A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Reação das nuvens - Hirtis Lazarin


   
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Reação das nuvens
Hirtis Lazarin

As nuvens, impossível agarrá-las.  Tão próximas aos nossos olhos e tão distantes de nossas mãos.

Brincar de pega-pega é o que elas mais gostam de fazer.  E na brincadeira ingênua e divertida, transformam-se em carneirinhos, bolotas de algodão e florezinhas mal-acabadas.

Distraídas não percebem que o inimigo terrível as espreita. Percebendo-as indefesas e presas fáceis,  o tufão sai do esconderijo e tem pressa pra atacá-las.  Chega com toda força que tem.

Num vai e vem atrapalhado e angustiante,  elas que sempre ouviram que a união faz a força,  juntam-se num bloco único. 

O medo, o pavor,  transformam-nas em pesadas e negras nuvens.   E choram... Choram muito...E o choro molha o asfalto que, aquecido pelo sol intenso, queimava os pés das crianças que brincavam descalças.

***

A chuva
Hirtis Lazarin

Depois de um dia de sol escaldante, a chuva, lá veio ela, rápida e sem dó.

Chegou poderosa, acompanhada de seus asseclas preferidos:  relâmpagos intermitentes e raios assustadores em quantidade jamais vista.

Silenciou a cidade,  derrubou árvores que destruiu carros, avariou fios elétricos que provocaram curtos-circuitos, inundou vilas e vielas aprisionando pedestres, encheu ribeirões que invadiram casas.

Deu seu recado e fugiu sorrateira antes que fosse tarde demais.

UM DIA DE GLORIA - Henrique Schnaider



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UM DIA DE GLORIA
Henrique Schnaider


João gostava de participar de corridas de bicicletas, mas nunca teve o prazer de ganhar uma sequer.

Sempre acontecia alguma coisa que o impedia de realizar seu sonho, com ele sempre dando de cara no chão. Ou a bicicleta sempre quebrava alguma peça.

João até levou a danada para benzer, mas foi inútil, ela sempre dava para trás.

Finalmente, seu dia chegou! Quando João menos esperava, sem susto, sem chuva, com muito sol, ganhou sua primeira medalha, cruzando a fita, em primeiro com folga.

Para ele foi um dia dos deuses, lembraria para sempre do orgulho de ter aquela medalha no peito.

***



UM HOMEM PREVIDENTE VALE POR DOIS
Henrique Schnaider

Rui adorava sorvete, ficava na janela de sua casa saboreando aquela delicia gelada, lendo um livro.

Até que um dia de muito sol, resolveu mudar de lugar, para ficar apreciando a natureza, fazendo que mais gostava, debaixo de uma árvore, no jardim de sua casa.

Tudo ia às mil maravilhas, lambendo e lendo seu livro preferido, “O nome da rosa”, não poderia haver cenário melhor, para encantar sua vida.

De repente, uma cobra passou ao seu lado, lhe pregando uma enorme peça.

Daquele dia em diante, achou melhor, ficar sempre nas suas horas de lazer, na querida janela, onde poderia olhar a natureza e seu lindo jardim, sem tomar nenhum susto.


***


UMA NOITE INESQUECÍVEL
Henrique Schnaider

Rinaldo adorava pegar uma estrada com seu carro, indo pelo interior afora.

Sábado cheio de sol convidativo, para uma viajem sem destino, simplesmente sair, sem pressa de chegar a lugar algum.

Exatamente, foi o que fez o nosso personagem, saindo, na Rodovia, viajou livre, leve, solto, quando já estava a uns trezentos quilômetros de distância, não havia uma nuvem no céu, o tempo fechou, resolveu engrossar, preparando uma tempestade.

A chuva já estava tão intensa que Rinaldo não titubeou, viu uma casa aparentemente abandonada, resolveu se refugiar.

O interior do imóvel era tenebroso, causava um frio na espinha, mas Rinaldo pensou em apenas, passar o tempo necessário, depois ir embora.

A tormenta não aliviava, nosso herói, temia que houvesse de passar a noite na casa, tratou de arrumar um canto confortável, esperando o dia amanhecer.

De repente, um barulho estranho, Rinaldo visualiza a imagem de uma mulher, arrepiou-se todo, pois viu que ela não era deste mundo, se encolheu, fechou os olhos e rezou pela alma dela, acalmando o seu coração.

Manhã chegando, sol brilhando, pé na estrada.


Rinaldo nunca esquecerá daquela noite.

Grupo família - Hirtis Lazarin




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Grupo família
Hirtis Lazarin

Tia Lucrécia teve a brilhante ideia de criar o grupo da família no "WhatsApp".  Não sei  o porquê, mas algo não me cheirava bem.

1 - tia Lucrécia:  Olá, família!  Como ninguém teve a iniciativa, acabei de criar nosso grupo virtual.

2 - tio Artur:  Leram o recado?  Vocês já conhecem a Lucrécia.  Ela é bem linguaruda.  Quer mesmo é "bisbilotar"...

3 - Vitor (filho de Lucrécia):  tio Artur, não é "bisbilotar" que se fala.  É bisbilhotar.
4 - tio Artur:  Lá vem a criança querendo ensinar um velho de 75 anos.  Essa juventude não respeita mais ninguém.  "Bisbilotar", é assim mesmo que vou continuar falando.  Vá se danar.  Vá ver se a chuva já passou.

5 - tia Lucrécia: Eta homem birrento, esse meu irmão.  Não é à toa que tem o apelido de  "zangão".

Tio Artur saiu do grupo.  Tia Lucrécia saiu do grupo.  Vitor saiu do grupo.

O grupo durou seis minutos.  O tempo suficiente pra  cinco mensagens.

O verão de Helena - Christianne Vieira



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O verão de Helena
Christianne Vieira

1.   O verão chegara com toda a alegria. Helena contava as horas para as férias na praia. Adorava  o som do mar,  a brisa quente,  andar descalça na areia.

Estava feliz, levara seu namorado, com ela. Sentia que ele era o grande amor de sua vida. O homem que sempre sonhara ao seu lado.


Viagem perigosa
Christianne Vieira

1.   À luz da lua o carro antigo deslizava pela estrada sinuosa. Na curva fechada as placas luminosas refletiam as estrelas. Tinha os pneus gastos que mais pareciam sorvetes derretendo no asfalto.  Em seu íntimo o medo da derrapagem, do perigo iminente, tilintava como moedas despencando da estante.


Na mansão vitoriana
Christianne Vieira

2.   Virando a esquina havia uma linda mansão vitoriana. Ao longe podíamos avistar a árvore frondosa cujos galhos longos tomavam o jardim. Ao abrir os portões de ferro desenhados em estilo rococó, um moleque na tenra idade corre alegre. Os gritos de felicidade em brincar naquele tapete verde, assustavam os passarinhos que saltitavam em um balé, fazendo ruídos brindando a primavera.


O homem da bicicleta azul
Christiane Vieira

3.   Um homem barbudo vinha na bicicleta azul, em velocidade pelo caminho junto ao rio. Ao longe, na cabeceira, uma lavadeira arrastava roupas pelas pedras que alvejavam ao Sol. Ao vê-lo, correu assustada de volta ao casebre de paredes descoradas , cuja porta estava entreaberta.


O verdadeiro acidente
Christianne Vieira

4.   Douglas tomou um susto ao ver um chinelo cair do carro da frente que viajava em alta velocidade. O objeto voou desgovernado dando ligeiras cambalhotas no ar até ser desviado pelo vento provocado pelo carro de Douglas. O jovem ficou com as pernas bambas, as mãos trêmulas não davam conta de manter firme o volante. Caso me acertasse provocaria um acidente, na certa, repetia. O rapaz, logo à frente procurou uma sombra para se recompor.   Tinha o coração em descompassados batimentos e precisava se refazer. Embaixo da mangueira já se sentia mais tranquilo, quando uma bola o atingiu com velocidade.


Inesperado
Christianne Vieira

5.   Olivia se preparava para a viagem ao Atacama. Era a viagem de seus sonhos. Sabia das dificuldades que enfrentaria, o tempo no deserto podia variar em algumas horas, com sol escaldante de dia e  frio ao cair da noite. A mala bem preparada a prevenia das intempéries.

Logo no primeiro dia um passeio ao deserto como ela planejara. Enquanto o ônibus atravessava a estrada viam-se nuvens ao longe que pareciam uma fina chuva, confundindo-se com a poeira marrom que levantava provocada pelo movimento do veículo. Ao passar pela primeira cidadezinha, o motorista estacionou em uma viela, e lá permaneceu, até que todos terminassem o lanche, e a tempestade acabasse.


A mulher do outdoor
Christianne Vieira

6.   Alice era uma mulher linda, arrancava suspiros por onde passava. Quando criança, foi chamada para posar para propagandas. Olhar sua imagem delicada no outdoor, enchia os olhos de sua mãe de nuvens que  caiam como lágrimas de alegria.


O gatinho ciumento
Christianne Vieira

7.   Félix era um gatinho dengoso, passava o dia todo encima  do velho  chapéu, no meio fio da janela, observando a rua abaixo. A boca rosada e seu olhar doce deixava sua dona encantada.

Enquanto ela devorava o livro, ele ia e vinha para seu colo, disputando atenção.

O raio
Christianne Vieira

8.   Mariana acordou assustada, naquela manhã chuvosa. Um relâmpago cruzou o céu rápido, clareando o amanhecer. No sonho, caía do alto de um prédio, e o medo de atingir o solo deixava sua respiração lenta. Quando parecia que iria sufocar, aquele estrondo alto a despertou.

O destino do chinelinho - Hirtis Lazarin



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O destino do chinelinho
Hirtis Lazarin

O chinelinho, coitado, tão velho e desgastado, vivia escondido na sombra de um canto qualquer da casa grande.  Desanimado e deprimido, recordava seus dias de glória.  Todo faceiro coloria os pés miúdos da sinhá moça que desfilava orgulhosa com o presente único que viera lá da Europa.

Hoje esquecido entre as tralhas da casa e sem serventia, só espera o momento do abandono numa lata de lixo.


O TRAQUINAS - Henrique Schnaider



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O TRAQUINAS
Henrique Schnaider


Naquela mansão morava um moleque terrivelmente sapeca, um verdadeiro bicho carpinteiro, todos os dias aprontava alguma.

Seus pais já não sabiam o que fazer, precisavam achar uma forma de sossegar o menino.

A vítima principal, era o carro do pai, riscava a lataria, furava o pneu. O moleque, um verdadeiro traquinas, sempre estava procurando alguma coisa que irritasse a família.  ameaçavam, sempre com a famosa frase que assustou gerações de meninos: “o homem do saco vai te pegar”.

Um dia resolveram por em pratica a ideia. O pai pediu ajuda a um amigo e o vestiram como o homem do saco. Não é que ele ficou deveras muito feio, assustador?

O homem do saco entrou no quintal, com um saco nas costas, falando palavras ininteligíveis, quando o sapeca deu de cara com aquela figura assustadora, tomou tamanho susto, ficou tão apavorado, gritando por seu pai, que naquele momento entrou e expulsou a criatura. O menino ficou muito admirado com a coragem dele, que virou seu herói.

Daquele dia em diante o diabinho se transformou num perfeito anjinho.







PROVEITOSA TARDE DE VERÃO - Do Carmo



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PROVEITOSA TARDE DE VERÃO
Do Carmo

Rodrigo, garoto inteligente e traquina, está em tórrida alegria por ter chegado à praia, para desfrutar  as tão planejadas  férias de inicio de ano.

Seu sonho seria plenamente realizado, uma vez que os dias seriam repletos de azul, com uma luz efervescente de brilhante sol, que com delicadeza aquecia a suave areia.

Manhã de fresca doçura, mesmo com o sol escaldante banhando sobre toda praia, Rodrigo extasiado com tudo que seus olhos de jade viam, deitou-se na esteira e com displicência natural de um garoto feliz, saboreia um sorvete, seu predileto, de limão.

Com olhos fechados e o semblante sorridente, calado diz:

- Com certeza, as minhas férias serão de muitas  aventuras, todas tão sonhadas.  Os dias preguiçosos caminharão ao compasso de uma rodopiante dança bem lenta.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O sobrado mal assombrado - Christianne Vieira





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O sobrado mal assombrado
Christianne Vieira


Turmia animada a da travessa dos Girassóis. Nem bem o dia amanhecia, e as meninas estavam prontas para as aventuras. Como de costume Clara era a primeira a cair da cama, esperta, a ruivinha vinha com suas chiquinhas balançando ao sabor do vento. Ao sair pelo portão, toda faceira, ia feito um raio chamar Anamaria, sua vizinha. Ela, alta para sua idade, de cabelos negros de índia, e olhos cor de jabuticaba.

Juntas iam até a casa de Yumi, a japonesinha. Pequena, rosto redondo, a mansidão típica dos orientais.

As três causavam na rua. Eram temidas pelos vizinhos mais idosos, pois quando se juntavam, sempre havia confusão. Dentre as artes, enumeravam: o arremesso de danone na caixa da água do vizinho, chuva de papel picado para saudar o ano novo que entupia todos os ralos da rua, montar supermercado com a dispensa da D Magali, onde muitas compotas sumiam, ou brincar de banco, usando a antiga Olivetti do Nono, para fazer os cheques e o barulho de carimbos batendo na madeira sem parar.

Entre as  brincadeiras preferidas, estava  o piquenique regado a tubaína e rocambole pullman no jardim da Anamaria, e a aventura exploratória no sobrado mal assombrado do fim da rua.

Explorar aquela casa onde diziam ter fantasmas... Era de arrepiar. Somente aquela patota corajosa, para fazê-lo.

Diziam os antigos moradores, que lá vivia um fantasma de uma menina, que ficou aprisionada no sótão de castigo, por tantos anos que virou uma caveira... E que ela arrastava sua cadeira pelo piso, afugentando quem ali entrasse.

Clarinha, Anamaria e Yumi, escolheram um dia especial, e entrariam naquela casa. Foram  vestidas para a batalha. Com galochas e escorredores na cabeça, munidas de vassoura, rodo e uma pá de lixo grandona.

Seria a aventura blaster, empolgante e assustadora. Fizeram até um mapa para a ocupação e fuga. O estudaram pedacinho por pedacinho até decorar.

Partiram para a missão, um misto de adrenalina e medo, mas eram guerreiras, e não fugiriam da batalha.

Deram as mãos, pediram ajuda do anjo da guarda, e em marcha foram para o casarão.

Chegando à frente do sobrado, empurraram o portão, entreaberto, e pelo corredor nebuloso seguiram para a porta da frente. Tudo ali cheirava a fantasma. Parecia que uma fumaça vinha lá de cima, devia ser a menina fantasma, elas pensaram.

Subiram a escada em fila, com as mãos dadas, bem suadas, pé ante pé, até o último lance.

De repente um vulto se movimentou, parecia vir rapidamente na direção delas. Um ruído forte, arrastado o acompanhava.

Pronto , a menina cadáver se transformara em um monstro gigantesco.

Yumi, última da fila, gritou e saiu correndo escada abaixo. Anamaria tentou segurá-la, em vão. De olhos fechados, tremia inteira. Clarinha, a mais corajosa, suando de medo, continuou no caminho, tinha que enfrentar aquela fantasma.

Quando a porta do quarto abriu,  o vulto foi chegando mais perto. Ficando ainda mais aterrorizante. As armas, que haviam trazido, jaziam caídas nos degraus.

A ruivinha, cheia de si, respirou fundo e foi de encontro com a sombra monstruosa.

Até que deu de cara com o seu Francisco, o faz tudo da rua.

— Meninas o que vocês fazem aqui?!  Estou fazendo a reforma da casa, o piso está instável, e o estuque está desabando...Está perigoso andar aqui. Melhor vocês irem embora, ou chamarei a D Magali!

Clarinha caiu na gargalhada... Sentou na escada, não havia fantasma nenhum... O tempo todo era seu Francisco.

Minutos depois, com dor de barriga de tanto rir, foi procurar as amigas, que estavam escondidas, na garagem da casa da Yumi, dentro da barraca de índio.

As duas abriram os olhos e vendo a amiga sã e salva, respiraram aliviadas.

Temiam que a fantasma a tivesse reduzido a pó.

Juntas ouviram a estória de Clarinha, o mistério do sobrado mal assombrado havia sido elucidado. Os meninos não iriam acreditar!!


UMA CENA DO COTIDIANO - Henrique Schnaider




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UMA CENA DO COTIDIANO
Henrique Schnaider

Rolando entrou na sala, molhando todo tapete, estava ensopado pela chuva que caia lá fora.  

Muito irritado, pois juntamente com uma multidão, sofreu para pegar o metro, e chegar finalmente em casa.

Queria ligar o mais rápido possível, para a doce e amada Rita, por quem nutria uma paixão delirante, iria acompanha-la à missa, mas no fundo queria estar, apenas perto dela.

Estava pensando em convida-la para um programa no restaurante Porcão, que um amigo havia recomendado, pelas delicias que se podia degustar num ambiente pra lá de bom.

A chuva não dava trégua, mas Rolando estava disposto a se molhar até os ossos, já que por Rita, faria qualquer coisa.

Ligou para Rita, com o coração aos pulos, mas para seu desencanto, ninguém atendeu, ficou imaginando onde estaria sua princesa encantada, como seria bom se ele a visse naquele dia, declararia seu grande amor por ela.

Sem ter outra opção, resolveu ficar em casa só e amuado, sem nada para fazer, começou assistir a um filme sem muito entusiasmo, quando de repente toca a campainha.

Rolando levantou-se vagarosamente foi atender à porta, para sua imensa alegria era Rita dos pés a cabeça ali na sua frente, assim a vida tomou um novo sentido naquele momento, Rolando se desmanchou de emoção.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

O MISTÉRIO DE PADRE AUGUSTO. - Do Carmo



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O MISTÉRIO DE PADRE AUGUSTO.
Do Carmo

Em uma pequena cidade do interior paulista, corria um boato muito estranho a respeito do pároco da igreja matriz, uma figura controversa, por conta de sua atitude taciturna, discreta, séria, porém solícita e sempre presente quando necessária: Padre Augusto, seu nome.

Há bastante tempo que as senhoras carolas, frequentadoras assíduas e obedientes a Lei Divina, comentavam com certa malícia, sobre um fato intrigante praticado por tão sóbrio senhor.

Pontualmente as portas da igreja eram fechadas e toda s as luzes apagadas, por volta das vinte horas, demonstrando que o padre Augusto estaria recolhido aos seus aposentos, que ficavam atrás da igreja.

Assim apresentado, as “carolas” eram faladeiras, pois muito natural era a conduta do padre.

Contudo, uma dessas respeitadas senhoras, de língua comprida, era mãe de uma professora de alfabetização de adultos, da escola municipal, cuja aula terminava entre dez e dez e meia da noite. Ela estava sempre acompanhada por alunos.

Certa noite, de inverno molhado, resolveu terminar a aula mais cedo, pois o frio era escuro e o ar alfinetado de umidade. Caminhavam a passos rápidos e subidamente, qual o espanto de todos, quando viram garbosamente o padre Augusto, acompanhado de alguns jovens, mais ou menos doze, entre meninos e meninas, entrarem sorrateiramente em uma casa totalmente as escuras.

Pararam atônitos. Os boatos tinham fundamento? O que significava aquela atitude? O que iria fazer com aqueles jovens? A professora foi a primeira que teve uma escaldante idéia para desmascarar o sórdido padre.

 Abriu o portão e com toda força feminina que possuía, esmurrou a porta que se abriu totalmente e marchando ferozmente, entrou em uma cozinha, fartamente iluminada e parou estupefata diante de uma grande mesa preparada para um jantar para mais mais de trinta andrajosos convidados, que iriam receber das mãos abençoadas do padre Augusto, uma suculenta sopa, com pãezinhos quentes, carne com batatas, arroz  e sobremesa de frutas.

Todos estavam assustados com a invasão desbaratada da professora, que sempre serena, estava totalmente irada. Envergonhada dos maus pensamentos quer tivera naqueles rápidos minutos, tenta desculpar-se, mas foi interrompida pelo sorridente padre, que calmamente e com um sorriso vitorioso nos lábios, diz :

- A senhorita e seus acompanhantes aceitam sentarem-se conosco e saborear um prato deste delicioso jantar, que toda noite com carinho fraterno, é feito  por estes meus jovens amigos de coração e fé?  

O VOO FRUSTRADO DO PADRE ANGELINO - Isabel Lopes


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O VOO FRUSTRADO DO PADRE ANGELINO
Isabel Lopes

Puxou a cadeira e deixou cair sobre o acento a batina, o amito, a alva e o cíngulo.

Aos domingos a missa costumava ser mais extensa e, no final da noite, Padre Angelino sentia o peso dos seus 65 anos, suportados pelas pernas cansadas depois de longas horas de sermão.

Tomou o banho morno e deixou-se cair na cama macia, com uma caneca de chá na mão.

Até meia noite daria para tirar uma bela soneca - pensou.

Havia dez anos que ele estava empenhado na construção secreta daquela engenhoca.

Desde menino, alimentava o sonho de um dia voar com um avião  feito pelas suas próprias mãos!

Padre Angelino sentia-se cada vez mais perto do sonho de ver sua Fly 2.2 alçar voo pelo céu azul de Campinas.

Os poucos anos na faculdade de engenharia, cursados antes da  ordenação, tinham-lhe servido de base para a construção daquele sonho: seu próprio avião!

Olhou o relógio na cabeceira e levantou-se apressado, com a urgência daqueles que não podem deixar o sonho lhe escapar pelas mãos.

Meia noite em ponto.

Vestiu-se e saiu sem fazer barulho. Fez a travessia pela rua, silenciosamente, tomando todas as precauções para não ser visto.

A vizinhança preferia acreditar que um padre não tinha vida própria e, se soubessem da sua invenção, na certa o tomariam como louco ou sabe Deus o quê.

Do outro lado do bairro, a fábrica abandonada abrigava secretamente o pequeno avião do padre Angelino, quase pronto para ser pilotado.

Quando iniciou sua construção, pensou detalhadamente em cada peça, deu formas às placas de alumínio e pôs cada parafuso no seu devido lugar.

Nas laterais, a frase: “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará”e em uma das asas suas iniciais.

Tudo bem planejado.

Só não havia planejado aquilo...

Seus passos antes apressados, agora davam lugar a passadas lentas, quase rastejantes...atônito, constatou: era a fábrica em chamas! E lá dentro seu avião!!!

Esforçou-se para não chorar. Não pegaria bem para um padre.

De longe pôde ver o Fly 2.2  tombando  entre os escombros!

Bombeiros  já tinham sido acionados, o fogo estava sendo dominado.

Antes de ser notado, padre Angelino pôs-se a fazer o caminho de volta, resignado.
Depois de alguns dias, voltou ao local e apanhou partes do avião que havia resistido ao fogo e começou a pensar em uma nova invenção...

Depois de duas semanas, as crianças da igreja  já estavam sendo presenteadas com miniaturas do avião Fly 2.2.

Esse padre Angelino é mesmo atencioso! Foi comprar brinquedinhos para as crianças, comentavam felizes as mães.

Padre Angelino olhava aquelas miniaturas um tanto desapontado.

Ainda não seria dessa vez que iria voar!


AS MENINAS DA CASA VERDE! - Dinah Ribeiro de Amorim

  AS MENINAS DA CASA VERDE! Dinah Ribeiro de Amorim   José Arouche de Toledo Rendon foi uma das principais figuras do início do impéri...