A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Dificuldades de uma detetive - Hirtis Lazarin



Detetive fêmea com lupa Vetor grátis

Dificuldades de uma detetive
Hirtis Lazarin


          Lisa acordou assustada com os latidos de Rex, seguidos de um longo e amargurado uivo.  Lembrou-se de que estava sozinha em casa.  Pulou da cama feito mola, desequilibrou-se e, apoiada no criado-mudo, bateu com força no despertador que se espatifou no chão.  Os ponteiros travaram-se marcando três horas e dez minutos da manhã.  Já sabia o que lhe competia fazer.  Era mais um trabalho para a detetive Lisa.

          Ela sempre se interessou por filmes e livros sobre detetives, tinha uma coleção deles.  E o seu grande herói não podia ser outro: Sherlock Holmes.  Uma profissão que combinava muito com seu jeito de ser: esperta, ligeira, raciocínio rápido e atenta aos detalhes.  Nadava feito peixe, fazia aulas de karatê e não tinha medo do escuro.

          Cautelosa, vestiu o casaco com a gola levantada, o chapéu com as abas abaixadas e meias já temendo que as escadas de madeira rangessem na sua passagem.  Muniu-se de lanterna, lupa e um taco de "baseball".  Desceu na pontinha dos pés, atravessou a sala, chegou à cozinha.  Luzes apagadas para não alertar o que estava acontecendo lá fora.  Cuidadosamente, abriu uma fresta na porta e avistou o cão.  Assim que Rex farejou sua presença, abanou o rabo e parou de latir, mas continuava irrequieto, agitado querendo soltar-se da corrente.

      Lá fora o silêncio era quase absoluto, apenas o cricrilar dos grilos.

      Lisa abriu a porta, sondou o ambiente e não viu nada de anormal.  Com a lanterna acesa, fez uma vistoria no quintal pequeno.  A horta de temperos estava intata, um gato dormia ao lado do cesto de lixo que ele mesmo derrubou e nem a coruja Julieta que, frequentemente, passava a noite nos galhos do abacateiro apareceu por ali. Mas alguma coisa ou alguém incomodou o cachorro que não se assustava à toa.  A adolescente soltou-o da corrente.  Ele passaria o restante da noite dentro de casa.  Mas o estranho era que o cão relutava e não queria entrar.

         Ela voltou à cozinha e acendeu todas as luzes.  O vitral estava aberto.  Um esquecimento que não merecia perdão.  É por ali que os pernilongos entram e fazem a festa.  Mas o pior estava por vir...  A claridade forte mostrou-lhe um punhado de ratos disputando um pedaço de queijo branco esquecido sobre a pia.

          Lisa urinou-se toda.  Na garganta a sensação de que estava entalada com um caroço sólido, pegajoso e áspero, que não descia nem subia.  Faltou-lhe o ar, as pernas não se mexiam, perdeu completamente a coordenação voluntária dos músculos.  E não se lembra de mais nada.

          A detetive só acordou quando a luz da manhã invadiu a cozinha.

          Ratos...adversários poderosos... Era urgente...Superar esse medo, pois o medo é o maior vilão na vida de uma detetive que se preste.
          
          

Quem era ela? - Hirtis Lazarin

  Quem era ela? Hirtis Lazarin     A rua já estava quase deserta. Já se ouvia o cri-cri-lar dos grilos. A lua iluminava só um tantin...