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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Lembrança boa - Hirtis Lazarin

 



Lembrança boa

Hirtis Lazarin

 

Atenção! Passageiros e passageiras

Bem-vindos ao novo trem paulistano

Tenham todos uma boa viagem.

 

          Eu era o trem das novidades

          Nada igual a todos os outros

          Colorido e animado de verdade.

          Jamais esquecerei minha primeira viagem.

 

                                      Eu e o maquinista Joaquim

                                      O maquinista Joaquim e eu

                                      Eu e o maquinista Joaquim

                                      O maquinista Joaquim e eu.

 

Cheirava a tinta nova, nenhum ruído fora do lugar, corria macio sobre trilhos, nenhum defeito pra atrapalhar.

Lá ia eu, destino certo, terra, serra e mar.

Deixamos a primeira estação lá longe, tamanha era a vontade de chegar.

Um entra e sai de passageiros, cada um com histórias pra contar. Já aconteceu de tudo nesse tempo corrido que eu nem vi passar.

Levei a moça vestida de noiva pro rapaz que queria casar, entreguei o filho arrependido que pra casa queria voltar. Vi a mulher miúda, abatida, esperando o marido que nunca quis chegar.

Coisas engraçadas, também gosto de lembrar. A vaca leiteira, nos trilhos, tirava um cochilo e teimava em não acordar.

 

                             Era um puxa pra cá

                             Um puxa pra lá

                             Um puxa pra cá

                             Um puxa pra lá.

 

E a danada, por birra, não saía do lugar. Era gente xingando, pois tinha hora pra desembarcar, era criança torcendo pra vaca ficar.

Foi o Toninho alisar o seu focinho, a malhada deu um pulo e liberou nosso caminho.

Houve a noite da agonia. Uma nuvem bem pretinha fez o dia virar noite, confundiu até as galinhas que desandaram a cacarejar.

“Meu Deus do céu! Bem que o pastor avisou e foi difícil acreditar: rezem meus filhos, o mundo vai acabar!”

Gente nos bancos subia e gente sob os bancos se escondia. Mãe desesperada, os filhos sob as asas acolhia. 


Lá fora a coruja se protegia

O relincho assustado do cavalo 

Espantava a cotovia,

E chovia…Chovia… 

Trabalhar com amor era nosso lema

E driblar todo e qualquer problema.

É gente… Tudo acaba um dia…

O maquinista Joaquim está aposentado

Eu sou um ferro-velho enferrujado.

      

 

UMA NOTÍCIA QUE NÃO ESTÁ NO JORNAL - Dinah Ribeiro de Amorim

 



UMA NOTÍCIA QUE NÃO ESTÁ NO JORNAL

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Jorge, um médico muito atarefado, mal tem tempo de escutar notícias do dia a dia, ler o seu jornal predileto, assistir ao time de futebol do coração.

Na tarde de domingo, recebe folga do hospital. Um colega amigo o substitui, achando-o muito cansado.

Aproveita o dia, conversa um pouco com os filhos, faz compras para a mulher, apanha o jornal e senta-se, confortavelmente, na poltrona predileta. Espera, ansioso, o horário do futebol começar.

De repente, percebe Rosa, sua mulher, entrar rápido na sala, agitada, aos gritos, chamando-o, derrubando tudo que encontra…

— Jorge, preciso lhe falar!

Ele resmunga logo, hum… sei… já vou…

 

Ela continua nervosa, falando rápido:

— Jorge, presta atenção… Suas mãos tremem… Chuta a banqueta em que ele repousa os pés.

— Sim… Tudo bem… Já ouço…

— Jorge, me escute… É sério…

— Hum… sei… Sempre é...

Rosa, sem demora, arranca-lhe o jornal e grita:

— Roubaram o seu carro!

Jorge, nervoso, levanta-se rápido e dá um grito:

— Nossa mulher! E só agora você me diz?

Vida de médico é assim mesmo…

 

 

 

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