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quarta-feira, 14 de agosto de 2024

NAMORO À DISTÂNCIA - Dinah Ribeiro de Amorim

 





NAMORO À DISTÂNCIA

Dinah Ribeiro de Amorim

 

O amor é uma coisa estranha! Cada um o sente de uma maneira, quando o sente.

Às vezes, um gesto diferente, um olhar, uma atitude, uma palavra, desperta a atenção do outro e o amor brota, nasce uma chama no coração.

Se houver incentivo, ele desenvolve e inflama ou cria sementes, galhos e flores, como verdadeiro jardim.

Isso aconteceu com Izilda e Gilberto, através de simples troca de pensamentos, comunicação de postais, cartas e e-mails pela Internet.

Começaram em um site de intercâmbio e, sem se conhecerem, nem troca de fotos, iniciaram pequena conversação.

As ideias entre eles foram tão interessantes, os pensamentos a respeito de tudo tão semelhantes, que isso durou uns dois anos.

Ele, um corretor de imóveis e, ela, uma vendedora de artesanatos em pequena feira.

Incrível a dependência um do outro, a combinação dos horários, o olhar prazeroso que demonstram quando ligam o computador e iniciam o diálogo. Parecem crianças quando avistam brigadeiros em festa de aniversário.

O silêncio que exigem ao redor, a atenção que fixam na tela, a compreensão que se estabelece.

Izilda transforma a vida solitária e triste, o trabalho exigente, a ausência de notícias alegres, em momentos de sorrisos e prazer.

Refletia felicidade naquele horário do dia, que Gilberto chamava.

Queria sempre notícias de lá, Portugal, através do computador.

Ela, brasileira, falava do seu dia aqui. Ele, português, do seu dia de lá.

Assim foi nascendo aquela amizade que se transformou em hábito diário, convivência virtual, amor.

Gilberto, ansioso, com o tempo, queria conhecê-la, vir ao Brasil.

Izilda, com imensa vontade de tê-lo, se não viesse, faria o impossível, iria até ele.

Já economizava um pouco, imaginando uma viagem surpresa. Quem sabe, iria antes dele e, como toda mulher decidida e apaixonada, realizaria seu sonho.

Guardava, no íntimo, um pequeno segredo. Com tanto tempo de conversa e intimidade, escondia dele algo que sempre a preocupou em relacionamentos amorosos, era deficiente visual.

Utilizava, ao falar com ele, um computador em braile. Suas frases eram traduzidas na linguagem comum, para ele, e, as dele, para o braile, no computador dela.

Isso a entristecia porque sempre foi um problema a enfrentar e, agora, tão interessada nele, o problema se torna maior.

Aconselhou-se com amigos íntimos, como deveria agir. Falar francamente de sua deficiência ou deixar acontecer, quando a visse.

Gilberto, também ansioso, estranha seu silêncio, deixando-o alguns dias sem comunicação.

Ignora que a amada brasileira anda confusa. Insiste em chamá-la, mas ela não responde. Seria alguma doença?

Ele também andava aflito, preocupado, desde que falou em vir ao Brasil.

Será que ela gostaria dele, do seu aspecto físico?

Sentiu-se inseguro, anos atrás, muito tímido na presença de moças, futuras namoradas. Agora, amadurecido, preparado, queria ir até o Brasil para conhecer Izilda. Venceu seus problemas, mas...

Ela, incentivada pelos amigos experientes, desiste de viajar e decide contar-lhe, por e-mail, a sua deficiência. Que angústia! Aguarda, em dúvida, a sua reação.

Alguns dias se passam e Izilda também se aflige com o silêncio de Gilberto. “Com certeza, ficou impressionado e aborrecido, não me ligará mais”.

Espantada, atende-o no horário costumeiro, após certo tempo. Desculpa-se pela demora alegando um resfriado súbito.

Izilda percebe-o calmo, conversa normalmente, nada revela medo ou constrangimento. Já em preparo, animado, para vir ao Brasil, conhecê-la, pede informações sobre sua localização.

E agora, preocupa-se ela, como fará para recebê-lo? A vida, o trabalho, no seu caso, é difícil e, embora acostumada, lidar com uma visita estranha, mesmo do seu gosto, causa-lhe inibição. Conta com uma amiga especial, Anita, que a auxilia nas dificuldades, mas, em namoro, a situação é outra.

Anita promete ajudá-la, mas sente também um pouco de medo. Qual será a reação com uma intermediária, entre eles?

Munido de passaporte e passagem comprada, Gilberto avisa o dia e a hora que chegará ao Brasil, pedindo para ir encontrá-lo no aeroporto de Guarulhos.

Começa a preocupação em Izilda, mas a curiosidade e a vontade de conhecê-lo é mais forte, o amor que sente por ele e a sua vinda, domina a sua deficiência. Pena não poder vê-lo, mas tê-lo perto já é o suficiente.

Junto a Anita, a amiga fiel, tomam um taxi rumo ao aeroporto, no horário combinado e ficam à espera.

O avião, após um voo tranquilo, chega na hora certa, e pousa, suave, no chão.

As jovens, rápidas, dirigem-se ao desembarque dos passageiros. Combinaram de se identificarem com os nomes escritos num papel, colado às roupas, semelhante ao encontro de turistas que procuram seus guias.

À medida que vão chegando, Anita vai descrevendo para Izilda como são e, nenhum, por enquanto, vem com a etiqueta de Gilberto.

Izilda, preocupa-se em perdê-lo, será que Anita se distraiu? A demora é grande.

Por último, vem alguém com o nome de Gilberto, colado.

— Chegou, grita Anita.

Caminha devagar, amparado por uma aeromoça, um rapaz alto, bonito, portando óculos, bengala e um cão guia. É Gilberto, também um deficiente visual, que é dirigido às moças, o namorado de Izilda.

Após o espanto e a curiosidade geral, Anita ajuda-os a saírem dali. Vão em direção à casa da jovem enamorada, meio aturdida com a novidade.

O tempo, esse companheiro constante, passa rápido e, Gilberto, permanece no Brasil. Forma com Izilda mais um casal de deficientes visuais, como muitos corajosos, que existem, na cidade de São Paulo.

São felizes? Com certeza, sim, após treinamento adequado e conhecimento melhor um do outro.

Tiveram filhos? Também sim, sendo pais dedicados e cuidadosos.

Ah! As duas filhas não nasceram com deficiência.

Cuidam dos pais, até hoje.

 

 

 

 

 

O SONO DE AMÉLIA - Helio Fernando Salema

 



O SONO DE AMÉLIA

Helio Fernando Salema

 

 

 

A festa junina do bairro estava no auge. Música alegre, grupos dançando quadrilha e a fogueira acesa. Em cada barraca, rigorosamente enfeitada, muita variedade de comidas típicas, todas elaboradas pelas mãos experientes das senhoras, que orgulhosamente exaltavam suas particularidades.

 

Amélia, uma jovem de pouco mais de vinte anos, corre para sua casa chorando, sem que ninguém perceba. Entra ofegante, quase tropeçando nas próprias pernas e vai diretamente para o seu quarto. Ao aproximar de sua cama se atira como se estivesse indo para outro mundo.

 

Seus pais chegam muito depois. Sua mãe, D. Esmeralda, ao ver a porta do quarto aberta se espanta, mas ao perceber que a filha estava deitada e acreditando que ela dormia pelo cansaço da festa, encosta a porta, para que ninguém a incomode.

 

No dia seguinte, todos se levantam e se dirigem a mesa de café. Em seguida percebem a ausência de Amélia. Enquanto o pai e o irmão tomavam café, sua mãe preocupada vai ao quarto da filha chamar por ela. Não obtendo resposta fica mais assustada ainda.  Na dúvida se acorda a filha ou a deixa descansar mais um pouco, opta pela segunda. E o coração de mãe que coloca a vontade da filha acima de qualquer coisa.

 

Depois que todos terminaram o café, seu irmão lembrou que Amélia lhe disse, no dia anterior, que iria cedo sair com a amiga Clélia para visitar alguém que estava se recuperando de uma cirurgia. Então, D. Esmeralda decidiu chamá-la.

 

Junto à porta repetiu o nome da filha várias vezes sem ter resposta. Caminhou, vagarosamente, até a cama. Muito levemente, colocou sua mão no braço da filha e não percebendo nenhuma reação sacudiu… Outra vez, mais uma… E veio o desespero. Começa a gritar por socorro. Marido e filho chegam e veem uma cena terrível. Mãe ajoelhada junto a cama da filha, em prantos, enquanto a filha sem reação alguma.

 

O irmão tenta animar Amélia e percebe que ela respira. Pede para o pai correr para o carro. Com todo cuidado a carrega e consegue colocá-la no colo do pai que estava sentado no banco traseiro. Grita com a mãe que Amélia está respirando, está viva.

 

No hospital, o médico de plantão a examina e confirma que os sinais vitais estão normais. A coloca no soro para mantê-la até que outros médicos possam examinar e dar uma resposta mais precisa.

 

A junta médica, após examinar a paciente, exaustivamente, conclui que ela poderá permanecer assim por um longo tempo ou até mesmo voltar ao normal a qualquer momento. Completa recomendando alguns cuidados e sem receber visitas, somente as do médico.

 

Depois de algumas visitas dos médicos, uma amiga tentou relatar para eles o que talvez fosse a causa. Porém, eles não quiseram ouvir.

 

Amélia sempre foi uma pessoa muito sensível. Muitas vezes chorava ao saber do falecimento trágico de alguém que ela jamais ouviu falar. Ficava muito triste ao ser contrariada ou receber uma crítica. Sempre foi a grande preocupação de seus pais.

 

Os dias foram passando, D. Esmeralda sempre cuidando da filha e se definhando. Estava no quarto observando a imobilidade de Amélia e como sempre fazia, rezando. Ao ouvir a campainha, sai apressada e desta vez esquece de fechar a porta. Era a vizinha que desejava saber notícias de Amélia para informar ao Padre Gerônimo, que sempre perguntava.

 

Enquanto isso, a porta do quarto permaneceu aberta, o cachorrinho que sentia tanto a falta da sua amiga, aproveita e entra. Sobe na cama e começa a se esfregar no braço, na mão e finalmente no rosto da Amélia:

— Din Dinho!!! Você veio me acordar. Amélia, aos gritos.

 

 

 

MINHA VIDA SOB NOVA DIREÇÃO: TININHA! - Dinah Ribeiro de Amorim

 



MINHA VIDA SOB NOVA DIREÇÃO: TININHA!

 Dinah Ribeiro de Amorim

 

 

Minha neta é sócia de um clube perto de casa, o estádio do Morumbi São Paulo.

Geralmente, gatas e cadelas passeiam muito por lá e, quando estão prenhas, perto de dar à luz, escondem-se nos lugares mais estranhos, no meio das plantas.

Encontrou, certa tarde, uma cadelinha recém-nascida, quase morta, com frio, fome e sede.

Trouxe-a para casa, mas, sabendo que o pai não gosta de bichos, pediu-me para ficar com ela.

Não teve jeito, lá fui eu cuidar de Tininha, nome que escolhi, cheia de dó e compaixão.

Como não havia desmamado, chorava a noite inteira, acordando os vizinhos, do meu prédio pequeno, principalmente um senhor irritadiço que mora no andar debaixo. Ele batia com a bengala até eu pegar Tininha nos braços e fazê-la dormir. Enfiava a cabecinha nos meus cabelos e dormia, acho que confundia com os pelos da mãe.

Foi mesmo uma movimentação na minha vida.

Aos poucos, foi se recuperando e, quando eu acordava, era um tal de abaixar e levantar, jogar no lixo os jornais que forravam o chão da cozinha, limpar as sujeirinhas que fazia nos lugares mais estranhos, embaixo do fogão, da geladeira, do armário, nunca nos lugares que eu preparava, nem no tapete higiênico que havia comprado para ela.

Com isso, minha coluna foi para caos total. Abaixa, levanta, limpa, cruzes, nem podia comigo. Agora, um cachorrinho.

Tininha foi crescendo, comendo, tomando vitaminas, recebendo visitas ao veterinário, descobriu-se que era um Labrador, ficaria alta e forte.

Não poderia ficar muito tempo comigo, em apartamento pequeno.

Ficou linda. Comparei-a com uma antiga pintura de cães, de anos atrás. Era idêntica. Parecia coisa de destino.

Aonde eu ia, ela ia loga atrás. Se não deixava, chorava.

Ganhou brinquedos, casinha, berço, mas queria colo, dormia comigo.

Como era ainda nova, fui aconselhada a não a levar à rua. Poderia pegar algum vírus.

E eu, em casa, com ela.

Fui me afeiçoando muito a essa cachorrinha e ela a mim. Até hoje, quando lembro, me comovo e quase choro.

Tive que dá-la, por sorte, a uma amiga que mora em sítio e queria um Labrador.

Surgiu uma viagem à Europa, meio longa, e não tinha com quem a deixar.

Quando a amiga me disse que havia um lago e, essa raça gosta muito de água, não tive dúvidas, deixei-a ir.

Que saudades de Tininha.

Deve ter ficado uma linda cadela, bege claro, de bonito porte.

Nos dias que ficou comigo, modificou mesmo a minha vida.

Levanto, às vezes, de manhã, olho para a cozinha, parece que vejo, num relance, um bichinho gracioso, peludo e saltitante, alegre a me esperar.

Lembro-me dela. Como estará Tininha?

 

 

Maria Eugênia, a viúva fru-fru - Hirtis Lazarin

 




Maria Eugênia, a viúva fru-fru

Hirtis Lazarin

 

Maria Eugênia saía da butique mais fashion da sua cidade. Pulando de alegria e com um sorriso que rasgava seu rosto, parecia uma criança que acabava de ganhar a primeira viagem à Disney. Uma criança deslumbrada diante das ótimas perspectivas que se abriam bem pertinho dos seus olhos.

Mal conseguia segurar tantas sacolas de compras. O seu motorista levou uma bronca feia, quando várias delas foram parar no meio da rua. Não sei se escaparam das suas mãos ou se ela as soltou de propósito. O homem, distraído e se deliciando nas baforadas do cigarro, não se deu conta da chegada da patroa.   

Ninguém podia imaginar que essa senhora acabara de ficar viúva. Fazia apenas um mês que Otávio estava enterrado. Um casamento de quinze anos. A família acreditava que eram felizes. Sabia de algumas brigas: vozes alteradas, batidas de porta, saídas súbitas da mesa do almoço, mas nada que fosse tão diferente de qualquer outro casal. Usufruíam juntos das regalias que o dinheiro pode oferecer. E o dinheiro, além de sustentar prazeres e emoções sem fim, concede grande poder, neste mundo capitalista que nos cerca.

Cavalheiro e discreto, ninguém desconfiava que Otávio era um homem ciumento e controlador. Maria Eugênia nunca comentou ou reclamou, nem com Helena, sua amiga mais íntima. Era sempre ele quem tomava todas as decisões na vida do casal, inclusive supervisionava as roupas que a esposa deveria vestir. E sempre dava a entender que tudo era amigavelmente compartilhado.

Teria ela medo de perder as regalias, já que vinha de uma família humilde? Cresceu vendo a mãe contando moedas, repartindo um pedaço pequeno de carne entre os três filhos. Nada sobrava e nem era o suficiente para satisfazer a fome das crianças.

A jovem mulher tinha quarenta anos e estava muito bem conservada pelos cosméticos trazidos de Paris. Mas conservar os costumes de casada, ela não queria não. Expulsou a solidão antes mesmo de sua chegada e decidiu pintar a vida com as cores do arco-íris. 

Ela mudou de hábitos. Ela mudou o cabelo. Ela mudou o guarda-roupa, repleto de roupas clássicas e discretas. Declarou-se livre e assumiu o leme do seu barco, pronta pra  dar quantas voltas quisesse dar. 

A transformação causou um rebuliço na família de Otávio, que passou a chamá-la, maldosamente, de “viúva fru-fru”. Os comentários e questionamentos não tiravam o bom humor da moça e não interferiam em seus planos. Sabia que enfrentaria dissabores e, auxiliada por um bom psicólogo, se fortaleceu pra enfrentá-los. Afastou-se de alguns familiares mais radicais e aproximou-se de outros que a entenderam. Na verdade, o apelido pegou e ela até gostava e se identificava como essa tal viuvinha fru-fru.

Mas não demorou tanto tempo assim pra que a sua vida voltasse à calmaria. Afinal de contas, Maria Eugênia era uma mulher responsável e não jogaria suas conquistas, janela afora. Curtir a vida não implica necessariamente em falta de juízo. E ela era uma mulher cheia de juízo e sabia como administrar a vida financeira. Otávio deixou-a muito bem amparada. 

Viajou várias vezes ao exterior, frequentava teatro e restaurantes finos. Fez muitos amigos e não pretendia se envolver emocionalmente tão cedo. E, pra preencher os horários vagos, matriculou-se num curso online de inglês.

Era mais de meia-noite, madrugada de domingo e ela voltava de uma viagem à casa de sua mãe, numa cidadezinha próxima. Trovões e raios acompanhados de vento forte antecederam um temporal inesperado.  Muito rápido e o limpador de para-brisa não dava mais conta. O que se via à frente, era água, e muita água. 

Nessa hora, o medo é inevitável e o mais seguro seria parar no acostamento e esperar. Foi o que ela fez. Minutos depois, o seu carro sofreu uma forte colisão na traseira. Outro motorista, que estava em alta velocidade, derrapou na pista escorregadia e, descontrolado, chocou-se contra o carro de Maria Eugênia. Na sequência, uma forte explosão.

A moça ficou gravemente ferida, resistiu alguns dias de intenso sofrimento, mas não sobreviveu.

Quase um mês após o falecimento, a melhor amiga, Helena, sem acreditar na tragédia, caminhava entre os túmulos do cemitério, carregando, com certa dificuldade, uma placa de bronze.

Maria Eugênia incumbiu-a de uma missão: colocar, na lápide do seu túmulo, uma placa dourada onde se lia:

                                               Aqui jaz a “viúva fru-fru”. 

 

ENCANTOS DE VILLA BORGHESE - Alberto Landi



 


 ENCANTOS DE VILLA BORGHESE

Alberto Landi

 

Villa Borghese, um dos parques mais encantadores de Roma, leva o nome da família Borghese que desempenhou um papel significativo na vida cultural da cidade.

O cardeal Scipione um grande patrono das artes no século XVII, construiu essa Villa como um refúgio da beleza e inspiração.

Era um bonito dia de primavera, o sol brilhava sobre os jardins e o parque de Villa Borghese, em Roma.

As flores desabrochavam em cores vibrantes, espalhando seu perfume no ar.

Os pássaros cantavam alegremente, criando uma trilha sonora encantadora para os visitantes que passeavam pelos caminhos sinuosos do parque.

Nesse local havia um parque com um pequeno lago onde cisnes majestosos nadavam graciosamente. Casais caminhavam de mãos dadas, admirando a beleza natural ao seu redor. Observava casais sentados em bancos de pedra, sob a sombra de árvores frondosas, trocando olhares e juras de amor.

Enquanto isso, crianças corriam e brincavam livremente pelos gramados verdejantes, suas risadas ecoavam pelo ar.  Um artista capturava a beleza da paisagem em seu cavalete, transformando-a em uma obra de arte.

Enquanto caminhava, uma serenidade profunda envolvia meu coração, como um manto suave que acalmava todas as minhas inquietações.

A beleza das esculturas e a suave brisa traziam à minha mente memórias nostálgicas. Era uma mistura de alegria e saudade em um só momento.

As esculturas ao longo do parque acrescentavam um charme todo especial, deixando todos os visitantes extasiados com sua beleza e historia.

As águas das fontes representavam a pureza e a serenidade, refletindo a beleza dos jardins ao redor e convidando todos a um momento de contemplação e paz.

Ao entardecer, as luzes suaves se acendiam, iluminando os caminhos e realçando a beleza do cenário. Casais se abraçavam enquanto observavam o por do sol pintar o céu de tons dourados e rosados, criando um espetáculo inesquecível.

Assim, em meio à natureza exuberante e a tranquilidade do lugar, histórias de amor, alegria e inspiração se desenrolavam a cada dia, como se o próprio ambiente fosse um palco onde os sentimentos mais profundos ganhavam vida e se entrelaçavam em um eterno espetáculo, tornando este lugar um verdadeiro refúgio de beleza e encantamento em meio a agitação da cidade eterna!

Atualmente continua sendo um oásis de tranquilidade e arte, atraindo visitantes de todo o mundo!

 

 

SURPRESA NA IGREJA - Helio Fernando Salema

 




SURPRESA NA IGREJA

Helio Fernando Salema

 

A multidão aguardava a chegada da noiva, lotando completamente o pátio da igreja. Alguns ansiando pela chegada da figura principal, outros duvidando que ela viesse.

Durante a semana vários boatos intrigaram a pequena cidade onde Lívia residia com sua família. Por dois anos ela foi noiva do Antonio, que residia numa cidade próxima. Até viajar para a capital, onde consultaria um médico, ao regressar terminou o noivado com Antonio. Que nunca se conformou com o rompimento.

O médico Dr. Gilberto, viúvo e bem mais velho que Lívia, começou a frequentar a casa dela, nos fins de semana. Embora de comportamentos bastante discretos não evitou os comentários dos vizinhos.

Finalmente um carro vem vagarosamente, em direção à igreja, seguido de vários outros automóveis. Estaciona, logo é cercado por familiares. Depois de uma longa espera, a porta se abre e surge a tão esperada noiva. Lívia desce e olhando, sorrateiramente, para as pessoas que se postavam junto a porta da igreja. Vira para o lado direito e faz um sinal para sua mãe aproximar. Conversam ao pé do ouvido, de cabeça baixa, vira-se em direção à porta do carro, como se fosse entrar. A mãe aproxima o seu rosto junto ao da filha e lhe diz algo. O pai dá alguns passos em direção à filha e oferece seu braço.

Dentro da igreja Gilberto olha o relógio, vira-se em direção aos padrinhos, respira demoradamente, olha para o teto da igreja como se solicitando ajuda. O padre o observa discretamente. Em seguida, o padre Firmino mira para a entrada da igreja com um olhar de alguém assustado e percebendo que algo, estranho demais, estava para acontecer.

A porta da igreja, lentamente, se abre e ao som de órgão, a noiva, de cabeça baixa e passos curtos, evitando olhar para os lados, se encaminha em direção ao altar. O noivo vai ao encontro e oferece seu braço e recebe do futuro sogro, sua filha. Ambos se posicionam em frente ao padre que inicia a cerimônia.

Após a conclusão da cerimônia o padre avisa que os noivos receberão os cumprimentos no salão paroquial. Atendendo à solicitação, as pessoas se dirigem para aguardar os recém-casados. O padre se retira, os noivos e padrinhos ficam tirando fotos.

A igreja estava quase totalmente vazia, quando Lívia percebe que uma senhora se aproxima, se assusta, com a boca aberta e expressando uma surpresa fantástica fica paralisada:

— Minha menina, Lili. Nada neste mundo, nem ninguém, faria eu mudar da ideia de vir assistir ao seu casamento. Vi você nascer, cuidei de você até ficar mocinha. Todos os dias rezarei pedindo a Deus para que você seja muito feliz e que Deus dê forças ao meu filho, Antonio para aceitar o destino.

Assim, com um forte abraço, dois rostos se grudam, quatro olhos derramam rios de lágrimas.

 

Renascimento - Adelaide Dittmers

 


Renascimento

Adelaide Dittmers

 

A mulher abriu os olhos lentamente.  Imagens embaçadas turvavam sua visão. Aos poucos foram ficando nítidas.  Aparelhos estavam ligados nela. Um monitor media os batimentos cardíacos.  Onde estava? A confusão atordoou-a.  Tentou levantar um braço e sentiu a picada da agulha, que a alimentava de soro. O movimento acionou a luz, que chamava a equipe médica. Uma enfermeira e um médico apareceram.  Ela os fitou.  Quis perguntar o que estava acontecendo, mas não conseguiu articular as palavras.

Os dois a olhavam com uma expressão de surpresa e entreolharam-se admirados.  Não havia esperança de vê-la voltar.  Apenas se mantinha viva ligada aos aparelhos.  Há três longos anos estava ali depois de uma espécie de síncope após um parto complicado.

O médico colocou a mão no braço da jovem, que fechava e abria os olhos, tentando retomar a consciência. 

— Calma, disse ele com um sorriso comovido.  Está tudo bem!

— Onde estou?

— Você dormiu por um longo tempo.

– Dormi?  Os olhos vagando de um lado para outro para tentar entender o que lhe acontecera.

— Sim. Respondeu, evitando dar mais explicações para não aturdi-la ainda mais. E ficou ao seu lado enquanto a enfermeira saiu apressada para avisar a equipe da UTI e a família.

A notícia incendiou o lugar e se espalhou pelo hospital.

A memória da jovem foi voltando aos poucos de maneira muito confusa. O perigo da eclampsia, o medo do parto, as vozes tentando acordá-la, tudo girava em sua mente. E agora, os médicos a cercavam.  Onde estava a criança? E o marido? Com dificuldade perguntou:

— Meu bebê?

Olhares se cruzaram como flechas.  Tinham que tomar muito cuidado com as respostas.  Um deles disse mansamente:

— Ele está bem! Sua família foi avisada, mas só poderá vê-la amanhã.

— Por quê?

— Será melhor para seu restabelecimento.  Amanhã você estará mais pronta para recebê-los. O seu apagão foi longo.

— Apagão?

— Não se preocupe com isso. O importante é que você está conosco agora.

Ela tentava entender essas meias respostas.  Então o médico perguntou:

— Qual é o seu nome?

— Vera Santos Oliveira.

— Qual é a sua idade?

— Trinta anos.

Ele sorriu.  Tudo estava normalizando. O milagre da vida estava ali diante deles.

No decorrer do dia, foram acompanhando os progressos de Vera e ao fim do dia resolveram contar-lhe o que realmente lhe acontecera. O espanto calou-lhe o rosto e os movimentos.  O médico pousou a mão delicadamente em sua cabeça.

— Parabéns, menina! Bem-vinda de volta à vida!

A voz embargada traia a frieza esperada na profissão. O olhar de Vera sentiu a emoção do homem à sua frente.  Com voz trêmula, sussurrou:

— E meu bebê?

— É uma menina. Tem três anos.

As lágrimas presas encobriram seus olhos e deslizaram suavemente pelas suas faces.

— E meu marido? Meus pais?

— Você os verá, amanhã.

Ela cobriu o rosto com as mãos e os soluços a sacudiram.

O barulho de uma maca a acordou no dia seguinte.  Uma enfermeira anotou seus sinais vitais e desligou os aparelhos que ainda a monitoravam.

— Aonde vocês vão me levar? Perguntou insegura.

— Você passará por uma ressonância e se estiver tudo bem, irá para o quarto.

— Quando vou ver minha família?

— Depois do exame, poderá vê-los.

Eram oito horas, quando foi instalada no quarto. A enfermeira pegou o seu pulso e mediu a pressão. O coração estava acelerado e a pressão tinha subido.  Logo lhe deu uma medicação para baixar sua ansiedade.  Em seguida, levantou a cortina e o sol inundou o lugar.

— O dia está lindo, Vera!

Nesse momento, bateram à porta.  Vera segurou a respiração.  Diante dela, os pais surgiram sorrindo e chorando ao mesmo tempo. O abraço triplo foi longo e incontido. Atrás deles, seu marido segurava a filha assustada. O rapaz aproximou-se, mas a menina agarrava-se a ele.  Vera conteve a vontade de apertá-la em seus braços.  Apesar da forte emoção, sentiu que a pequena precisava de tempo. Ao deter os olhos no marido, percebeu um estranho constrangimento na sua expressão. Como se ele estivesse incomodado com a situação.

Dias se passaram e as visitas constantes dos pais a animavam. A menina vinha com eles, mas se mostrava arredia, o que a enchia de tristeza. O marido não apareceu mais e os pais diziam que estava trabalhando muito.

Finalmente, os médicos anunciaram que poderia ir para casa. A felicidade coloriu seu rosto. Quando os pais chegaram para buscá-la, a primeira pergunta foi:

— Cadê o Walter?

A desconfiança e o medo estamparam-se no olhar ansioso da moça.

Os pais se entreolharam e a mãe segurou as mãos da filha e com voz pousada contou que depois de um ano, em que ela ficou em coma, as esperanças de que ela sobrevivesse eram quase zero e o genro começou a namorar uma moça, que estava com ele até hoje.  Fez uma longa pausa para controlar a respiração e acrescentou que o casal tinha um bebê de quatro meses.

Vera se recostou no sofá.  Uma nuvem de tristeza espalhou-se pelo seu rosto. Eles se amavam tanto.  Como era frágil e fugidio o amor de um homem.

— E a minha filha?

— Mora com eles, mas você pode pedir a guarda dela.    

Vera abraçou a mãe e afastando-se disse comovida.

— Tudo a seu tempo, mamãe! Tenho vocês ao meu lado. Primeiro tenho que retomar minha vida.  Fui forte o suficiente para voltar. Serei forte para recomeçar a viver.       

 

A ÚLTIMA QUARTA - LEON A. VAGLIENGO

  A ÚLTIMA QUARTA Dizer o quê? As coisas vão, mesmo, acontecendo...                                                                     ...