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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

FINAL DE TARDE - Hirtis Lazarin



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FINAL DE TARDE
Hirtis Lazarin



Finalmente Lívia achou um cantinho aconchegante capaz de amenizar seu sofrimento, um refúgio deserto onde podia gritar até perder a voz e chorar uma cachoeira de lágrimas.  Um sofrimento sem fim que herdou após o rompimento de um namoro prestes a virar noivado.


Suas tardes tornaram-se rotineiras.  Caminhava quase um quilômetro até chegar à praia.  Sempre no momento em que o sol agonizava detrás de uma cortina alaranjada, mas garantindo que, na manhã seguinte, voltaria.  As ondas chocando-se com os rochedos, a espuma branca cobrindo a areia, a imensidão azul-esverdeada cheia de mistérios, transmitiam-lhe um pouco de paz.  A paz que se foi de um jeito incompreensível e brusco quando a verdade se mostrou inquestionável.


Fazia exatamente dois anos que Lívia conhecera Luca, numa exposição de pinturas impressionistas de artistas brasileiros.  Estava ela deslumbrada diante de um quadro de Washington Maquetas.  Já lera o suficiente sobre o impressionismo iniciado por Monet, mas era a primeira vez que estava diante de obras dessa escola de arte.  Impressionante a técnica das pinceladas rápidas e soltas, retratando as coisas exatamente como o pintor as vê a luz do sol, ao ar livre para que pudessem reproduzir melhor as nuances de cores da natureza.


Lívia foi despertada dessa contemplação por um perfume amadeirado e suave.
  Olhou pros lados e não havia ninguém.  Atrás dela estava o causador de sua desconcentração.  Luca aproximou-se e, como apreciador dessa arte, o papo foi longo e interessante.  Estabeleceu-se uma sintonia que virou namoro e chegou aos preparativos do noivado.

Dois meses antes da festa, Luca viajou à Europa a negócios.  Depois de alguns dias, as mensagens foram rareando, os telefonemas não mais atendidos até o desaparecimento dele das redes sociais.  O choque maior aconteceu quando a família informou que o rapaz estava bem e não voltaria tão cedo ao Brasil.  Lívia foi nocauteada e, sem dó, jogada ao chão.  Por mais que pensasse não descobria nenhuma pista do porquê desse rompimento sem uma palavra, sem qualquer explicação..  Nenhum desentendimento...

 Como era possível acreditar? Luca parecia tão verdadeiro, tão seguro dos planos.  Uma pessoa não muda de ideia sobre coisas tão sérias de um dia pro outro... Um turbilhão de perguntas sem respostas... "Aqueles olhos grandes me olhavam de um jeito que até parecia poesia?"

O conto de fadas acabou e a jovem caiu numa tristeza profunda.  Abandonou o trabalho, afastou-se dos amigos, trancou-se dentro de casa e dentro de si mesma.  Durou uma eternidade até que, num entardecer conseguiu caminhar até a praia.  E a primeira música que conseguiu ouvir foi cantada pelas ondas do mar.  O mar cantava só pra ela...

" Sabe, a gente cresce e tem vontade de ser menino outra vez, Os joelhos ralados doem menos que a desilusão de um grande amor'.


O ARRASTAR DA SEMANA - Do Carmo



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O ARRASTAR DA SEMANA
Do Carmo


Finalmente chegou o final de semana!  Arre! Como demorou a passar!

Os dias arrastaram-se vagarosamente, deixando o pequeno Augusto deveras faminto para as brincadeiras ensandecidas que iria saborear nas areias quentes de Guarujá.

 Afoito, a cada minuto fazia um balanço de sua bagagem, preocupado em deixar esquecido algum item que para ele era caso vital.

Em contrapartida, Rebeca, sua irmã mais velha dois anos, olhava para o nada com seus olhos de damascos maduros, sonhando com o escorregar do sol no horizonte litorâneo. Para ela, o pôr do sol no mar, é um momento de carinhoso afago entre o astro rei e o majestoso oceano.

A cada instante Augusto perguntava:

-  Demora muito para papai chegar?

Seu olhar parecia um tornado saindo pela janela.

Rum, rum, rum, ouviu-se e em seguida gritos:

- Chegou! Ufa!

Antonio entra e perguntando se tudo está pronto, olha a bagagem esperando para ser transportada.

 – Sim, responde Maria com sorriso adocicado, e o carro abastecido e vistoriado?

Então:

-  Pneu na estrada! Grita Augusto.

UMA VIAGEM INUSITADA. - Do Carmo


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UMA VIAGEM INUSITADA.
Do Carmo



- Uaaaaau! Grita Augusto. Não acredito que finalmente estamos saindo de casa e logo mais estaremos entrando no apartamento de Guarujá.

Com voz de veludo, Maria pede que o filho se acalme e tente uma sonequinha.

A perspectiva de chegarem rápido é extremamente remota, uma vez que a Rodovia dos Imigrantes estava afogada de carros.

Rebeca continuava impassiva. Sonhava acordada pensando se encontraria novamente aquele rapaz, com quem muito conversou no feriado passado.  

Rodaram por alguns quilômetros em silencio. De repente tudo parado. A estrada era um tapete de luzes, de um lado brancas, de outro vermelhas.

O engarrafamento era assustador. Guardas Rodoviários passavam em motos com sirenes estridentes, tentando fazer comboio, pois a Serra do Mar estava fechada pela serração.

Augusto acorda com o barulho das sirenes e ainda sonolento pergunta:

- Chegamos? Que música é essa que parece de louco?

- Filho, são sirenes, estamos esperando nossa vez para continuarmos em comboio até o final da serra.

- Que horas são mamãe? Pergunta Rebeca.

- Querida, são duas e vinte.

- Dormi. Que bom, não senti agonia de estarmos tanto tempo parados. O que se pode fazer é apenas nos programar para nosso final de semana. As aventuras que viverei, pessoas que conhecerei e talvez encontrar quem eu sonhei.

Augusto olha desanimado para aquele colar de faróis, aconchega-se no banco e adormece novamente.

O automóvel fica em silêncio e logo começam a seguir caminho em compasso de manada cansada e depois de mais três horas de viagem, saem da balsa do Guarujá e rapidamente chegam ao apartamento.

Antonio está exausto, suado e faminto. Não teve tempo sequer de lanchar. Em desabafo fala: 

- Se eu encontrar o inventor de feriados, eu faço um saboroso “Homem à Cabidela” acompanhado de Farofa de Ossos.  Vou dormir.

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