A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

ICAL - A CIDADE QUE DESAPARECEU - AULA DE 22 DE NOVEMBRO DE 2023

 




Petrolândia era um município brasileiro do estado de Pernambuco, localizado às margens do Rio São Francisco, à distância aproximada de 430 km da capital Recife.

No dia 6 de março de 1988, a sede administrativa de Petrolândia foi oficialmente transferida para uma nova cidade, às margens da BR-316. O centro da antiga cidade e vários povoados situados em áreas próximas ao rio foram alagados para a construção da Usina Hidrelétrica de Itaparica. A população foi reassentada em bairros da Nova Petrolândia, em agrovilas e projetos de irrigação.

A partir do enchimento do Lago de Itaparica, além das atividades pecuárias e agriculturas tradicionais, novas atividades foram implantadas ou cresceram em importância no município, como a piscicultura em tanques redes e a fruticultura irrigada.

Muita gente se mostrou insatisfeita pela obrigatoriedade de mudar de lugar a cidade de Petrolândia. Não era só a mudança de lugar, mas a alteração do meio de sobrevivência que precisaria ser adaptado. Havia também a questão financeira para a nova moradia, o comércio que mudaria de apelo, o profissional liberal que antes trabalhava a piscicultura e agora trabalharia a agricultura ou coisa parecida. 

Em suma, a Nova Petrolândia não tinha as mesmas características que a antiga cidade.

 

TAREFA: O seu personagem é homem de Petrolândia, rico que domina o serviço de transporte aquático. Ele é irritadiço, inconformado com todas as medidas que vão literalmente afundar seu negócio de transportar moradores de um lado para o outro do rui. Inconformado porque ele também lutou muito para construir seu meio de vida, suas barcaças, sua casa, e de repente tem que abandoná-la, e vê-la mergulhar nas águas do São Francisco.

 














SVALBARD - Alberto Landi

 



SVALBARD

Alberto Landi

 

Há algum tempo, me inscrevi num site do Arquipélago de Svalbard

O objetivo era visitar o Silo Global de Sementes, apreciar a Aurora Boreal, as geleiras do Ártico e os costumes dos residentes. Decorrido bastante tempo recebi um convite para integrar um grupo com guia para visitação da ilha.

Parti de São Paulo rumo a Seattle com duração media de voo 17 horas numa distância de 11.000 km com escalas e de Seattle para Svalbard, com escala em Oslo, são mais 7 horas de voo, a uma distância aproximada de 6.000 km.

Quando o avião se aproximou do Arquipélago, pensei daqui se pode ir ao Polo Norte de trenó puxado por cães Huskys siberianos.

Quando chegamos no aeroporto recebemos roupas adequadas para a temperatura que iria fazer nos 4 dias de permanência. Tudo organizado para visitação.

Acho que esse lugar é um dos mais sigilosos do mundo, pode se comparar aos arquivos secretos do Vaticano.

Por ser um lugar tão isolado e de difícil acesso, tem algumas peculiaridades interessantes.

Devido ao grande número de ursos polares, qualquer pessoa ou grupo que passeiam precisam carregar rifles. Se um urso estiver correndo em sua direção, por lei, primeiro você tem que dar um tiro para cima, mas estiver a 200 m de você e não tem como fugir, só então poderá atirar.


As leis são extremamente severas para quem mata ursos.



É um lugar tão frio que os corpos não se decompõem. Quem morre em Svalbard tem que ser transportado para fora do arquipélago e ser enterrado no continente.


O mesmo acontece com nascimentos, a mulher tem que ser levada ao continente.

Durante o inverno fica no escuro por quase quatro meses, então é possível ver a Aurora Boreal a qualquer hora do dia, inclusive de manhã, após o sol nascer não é mais possível.

É um território ártico norueguês banhado pelo Oceano Glacial Ártico ao norte, pelo mar de Barents a leste e pelo mar da Noruega e mar da Groenlândia a oeste.

É o ponto da terra permanentemente habitado e mais próximo do Polo Norte.

A capital é Longyearbyen com aproximadamente 3.000 habitantes.

É formada por um grupo de ilhas e ilhéus.

No interior de uma montanha na ilha de Spilsbergen, há quase 1 milhão de variedades de sementes do mundo inteiro guardadas em segurança.

Este é o Silo Global de Sementes e um dos lugares mais sigilosos do mundo.

Fui informado bem antes da viagem que era quase impossível de entrar no silo sem estar credenciado, mas não era o meu caso, iria apreciar tudo com detalhes e com um grupo.

A coleção era formada pelos espécimes mais importantes de sementes cultiváveis do mundo.

Uma ilha 60% coberta de geleiras e 100% no meio do nada.

Eu pertencia a um grupo de pessoas convidadas na qual grande parte da viagem foi subsidiada pelo governo norueguês, a visitar as sementes de 12.000 anos de passado, presente e futuro da agricultura.

Lembrava uma fortaleza. Pensei, será que seria um excesso de zelo essa caixa forte? Será que estamos caminhando para uma extinção agrícola em massa? Creio que quase metade da alimentação ocidental se baseia em gramíneas, trigo, milho e arroz.

A Noruega com sua fama internacional de neutralidade e sem nenhuma grande participação na agricultura global defendeu a idéia de um estoque de reserva seguro e em 2007 assumiu o custo de nove milhões de dólares de construção desse silo, carinhosamente apelidado de Arco de Noé das sementes.

Foi erguido em concreto para durar dezenas de milhares de anos, foi projetado para suportar bombas e terremotos.

Além disso, por estarem profundamente inseridas na encosta da montanha, as três câmaras de armazenamento podem continuar congeladas 200 anos sem eletricidade, caso falte.

A entrada sai da montanha 130 metros acima do nível do mar, alto o suficiente para o caso de o gelo da calota polar derreter.

Em maio de 2017, após um inverno ameno, a água conseguiu se infiltrar pela entrada do túnel. Isso provocou um alvoroço na mídia. Todos diziam a salvaguarda do futuro alimentar estaria em risco? A resposta é não. Todas as sementes no fundo da montanha estavam salvas.

O nosso guia era um americano de meia-idade, Mr. Anthony, que nos brindou com muitos detalhes e curiosidades.

Ele era aposentado do FBI em Seattle, e estava tentando recapturar momentos no tempo quando ele havia sido grandioso em suas atividades. Passou 31 anos como agente. Era reconhecido por sua velocidade, seu pensamento ágil e aguçado.

Com seus 60 anos, achou que a aposentadoria não seria tão difícil. Tentou se ocupar do tempo ora lendo sobre armas, como eram fabricadas e as várias maneiras de uso, sendo essa bastante familiar pelo trabalho exercido, lia muito sobre ficção e sobre crimes virtuais. Porém, não conseguiu se realizar pós-aposentadoria até que surgiu uma proposta de trabalho como administrador do Silo Global de Sementes em Svalbard, na Noruega.

Apesar de ter um clima nada agradável, aceitou o desafio. 

Dentro do silo o frio parecia se prender ao revestimento curvo de metal ondulado das paredes da primeira passagem interna.

As lâmpadas fluorescentes que zumbiam em todos os 146 m de extensão do túnel acrescentavam um clima de estação espacial.

As paredes de aço se tornaram um duto grosseiramente aberto na pedra, e o frio aumentou muito.

As condições ideais para armazenar sementes a longo prazo são – 18C e ar muito seco.

O interior da câmara 6x27x10 parecia uma garagem bem arrumada.

Esse silo é uma iniciativa global com instituições de mais de 70 países e rara participação em comum de inimigos culturais e políticos.

As sementes ficam em caixas que nunca são abertas, são propriedades do depositante, Svalbard meramente as guarda só se extrairá se e quando os proprietários solicitarem. A maioria das caixas está cheio de dezenas de variedades de semente, seladas a vácuo em bolsas de Mylar com rótulos e códigos de barras do sistema de catalogação do próprio depositante.


O guia se posicionou diante de um espaço nas prateleiras e explicou que esses lugares vagos são fora do normal. As caixas de sementes são sempre guardadas na ordem de recebimento e não são catalogadas geograficamente.

Havia um local do Centro vazio porque o Centro Internacional de Pesquisa Agrícola em áreas secas, um consórcio sem fins lucrativos que realiza pesquisas em mais de 50 países, retirou uma parte de seu banco de sementes.


Preserva cultivares únicos de cereais, leguminosas e forrageiras originárias de lugares com grande importância agrícola no mundo.

Durante a guerra civil na Síria, esse Centro em Alepo, que já foi um dos mais importantes repositórios de sementes do mundo, em parte devido à relevância histórica da Síria como país de onde veio o trigo, teve de ser evacuado. Somente 87% da coleção de sementes puderam ser salvas.

Esse Centro requisitou suas sementes para que as variedades pudessem ser plantadas no Marrocos e Líbano, para assim refazer o estoque de sementes. Então houve dois redepósitos em Svalbard de sementes que se regeneraram.

 Terminada a visita meus dentes batiam, e os dedos dormentes, a temperatura externa era de – 26C.

O grupo se reunia no hotel após as visitas, e as noites agitadas consistia em muitas taças de vinho enquanto conversávamos e assistíamos à série televisiva Grey's Anatomy.

Com certeza este é um lugar inspirador de paz e segurança alimentar para toda a humanidade

Saímos na luz azul do ártico silencioso, uma paisagem maravilhosa e percebi que me sentia ambivalente a respeito do estoque de sementes, que   de tão longe vim para apreciar. A mudança climática está deixando nossos agricultores perplexos, e suas opções são cada vez mais limitadas. E os interesses corporativos tentarão aumentar a capacidade de regular a venda e controlar a genética das sementes.

A redução da biodiversidade do sistema alimentar deixou nações e cientistas alarmados a ponto de resolverem estocar a genética das sementes.

Mas será que essa é a melhor opção?

Svalbard não tem nenhum poder sobre o clima global e nem sobre os interesses corporativos, sem falar da transferência geracional de conhecimento.

Mas manter sementes trancadas dentro do Polo Norte é um lembrete doloroso de sua escassez.

 

Você que está lendo esse pequeno texto é a favor da manutenção do Silo Global de Sementes, cujo custo operacional ao ano é de um milhão de dólares e sempre buscando possíveis financiadores para manutenção e ampliação ou manter o máximo possível nas mãos dos agricultores que detém o conhecimento de quando, onde e como plantá-las?.

 




 

 

 

Curiosidade sobre uma cidade subterrânea - Adelaide Dittmers



Curiosidade sobre uma cidade subterrânea

Adelaide Dittmers

 

Coober Pedy é uma cidade localizada no estado australiano da Austrália Meridional, com aproximadamente 3000 habitantes. O nome da cidade vem da palavra aborígene kupa-piti, que significa poços de água dos garotos. A cidade é a maior produtora de opala, considerada a capital mundial desse minério.

Na longa estrada rumo ao centro da Austrália, 848 km ao norte das planícies costeiras de Adelaide, surgem enigmáticas pirâmides de areia.

Em torno delas, o cenário é totalmente desolado, uma extensão sem fim de poeira rosa-salmão, ocasionalmente salpicada de teimosos arbustos.

No entanto, à medida que você avança pela rodovia, surgem outras construções misteriosas similares, montes de terra clara, espalhados aleatoriamente como monumentos esquecidos há muito tempo. E, ocasionalmente, tubos brancos se elevam do solo ao lado desses montes.

Estes são os primeiros sinais de Coober Pedy, uma cidade de mineradores de opala.  Muitos dos pequenos picos da região são resíduos de solo gerados após décadas de mineração, mas também são sinais de outra característica do local: as moradias subterrâneas.

Sessenta por cento da população vive em casas construídas nas rochas de arenito e siltito ricas em ferro da região. Em alguns locais, os únicos sinais de moradia são os poços de ventilação que se erguem do chão e o excesso de solo acumulado perto das entradas das casas.

No inverno, esse estilo de vida pode parecer um tanto excêntrico. Mas, no verão, Coober Pedy não requer explicações: o local atinge 52 graus Celsius, uma temperatura tão alta, que faz com que os pássaros caiam do céu e aparelhos eletrônicos precisem ser guardados no refrigerador.

Coober Pedy não é o primeiro, nem o maior assentamento subterrâneo do mundo.

As pessoas se refugiam embaixo da terra para enfrentar climas inóspitos há milhares de anos, desde ancestrais dos humanos que deixaram suas ferramentas em uma caverna na África do Sul há dois milhões de anos, até os neandertais, que criaram pilhas inexplicáveis de estalagmites em uma gruta na França, na idade do gelo, 176 mil anos atrás.

Até os chimpanzés já foram observados se refrescando em cavernas, para se proteger do extremo calor durante o dia no sudeste do Senegal.

Outro exemplo é a Capadócia, uma região antiga no centro da Turquia. Ela fica em um planalto árido e é famosa pela sua notável geologia, quase utópica e seu cenário de cumes, chaminés e casas esculpidos pelo homem e pela natureza em rochas vulcânicas.

Voltando a Coober Pedy, que à primeira vista, pode ser confundida com um assentamento comum da região desértica, que compõe o chamado outback australiano.  As ruas são cor-de –rosa devido à poeira e lá existem restaurantes, bares, supermercados e postos de gasolina.

No alto de uma colina, a única árvore da cidade, na verdade, uma escultura feita de metal, observa o panorama.

Na superfície, Coober Pedy é assustadoramente vazia.  As casas são bastante espaçadas entre si e a impressão é de que algo realmente parece estar errado.  Mas, embaixo do solo, tudo se explica.

As construções subterrâneas precisam ficar a pelo menos quatro metros de profundidade, para evitar que o teto desabe.  Embaixo daquele enorme volume de rocha, a temperatura é sempre agradável: 23 graus Celsius.

As pessoas que moram acima do solo precisam suportar verões extremamente quentes e noites frias de inverno, com temperaturas de 2-3 graus Celsius.  As casas subterrâneas, no entanto, mantêm a temperatura ambiente estável, durante o ano inteiro.

Além do conforto, outra importante vantagem de morar embaixo da terra é a economia.  Coober Pedy gera toda a eletricidade, que consome 70% dela de origem eólica e solar. 

Muitas casas subterrâneas em Coober Pedy são relativamente baratas.  Em um recente leilão, o preço médio das casas de três quartos foi de cerca de 40 mil dólares australianos (cerca de R$ 126 mil)

As casas subterrâneas oferecem outros benefícios.  Um deles é que não há insetos.

Curiosamente, o estilo de vida subterrâneo também pode oferecer alguma proteção contra terremotos.  No entanto, o nível de segurança das estruturas subterrâneas durante atividades sísmicas depende inteiramente do seu tamanho, complexidade e profundidade.

Existem diversas razões para a praticidade única da construção de subterrâneos em Coober Pedy. A primeira são as rochas da região, que são muito moles, podendo ser raspadas com um canivete ou com a unha.

Nos anos 1960 e 70, os moradores ampliaram suas casas da mesma forma que criaram as minas de opala, usando pás, picareta e explosivos.  Hoje em dia, os túneis costumam ser escavados com equipamento industrial.  Mas ainda é possível escavar manualmente e não é raro que como se trata de uma área de mineração de opala, um projeto de reforma acabe dando lucros.

O arenito também é estruturalmente estável, sem precisar de apoios, o que possibilita a construção de salões cavernosos com pé-direito alto, na forma desejada, sem acrescentar materiais.

Muitos moradores têm casas de luxo, sofisticadas, com piscinas subterrâneas, salões de jogos, grandes banheiros e salas de estar de alto padrão.












Diferença de sentimentos - Alberto Landi

 

 



Diferença de sentimentos

Alberto Landi

 

Aarão e Moisés, amigos desde a infância, ambos nativos de Israel, cresceram e estudaram juntos, uma amizade que se perpetuou ao longo do tempo.

São nomes bíblicos, mas a história se passa atualmente.

Para se ter uma noção do grau da amizade, quando jovens fizeram um pacto de sangue.

O tempo passou de maneira traiçoeira de uma forma sutil e despercebida.

Moisés mudou-se para o Cairo, onde foi concluir seus estudos na faculdade de Economia, pois seu pai era um próspero comerciante internacional, um homem de grandes posses financeiras, queria que seu filho fosse sucessor em suas empresas.

Aarão, por não ter condições de custear seus estudos, não pode acompanhar Moisés, seguiu a profissão do seu pai, mecânico de aviação. A idade chegou e Aarão se casou com uma jovem que era filha de uma família de quem eram muito amigos há muito tempo, e assim construíram um lar composto de duas filhas e de um menino que era o caçula da prole. Eles viviam modestamente com o trabalho de Aarão, mas o que havia de sobra em sua família era a harmonia e a felicidade.

Quando sua filha primogênita atingiu a maioridade, a sua mãe Sara, informou ao marido que haviam surgido pretendentes para esposar Ester, mas conforme era a tradição de sua etnia, tinham que oferecer o dote para família do noivo e para isso teriam que disponibilizar uma boa verba para o casamento.

Diante do questionamento da sua esposa, com muito constrangimento e com lágrimas nos olhos, disse lhe que nestes anos todo de trabalho não havia acumulado dinheiro suficiente para pagar o dote, mas que iria orar muito, em busca de uma solução, e assim se debruçou várias vezes ao dia segurando o Torá, orando para achar um caminho onde pudesse arrumar o dinheiro.

Uma noite após fazer suas orações, Sara lembrou-se da amizade que ele tinha com Moisés, do qual tinham notícias que ele havia se tornado um grande banqueiro e considerado um dos homens mais ricos do Cairo e quem sabe ele poderia ajudá-lo nessa questão.

Ele sorriu para a esposa e disse lhe que iria pensar nessa possibilidade e no dia seguinte conversariam sobre isso.

Na manhã seguinte, o casal deliberou que Aarão viajaria para o Cairo para conversar com o seu amigo, quem sabe solicitar um empréstimo para pagar o dote à família do noivo da filha Ester, e assim foi feito!

Chegando ao Cairo, se dirigiu ao Banco onde Moisés era o dono, e um tanto envergonhado pela situação, chegou a pensar que depois de 19 anos que não via o amigo, talvez ele nem se lembrasse de sua pessoa.

Após se identificar para a recepcionista, disse lhe que queria falar com Moisés. Informou que o assunto era particular que na juventude em Haifa, onde viviam foram muito amigos.

A secretaria pediu a ele que ficasse aguardando para verificar se poderia ser atendido.

Após alguns minutos foi conduzido até a sala de Moisés, que prontamente ao ver o amigo de juventude estendeu-lhe os braços, saudando-o e o convidando-o para sentar.

Conversaram muito, relembrando suas aventuras, deram muitas risadas.

Com muito orgulho e patriotismo, comentaram como Israel havia enfrentado ao longo dos anos inúmeros obstáculos econômicos, mas sempre perseverante, se superando e ganhando o respeito de outras nações. O país ao longo dos anos concentrou-se na promoção da educação e no estímulo à inovação tecnológica, quer nos setores da biotecnologia, ciência da vida, energia renovável e principalmente na medicina.

Moisés acompanhava muito as atividades cientificas e procurava se atualizar não somente com os feitos realizados por Israel, mas também com pesquisadores que viviam fora do país. No campo da Química citou Martin Karplus, na Fisiologia e Medicina, David Julius, na Economia, Douglas Diamond, Albert Sabin na vacina oral para poliomielite. No campo da tecnologia, o desenvolvimento do aplicativo chamado Waze, pelo exército israelense, a aplicação de segurança contra invasões em redes de computadores chamados de Firewall, na agricultura, irrigação por gotejamento. Eles se sentiam muito orgulhosos com toda essa contribuição para a humanidade, em tão pouco tempo da existência do país.

 

Aarão informou ao amigo que havia seguido a profissão do pai e, modestamente, conseguiu sustentar a família, porém, havia chegado o momento de casar Ester, e que para isso ele precisava de dinheiro emprestado, o qual teria condições de ser pago em prestações.

Moisés olhou com um ar severo e fixo para o amigo dizendo:

— O que você está me pedindo é um favor e eu sou um homem de negócios, e só cheguei até aqui porque não costumo fazer favores, o meu dinheiro é para render frutos para que o Banco cresça e meus negócios prosperem.

Ao ouvir isso, ele encolheu-se na cadeira, enquanto tomava fôlego para sair dali, quando foi surpreendido pela conversa do banqueiro que lhe disse:

— Considerando que você é um amigo de juventude e até fizemos um pacto de sangue, vou lhe propor o seguinte:

— Há muitos anos, tive um problema e perdi um dos olhos, este fato me abalou muito, mas com auxílio de um grande mestre cirurgião, ele me restituiu com uma prótese que ficou uma verdadeira obra-prima e ninguém é capaz de distinguir qual deles que é a natural e a que foi recuperada pelas mãos hábeis desse mestre. Assim, te convido a distinguir uma da outra e se você acertar te concederei o que me pedes.

Ao ouvir o relato do banqueiro, lhe disse:

— O esquerdo é a prótese, e o outro natural.

Moisés ficou impressionado ao ouvir a resposta e indagou ao amigo, como ele havia acertado de pronto na comparação, visto que ninguém até hoje havia distinguido essa diferença.

Aarão, já recomposto de todo constrangimento, disse ao amigo:

— O olho que foi objeto do dom divino do artista que o recuperou carrega a sua sensibilidade e o amor que lhe dedicou nesta obra de arte, ele transmite calor, energia. O outro perdeu o brilho que tinha na sua juventude e se tornou frio e desprovido de sentimentos, como se fosse uma luz apagada, os bons sentimentos foram corroídos.

Você que está lendo esse pequeno texto, seus olhos estão brilhando sob o olhar dos outros?

 

O Homem de Máscara - Adelaide Dittmers

 


O Homem de Máscara

Adelaide Dittmers

 

O homem de máscara saiu pelas ruas da cidade. 

As ruas da cidade estavam vazias naquela hora da noite.

Naquela hora da noite, somente, uma espessa neblina escondia o homem de máscara.

O homem de máscara abriu sorrateiramente o portão de uma casa abandonada.

A porta da casa abandonada rangeu ao ser aberta pela mão enluvada do homem.

A mão enluvada do homem acendeu uma lâmpada pendurada por um fio no teto esburacado.

A lâmpada pendurada por um fio no teto esburacado pouco iluminou a sala, em que móveis velhos empilhavam-se pelo ambiente, que exalava forte cheiro de mofo.

O forte cheiro de mofo não incomodou o homem, que retirou a máscara, revelando um rosto pálido e um olhar frio e perdido

O olhar frio e perdido vagou pelo lugar.  Com passos firmes, alcançou um nicho na parede, onde colocou um facão ensanguentado.

O facão ensanguentado demonstrou que o homem de máscara tinha assassinado alguém.

Tinha assassinado alguém e conhecia há muito aquela casa abandonada, onde escondeu a prova do crime.

A prova do crime nunca seria encontrada, então o homem se virou e se jogou em um sofá, cujas molas saltavam através do tecido rasgado.  Inesperadamente, ele cobriu o rosto com as mãos enluvadas e caiu em um choro convulsivo.

O choro convulsivo ecoou pela sala. Abaixou as mãos e virou a cabeça de um lado para o outro, como quisesse espantar os pensamentos.

Pensamentos que talvez o tivessem levado ao mal que tinha praticado.

O mal que tinha praticado era sua realidade pelo resto da vida.

Pelo resto da vida não iria esquecer essa noite e a casa abandonada, onde há muito tempo vivera uma vida feliz.

Uma vida feliz que perdera pela traição de uma mulher.  Levantou-se devagar.  Olhou em volta, como se despedisse da casa e colocou a máscara.

Colocou a máscara, ajeitando-a no rosto, agora sem expressão... apático.

Apático, saiu da casa, sem olhar para trás.

Sem olhar para trás, o homem de máscara saiu pelas ruas da cidade.

 

 

O PERIGOSO HOMEM DO BEM - Henrique Schnaider

 



O PERIGOSO HOMEM DO BEM

Henrique Schnaider

 

José Messias nasceu em uma família muito rica, mas todo o dinheiro e as inúmeras propriedades que seus pais tinham, vieram de uma forma ilícita tanto na política, ​baseada em muita corrupção, assim como usurpação a quem pudessem. Falsificavam documentos para conseguir roubar de todas as formas, tomando propriedades alheias. Praticavam agiotagem esfolando aos seus devedores.

José Messias viveu desde criança no meio desta bandalheira que seus pais tinham como método de vida, e assim desta maneira, desde menino ele aprendeu de tudo o que um ser humano usa para praticar a desonestidade. Ele, desde o começo, levava jeito para seguir nos negócios, pois, isso já era parte do seu íntimo, digamos que tornou PHD na matéria de todas as formas de roubar o próximo.

Como o tempo não perdoa ninguém, seus pais envelheceram e acabaram doentes, talvez pagando por tudo aquilo que fizeram de errado nesta vida. Sendo José Messias, que de Messias não tinha nada, herdou todo aquele império construído com muita falcatrua.

José não estava satisfeito com o que tinha, então perpetrou uma tremenda tramoia e lançou uma campanha de venda de lotes na praia de Jurubeba, mediante uma propaganda enorme em todos os veículos de comunicação.

A campanha de vendas pegou fogo, a coisa​ corria bem, e sua equipe de vendas lhe informava que já haviam vendido mais 100 lotes, e o nosso vigarista não cabia em si de contentamento. Na verdade, estes lotes estavam todos a 100 metros para dentro do mar e assim ele mandou falsificar a documentação de uma forma tal como se os lotes estivessem em terra firme.

Como disse Machado de Assis” A oportunidade faz o crime” e o nosso anti-herói, feliz da vida, contabilizava uma pequena fortuna. Mas tudo que aqui se faz aqui se paga. Um dia um famoso advogado resolveu comprar vários lotes, mas como era muito esperto e conhecedor de leis e de documentação, resolveu depois que fechou o negócio, investigar mais a fundo a legalidade da documentação dos lotes.

Como ele conhecia os cartórios de registro de imóveis, começou a investigar a legalidade da documentação.

Ele não teve muitas dificuldades para descobrir a falcatrua que José Messias tinha engendrado dos lotes dentro da água do mar. O advogado, que era também um oportunista e não queria colocar o vigarista na cadeia, mas sim tomar dele por meio de extorsão, para ficar de boca fechada.

José Messias pagou caro pela sua malandragem, pois o Dr. tomou tudo o que ele tinha ganho na venda dos lotes e já avisou que ia querer também uma quantia grande todos os meses. José Messias desta vez pagou caro pela sua volúpia e aprendeu que se ele se imaginava esperto, tinha gente mais esperta do que ele. E mais uma vez o antigo ditado continuou valendo, pois, “ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão”.

O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...