A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Museus 360 graus

 



Museus 360 graus


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PERSONAGEM OCULTO - 22/9/22

 



PERSONAGEM OCULTO

O que é um personagem literário?

É o ser fictício responsável pelo desenrolar dos acontecimentos da narrativa. Ou seja, é quem produz efetivamente as ações no interior das obras literárias e, por consequência, sofre os efeitos gerados pelos eventos da trama.

Personagem pode ser um animal, uma pessoa, ou até mesmo um objeto, desde que apresente características humanas. Além de serem encontrados na literatura, os tipos de personagens também estão presentes no cinema, teatro, televisão, desenhos etc.

Tipos de personagens

·    PROTAGONISTA - também conhecido como personagem principal; (o herói, por exemplo)

·         ANTAGONISTA - personagem contrário ao protagonista; (o vilão)

·     PERSONAGENS SECUNDÁRIOS -  conhecidos como coadjuvantes, aqueles que não fazem parte da trama principal.

Hoje vamos tratar um personagem que não faz parte fisicamente da história, mas que é capaz de MOVIMENTAR as ações dos personagens: PERSONAGEM OCULTO. Quando empregado, ele é muito importante para o desenrolar da trama. Não, necessariamente, é revelado fisicamente, isto é, ele pode não aparecer nas cenas, mas ele é o responsável pelas tomadas de atitudes dos personagens. Sua presença é marcada através da fala dos outros personagens, ou sombras que surgem aleatoriamente. Há situações em que os outros personagens até criam pequenas características para ele. É alguém de quem se fala. Exemplo o Sr. Brown em O inimigo Secreto:

O INIMIGO SECRETO (Agatha Christie): Cansados da rotina, dois jovens decidem fundar uma empresa nada convencional, especializada em investigações, a Jovens Aventureiros Ltda. O primeiro caso era um desafio que intrigava a Scotland Yard: uma jovem americana desaparecera, levando com ela documentos secretos que poderiam comprometer o governo inglês. Mas Thomas Beresford e Prudence Cowley — ou simplesmente Tommy e Tuppence — não são os únicos interessados em descobrir o paradeiro desses papéis. A mesma busca é empreendida por um homem misterioso e perigoso, conhecido como Sr. Brown, um mestre na arte do disfarce, que pode aparecer do nada e desaparecer em seguida sem deixar qualquer rastro.

 Atenção: Voltaremos com nosso hábito de criar 2 contos por semana: 

Criação número 1: CRIAR UM CONTO ONDE UM PERSONAGEM OCULTO É RESPONSÁVEL PELAS TOMADAS DE DECISÕES DOS PERSONAGENS DA HISTÓRIA.


Criação número 2: DESENVOLVER UM CONTO CUJO PERSONAGEM OCULTO SEJA UM PATRÃO SEVERO QUE NUNCA APARECE, MAS QUE DTERMINA MUDANÇAS FÍSICAS NO DEPARTAMENTO, E COMPORTAMENTAL NAS PESSOAS.


Para este conto devem-se inserir ferramentas literárias: Fluxo de pensamento, Metáforas e Antíteses. 



Cruz Preta - Adelaide Dittmers

 


Cruz Preta

Adelaide Dittmers

 

Padre Francisco gostava de se postar à janela da torre da igreja ao cair da tarde.  As pequenas casas, que debruavam as estreitas ruelas ficavam douradas pelo sol poente, o que escondia o desgaste das paredes mal pintadas daquelas construções, cujos moradores tinham que se conformar com a simplicidade de viver com o parco dinheiro, que lhes vinha de um trabalho duro e extenuante.

Gostava do observar as pessoas arcadas pelo cansaço, que voltavam para seus lares e suas carências.

O seu olhar alcançava e se detinha na velha Rua da Cruz Preta, assim chamada por causa de uma grande e famosa cruz de ferro, que estava presa à fachada de uma casa assobradada, que era a maior e mais bem conservada do lugar, moradia de um endinheirado comerciante.

A monotonia da ruela era quebrada pela algazarra dos estudantes, que por ali passavam, espalhando suas juventudes e irreverências pelo lugar.  Detinham-se à frente da casa da cruz preta para admirar e atirar galanteios a uma jovem, que todos os dias debruçava sua beleza em uma das janelas,  derramando sobre eles um olhar triste, mas ao mesmo tempo cobiçoso, prisioneira que se sentia das normas rígidas daqueles tempos. Muitas vezes ela se escondia atrás da grossa cortina da janela e o padre de seu posto de observação matutava se era por timidez ou um jogo de sedução.

Padre Francisco conhecia a família de longa data e observava esse movimento à frente daquela janela com muito interesse.  Afinal era o pastor daquelas almas.

No meio do grupo barulhento, um rapaz se destacava pela constância da presença e por ficar ali parado, olhando para a janela, mesmo depois do grupo seguir seu caminho. Abria os braços e depois colocava as mãos sobre o coração para demonstrar à jovem seu interesse por ela. Algumas vezes entoava uma canção e se despedia se curvando em um gesto de respeito e admiração.

 Certo dia, o padre viu uma flor ser jogada e alcançar a janela.  A moça a pegou e a prendeu nos longos cabelos negros.  Com o passar do tempo notou que a mucama, que criara a jovem desde pequena, saia à porta com pedaços de papel, que eram trocados por outros, que o rapaz entregava.  Cada vez mais Padre Francisco ficou interessado em controlar o que acontecia naquela casa.

Em um frio e chuvoso crepúsculo, em que a garoa toldava sua visão, o sacerdote alcoviteiro arregalou os olhos ao ver o estudante escalar a enorme cruz escorregadia pela água fina que caia.

Como um tufão desceu as estreitas escadas da torre.  Aquilo não podia acontecer. 
Era contra as leis da igreja. Ele tinha que defender a moral de seu rebanho.  Nunca permitiu o desvio para o pecado de seus membros.  Sempre lutou pelo  bom comportamento de seu povo.

Saiu da igreja indiferente à garoa, tropeçando nos desníveis das ruas de terra molhadas e lamacentas.  A grande barriga sacudia-se com a corrida e a boca abria-se a cada respiração para recuperar o fôlego.

Chegou à casa e bateu palmas com as forças que lhe restavam. A mucama o atendeu e espantou-se com a presença molhada, esbaforida e inesperada do padre.

Ele entrou e sem cerimônia jogou-se em uma cadeira exausto.  Os donos da casa assustaram-se ao vê-lo, que com palavras atabalhoadas relatou o que vira.  O pai galopou pelas escadas acima.  O rosto vermelho de raiva. Gritos foram ouvidos.  Momentos depois, a moça chorosa foi arrastada escada abaixo pelo pai furioso.  Atrás, o rapaz seguia-os com a mão no rosto em que se viam marcas de dedos causadas por um bofetão que levara.

O casal confessou que se amava e a jovem aos gritos jogou sua revolta por ser sempre vigiada e  sempre ser tratada com uma rigidez férrea pelos pais, que não queria enxergar que ela não era mais uma criança.  Depois de uma acalorada discussão, foi determinado que teriam que se casar o mais depressa possível. Essa decisão foi recebida com uma alegria disfarçada pelos dois amantes.

Terminada sua missão, padre Francisco despediu-se da família, depois de dar um sermão aos jovens.

No caminho de volta, a garoa ainda caia e espalhava-se pela ação do vento frio.  O padre caminhava meio encurvado para evitar as gotas, que teimavam em molhar seu rosto e obscurecer sua visão. Era atropelado pelos pensamentos, que surgiam fortes e que ele queria expulsar, mas não conseguia.  Queria que a chuva lavasse sua alma do que estava sentindo.

Sempre fora austero ao julgar as fraquezas humanas e por que agora ao ver o casal tão feliz ao  conquistar a aceitação de seu amor, sentia uma grande e incompreensível inveja, que lhe corroia o coração.  O que lhe estava acontecendo.  Pensou nas tardes, em que da janela, observava a vida que passava lá embaixo, modorrenta, mas viva. Descobriu em um lampejo que sempre almejara aquela liberdade.

Chegou à casa paroquial angustiado. Subiu para o quarto e depois de se trocar e se secar, ajoelhou-se em frente a uma cruz pendurada na parede fria e pediu a Deus que o perdoasse pelos pensamentos pecadores. Permaneceu em oração por um longo tempo.

Cansado, deitou-se na cama e adormeceu. 

E sonhou que estava escalando a enorme cruz preta...

ERA UM SEGREDO - Hirtis Lazarin

 


ERA UM SEGREDO

Hirtis Lazarin

 

 Estou no meu quarto trancado, revirando meu pensamento sobre o que papai me confidenciou ontem. Um segredo que ele guardou a sete chaves, durante quarenta e nove anos. Incumbiu-me de uma missão que deverei cumprir assim que ele se for. Espero que isso demore a acontecer. Não estou preparado pra viver sem a sua presença.

Hoje ele tem sessenta e cinco, mas aparenta idade bem mais avançada. A pele clara está mais enrugada do que deveria. Os olhos perderam o brilho e, por trás das lentes grossas dos óculos, esconde a falta de vontade de viver.

Li um poema, não guardei o nome do autor. Ele esclarece, com muita sabedoria, a diferença entre ser idoso e ser velho. Papai está velho, não tem sonhos, dorme muito e não tem vontade de aprender mais nada. Entregou-se.

Mas, só agora, depois de ouvir a sua história, entendo a amargura que sempre tentou esconder.  Sei que tudo poderia ser diferente, se tivesse confiado em alguém, aberto seu coração e contado sua verdade.

 Mamãe é bem mais nova que ele, uma ótima esposa e mãe. Mesmo com a casa sempre impregnada da poeira que vem da rua esburacada e sem calçamento, e com o avental sujo de ovo, trabalha cantando e  com o rádio ligado. Canta todas as músicas de cor.  Traz jovialidade à nossa casa.

Ela casou-se por amor e não abandonou o barco, mesmo quando parecia estar se afundando.  As mulheres NÃO podem abandonar o marido. Não conheço nenhum caso de mulher separada.  O casamento é pra sempre.

Todos os dias, durante o seu trabalho doméstico que nunca acaba, prende, religiosamente, os cabelos longos (papai não deixa cortar) com fita de cetim no alto da cabeça. O pescoço alongado deixa à mostra um crucifixo, preso a uma gargantilha de ouro. Desde que a conheço, nunca deixou de usá-la. Disse que foi uma promessa a Nossa Senhora, por graça alcançada. Minha família é mais religiosa do que o necessário.

Sinto que ela é feliz. Acho que não é como queria que fosse, mas tem uma casa confortável e a aposentadoria do papai dá pra fazer uma viagem a Santos todos os anos.

Acho que vocês estão curiosos para que eu conte que segredo é esse e qual é minha missão.

Bem, vamos lá. Pra situá-los, estamos, hoje, no ano de 1864.

Tudo começou por volta do ano 1819, quando papai tinha apenas 16 anos de idade.

Meus avós mais quatro filhos moravam na Rua da Cruz Preta. Todos ali se conheciam. As crianças e os adolescentes brincavam e se reuniam à frente de casa até o dia escurecer. Não havia iluminação elétrica e mesmo se fosse lua cheia era chegada a hora do banho e do jantar. E todos obedeciam.

Em frente ao sobrado da esquina, havia uma cruz pintada de preto e ninguém sabia ao certo como ela foi parar ali.

Numa manhã, como outra qualquer, os moradores acordaram com ela plantada ali. Nenhum barulho, nenhum movimento estranho durante a noite. Um mistério assustador para aquele povo humilde e cheio de crendices.

Muitos comentários, muita fofoca, surgiram e muito medo também. Como nenhuma teoria foi confirmada, os moradores consultaram um padre e  decidiram que o melhor era considerá-la sagrada e fazer ali um ponto de oração.

O padre Piero, que dirigia a igrejinha do final da rua, benzeu a cruz com muita água benta para espantar qualquer influência negativa e mal olhado.

E todos ficaram em paz...

Pra não me alongar, vou resumir um pouco.

Meu pai e a menina do sobrado da esquina,  Maria Luíza, começaram a se ver às escondidas. Na rua vizinha, havia um galpão abandonado que já fora o armazém do Seu Zé.  E era lá que os dois se encontravam. Tudo tão bem planejado e controlado que ninguém nunca suspeitou.

Mas o romance foi por água abaixo quando estudantes da Academia descobriram a tal da Cruz Preta e começaram a frequentar o lugar.

Um deles, talvez o mais ousado e encantador, na calada da noite, escalava o madeiro só pra ver a mocinha toda faceira que o esperava debruçada na janela do quarto. Ele conquistou e roubou o grande amor do meu pai.

Isso durou até a mãe da menina acordar na madrugada pra tomar água.  Quando voltava, e ainda no corredor da casa, ouviu sussurros e gemidos vindos do quarto da filha. Achou que ela estava sonhando e entrou pra agasalhá-la. A madrugada estava bem fria.

Pegou-os em flagrante.

Não demorou dois meses e já estavam casados. E o mais alarmante foi que o bebê chegou antes da gestação completar oito meses.

E a vida do meu pai mudou pra sempre quando ele conheceu a menina e pegou-a no colo.

Discretamente, abriu um dos botões do casaquinho e confirmou: a criança tinha, perto do umbigo, uma mancha de nascença. Uma estrela igualzinha à que ele tinha também. A filha era sua.

Este é o segredo que guardou até ontem.

E a minha missão é encontrar minha meia-irmã.

Agora, contarei a vocês o meu segredo: já vou começar a procurar a filha do meu pai. Eles precisam se conhecer.

Já fiz as contas: ela tem hoje quarenta e cinco anos de idade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RUA QUINTINO BOCAIÚVA - Henrique Schnaider

 

RUA QUINTINO BOCAIÚVA

Henrique Schnaider

 

Houve um tempo em que as ruas de São Paulo eram conhecidas pelo nome dos seus moradores e a Rua Quintino Bocaiúva que inicialmente era conhecida pelo nome de rua do Padre Tomé, pois o Cônego Tomé Pinto Guedes residiu nela por volta de 1765, e que só se tornou com o nome de Quintino Bocaiúva em 1916.

Com o tempo também ficou conhecida como rua da Cruz Preta, pois na esquina com a antiga Rua da Freira, agora conhecida como Senador Feijó, ergueu-se uma grande cruz de madeira pintada de preto.

As famílias tinham o costume de fazerem verdadeiros terços em frente a Cruz Preta e dezenas de famílias faziam suas orações e veneravam e acreditavam que ela tinha poderes e até realizava milagres.

— Eu sou uma casa que foi construída aqui nesta Rua há muito tempo. O meu pai construtor foi Dom Agnelo. Ele me construiu com muito capricho, confortável, grande, tanto que eu acomodava uma família de umas vinte pessoas. E com o passar do tempo, presenciei muitas histórias nesta Rua Quintino Bocaiuva.

Lá pelos anos de 1.900 a rua era de terra batida e só eu sei que quando aconteciam aqueles temporais ou chuvas prolongadas, o lamaçal que virava a minha querida Rua, era de chorar de ver. Os cavalos vinham puxando suas carroças com um esforço enorme, arrastando e atolando uma pata depois da outra, mas apesar da irritação, não deixavam de me cumprimentar com um bom dia ou boa tarde.

Certa ocasião, um grupo de estudantes que gostavam de fazer traquinagens, pegaram a Cruz Preta de madrugada levaram e a jogaram no Rio Anhangabaú, e só por milagre a mesma não foi arrastada pela correnteza, mas ficou ali fincada enfrentando aqueles moleques travessos. Don Agnelo montou uma equipe de busca e acabou achando a Cruz Preta no rio e a levaram de volta ao seu devido lugar.

— Na minha rua havia de tudo. A casa pensão onde as pessoas iam comer era gorda uma verdadeira bola.

A casa do comércio onde havia de tudo e se achava a tal de tão metida que era, a dona da rua. A casa onde vendiam as roupas de mulheres chiques. Esta casa era fina e tinha até nome francês e eu diria que ela era até meio esnobe.

Tinha a casa boteco onde os moradores depois da lida do dia paravam antes de se recolher ao lar e tomavam sua cachaça de boa precedência. Esta era uma casa que vivia devido à quantidade de bebida, meio de cabeça cheia.

— Tinha a casa das mulheres de vida fácil, cheia de dondocas, esperando seus clientes, os quais vinham as dezenas. Esta casa de nome Renata, tinha uma reputação muito baixa e eu como uma casa decente não trocava uma palavra com ela.

A Cruz Preta voltou ao seu devido lugar, aumentou a fama devido ao fato acontecido e vivia cheia de devotos fazendo suas orações.

O meu pai construtor me cuidou muito bem e até o seu falecimento, e a cada 10 anos me reformava por completo. Seus netos continuaram com esta missão, de sempre me deixar em perfeita ordem, muito bonita.

— Bom eu já contei muita coisa envolvendo a Rua Quintino Bocaiúva e agora vou aproveitar antes que escureça e o silêncio aconteça, vou puxar uma prosa com as minhas vizinhas que me aguardam ansiosas.

— Até logo e até qualquer outro dia, sempre estarei aqui à disposição.

 

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