
Dificuldades de uma detetive
Hirtis
Lazarin
          Lisa acordou assustada com os latidos
de Rex, seguidos de um longo e amargurado uivo. 
Lembrou-se de que estava sozinha em casa.  Pulou da cama feito mola, desequilibrou-se e,
apoiada no criado-mudo, bateu com força no despertador que se espatifou no
chão.  Os ponteiros travaram-se marcando
três horas e dez minutos da manhã.  Já
sabia o que lhe competia fazer.  Era mais
um trabalho para a detetive Lisa.
          Ela sempre se interessou por filmes e
livros sobre detetives, tinha uma coleção deles.  E o seu grande herói não podia ser outro:
Sherlock Holmes.  Uma profissão que
combinava muito com seu jeito de ser: esperta, ligeira, raciocínio rápido e
atenta aos detalhes.  Nadava feito peixe,
fazia aulas de karatê e não tinha medo do escuro.
          Cautelosa, vestiu o casaco com a gola
levantada, o chapéu com as abas abaixadas e meias já temendo que as escadas de
madeira rangessem na sua passagem. 
Muniu-se de lanterna, lupa e um taco de "baseball".  Desceu na pontinha dos pés, atravessou a
sala, chegou à cozinha.  Luzes apagadas para
não alertar o que estava acontecendo lá fora. 
Cuidadosamente, abriu uma fresta na porta e avistou o cão.  Assim que Rex farejou sua presença, abanou o
rabo e parou de latir, mas continuava irrequieto, agitado querendo soltar-se da
corrente.
      Lá fora o silêncio era quase absoluto,
apenas o cricrilar dos grilos.
      Lisa abriu a porta, sondou o ambiente e
não viu nada de anormal.  Com a lanterna
acesa, fez uma vistoria no quintal pequeno. 
A horta de temperos estava intata, um gato dormia ao lado do cesto de
lixo que ele mesmo derrubou e nem a coruja Julieta que, frequentemente, passava
a noite nos galhos do abacateiro apareceu por ali. Mas alguma coisa ou alguém
incomodou o cachorro que não se assustava à toa.  A adolescente soltou-o da corrente.  Ele passaria o restante da noite dentro de
casa.  Mas o estranho era que o cão
relutava e não queria entrar. 
         Ela voltou à cozinha e acendeu todas
as luzes.  O vitral estava aberto.  Um esquecimento que não merecia perdão.  É por ali que os pernilongos entram e fazem a
festa.  Mas o pior estava por vir...  A claridade forte mostrou-lhe um punhado de
ratos disputando um pedaço de queijo branco esquecido sobre a pia.
          Lisa urinou-se toda.  Na garganta a sensação de que estava entalada
com um caroço sólido, pegajoso e áspero, que não descia nem subia.  Faltou-lhe o ar, as pernas não se mexiam,
perdeu completamente a coordenação voluntária dos músculos.  E não se lembra de mais nada.
          A detetive só acordou quando a luz da
manhã invadiu a cozinha.
          Ratos...adversários poderosos... Era
urgente...Superar esse medo, pois o medo é o maior vilão na vida de uma
detetive que se preste.