A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

sexta-feira, 27 de março de 2020

FIGURAS DE LINGUAGEM - NOSSA ALIADA





FIGURAS DE LINGUAGEM -  NOSSA ALIADA


Aproveitando a quarentena para tirar dúvidas sobre as Figuras de Linguagem

Aqui colocaremos vídeos animados que o professor Noslen gravou para ENEM sobre Figuras de Linguagem, uma das mais importantes  ferramentas de escrita. Tudo bem fácil e claro. 
E, um vídeo com exercícios, que tal tentar?

Acompanhem:

















quinta-feira, 5 de março de 2020

Decisão precipitada? Talvez... - Hirtis Lazarin




Decisão precipitada?  Talvez...
Hirtis Lazarin



Depois de um dia exageradamente quente, caem lá fora os primeiros pingos de uma chuvinha mansa.  A brisa balança a cortina fina de voal, invade a sala e acaricia-lhe o rosto.  O tilintar da colherinha na xícara vazia de café soa como música.  

Abre a garrafa de vinho e uma taça desce deslizando.  Boceja várias vezes e o sono devagarinho vem.  É uma sensação preguiçosa e confortante.  Anita fecha o livro que lia e os olhos também.  Adormece profundamente.

O silêncio aconchegante é interrompido pelo toque do telefone e ela desperta.  O bem-estar do momento é maior que a vontade de falar com alguém.  Sabe que não é Gustavo, seu companheiro.  Ele viajou a negócios e já se falaram, naquela tarde, duas vezes.  E não era costume dele ligar fora de hora. 

Ignorou os toques insistentes, mas quando viu que o relógio marcava duas horas da manhã, se arrependeu do que fez.  

"Ninguém ligaria pra alguém se não fosse emergencial, que desajuizada eu sou... Pode ser alguém precisando de ajuda.  Mas quem?  A esta hora eu não posso ficar ligando para minha família e para todos meus amigos".

 A espera de uma nova ligação é angustiante, Anita rói as unhas que já estão no toco, outra taça de vinho, mais outra e mais outra... O álcool dá-lhe um pouco de sossego.

Quando já não acredita mais na possibilidade de saber quem estava do outro lado da linha, o telefone toca novamente. Anita pega-o num salto tão desajeitado que, por pouco, não se esborracha no chão.  Queria saber quem era, mas temia ouvir o que essa pessoa tinha pra lhe contar.  O alô aflito de Anita foi logo interrompido por uma voz feminina, rouca e sensual.  Não se identifica e não lhe dá chance de falar.  Desfia uma ladainha imensa e Anita só ouve  o nome de Gustavo.  Ela passa mal, sente dificuldade em respirar, a vista escurece e ela desfalece.

Quando recobra os sentidos está estatelada no chão, com o fio comprido do telefone enroscado no corpo, os óculos com lentes trincadas atirados pra debaixo da mesa.  O relógio marca quatro horas da manhã.  O turbilhão de palavras que ouviu roda na sua cabeça como disco de vinil em rotação errada.  Aos poucos, foram se organizando em frases conexas e a mensagem se completa.  Uma bomba!  "Será que foi ele quem pediu pra amante fazer a ligação? Nunca pensei que vivia com um homem falso e covarde.

Anita anda de um lado para outro como barata tonta, senta, levanta, toma num gole só o vinho que restava na garrafa, balbucia ofensas, grita palavrões.  Treme tanto que não consegue achar o número de telefone que precisa.  Tenta se acalmar, liga o computador e busca no Google o telefone do hotel "Copacabana Palace", no Rio de Janeiro.  Liga e ouve o que jamais queria ouvir: "O casal Gustavo e Lucimara estão, sim, hospedados aqui.  A reserva vai até o final de semana."

"Viagem de negócios?  E foram tantas naquele ano...Homem carinhoso, companheiro de todas as horas.  Nunca desconfiei de você.  Caminhamos sempre juntos, construímos tudo juntos.  Quanta luta e esforço.  E a cada vitória nossa, quanta comemoração!  Eu não mereço essa traição.

Anita não era mulher de ficar parada esperando o mundo desabar, mas para ninguém é fácil vê-lo ruindo sem nada pra fazer. Sabia que nada conserta a falta de confiança.  Impossível, para ela, dividir a vida com alguém quando se quebra esse cristal.   Chorou tudo que podia chorar, os olhos inchados e vermelhos pareciam picados por abelhas. Seguiu em frente, fez uma mala, com o mínimo de coisas que precisava e esperou o dia amanhecer.  

Depois de uma hora, desembarca no aeroporto.  Sairia do país.  Para onde?  Não sabia ainda.  Dinheiro não lhe faltava para levar uma vida confortável em qualquer lugar do mundo.

Antes de sair de casa, deixou sobre a mesa da sala, debaixo de uma fotografia rasgada do casal, apenas um bilhete de adeus.



quarta-feira, 4 de março de 2020

A resposta é sua - Hirtis Lazarin




A resposta é sua
Hirtis Lazarin


Ela acordou assustada com os gritos do despertador.  Acendeu a luz tênue do abajur e constatou que o relógio estava certo.  Marcava exatamente cinco horas, vinte e sete minutos.  A impressão dela era de ter acabado de se deitar. "Não é possível! Acho que os ponteiros apostaram corrida durante a noite e o maior, mais esperto e poderoso, venceu o desafio.  Saltou do quatro para o cinco e lá se foi uma hora engolida da madrugada.

Com a dificuldade de um corpo vivido, Helena sentou-se na cama, orou para Nossa Senhora das Causas Impossíveis, calçou os chinelos tão velhos quanto ela, e arrastou-se até a cozinha.

Nenhuma fruta, apenas um pãozinho amanhecido e requentado e uma caneca de café aguado.  O pó de café não podia dar-se ao luxo de ser esbanjado no coador.  Depois de um cigarro apreciado até o último suspiro, ela espia o tempo lá fora. Nublado e frio.  Não importa, nada a esmorece.  Ainda tem um sonho e sabe que sem ele a vida tornar-se-ia vazia, sem gosto e nem valeria mais a pena viver.  Sabe também que todo sonho exige esforço e o esforço nos conduz ao prêmio.  E o prêmio terá o tamanho da nossa persistência.

Veste o único casaco de lã sobre a roupa que dormiu, calça a bota de borracha que alcança seus joelhos e está pronta para mais um dia de busca.

O ônibus da linha verde, sempre pontual, atrasa.  Mais de trinta minutos já se passaram.  O frio castiga-lhe o rosto enrugado e, em cada ruga mais profunda, esconde-se um capítulo de sofrimento.  As pernas doem, mas não a fazem desistir de seu propósito.  É o que a mantém viva depois que seu companheiro se foi.

Cinquenta anos de esperança.

Cinquenta anos de busca;

Cinquenta anos de saudade.

Alegrias e tristezas são constantes em nossa vida.  Sabedoria é saber lidar com elas.

Cada manhã, a velha senhora desce próxima a uma estação de metrô e ali passa o dia.  Carrega um cartaz plastificado com o nome de sua irmã, seis anos mais nova.  As duas foram deixadas e esquecidas num orfanato.  Aos dezoito anos, Helena foi apresentada à vida e encaminhada a uma família para trabalhar como doméstica.  Alguns anos depois, já casada, voltou ao orfanato para resgatar a irmã, não mais a encontrou.  Perderam-se para sempre. 
Era pouco mais de meio-dia quando a chuva apertou.  Foi no bar do português que ela conseguiu abrigo.  Consultou a carteira e tinha o suficiente para um lanche e coca cola.

Uma jovem sentada numa mesa próxima, observava como aquela senhora humilde saboreava o sanduíche.  Era com tanto gosto que parecia estar diante de uma ceia de Natal.  Aquela fisionomia atraia e intrigava-a.   Por mais que tentasse, não decifrava o quê, nem o porquê.   Aqueles olhos... Aquele sorriso tristonho... Pensou em se aproximar, mas o tempo era curto e o compromisso inadiável.

Inquieta, Gisele se foi, mas aquele semblante povoou seus sonhos por noites seguidas.  Voltou àquele bar várias vezes, caminhou pelas ruas próximas e nada...  As tentativas de busca foram muito mais do que se possa imaginar.  Mas ela mesma nem sabia porque se atormentava tanto.  Até que, graças ao tempo e às orações, aquele pensamento esporadicamente retornava, sem sofrimento, apenas lembranças.

Mas coisas nos acontecem independentemente da nossa vontade e cada um  arruma explicações de acordo com suas convicções.

E foi numa tarde ensolarada que o milagre aconteceu:  Gisele encontrou Helena, sentada nas escadarias do Teatro Municipal, tentando se proteger do calor.  Aproximou-se e, em pouco tempo, as duas tagarelavam como antigas conhecidas.  Gisele, com sutileza e jeitinho, foi colhendo informações sobre a vida daquela senhora, tão estranha e tão familiar.  A cada detalhe revelado, a cada nome mencionado...E quando apareceu o nome do orfanato, o mistério se revelou.  Foi choro, foi abraço, foi o melhor momento da vida de Helena.   A avó de Gisele era a irmã que ela sempre acreditou estar viva.  A busca incansável terminou.

Caro leitor, vale a reflexão:  Tudo acontece por acaso?  Ou Deus teve piedade do sofrimento de uma senhora tão fervorosa e concedeu-lhe uma graça?  Ou já nascemos trazendo uma malinha que aprisiona nosso destino?


O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...