A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O COPO TEIMOSO - Dinah Ribeiro de Amorim





O COPO TEIMOSO

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Dona Marina, funcionária aposentada, reúne uma vez por semana as amigas,  para um joguinho de cartas. Fazem desse entretenimento um compromisso inadiável. Além do jogo, é servido um lanche de intervalo, que sempre consiste num refresco em copos de cristal e um bolo feito por Maria, ajudante de anos, preparado para a ocasião.

Na semana em que a filha de Dona Marina chega de uma viagem à Inglaterra e é presenteada com lindo aparelho de chá, em louça pintada, orgulho de toda dona de casa, resolve oferecer às amigas, um delicioso chá de menta, junto ao bolo de Maria, deixando de lado os copos de cristal.

Não é que os copos, enciumados, acostumados a serem usados, quando o armário é aberto e as xícaras retiradas, um deles, o mais teimoso, se atira ao chão, com raiva, mal dando tempo de Maria apanhá-lo. Virou cacos, o coitado.

Era também bonito e valioso, mas muito ciumento e teimoso.

 

A HISTÓRIA DO JACARÉ ACACIO - Claudionor Dias da Costa

 

 

A HISTÓRIA DO JACARÉ ACÁCIO

Claudionor Dias da Costa

 

                Eu sou o Zezinho e vou contar a vocês uma história emocionante.

                Sempre depois do almoço eu e meus amigos   brincávamos   na rua e mamãe recomendava:

                − Brinquem bastante, mas não fiquem muito perto do lago!

                Como somos travessos, dava mais vontade de ir até lá.

                Meu amigo Dentinho era terrível, queria porque queria, ir ao lago e se deixasse até nadaria.       

                Apressados entramos na vendinha do Senhor Antônio para ver as novidades de balas e doces, e davam água na boca.                  

                  De repente ouvimos o vozeirão dele:

             — Meninos vocês souberam da história do jacaré?

                Ficamos com os olhos esbugalhados com a cara assustada do Senhor Antônio, o que aumentou nosso pavor. Ele continuou falando:

                  — O Oscar, aquele jardineiro da Prefeitura quem me contou. Disse que estava fazendo limpeza do mato perto do lago. Deu uma paradinha para descansar e se assustou olhando para a frente em direção a água.

Nesse instante o vendeiro tinha os olhos de pavor:

                −Sabem o que ele viu?

Arriscou uns segundos esperando respostas, mas a gente estava mudo:

                — Nada mais nada menos do que um “baita” jacaré na margem.

                Nesse momento encostado no balcão quase caímos de costas.  Olhei pro Dentinho, ele já não parecia tão afim de cair no lago.

                Saímos para a calçada e ficamos comentando a tarde inteira duvidando do tal aparecimento do jacaré. Achamos que o Senhor Oscar teve uma ilusão ou coisa parecida.

                Mais tarde, chegando em casa, mamãe perguntou se estava tudo bem. Achou que eu estava meio amarelo e preocupado.

                 No jantar fiquei quieto, conversei muito pouco com papai e mamãe.

                 Naquela noite, revirei muito na cama e tive um pesadelo com o jacaré, e o que poderia fazer conosco se nos pegasse.

                    Após dois dias com provas na escola, ficamos novamente livres para brincadeiras e saímos pela rua despreocupados.

                    Nos cansamos de empinar pipas e, mais ainda do futebol no campinho de terra.

                    Procurando novidades, Dentinho teve a ideia de amedrontar as meninas da turma. Fomos até perto delas que brincavam de pular corda e ele foi logo gritando:

                — Vamos rápido para o lago que tem uma surpresa!

                   Corremos rindo com a certeza de pregar um susto nas meninas.

                   Olhamos e não vimos nada. Sentamos um pouquinho longe da margem e ficamos “batendo papo” observando o surgimento de algum movimento na água. Estávamos ansiosos para “aprontar” com as meninas, muito embora, confesso que eu também tinha medo.

                   Até que lá pelas tantas, o Dentinho começou o suspense:

                  A água está se mexendo lá embaixo. Estão vendo?

                   Todos ficaram apreensivos e logo ele foi gritando:

                — É um jacaré!

                  As meninas agitadas, se esconderam atrás de uma árvore e ficaram observando atentas para confirmar se era verdade.

                  Aquele vulto escuro veio se aproximando mais para perto.

                  Surgiu no meio do lago e deu para ver claramente um jacaré. O Senhor Oscar tinha razão.

                   Fomos embora num atropelo só, ainda olhando para trás não acreditando naquilo. As meninas, nem se fala.

                  No dia seguinte, muito mais curiosos e querendo ver de novo a figura daquele bicho, Dentinho nos empurrava para ir até lá. Foi o que aconteceu.

                   Sentamo-nos próximo da margem. Não demorou muito e o jacaré veio em nossa direção.

                   Com toda a nossa pouca coragem, ficamos surpresos quando um pouco mais perto, ele tirou a cabeça da água e disse:

                   − Não fiquem com medo meninos. Eu sou meio feio, até reconheço, mas sou manso e posso até ser amigo de vocês.

                    Aquilo nos deixou perplexos, não acreditamos que estávamos ouvindo um jacaré.

                    E começamos a conversar com ele, que contou a sua história dizendo que seu nome era Acácio. Começamos a gostar dele e ficamos amigos.      

                   Depois de um tempo, ele olhou para nós meio tristonho e pediu:

                   — Tenho que confessar que quando vocês ficam na margem conversando e tomando sorvete, fico ao longe com tremenda vontade de estar junto. E mais ainda, quero experimentar aquele de morango bonito com três bolas.

                    Nessa hora pedi que esperassem que já voltava.

                    Fui até a praça e arrastei o   Senhor João sorveteiro até o lago. No caminho contei a história do jacaré Acácio para ele e disse que pagaríamos o sorvete.

                    Sorrindo se aproximou e disse ao Acácio:

                     — Soube que você quer tomar sorvete, né?

                    E preparou um bem grande com três bolas de morango conforme o pedido do nosso mais novo amigo jacaré. Ele saiu do lago ficou em duas patas em pé. Agarrando o sorvete deu um grande sorriso com seu bocão e um montão de dentes. Agradeceu muito olhando para nós. Fiz até   uma foto com o celular.

                    Contamos tudo à mamãe e papai que vibraram com a história.

                    A partir daquele dia, sempre íamos ao lago e brincávamos muito com o Acácio. Até nadávamos juntos,  e muitas vezes nos sentávamos em suas costas imitando um barco.

                     Ele ficava muito feliz e nós também.

                     Essa foi a história do jacaré Acácio que gostava de sorvetes.         

MARGARETH FOTOGRAFA UM CRIME. - Dinah Ribeiro de Amorim

 




MARGARETH FOTOGRAFA UM CRIME.

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Margareth, fotógrafa profissional, trabalha para a Revista Eventos. Sempre que surgem novidades é chamada e, como a cidade do Aconchego está sempre acontecendo, fotografa muito.

Frio, calor, chuvas, dias ensolarados, lá está ela, de máquina na mão, tentando cobrir desfiles, comícios, festividades e cenas do cotidiano, com o objetivo de agradar o leitor.

Dias de folga são raros e, quando acontecem, procura passá-los dormindo; mal se dedica à família, pai e mãe idosos. Isso a contraria e, num raro domingo livre, resolve levá-los a passear no campo. Coloca os pais no carro e fecha a porta de casa, quando o celular toca insistentemente. É o diretor da revista que lhe pede para fotografar com urgência um comício contra o atual secretário de saúde da cidade. Querem sua demissão.

" Logo Dr. Alfredo, pensa ela, um médico tão bom! Querido por todos. Qual será a causa?"

Tristonha, pede aos pais que voltem para casa e desculpa-se, tem trabalho. Outro dia sairão.

Os pais, acostumados com a sua profissão, sorriem e se preparam para o domingo de sempre, na televisão.

Margareth dirige rápido em direção à Secretaria de Saúde, com a entrada bloqueada por seguranças, que impedem pessoas em tumulto.

Gritam todos ao mesmo tempo: "Abaixo Dr. Alfredo! Queremos justiça! Devolvam nosso dinheiro!"

Espantada, a moça prepara a máquina e bate as fotos iniciais da manifestação, sem saber do que se trata, mas curiosa. Locomove-se rapidamente, tenta infiltrar-se entre eles, cada vez mais numerosos e irrequietos. Leva um empurrão e derruba a máquina, que cai ainda explodindo fotos...

Apanha-a com rapidez, evita que pisem, examina-a com cuidado e procura outro lugar. Continua a observar o que acontece. Escuta um estampido, semelhante a tiro, quando estava no meio da multidão e alguém cai. Aflita, tenta ajustar a máquina, que não funciona. Acontece um silêncio, rodeiam a pessoa atingida, o tumulto cessa e a maioria corre apressada. Com certeza aquilo não era previsto. A polícia e uma ambulância chegam rápidas ao local e Margareth reconhece o corpo gordo de Dr. Alfredo, imóvel, ser levado na maca. Policiais interrogam os presentes, algemam os mais exaltados e percebem uma arma jogada no chão, ao lado de um homem afro descendente. Acham-no suspeito. Aproximam-se e, com aspereza, perguntam se a arma é dele. O homem negro nega, jogaram-na após o tiro. Os policiais duvidam e empurram-no ao chão. Puxam seus braços e o algemam também. “Todos para a delegacia! ”

Em instantes, o comício se desfaz, os que conseguem fogem, a paz se restabelece. Margareth, angustiada, vai à revista, conversar com o diretor. Confusa, mal sabe como se explicar. Conseguiu poucas fotos, não soube o porquê do tumulto e como foi o crime.

Thiago, seu chefe, explica-lhe que Dr. Alfredo criou um plano de saúde barato, popular, com pequenas contribuições mensais e promessas de atendimento. Isso não aconteceu. Quando as pessoas necessitaram do plano, não havia nem Pronto Socorro. Daí a revolta da população. Muitos doentes sofreram, houve até mortes prematuras. Queriam justiça, mas, homicídio, ninguém esperou... Perderam o controle quando o avistaram e tentou se explicar. Agora, era chegar ao culpado. Tudo indica que foi o homem negro perto da arma.

Na delegacia, muitos interrogatórios, quais foram os planejadores do tumulto, detenções, deveriam ter recorrido às autoridades legais, mas o mais atingido foi José, o negro encontrado perto da arma. Queriam forçá-lo a confessar o crime. A maioria foi solta por falta de provas e José, sem um advogado que o defendesse, apanhou muito e ficou detido.

Caracterizou-se crime grave com o falecimento de Dr. Alfredo, transformou-se de réu popular a vítima. José, o acusado violento e sem controle, preso, aguarda julgamento.

Margareth não é jornalista nem fotógrafa policial, o caso é novidade em sua vida profissional, mas fica atenta e medita sobre o assunto. Tem intuição que algum erro ocorre na acusação policial. Não acredita que o José seja o culpado. Não tem ficha policial, boa família, pobre, honesto, trabalhador, nem porte de arma possui. Comenta com o chefe e discute as várias opiniões. Lembra-se de buscar a máquina no conserto.

Com a máquina na mão, Thiago revela no computador as poucas fotos antes de bater no chão. Ele e Margareth prestam atenção e, uma delas, a última, mostra um grupo acotovelado em torno de Dr. Alfredo, que cai após o tiro. José não está entre eles, mas o movimento da arma sendo jogada e abandonada aos seus pés é bem nítido, resta agora saber quem foi.

Margareth e Thiago exclamam: ”O homem é inocente! Temos que ir à polícia. ”

Na delegacia, ansiosos, controlam as emoções. Precisam conversar com o delegado encarregado do caso, Dr. Mourão. Esperam minutos que parecem séculos e entram na sala do delegado. Avisam que possuem fotos relacionadas à morte do Dr. Alfredo.

Dr. Mourão acha que o caso está praticamente resolvido, liga a máquina de Margareth ao seu computador, olha as fotos com ligeiro interesse. Não sabia que a moça esteve fotografando o evento. Esse interesse aumenta quando percebe a última, que mostra a arma sendo jogada por alguém aos pés de José. Agora. É localizar quem esteve no grupo próximo ao médico, uma longa e difícil pesquisa. Isso inocentou o homem preso injustamente, e orientam-no para cobrar pelos danos morais que sofreu.

Thiago e Margareth se confessam amigos de José e não saem da delegacia até a soltura. O até então cabisbaixo, melancólico, amargurado e já conformado José, aparece, quase feliz, em total agradecimento.

O final desse caso policial será a futura reportagem que Margareth e Thiago farão, quando a polícia descobrir o verdadeiro culpado. A revista Eventos, além das frivolidades da cidade, cobrirá também assuntos humanitários, de interesse e bem-estar da população.

 

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