levar a mamãe tamanduá o mais rapidamente possível para a clínica. Contou com a ajuda de minha mãe que tomou conta e alimentou os filhotes.

        Durante estes acontecimentos eu sempre pressentia a presença do meu amigo invisível.

        Quando a mamãe tamanduá ficou curada fomos devolver os animais à floresta.

        Chegando ao jardim, deparamos com um ser de cabelos cor de fogo, os pelos do corpo completamente verdes e os pés voltados para trás. Arrebatou os tamanduás das nossas mãos e desapareceu junto com a cratera.
        Nunca mais vi meu amigo invisível!

A GALINHA D’ANGOLA - Jorge da Paixão



A GALINHA D’ANGOLA
Jorge da Paixão

A galinha de Angola,
para o Brasil se mandou...
Trazendo num saco uma viola,
que para o galo ofertou...

E ele todo contente,
começou logo a cantar...
Uma canção comovente,
para ela se apaixonar..

Sendo um bom seresteiro,
no final da madrugada...
Canta feliz no terreiro,
para sua princesa encantada..

No poleiro, todo fogoso,
para a galinha sorriu...
E na construção do ovo,
com ela contribuiu...

Os pintos atrás da galinha,
vão lhe seguindo sem parar... 
E não lhe deixa sozinha,
na sua arte de ciscar...

O ovo não é menina,
e nem menino também...
Ele vive na surdina,
e não revela o sexo que tem...





QUE SUSTÃO! - Dinah Ribeiro de Amorim




QUE SUSTÃO!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Sou ainda bem pequeno, mas já estou na escola! Quem me leva, todos os dias, é Maria, minha irmã mais velha, que também estuda, mas à noite. Vai me ensinando o caminho: atravessar a rua sempre na faixa de segurança, quando o farol estiver verde para a gente. Aí os carros param e podemos passar. E, quantas ruas andamos, esquinas dobramos, etc...

  É sempre a mesma coisa, vai explicando tudo até a entrada da escola. Estou aprendendo e, logo, logo, irei sozinho.

Maria arrumou um trabalho de dia e não poderá mais me levar.

  Outro dia, aconteceu uma coisa perigosa. Levamos o maior susto! Quando íamos atravessar na faixa, passou um carro grande, cheio de gente com capuz preto, numa correria danada! Olhei para Maria que, com os olhos arregalados, nunca a vi assim, me puxou rápido para a calçada senão nos atropelavam. Ficamos tremendo de medo, e esperamos um pouco para atravessar. Quando retomamos a faixa, passou outro carro zunindo, alarmando todo mundo com sua buzina, parando perto de nós e perguntando que caminho eles fizeram! Era um carro de polícia, correndo atrás de bandidos, explicou Maria. Novamente, voltamos para a calçada, enquanto ela respondia que tinham ido para a direita.

  Muito assustados, resolvemos voltar! Não fui pra escola nesse dia. O lugar andava muito perigoso! Podia escapar alguma bala e nos atingir, disse Maria, melhor ficar em casa hoje. É mais seguro!

  Quando contamos para mamãe, achou que fizemos muito bem. Nossa cidade anda violenta demais e a escola é próxima de casa, mas muito central, cheia de movimento: carros, gente, comércio, melhor seria eu freqüentar uma outra mais afastada, em lugar mais calmo. Que não precisasse cruzar tantas ruas nem dobrar tantas esquinas. Talvez passasse a ir de perua – disse mamãe.

  Fiquei meio triste, gosto muito de onde estudo! Tenho muitos amiguinhos, mas, se a outra for melhor para mim, tudo bem, tento me acostumar!

  Você logo se habitua, disse Maria, andar de perua é divertido! A gente conhece novos lugares, faz muitas brincadeiras e, amizades, com quase todos os alunos.

  Não é que aconteceu isso mesmo! Achei muito legal ir de perua para a escola e, na volta, fazemos uma algazarra danada! Maria tinha razão. Quem não gostou muito foi papai, que precisou pagar um pouco mais caro.


UMA ESCUTA QUE FAZ MAL! - Dinah Ribeiro de Amorim




UMA ESCUTA QUE FAZ MAL!
 Dinah Ribeiro de Amorim

  Sempre me mandam dormir muito cedo. “Crianças têm que dormir cedo para crescerem fortes”- afirma mamãe. Custo muito a pegar no sono, lembrando todas as brincadeiras que fiz durante o dia. Já é um hábito de todas as noites. Rolo mil vezes na cama, desarrumo  lençóis, até que, finalmente, adormeço, sem perceber. Meus pais demoram a se deitar e ficam conversando até tarde. Às vezes, os escuto e sinto, com isso, uma espécie de proteção, de sossego.
  Numa dessas noites, ouvi-os discutindo, não era bem uma conversa normal e, prestei mais atenção. Papai dizia que ia embora, mudar de casa, havia conhecido outra mulher que seria agora sua nova esposa! Escutei as lágrimas de mamãe, e o que fariam comigo! Como explicar que não teria mais o pai em casa! Abaixando sua voz, papai respondeu que iria me avisar que faria uma longa viagem, voltando para me buscar assim que pudesse.

  Poderiam, por minha causa, chegar num acordo amigável e, como agora existia “a guarda compartilhada”... Não sei bem se foi isso que ouvi! Será que seria dividido ao meio, pensei amedrontado, ficaria tempos com um e com outro. Seriam duas casas! Sempre gostei muito da minha! E da companhia dos dois! Que conversa estranha estava ouvindo desta vez. Estranha e triste, juntando minhas lágrimas às de mamãe.

  A única coisa que me veio à cabeça, no meio de tanta complicação que não conseguia entender, foram as palavras de minha avó: “Nunca ouça conversa dos outros! Podem fazer muito mal!”. De verdade, fiquei muito mal nessa noite e lembrei que, nos últimos dias, papai estava chegando muito tarde e, distraído, mal respondia ao que eu falava! Coitada da mamãe, que seria de nós dois, agora.

  Não peguei no sono como de costume e amanheci abatido e cabisbaixo, sem coragem de olhar para os dois. Eles, ao contrario, mostravam-se animados e mais alegres, meio exagerados,  enchendo-me de atenção e carinhos. Deve ser remorso, pensei. São meus pais e agora querem desistir disso! Quando crescer, se tiver filhos, espero nunca fazer o mesmo!

 Passei vários dias esperando a hora em que me contariam tudo, meu pai arrumando suas malas e dizendo adeus! Dormia, agora, no sofá da sala e, mamãe, sozinha no quarto, chorava até amanhecer. Finalmente, meio gaguejando, chamaram-me para conversar e avisar que papai viajaria a serviço, demorando muito, mas voltaria para me buscar e passar uns dias com ele. Nem perceberam que eu ouvira tudo. Pensei em ligar para vovó e perguntar sobre essa tal “guarda compartilhada”, mas nem precisei. Ela chegou no dia seguinte para ficar comigo. Mamãe estava arrumando um emprego. Mais essa agora, ausência do pai e de mamãe o dia inteiro. Ainda bem que tinha vovó, sempre me senti seguro ao seu lado.


  O tempo foi passando, eu me acostumando, a tristeza diminuindo, mamãe contando novidades do seu novo emprego, papai aparecendo e me convidando para conhecer sua nova casa, o que não achei tão ruim assim, embora não fosse minha mãe, e, vovó, procurando preencher minhas dificuldades com suas histórias, comidas gostosas e brincadeiras divertidas! Percebi que ainda gostavam de mim, apesar das grandes mudanças.

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...