A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 8 de abril de 2021

O NOVO SHERLOCK HOLMES DO BRÁS - Claudionor Dias da Costa

 

                                 


O NOVO SHERLOCK HOLMES DO BRÁS  

Claudionor Dias da Costa

Aquele emigrante argentino que deixou a cinco anos “La Boca” na sua Buenos Aires e veio arriscar a vida em São Paulo, passou a morar no bairro do Brás.

Seu nome Ramon Gregório Hernandez. Com seus cinquenta e cinco anos e ainda sonhador e romântico, conservava uma ingenuidade nata e declarava com seu sotaque imperdível:

− Por favor, “mi nombre es” Gregório.

E explicava que preferia ser chamado assim, devido sua mãe ser de origem grega e este nome significava “o vigilante”, o “alerta”. Com isto, queria apresentar uma altivez que não combinava com seu jeito simples e inocente.

Após sobreviver com alguns “bicos”, conseguiu o tão ambicionado emprego de zelador naquele edifício velho com dois blocos de cinquenta apartamentos no fundo da rua de paralelepípedos do tradicional bairro paulistano.

Os dias passavam numa rotina modorrenta naquele edifício de moradores calmos e disciplinados, grande parte aposentados.

Ele aproveitava esta tranquilidade e tirava cochilos após seu almoço no pequeno cômodo ao fundo onde residia.

Num dia no meio da manhã, o Sr. João, morador do terceiro andar e síndico do prédio apareceu histérico chamando pelo Gregório. Este apareceu rápido, o que não era normal e com os olhos esbugalhados ouviu o berro dele apontando para um “cocô” no corredor:

− Quem fez essa sujeira?

− Procure imediatamente o responsável por essa imundice.

O zelador gaguejando prometeu resolver o problema e descobrir o meliante.

O fato de se encontrar fezes no prédio em lugar de uso comum, se espalhou rapidamente e começou a gerar fofocas e acusações.

No dia seguinte bem cedo, Gregório em seus aposentos, vestiu sua capa e chapéu, que usava nas noites de boemia pela fria Buenos Aires, pegou sua lupa que usava para ver melhor quando fazia palavras cruzadas e olhando no espelho, estufou o peito e sentiu-se o próprio Sherlock Holmes. Até mudou a expressão e confiante e célere saiu à caça do “criminoso”.

Parou no corredor de repente e, completamente embasbacado ficou olhando para tudo em volta, porque novamente apareceu mais um “serviço” do malfadado meliante.

Com sua lupa observou cuidadosamente e começou a pensar qual teria sido o roteiro para tal delito. Principiou a levantar que pessoas tinham “pet” e de que tipo no edifício. Por eliminação e devido ao exame feito, pelo tipo, tamanho e circunstâncias, chegou à conclusão de que seria algum cachorro e não muito pequeno.

Identificou oito moradores nessa situação.

E matutando:

− Seria da Dona Filomena, ou do Sr. Petrônio, ou ainda da bonitona do quinto andar...Hum...hum...

E lá ia o nosso detetive andando para tudo que é lado, inquieto e intrigado, analisando os donos dos “suspeitos”. Sabia que não poderia acusar ninguém previamente sob pena de até ser despedido por falta de respeito.

O síndico aumentou a tensão quando colocou nos elevadores avisos enérgicos sob os procedimentos e mencionando explicitamente o ocorrido e alertando para as multas que seriam fatais, principalmente porque aquilo ocorria várias vezes.

Como o prédio por medida de economia somente tinha câmeras nas entradas, não havia possibilidade de identificar precisamente o que ocorria.

Gregório resolveu ficar vigilante, principalmente no período da manhã quando os moradores saem com os cães para passeio. Assim, escondeu-se atrás da parede em que ficavam encostadas as lixeiras no corredor entre os blocos.

Parecia escutar aquelas músicas em filmes de suspense. Sua respiração ficou ofegante. Até suava, esperando o grande desenlace, para resolver de vez aquela situação que era cobrado a solucionar.

De repente, lá vem Dna. Eufrásia, caminhando calmamente com seu cachorro labrador, já não muito novo. O nosso Sherlock tinha uma certa reserva com ela devido à sua implicância com tudo. Ela reclamava de tudo com ele e sempre discutiu com outros moradores e era avessa a respeitar as regras do condomínio, bem diferente da grande maioria que era educada.

No seu íntimo sentiu que só poderia ser ela a responsável. Nunca levava recipientes para recolher as fezes.

E de repente, suas suspeitas se confirmaram. O cão parado repetindo no mesmo lugar o que fazia e a Dona Eufrásia parecia até ter satisfação em ver o que ocorria. Rapidamente, Gregório preparou o celular e foi tirando fotos.

Caminhou em direção a ela que já ia saindo e disse:

 No es possible  Dona Eufrásia tal procedimento. Vou informar o Sr. João.

Ela ficou muda por instantes e xingando bastante se dirigiu à rua.

As providências foram tomadas com punição com multa e os moradores aliviados passaram a olhar o zelador Gregório com mais respeito.

Ele todo orgulhoso pendurou seu disfarce num cabide bem evidente em seu quarto e ficou aguardando ansioso por novo caso a solucionar, já que agora sua fama se espalhou como o novo Sherlock Holmes do Brás.

GREGÓRIO - O DETETIVE - Henrique Schnaider

 


GREGÓRIO - O DETETIVE

Henrique Schnaider

 

Gregório é zelador de um prédio de luxo numa região onde só moram pessoas com muito dinheiro. Salário bom e o nosso herói vive uma vida muito boa. Mora no último andar reservado para ele. Apto grande com todo conforto onde moram ele, a esposa e dois filhos.

Nas horas vagas o Gregório aventureiro, gosta de ser detetive e parece se dar bem, tendo resolvido alguns casos intrincados na base da trapalhada, mas que lhe deram fama. Vira e mexe é chamado para resolver algumas encrencas cabeludas que exigem discrição, mas ele é, além de engraçado, também pouco discreto.

Analisando uma cena de crime, por acaso e pura sorte, elucida o caso. Sorte é o que não lhe falta, pois, o detetive trapalhão envereda por caminhos que um investigador não iria, e por acaso vem a solução.

Desta vez o caso aconteceu no prédio onde Gregório é o zelador. O síndico estava possesso por uma ocorrência inusitada que aconteceu no corredor do décimo andar, onde um animal de um dos moradores, fez suas necessidades. O caso não poderia passar sem que se descobrisse o responsável pelo cachorro. Iria pagar uma multa alta.

O síndico, ciente da fama do Gregório, o encarregou de investigar a origem das fezes até que descobrisse os culpados, o cachorro e seu dono. Nosso herói vestiu a capa, o chapéu e com a com a lupa na mão saiu investigando como um Sherlock Holmes, sem o Dr. Watson.

O detetive trapalhão começa a investigar usando o faro fino para sentir o cheiro dos dejetos, queria conseguir saber qual a marca da ração. De andar em andar e com uma lista de moradores donos de pets, saiu na caça do causador da imundície e seu dono.

Toca a campainha no primeiro apartamento e atende uma tremenda loira, dona de um Golden Retriever. Gregório ficou todo desconcertado engoliu seco e gaguejou perguntando:

— Por acaso, onde o seu cachorro faz as necessidades?

— Ele faz tudo aqui em casa ou quando saio com o carro, levo ele passear num parque e levo um saquinho. O Barney faz cocô e eu recolho, mas por que me pergunta?

— Nada não, é que algum cachorro mal-educado fez cocô no corredor do décimo andar, mas eu tinha certeza de que não era o seu, falou engolindo seco.

Assim foi o detetive de andar em andar sem conseguir avançar nas investigações. Quando chegou ao décimo andar, local do crime, não percebeu, pisou num novo cocô, escorregou e caiu sentado se sujando todo. Mas, para sua sorte, deu tempo de ver o dono do apto 102 entrando em casa com o cachorro.

A investigação foi concluída com êxito apesar do Gregório ficar todo sujo de fezes. Recebeu do síndico um presente pelo seu êxito, um jogo de roupas novas. E o morador do apto 102 recebeu uma pesada multa. Mais uma vez o investigador Gregório fez jus à fama de detetive trapalhão, mas que resolve os casos que investiga.

O CAPITÃO RAMOS E JOHN O CAOLHO - Henrique Schnaider

 

O CAPITÃO RAMOS E JOHN O CAOLHO

Henrique Schnaider

 

O Capitão Ramos, velho marinheiro, já idoso era muito apegado ao seu velho barco pesqueiro, que nestes últimos 25 anos deu-lhe o sustento da vida de pescador. Mas desta vez a tempestade no Atlântico foi intensa. Ele ficou sem comunicação pelo rádio que está mudo. Mas, ele sendo um homem destemido, forte, curtido por anos de pescaria no sol inclemente ou nos mares revoltos, enfrentou.

O homem valente nunca se amedrontou. Audacioso, saiu para alto mar, mesmo com tempo ruim, confiando no sucesso de sua volta. Sendo um homem experiente e responsável, não adiou a partida. Desta vez seus dois marinheiros não o acompanharam. Foram só ele e seu velho amigo e querido barco, que até nome tem “John o caolho”. Seguiu, singrando as ondas todo imponente.

Conhecedor do Oceano o Capitão Ramos, parou onde havia cardumes de sardinhas e encheu o porão. Caminho de volta, mãos no timão cortando as ondas. De olho no céu que foi ficando escuro, no que seria o prenúncio, formando-se uma enorme tempestade, que desabou pesadamente, fazendo com que “John o Caolho” gemesse de popa a proa.

Ondas gigantescas trombaram com força no “John”, raios cortavam o espaço e se ouviam tremendos estrondos de trovões. Os demônios dominavam o céu.

Ramos, habilidoso e resoluto, enfrentava as forças dos elementos da natureza. “John o Caolho” resistia bravamente, e o Capitão confiante no seu velho amigo, seguia adiante, tentando escapar rumo a terra firme.

Houve momentos em que Ramos delirou e seu velho barco seguiu sozinho, parecendo conhecer o caminho de casa. O velho Capitão sempre foi incorporado ao ambiente do mar. Desta vez a situação estava feia para os dois. Ambos pensaram que tinham chegado ao fim da jornada da vida.

O ronco do coração do “Caolho” é de um motor a diesel de 300 cavalos de força, funcionando firme, Ron Ron Ron, sem falhar nenhuma vez. Oito horas de desespero no mar e o Capitão não esmoreceu e nem piscou o olho, rumo ao porto de Calais.

Finalmente a fúria foi se acalmando e o velho marinheiro finalmente pode respirar com o alívio de quem venceu a batalha contra o mar. Seguiu rumo ao porto agradecendo ao seu companheiro de tantas jornadas “John o Caolho”, que resistiu bravamente sob seu comando ao combate contra os caprichos da natureza.

Finalmente chegaram ao porto de Calais, ancorado no píer lotado de embarcações, cheio de marinheiros olhando admirados para o Capitão, imaginando o que ele e seu barco tinham enfrentado no Atlântico, que já levou ao fundo inúmeras embarcações.

O Capitão Ramos chamou duas pessoas que estavam ali paradas no Píer e prometeu ser generoso com elas, para que ajudassem a descarregar a carga de sardinhas do porão. Terminada a tarefa, vendeu toda a carga de peixes para empresas estabelecidas no local.

Com os bolsos cheios de dinheiro, o velho Capitão foi para casa feliz por ter feito uma boa venda e por ter mais vez escapado com vida. Deixou “John o Caolho” ancorado, descansando e aguardando o velho amigo vir novamente para mais um dia de aventuras no mar.

O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

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