A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quarta-feira, 11 de maio de 2022

Ilusão de óptica que mudou minha vida - Alberto Landi


Ilusão de óptica que mudou minha vida

Alberto Landi

 

Era um final de tarde, ainda havia um resto do pôr-do-sol.

Estava no terraço de meu apartamento olhando para uma janela um pouco distante da minha, e havia uma mulher que parecia estar dividida ao meio por uma vidraça.

Meus olhos não se enganam, não é ilusão de ótica ou vidro defeituoso.

Na primeira metade superior é uma mulher de cabelos super curtos, pretos, nariz afilado, olhos claros, pequenos e redondos e todo o seu rosto se afinava em direção à ponta do queixo. O seu olha, daqueles que parecem observar de tudo.

Na minha visão, a janela é relevante nesta história!

Ela é esverdeada escura, multicolorida, sabe, aquelas em que as mãos e o pano de uma faxineira deixam marcas, desenhos e contornos, faz até um arco-íris no vidro?

Não tem divisão, é uma peça única.

Ela está lá, em pé, me olhando. Difícil imaginar que há uma pessoa dividida ao meio pelo vidro.

Sua segunda metade se mostra forte, vigorosa e ardente.

A dupla metade que faz um inteiro.

Continua me fitando, seu olhar penetrante vem em minha direção através do vidro que recebe os últimos raios solares, fazendo um bom reflexo. Nossos olhares se encontram como se fosse uma representação estática de uma película de cinema.

Cortada ao meio continua naquele lugar. Nem quebrando o vidro, ou estilhaçando não vai deixar de estar lá, estará ainda, nos mil pedaços, todos divididos ao meio pela vidraça.

É impressionante a interpretação do que vemos no mundo exterior.

Já se descobriram mais de 30 áreas diferentes no cérebro usadas para o processamento da visão.

Umas parecem corresponder ao movimento, outras a cor, outras a profundidade.

E o nosso sistema visual e o nosso cérebro tornam as coisas mais simples do que aquilo que elas são na realidade.

E é essa simplificação, que nos permite uma apreensão mais rápida da realidade exterior, que dá origem às ilusões de óptica.

Enfim, essa ilusão me aproximou da mulher que hoje é minha esposa, minha vida, mãe dos meus filhos, meu amor eterno porque nos encontramos no café da esquina e imediatamente nos reconhecemos e daí nunca mais nos sentimos separados por uma janela porque estamos juntos na riqueza e na pobreza...

A dupla metade que faz um inteiro.



 Dica:




VERDADE OU DELÍRIO? - Cida Micossi

 


VERDADE OU DELÍRIO?

Cida Micossi


Lá no alto da serra, onde o ar é fresco e a terra foi fértil, ali, tudo se plantava e tudo se colhia. Eram tempos de crescimento do país, tempos do ouro verde. Hoje, infelizmente, a cana de açúcar tomou conta. O solo, explorado ao extremo, quase nada produz. Resultado do progresso, que utiliza o combustível tão caro nos dias de hoje e que proporciona lucros exorbitantes aos investidores.

A cada vez que visito aquela cidade, sou impelida a ir até a estrada de terra, a estrada velha, como dizem. Circundadas por essa estrada de chão batido, rochas enormes: o extremo da Serra de Borborema. No alto, uma fazenda em pleno progresso, à época. Abaixo, a mata virgem abraça ainda hoje o sopé da serra.

Ali viveram os escravos, tão sofridos, tão injustiçados. Explorados ao extremo, apenas com direito a alimentação e moradia rústica. Quantos acontecimentos esta terra presenciou: com os olhos, com os ouvidos ou com o coração, este o que mais sofria. Escravos eram castigados, torturados e seus gritos ecoavam na imensidão...

Abolida a escravidão, vieram os imigrantes, seus descendentes e outras gerações. Ali viveram experiências diversas, algumas reais, outras talvez imaginadas. Em noites de lua cheia, quando o luar clareava a mata toda, uma dessas imigrantes, mocinha toda cheia de bondade e amor, ouvia gemidos, gritos de horror, o estalar do chicote e o barulho das correntes. Quanta judiação! Quanto sofrimento!

Hoje, quem passa ao redor da montanha, alçando o olhar bem acurado, consegue identificar, entre as ranhuras das rochas, os rostos tatuados pelos gritos de alguns desses seres escravizados, mostrando que o tempo pode passar, mas as marcas ali ficarão para sempre, testemunhas dos horrores a que foram submetidos.

A mocinha de outrora ouvia, e a sonhadora de hoje vê entre as pedras. Será verdade? Será ilusão?

SONHO OU REALIDADE - Henrique Schnaider

 


SONHO OU REALIDADE

Henrique Schnaider

 

Quando eu tinha por volta de 7 ou 8 anos, à noite eu dava muito trabalho aos meus pais. Era medroso ao extremo, chorava muito, tinha pesadelos, tinha que dormir com as empregadas. Na verdade, eu tinha horror quando chegava a hora de dormir.

De dia, aí eu era uma figura oposta. Estava sempre na rua na molecagem, jogo de bola, bolinha de gude jogo de taco com bola ou com graveto. Saiamos dando volta no quarteirão, apertando campainhas e pernas para que te quero.

Dávamos muito trabalho para nossas mães. Para parar de brincar e ir almoçar, mas logo em seguida lá estávamos de novo brincando e aprontando. No jantar outra briga com as mães, mas logo em seguida lá estávamos de novo nas brincadeiras.

Depois de tanta estrepolia eu e meu amigo Carlos Azolini, entrávamos na minha casa e íamos para perto da empregada de minha mãe, a Maria, faladeira que ela só. Ela não perdia tempo e já começava a contar histórias, as mais loucas ou assombrosas, de arrepiar os cabelos.

Certa vez disse que estava no quarto acordada, quando viu uma sombra na parede que tinha a figura de um homem. Morrendo de medo levantou-se vagarosamente tremendo de medo e foi mais perto da parede e aí não viu nada e acabou ficando na dúvida se tinha ou não visto aquela sombra, mas por via das dúvidas deitou-se e cobriu a cabeça para dormir.

Eu e meu amigo ficávamos com os olhos arregalados, tremendo de medo, mas a curiosidade era mais forte doque o medo e queríamos continuar ouvindo as histórias da Maria, éramos todo ouvidos, pois ela sabia como ninguém contar histórias que ela jurava que eram verdadeiras.

Terminada a jornada o Carlinhos ia embora e eu apavorado, pois era hora de ir dormir, começava a ver coisas, ouvir barulhos, não conseguia pegar no sono. Achava que tinha alguém no quarto. Começava a chorar e enquanto minha mãe não me deixasse ir dormir no meio dela e do meu pai, eu não sossegava.

Certa noite, já de madrugada e eu me lembro como se fosse hoje, de repente eu acordei e com os olhos arregalados de verdadeiro pavor, vi um casal de noivos girando numa dança misteriosa próximo ao teto do quarto. Ela estava com um buquê de flores e ele todo vestido de terno com fraque e cartola e o perfume da flor dama da noite envolvia todo o quarto. A visão era muito real, tanto que me lembro até hoje dos detalhes da visão fantasmagórica.

Fico analisando o porquê só lembro deste pesadelo, já que eu tive tantos e não me lembro de nada. Só sei que ei dei um tremendo grito apavorado que os meus pais acordaram muito assustados.

Acenderam logo a luz e para minha alegria e tranquilidade não havia mais nada do que eu havia presenciado. Meus pais me deram a maior bronca e não me deixaram mais dormir com eles.

A vida continuou, a molecagem também. A Maria continuou contando as suas histórias e eu continuei enfrentando meus pesadelos. Mas eu posso jurar que eu tive uma visão do mundo fantasma e eu me lembro como ainda fosse hoje.

Igreja de Santo Ignácio de Loyola - Alberto Landi

 


Igreja de Santo Ignácio de Loyola

Alberto Landi

 

Em Roma existem mais de 900 igrejas, uma mais impressionante que a outra, mas essa em especial tem um efeito ótico interessante, se levarmos em conta que foi feito há tanto tempo, em 1626.

Esconde uma ilusão incrível, a chamada cúpula falsa, que funciona da seguinte forma: Perto do altar, procure um círculo no piso de mármore, fique parado bem em cima do círculo e olhe para o alto, para o teto da igreja.

Vai ver uma belíssima cúpula, agora, dê um passo em qualquer direção e veja que a cúpula se deforma diante de seus olhos.

Na verdade, a cúpula não existe! É uma obra de arte, uma pintura em 3 D incrivelmente realística feita pelo pintor, arquiteto jesuíta Andrea Pozzo, um dos principais artistas da arte barroca católica.

Precisa estar exatamente no ponto marcado,  o círculo no piso, de qualquer outro local, nada acontece.

Incrível essa ilusão de ótica!

O MARAVILHOSO PALAZZO SPADA - Alberto Landi

 



O MARAVILHOSO PALAZZO SPADA

Alberto Landi

 

O Palazzo Spada localizado em Roma, tem um local secreto que é mais um efeito ótico que passa despercebido pelas pessoas que visitam.

É chamado de “A falsa perspectiva de Borromini”.

Ele foi um dos grandes arquitetos do barroco romano, além de Bernini e Pietro da Cortona.

Tudo teve inicio no ano de 1632, quando o cardeal Spada adquiriu um palácio, e sentiu falta de algo grandioso e espetacular capaz de deixar qualquer um boquiaberto. Fez a reforma do palácio, ficando com características do estilo barroco.

O arquiteto fez sua mágica, transformando o corredor de 8 metros que dá acesso ao jardim, em um corredor de 37 metros, ou pelo menos aparenta ter, já que é pura ilusão de ótica.

Ele construiu uma sequência de colunas que diminuem de tamanho ao avançarem pelo corredor adentro. O piso também vai se elevando gradativamente e tudo isso cria uma perspectiva falsa que faz com que um corredor de 8 metros pareça ter 37 metros. Utilizou a convergência das paredes laterais, do chão e do teto, criando um efeito similar de um binóculos.

O arquiteto se especializou e se destacou pelo dinamismo e originalidade ao idealizar fachadas e criar novas formas arquitetônicas com deliberada alteração das proporções.

Na parte inferior da galeria, em um jardim iluminado pelo sol, há uma escultura do deus Marte que parece ser de tamanho natural, mas na realidade tem 60 cm.

Ele contou com ajuda de um matemático, Giovanni Maria, para essa perspectiva incrível!

Esse local abriga um museu e há obras do século 16 e 17.

Em 1927 o Estado italiano comprou o palácio com todos os móveis e galeria, atualmente é sede do Conselho de Estado e Galeria Spada.

Em 1990 foi emitida moeda comemorativa de 200 liras representando o palácio. Em 2011 um selo postal de 0,60 euros, homenageia a galeria e as colunas com esse efeito ótico!  

PEDRO, O ESCRITOR POLICIAL - Alberto Landi

 

PEDRO, O ESCRITOR POLICIAL

Alberto Landi

 

Pedro Rosenthal escritor de profissão, sentado em um banco de uma praça próximo a sua casa, foi abordado por três indivíduos, pertencentes a uma quadrilha.

Um deles, pelo celular informa ao mentor do sequestro.

— Nós o pegamos, estava fumando cigarro no jardim da praça. Paramos com um carro roubado, vidros escuros, baixamos só o do motorista e pedimos informações. Ele se aproximou e o capturamos, apontamos uma arma, ele não sabe, mas é de brinquedo.

Pedro escreve romance e conto policial, menciona nomes e detalhes de pistolas e revólveres, é conhecido pelos seus livros de detetives e criminosos, foi ironicamente rendido por uma arma de brinquedo!

Colocado em cativeiro numa sala, ele está sendo forçado a fazer um conto policial e não vai ser libertado até que a família pague o resgate, e que sejam produzidos pelo menos dois contos policiais.

Enquanto isso, uma testemunha liga para família e informa:

Eu vi tudo, sei de tudo! Não paguem nenhum resgate!

O esconderijo onde ele se encontra, fica na periferia, ao lado de um deposito de ferro velho.

Esse grupo, na realidade, é de fãs dele, que tiveram a idéia de praticar esse ato, obrigá-lo a escrever algo bom, porque há muito tempo não escrevia nada, sendo que a última coisa que fez foi uma poesia, nada a ver com o seu perfil.

Os “sequestradores” querem um conto policial com tensão, crimes, submundo. Pensaram que ele tivesse perdido a inspiração ao vender as obras policiais anteriores a produtores de filmes.

O tempo está escasso, o grupo está muito tenso e preocupado pela ação criminosa cometida.

Nos noticiários matutinos em TV e radio, a policia informou que há um retrato falado dos criminosos, mas estes pensam que se trata de uma grande jogada policial para amedrontá-los.

Mal sabe a polícia que são meros leitores de livros policiais e de jornais, conhecem a lógica dos detetives.

A família informa aos criminosos, que não tem dinheiro para o resgate. Além dos romances, contos e poesia, ele é um escritor eclético, não é rico, os livros não dão tanta grana como pensam.

— É impossível que ele tenha torrado todo o dinheiro, pois ele vendeu toda a obra policial, comentava um deles.

Pedro, mal conversava, escrevia um livro a pedido da quadrilha. Ele só permitia ler os contos depois de terminado.

A tensão aumentou, com o decorrer dos dias. O carro usado na captura foi identificado bem como o seu proprietário, para investigações.

Mas o fato é que uma testemunha viu e sabia de todo o plano, pois rejeitou a oferta dos criminosos para participar.

O local foi descoberto, cercada por várias viaturas, sendo todos eles presos, e Pedro libertado.

O autor intelectual do delito confessou, alegando que só queriam ter em sua posse no mínimo um conto policial, produzido em cativeiro e sob estresse, para dar mais emoção.

Tudo isso reaproximou Pedro da ficção policial.

No local do cativeiro foram encontradas anotações, arma de brinquedos, notebook e celulares.

Isso foi uma grande jogada de marketing para o escritor, porem o sequestro realmente ocorreu e os criminosos punidos de acordo com a lei!

Pedro tornou-se famoso e inspirado após o ocorrido, pois sentiu na pele toda tensão e medo de um “real”  sequestro!

O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...