A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 6 de maio de 2021

A CACHORRINHA MIMOSA - Dinah Choichit

 



A CACHORRINHA MIMOSA

Dinah Choichit


ERAM TRÊS IRMÃOS, UMA MENINA, LUCIA DE NOVE ANOS, ANDRE DE OITO ANOS E EU PAULO DE SEIS ANOS. TODOS GOSTAVAM DA CACHORRINHA, MAS ERA COMINGO QUE ELA FICAVA. ONDE EU IA ELA IA ATRÁS, PARA ELA NÃO IMPORTAVA O LOCAL POIS ELA SEMPRE IA ATRÁS DE MIM.

UM DIA, NO MEU QUARTO, EU A PEGUEI NO COLO E FALEI:

- GOSTO MUITO DE VOCÊ! PARACE SER MINHA IRMÃ.

- EU SOU. RESPONDEU ELA.

FIQUEI OLHANDO PARA VER SE NÃO TINHA NINGUEM ESCONDIDO E NOVAMENTE ELA FALOU:

- SOU EU QUE ESTOU FALANDO COM VOCÊ, SOU DE UMA RAÇA FALANTE. NÃO SE PREOCUPE, POIS EU SÓ FALO COM VOCÊ E OS OUTROS DA MINHA RAÇA. AGORA VOCÊ TAMBÉM PODE CONTAR AS HISTÓRIAS DE SUA FAMÍLIA QUE EU ENTENDO, ME CONTE PAULO COMO VAI NA ESCOLA? JÁ SABE LER?

PAULO NÃO SE MEXEU, NÃO ACREDITAVA NO QUE ESTAVA ACONTECENDO. LEVOU UM SUSTO COM

ELA MAS RESOLVEU FALAR:

- SEI LER E ESCREVER, SOU TAMBÉM UM DOS MELHORES ALUNOS E ADORO A ESCOLA. VOU PEDIR UMA LICENÇA PARA LEVAR VOCÊ LÁ ALGUM DIA, MAS NÃO ABRA A BOCA!

- NÃO FALAREI NADA, QUERO VER VOCÊ AINDA. VOU ENSINAR A VOCÊ ALGUNS TRUQUES QUE SÓ OS CACHORROS SABEM, AGORA ADEUS E BOM DIA.

O VIOLINO MÁGICO - Henrique Schnaider

 


O VIOLINO MÁGICO

Henrique Schnaider

 

Rodiac caminhava pelo deserto levando seu violino mágico, quando de repente ele tem uma visão extraordinária de um carro modelo Rolls Royce ano 1928 conversível.

O mais incrível é que o carro estava estacionado em cima de um monte e Rodiac, não conseguia entender, como ele chegou ali. Resolveu então tocar seu violino mágico, que lhe permitia saber como se deu tal fato inusitado.

Ele tocou o som mágico do seu violino, que lhe contou toda a história com detalhes. O carro foi roubado da garagem de um Lorde inglês, por duendes que como num passe de mágica, transportaram e colocaram o carro ali naquele monte.

O Lord Montbatem não conseguia entender como seu carro sumiu. Até que Rodiac, transportado pelo violino,  num passe de mágica apareceu para ele. Chegou tocando seu instrumento, numa imagem fantástica para o Lord. Contou-lhe como os Duendes haviam subtraído seu Rolls Royce e transportado até aquele monte a milhares de quilômetros distante.

Disse que com seu violino poderia ajudar Montbatem, a recuperar o seu carro. Mas para isso ele teria que pagar 50 moedas de ouro aos duendes. Assim eles liberariam e Rodiac tocando o seu violino traria de volta o veículo.

O Lord ficou pensativo, pois o seu carro não valia tantas moedas de ouro. Mas o valor estimativo não tinha preço. O rapaz sentou-se ao lado dele e pacientemente aguardou pela decisão do Cavalheiro.

Montbatem finalmente disse a Rodiac, que iria pagar as moedas exigidas. Queria garantias de que não seria trapaceado pela segunda vez,  pagar e não ter o carro de volta.

O violinista levanta-se e fala ao Lord, que a sua palavra e as dos duendes, valem mais do que as moedas de ouro. Diz que ele pode confiar que ele trará o carro de volta.

Montabatem abre seu cofre escondido, em um lugar que só ele sabe onde fica. Retira de lá as 50 moedas de ouro, confiando plenamente no em Rodiac e entrega nas mãos dele as moedas.

— Fique tranquilo Lord, pois vou entregar as moedas aos duendes que me deixarão, trazer o Rolls Royce de volta na sua garagem.

E lá se foi o rapaz encontrar-se com os duendes, para pagar o resgate, subindo aos céus, nas curvas das nuvens, dentro de um grande rodamoinho. Lá estavam os danados, que eram 4 e com sorrisos mais marotos do que sinceros, receberam de Rodiac as moedas de ouro com olhares gulosos.

Depois de receberem o pagamento, ficaram os 4 rindo entre dentes e olhando para Rodiac. Disseram que não estavam satisfeitos e agora queriam mais 50 moedas de ouro, senão não desmanchariam o feitiço.

O rapaz não tinha poder mágico para enfrentar os 4 duendes. Assim voltou cabisbaixo até a presença de Lord Montbatem. Contou tomado, de muita tristeza, que os duendes não cumpriram sua palavra e queriam mais 50 moedas.

O Lord foi tomado de muita fúria, deixando Rodiac constrangido. Aí ele tomou a decisão rara de pedir ajuda à sua mãe. A poderosa Fada Radia, contando-lhe a triste situação, de faltar com a palavra e não trazer o carro do Lord de volta. Já que os duendes não cumpriram a sua parte.

Radia imediatamente se dispôs a ajudar o filho. Lá se foram eles para as nuvens, encontrar os duendes trapaceiros. Assim que ela os encontra, se assustam, e temerosos, pois conhecem o poder da fada, não titubeiam. Imediatamente desfazem o feitiço. Permitindo que o filho levasse o carro para o Lord.

Assim Rodiac, graças à sua mãe, manteve a sua palavra e deixou Montbatem eternamente agradecido.

Esta história prova uma verdade, quem tem uma mãe poderosa, consegue sair de qualquer enrascada, tanto seja no mundo real ou o da fantasia.

 

 

Ciladas do destino - Adelaide Dittmers

 



Ciladas do destino

Adelaide Dittmers


Uma garoa gelada derramava-se pela cidade naquele fim de tarde de inverno.  Pessoas encolhidas debaixo de seus guarda-chuvas caminhavam rapidamente pelas calçadas escorregadias, saindo do trabalho e indo para casa.

Abrigados em um bar requintado, dois jovens tomavam vinho e petiscavam indiferentes a tudo a sua volta.

Soraya, uma bela moça, de cabelos negros e grandes olhos castanhos, dizia raivosamente:

— Não me conformo com o que querem fazer conosco.  Não aceito e não vou aceitar essa imposição de nossos pais.  Adoro você, primo, mas não quero me casar com você.

— Eu também não aceito.  Estamos no século vinte e um.  Exclamou Amir.  Essa história de que o dinheiro não pode sair da família é uma tradição ultrapassada e ridícula.

Bonito e elegante, sempre rodeado por lindas mulheres, adorava a vida de solteiro, que lhe proporcionava viver incontáveis aventuras amorosas.  Ficara furioso com a decisão dos pais de obrigá-lo a casar com a prima, com quem compartilhara a infância e adolescência, como grandes amigos.

Soraya, por sua vez, formara-se em direito e sempre sonhara com uma carreira brilhante na sua profissão.  Recentemente ingressara no departamento jurídico da empresa do pai.  Há algum tempo estava se relacionando com um rapaz, que cursara a faculdade com ela.

Revoltados, tentavam elaborar um plano contra a vontade dos pais.

— Eles sabem que estou com o Bruno e querem nos separar.  Exclamou, elevando a voz e pegando o cálice de vinho, que tomou de um só gole.

Eram muito unidos e viam-se como irmãos.

Por longo tempo conversaram e resolveram comunicar aos pais sua decisão.

No dia seguinte, Soraya pediu aos pais de ambos para marcarem um jantar na casa dela para discutir o assunto, o mais rápido possível e o encontro foi marcado para aquela noite.

Os jovens estavam tensos, ao contrário dos pais, que conversavam animadamente, servindo-se dos aperitivos. A governanta os chamou para jantar e eles foram até a mesa, que estava coberta por uma bonita toalha branca delicadamente bordada, em que brilhavam talheres de prata e composta de fina porcelana.  Rosas amarelas completavam a beleza e o requinte da mesa.

Mal o jantar foi servido e Soraya entrou no assunto, que os estava reunindo.  Ajudada por Amir, explicaram que não iriam se casar, não concordavam com essa decisão arbitrária.  Isso é um costume arcaico, incompatível com os dias de hoje.

Um pesado silêncio caiu sobre a sala.  Os pais se entreolharam e depois de alguns momentos, o pais de Soraya, levantando a voz e atravessando-os com o olhar se manifestou:

— Vocês vão se casar, sim. Na nossa família essa tradição, que chamaram de arcaica vai continuar e a fortuna, que temos deve-se a sempre nos unirmos entre nós.

— Já disse que não vou me casar com Amir.  Para o inferno essa tradição!  E levantou-se da mesa.

E o rapaz completou:

— Também não quero me casar com Soraya.  Sou muito jovem, quero aproveitar a vida e poder escolher no futuro minha companheira.

— Sente-se Soraya.  Amir acalme-se!  Ordenou o pai.  É o seguinte: ou vocês se casam ou vão ser deserdados, exclamou enfaticamente, olhando para o pai de Amir, que concordou:

— Michel está certo. Ou se casam ou são deserdados.  A escolha é de vocês.

— Vocês não podem nos deserdar.  É contra a lei, gritou Soraya.

— Ah podemos! Temos meios para isso.  A maior parte de nosso dinheiro está fora do país.  Além do mais, em testamento podemos deixar a quem quisermos o nosso dinheiro.  Michel exclamou, com a voz alterada.

— Não acredito que farão isso conosco.  Amir abanava a cabeça, desconsolado.

As duas mães entreolharam-se e seus olhares refletiam a pena, que sentiam dos dois filhos.  Também elas tiveram casamentos arranjados e não eram felizes.  Sabiam que os maridos ao longo da vida conjugal tiveram muitas amantes e sentiram-se muitas vezes solitárias e apenas um bibelô na vida deles.

— Soraya levantou-se e Amir a acompanhou.

— Não quero mais jantar! E saiu da sala seguida de Amir.

— Vamos continuar nosso jantar, disse Michel calmamente. Eles vão reconsiderar.  Estão muito acostumados com todos os luxos, que o dinheiro oferece.

O jantar transcorreu com conversas amenas, interrompidas por momentos de intenso silêncio.  A atitude dos jovens tinha azedado a reunião familiar.

No jardim da mansão, Soraya e Amir conversavam revoltados. Não saberiam viver sem as viagens e mordomias e tudo mais o que o dinheiro proporciona.  Subitamente tiveram uma idéia; e se casassem e mantivessem um casamento de fachada.  Cada um vivendo a sua vida. Sorriram e deram-se as mãos, firmando o pacto.

Seis meses depois, uma grande e suntuosa festa selou a união dos dois.  A noiva estava belíssima no seu magnífico vestido e noiva.  Os grandes olhos castanhos, o cabelo negro preso a uma linda tiara e a pele morena contrastavam com a alvura do vestido.

O noivo de fraque parecia o príncipe encantado das fábulas infantis.

No dia seguinte, partiram para uma viagem pelas ilhas gregas.  Apesar da beleza daquelas ilhas românticas, o casamento, como tinham combinado, não foi consumado.  Amigos que eram, passearam e se deliciaram com as paisagens pitorescas e a boa culinária grega.  Nadaram nas águas de um esplêndido azul, cercadas por encostas escarpadas, onde casas brancas e azuis completavam o esplendoroso cenário.

Depois de um mês voltaram para casa.  Tinham ganhado um enorme apartamento em um luxuoso edifício de um bairro nobre.

Amir carregou a recém-casada para dentro, ao som das gargalhadas de ambos pela farsa, que estavam vivendo.

Os dias se seguiram.  Cada um em sua rotina diária. Ele como diretor da empresa do pai e ela como advogada.

À noite, Amir saia para seus encontros clandestinos e Soraya mantinha longas conversas pelo celular com Bruno.

Com o tempo, no entanto, algo diferente na relação deles, começou a mudar.  Ao jantar, tinham longas conversas, riam, brincavam com as manias de cada um.  E aqueles momentos foram se prolongando e as noitadas de Amir foram ficando cada vez mais raras.

Por outro lado, as ligações de Soraya com Bruno foram diminuindo e ficando desinteressantes para ela.

A convivência diária foi se tornando cada vez mais prazerosa e aqueles belos jovens começaram a ser ver de uma maneira diferente.  O rapaz se surpreendeu ao perceber que começara a sentir uma forte atração pela prima.  Nunca se apaixonara de verdade por ninguém. Será que isso era paixão.

Soraya notou a mudança nas atitudes do pretenso marido e percebeu que estava adorando aqueles olhares intensos, que eram dirigidos a ela, arrepiando-a toda.

Certa noite, Soraya preparava-se para sair do escritório.  Tinha tido um dia exaustivo.  Já eram sete e meia e queria chegar logo em casa.  O celular tocou e ela o pegou com impaciência. Quando viu quem era, atendeu rapidamente.

- Olá Amir! Tudo bem?

- Tudo. Hoje não quero jantar em casa.

- Vai a algum encontro? Perguntou ansiosa.

- Vou... com você.  Estou com vontade de ir àquele bar, onde decidimos não casar e nos rebelarmos com nossos pais.

Soraya demorou um pouco a responder.  O medo apoderou-se dela.

- Ok! Estou saindo.  Me encontro com você lá!

Desligaram e a moça pensou: ¨Será que Amir queria pedir o divórcio e escolheu o bar, em que tinham resolvido enfrentar os pais.  Será que tinha se enganado sobre as atitudes de carinho, que ele estava demonstrando ultimamente? ¨

Saiu do escritório, pegou seu carro no estacionamento e foi para o encontro.  Estava muito curiosa e sentia o coração apertado em seu peito e tentava se convencer de que talvez fosse apenas uma saída para espairecerem.  Mas, por que justamente naquele lugar?

Quando chegou, olhou em volta à procura de Amir.  O bar não estava cheio e logo o avistou, sentado à mesma mesa daquele encontro de tempos atrás. Um arrepio a percorreu. O quereria dizer aquilo?   Com passos inseguros se aproximou de Amir, que se levantou, beijando-a na testa e puxando-lhe a cadeira para ela sentar.

Um bom vinho já estava sobre a mesa e com um estalo de dedos, ele pediu algo para comerem.

Nesse momento, Amir olhou para ela como se quisesse penetrar em sua alma.

— Hoje vamos resolver nossa situação.  Pensei muito sobre tudo o que nos aconteceu.  Aceitamos a decisão de nossos pais para não perdermos a herança.  Estamos juntos e nos damos bem, como sempre nos demos, mas isso não está sendo suficiente para mim.

Soraya estremeceu.  Ela estava certa.  Ele realmente queria o divórcio.  Uma expressão de desaponto estampou-se em seu rosto. Não o estava vendo mais como a um primo, mas como a um homem por quem se apaixonara.

— O que você quer dizer com isso? Estava assustada e novamente o medo tomou conta de sua alma.

— Naquela noite, fizemos um acordo e tivemos que desistir dele para não perder nossa fortuna.  Não quero mais manter essa relação de mentira.

— Mas nos damos tão bem.  A voz de Soraya saiu trêmula.

— Para mim, só nos darmos bem não sustenta um casamento.  Não sei quais são os seus sentimentos a meu respeito. Você sempre me viu como a um irmão, como eu a você.

— Então você quer acabar com essa farsa?

— Sim, não quero ser mais o primo querido.  A verdade é que estou apaixonado por você, como não estive por mais ninguém e não posso viver sob o mesmo teto com uma pessoa, que não sente nada por mim.

Soraya tampou a boca do rapaz com sua mão e seus lábios se entreabriam em um sorriso apaixonado.

— Eu também amo você. Tive medo de demonstrar o que sinto e você se afastar de mim.  Nem sei como aconteceu isso, mas adoro estar com você, compartilhar minha vida com você.

Os dois se olharam intensamente e deram-se as mãos sobre a mesa, apertando-as fortemente, como se quisessem confirmar que tudo aquilo era real.  Ele levou as mãos dela à boca e as beijou ternamente.  Em seguida, chamou o garçom e pediu a conta. O vinho e os petiscos ficaram intatos na mesa.

O casal se levantou e de mãos entrelaçadas saíram do bar.  O céu estrelado e a lua cheia pareciam cúmplices daquele amor que começava a se concretizar.

 

 

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