A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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segunda-feira, 12 de abril de 2021

A fuga - Hirtis Lazarin

 


A fuga

Hirtis Lazarin

 

O convento dormia tranquilamente.  As freiras e as iniciantes acomodavam-se bem cedo.  Acordar às cinco horas da manhã exigia disposição para assistir à santa missa que durava horas de orações, a primeira obrigação do dia, mesmo antes do substancioso café da manhã.  Muitas religiosas dedicavam-se ao aprimoramento culinário, único prazer permitido entre aquelas silenciosas paredes coniventes, cercadas por altos muros cinzentos.

Havia dias em que Claire andava bem estranha.   Às vezes esboçava um sorriso maroto disfarçado de felicidade, outras fazia caretas de preocupação.  A madre superiora, vivida e ranzinza, já notara e estava de olho.

Claire nasceu no ano de 1866 em Paris numa família aristocrática, extremamente religiosa.  Religião e poder andavam de mãos dadas.

Ao completar dezoito anos, eram apresentadas às jovens três opções de vida: casar-se com alguém escolhido pela família, fazer votos religiosos ou permanecer solteira com o dever de cuidar dos pais e sobrinhos.

Claire era sensível e inteligente o suficiente para não ser aprisionada num destino programado.  Tinha ideias avançadas para sua época.  Tocava piano desde os cinco anos e seus desenhos gritavam criatividade e sensibilidade estética.  Mas tais qualidades não eram valorizadas no mundo feminino.  As mulheres eram preparadas para cuidar da vida privada da família e aos homens cabia o sustento.

"Constituir família com um desconhecido, nem pensar".  Se escolhesse o convento, teria tempo para pensar em outra saída.  E foi o que fez.

Claire consultou o relógio escondido embaixo do travesseiro.  Eram quase duas horas da manhã.  Certificou-se de que suas colegas de quarto dormiam profundamente, tirou a camisola branca de algodão cru que escondia um vestido reto e sem babados, usado debaixo do hábito.  Carregou uma mochila com poucas peças de roupa e saiu do quarto.

Pé ante pé, caminhou pelos imensos corredores familiares, atravessou salas e entrou na capela.  Apenas a lamparina do Santíssimo Sacramento acesa.  Orou poucas palavras,  pediu perdão a Deus. "A gente só vive uma vez".

Tão silenciosa quanto uma folha seca que se desprende do galho, andou até a porta principal.  Girou a chave pesada tão delicadamente que ela não teve coragem de ranger.  Olhou para todos os lados e desceu as escadas saltitando.  Atravessou o jardim florido chegando  ao depósito das ferramentas e apetrechos de jardinagem.  A escada estava onde deveria estar.  Era pesada, mas não mais que a vontade de fugir.

Subiu cada degrau pacientemente.  Uma queda quebraria todos os seus ossos.  Chegou à borda do muro e lá embaixo na calçada estava o amontoado de lixo que seria recolhido de manhã.

Ela nunca ouvira falar em super-heróis, mas, naquele momento, seria a primeira.  Num salto voador, viu-se misturada aos restos de comida que se soltaram de um saco furado.  O mal cheiro era forte.  Deu uma chacoalhada, sentiu-se livre e solta.

Nesse exato momento, lá na esquina, apontou uma carruagem num trote lento e compassado.

Claire postou-se no meio da rua estreita e gritou por socorro.  O condutor não teve outra saída senão frear os cavalos.  Assustados, relincharam alto.  Ela não pensou duas vezes.  Abriu a portinhola e pulou para dentro do coche.  Ela precisava fugir dali.

Jeremias aguardou um instante e como os passageiros não esboçaram qualquer reação, tocou em frente.

Então a fugitiva se deu conta de que não estava sozinha.  Dois homens bem vestidos e uma mulher exuberante com seios volumosos  pressionados pelo espartilho, riam  e bebiam champanhe.  Bêbados, descontrolados e felizes depois de uma noite prazerosa no cabaré ”Chat Noir" da rua Montmartre, não davam conta do que se passava ao redor.  Logo em seguida, todos adormeceram.   Só acordaram quando a carruagem estremeceu e uma das rodas se soltou.  O "coupê" perdeu o controle da direção e os cavalos assustados arrastaram todos, num zigue-zague, até parar no acostamento.

Todos desceram e só então a "intrusa" foi descoberta.  "De onde veio essa assombração"?  Antes que fosse atacada, em resumidas palavras, Claire deu-lhes uma explicação razoável.  

Já estavam a muitos quilômetros de Paris e era o momento necessário e oportuno para uma pausa.  Acomodaram-se debaixo de árvores corpulentas às margens de um riacho de águas rasas transparentes.  Fartaram-se de alimentos e frutas que carregavam.  Os cavalos, também famintos, perderam-se no descampado de grama verdinha.

Claire contou detalhes da sua história e teve apoio do grupo.  Gente boa e rica que sabia aproveitar a vida.  Eles pretendiam chegar à Florença, onde acontecia uma exposição com pinturas renascentistas.  Era tudo o que a ex-freira mais queria: contatar o mundo das artes, fugir da França e se esquecer da família que, certamente, a amaldiçoaria todos os dias de sua vida.

O calor estava intenso e as águas convidavam todos ao banho.  Os rapazes não se entusiasmaram em se desfazer de botas e tantas peças de roupa, mas as duas mulheres, desinibidas e sem pudor, despiram-se e não perderam tempo.

A carruagem estava consertada e os cavalos descansados e tranquilos.   Hora de partir.  O caminho à frente era longo.

O pescador e o mar - Adelaide Dittmers

 


O pescador e o mar

Adelaide Dittmers

 

Há dois dias que aqueles homens estavam no mar. Capitão Ramos olhou para o céu coberto de pesadas nuvens escuras, que eram empurradas por um vento cada vez mais forte. Conhecedor profundo do mar e das intempéries, coçou a cabeça preocupado e se perguntou se aquele velho barco aguentaria a fúria da tempestade que se anunciava.   Decidiu que era hora de voltar.  A pesca tinha sido boa e o caminho até a costa era longo. Chamou os dois homens, que o acompanhavam e comunicou-lhes que estavam retornando.   Direcionou o barco para a terra firme e iniciaram a viagem para casa.

Nesse momento, raios começaram a riscar o céu, seguidos pelos fortes estrondos de trovões.  Ondas enormes levantaram-se no mar revolto, batendo com violência na frágil embarcação, que subia e descia pelas grandes e assustadoras vagas.

Os três homens se esforçaram para manter o barco estável e no rumo certo.  Uma chuva forte começou a despencar com uma fúria descontrolada. A visibilidade era nula. O aguaceiro se confundia com as tenebrosas águas do oceano.

Capitão Ramos tentava acalmar os dois homens, que estavam aterrorizados, mas um turbilhão de pensamentos ocupava sua cabeça.  Como conseguiria levar o velho barco e aqueles homens, que tinham plena confiança nele, para a terra firme.  Um medo nunca sentido por aquele homem corajoso tomou conta de seu corpo e de sua alma.

De repente, uma onda gigantesca impulsionada pela ventania levantou o pequeno barco, jogando-o de um lado para outro.  Os dois homens que acompanhavam o marinheiro foram bruscamente lançados ao mar.

O velho lobo do mar, acostumado a várias situações difíceis, agarrado a um pequeno mastro, soltou um grito desumano, como um animal ferido, e um choro incontido e singular irrompeu naquele homem tão forte como as ondas desvairadas à sua volta. Era responsável por aquelas vidas.

Com grande dificuldade, ele se arrastou até o leme e o segurou firmemente e apesar do desespero e do terror de ver os homens, tentando se manter à tona das águas, dirigiu o barco para o mais perto deles, que   pode conseguir, lançando uma corda para tentar resgatá-los.  Um deles conseguiu chegar até a corda e segurou-a com firmeza.  Ramos tentava trazê-lo para o barco, mas a força do mar tornava aquele salvamento quase impossível, quando uma imensa vaga jogou o homem à beira do costado do pesqueiro e o capitão, reunindo toda a energia, que ainda lhe restava, puxou-o para dentro.  O pobre homem, que tossia e respirava com dificuldade, estendeu-se no chão para se recuperar.

Ramos olhou para fora, apreensivo, tentando divisar o outro pescador entre as grandes ondulações das águas, que se elevavam violentamente.  Ele desaparecera.  Um sentimento de impotência e de desalento tomou conta dele.  Tião era um companheiro de muitos anos, amigo fiel de muitas empreitadas e com quem compartilhou muitos momentos felizes. Não era jovem e por isso não tinha a vitalidade necessária para lutar contra aquele gigante e tempestuoso mar.

 Como se voltasse à realidade voltou sua atenção ao homem salvo, incentivando-o a reagir e ajudá-lo no difícil desafio de conduzir o barco à terra firme, com segurança.  Movido por uma força interior, muito peculiar à sua personalidade, bradou:

— Temporal dos infernos, você não vai vencer nóis.  Vamo consegui! Deixa de choradera, Quim e vem me ajudá!

Com destreza e a experiência acumulada durante muitos anos de pescaria, procurou manter o barco, o mais estável possível, levando-o a favor das ondas e quando não era possível, cortava-as de lado, com a velocidade reduzida e elevando a proa para não entrar água na embarcação.

Seus pensamentos estavam concentrados na luta contra aquele poderoso adversário.  Quim, por sua vez, tentava ficar de pé e auxiliá-lo a divisar alguma coisa em meio aquele aguaceiro.

Com ímpeto e segurança, conduzia o velho e alquebrado barco em direção à costa e, como um filme, que se ia desenrolando, lembrava-se de sua juventude cheia de dificuldades e do demorado aprendizado como marinheiro e pescador.  Suas memórias reviveram as adversidades vividas por ele, seus inúmeros irmãos e seus pais na luta constante pela sobrevivência.  Esta era mais uma delas e ele iria vencê-la.

Seus pensamentos voaram para as famílias que dependiam da pesca para ter o pão em suas mesas e para sua companheira de vida, que o esperava a cada pescaria, rezando por sua volta.  E essas reflexões lhe davam alento para continuar enfrentando a terrível tempestade.

Depois de algum tempo, a chuva e o vento começaram, aos poucos, a diminuir de intensidade e o oceano, súdito que era da natureza, foi se acalmando devagar.

Os dois homens se abraçaram aliviados.  Tinham superado o pior. Sem pressa e com muito cuidado foram se aproximando da costa, que já era visível, mas ainda muito distante.

Aos poucos, foram chegando mais perto da terra e começaram a avistar os morros verdejantes, que circundavam a bela e agreste praia em que viviam.  Uma enorme tartaruga passou pelo barco e eles soltaram uma gargalhada, descarregando parte da tensão, que tinham contido em seu interior. A visão do animal foi para eles um sinal da vida, que retornava.

Ao se aproximarem da praia, avistaram um grande número de pessoas, que se aglomerava à beira do mar, parecendo que a pequena vila de pescadores comparecera em peso para esperá-los. 

Vários homens e mulheres entraram no mar para recebê-los. Extenuados pela grande batalha contra a natureza bravia, desceram da pequena embarcação e foram ao encontro deles.

Suas emoções eram contraditórias.  Estavam felizes por estarem vivos e trazerem os peixes para aquelas pessoas pobres, e tristes pela perda do companheiro.

Uma mulher adiantou-se no grupo.  Era sua mulher.  Agarrou-se a ele, chorando convulsivamente e quase gritando dizia:

— Nossa Senhora me ouviu!  Nossa Senhora me ouviu!

A mulher e os pequenos filhos de Quim também o abraçaram chorando.

Era uma comoção geral.  Dentre o grupo, outra mulher afastava com os braços as pessoas e tentava chegar perto de Ramos.  Quando finalmente conseguiu se aproximar dele exclamou:

— Cadê Tião? Cadê Tião?

O velho marinheiro balançou a cabeça, impotente e com uma voz fraca, disse:

— Ah! Desculpa Joana! Ele caiu no mar! Não consegui salvá ele!

A pobre senhora ajoelhou-se na areia molhada e caiu num pranto sentido e desesperado.

Ramos ergueu-a e a abraçou, sem ser capaz de proferir uma palavra de consolo.  Estava desolado. Depois de alguns instantes, recuperou-se da emoção, fitou-a com compaixão e ternura e disse:

— É o destino! Não podemos fugir dele, minha amiga!

E olhando para as ondas brancas, que lambiam a areia delicadamente, exclamou:

— É a vida! O mar dá muito pra nóis, mais tira também!

Com a cabeça baixa e abraçando as duas mulheres, gritou para todos:

— O barco tá cheio de peixes. Descarreguem!

E seguiu para a vila.

GREGÓRIO - O DETETIVE - Alberto Landi

 


GREGÓRIO - O DETETIVE    

Alberto Landi

 

Gregório é um detetive argentino, que vive em Luján, nos arredores de Buenos Aires, aventureiro no ramo da investigação, engraçado, desastrado, atrapalhado, analisando uma cena de crime, a solução vem por acaso, às vezes com muita sorte!

Ele é um personagem mais forte que o criminoso, por ser mais inteligente, competente e ágil. O papel do detetive é impedir a ação do criminoso descobrindo a sua identidade e com isso pôr fim ao mistério.

Até o momento em que o criminoso consegue esconder a identidade, ele é o protagonista da narrativa, mas quando é encontrado, torna-se um personagem secundário, fazendo do detetive o herói do conto policial. Herói porque encarna os valores da sociedade e luta por eles.

A história se passa num dia chuvoso e frio em Luján, em uma quinta feira do mês de julho.

Gregório foi encarregado de resolver uma série de crimes onde alguns homens eram seduzidos por uma bela mulher, e depois eram encontrados esfaqueados de forma cruel.

O detetive foi chamado pela chefia da polícia local, onde o Sr. Julián dono de uma sapataria foi encontrado estirado no chão, com marcas de facadas, só que dessa vez havia algo diferente.... Uma testemunha!

Era Juan um vizinho, assustado e desconfiado, mas com um enorme desejo de ajudar, contou ao detetive que pela madrugada viu Julián acompanhado por uma mulher loira, estatura mediana, cor de pele marfim, contrastando com a roupa de enfermeira que estava usando, usava cabelos cacheados até os ombros.

Gregório animado com a perspectiva de agarrar a psicopata, voltou para casa e contou os detalhes para a sua adorável esposa Perla. Sem notar que ela batia exatamente com a descrição de Juan e sua esposa exatamente trabalhava à noite num hospital da região do crime!

Estava desvendado o crime.  Sorte ou azar?


O SUCESSO DO DR. ALEX - Claudionor Dias da Costa

 



O SUCESSO DO DR. ALEX   

Claudionor Dias da Costa


O jovem de vinte e seis anos, Dr. Alexandre Pontes escolheu fazer sua residência médica, tão necessária para sua experiência na difícil profissão que escolheu, na cidade de Catanduva, interior de São Paulo.

Era conhecido como Dr. Alex. Muito simpático e comunicativo se relacionava muito bem com as pessoas tanto no hospital em que trabalhava quanto com os vizinhos e amigos.

Morava sozinho, por ser solteiro, numa pequena casa, não muito longe do trabalho onde costumava ir a pé.

Era uma pessoa simples e dedicada demonstrando que queria progredir e se realizar, após uma vida difícil que exigiu sacrifícios dele e da família para concluir os estudos.

Seu pai, operário de fábrica pequena de calçados e sua mãe trabalhando como doméstica conseguiram propiciar carreiras importantes a ele e seu irmão, que se formou em Direito.  

Os dias se sucediam numa rotina até bem cansativa de atendimento à pacientes que eram numerosos e exigiam atenção plena. Dr. Alex tinha por especialidade a ortopedia, mas, naquele hospital era obrigado a se envolver em diversos tipos de atendimento.

Numa tarde de sábado em que fazia plantão, recebeu o chamado do setor de Pronto Socorro para comparecer rapidamente, era uma vítima de acidente.

Ainda no corredor recebeu a entrada de maca com pessoa sangrando bastante, com muitas dores e exigindo cuidados imediatos. Solicitou à enfermeira que fizesse a triagem para medir sinais vitais, procurasse higienizar o sangramento e levasse para à sala ao fundo de cirurgia, pois a perna certamente necessitaria de cirurgia.

Trocou rapidamente o jaleco, colocou toca, luvas e correu para a sala.

E somente ali se deu conta que se tratava de uma moça que havia se acidentado em motocicleta e encontrava-se com uma perna e braço quebrados. Fez os primeiros cuidados auxiliando a enfermeira na assepsia e providenciou de imediato o Raio X dela.

A perna teve fraturas expostas que deveriam ser corrigidas na cirurgia, processo que durou aproximadamente duas horas. O braço foi engessado, coisa mais simples.

Maria da Glória teria que ficar mais algum tempo em observação, assim, Dr. Alex passou a acompanhar a recuperação dela.

As fraturas da perna exigiam maiores cuidados:

— Você deverá ficar algum tempo imobilizada, cerca de trinta dias. Após isto, devo examiná-la, avaliaremos melhor.

Contudo, ele passou a pensar insistentemente, no que aconteceu àquela moça que escapou por pouco naquele terrível acidente. Seu caso na perna não era tão simples. Não mencionou isto para não preocupá-la mais.

Depois de trinta dias, ela retornou ao hospital.

Dr. Alex a atendeu com a simpatia habitual e após examiná-la disse:

− Maria da Glória, você deve ter bastante paciência com sua perna. Faremos fisioterapia. Contudo, ainda terá alguma dificuldade para andar e provavelmente teremos que fazer nova cirurgia.

O caso daquela moça passou a interessá-lo muito. Não era fácil.

Começou a investigar próteses que deveria usar. Estudou bastante e em contatos com colegas que trabalhavam na pesquisa de equipamentos da área concluiu que havia algumas alternativas. Mas, eram adaptações do que precisava. Nessas pesquisas que duraram alguns meses, teve que prorrogar o tratamento para a Maria da Glória começou a redesenhar possível prótese que seria fundamental e precisa para ela.

Seus colegas em São Paulo o ajudaram a definir o material e formato do que precisaria. E assim, conseguiu chegar a um modelo adequado.

Marcou nova cirurgia e implantou a prótese elaborada por ele.

Muito tempo depois e mais seis meses de fisioterapia permitiram a cura de Maria da Glória, que foi festejada por todos que conseguiu envolver.

A prótese que criou foi divulgada em revista cientifica, patenteada e tornou o Dr. Alex muito conhecido, pois seria adotada para muitos outros pacientes.

O sucesso que obteve, não subiu à sua cabeça e nesse processo todo convém mencionar que ele e Maria da Glória se apaixonaram, casaram-se e hoje ambos correm atrás de dois garotos bonitos frutos desse encontro que começou com um acidente.  

GREGÓRIO - Alberto Landi

 



GREGÓRIO

Alberto Landi

 

Detetive argentino, aventureiro no ramo da investigação, engraçado, desastrado, atrapalhado, analisando uma cena de crime, a solução vem por acaso, muita sorte.

A síndica estava histérica. Quem fez essa sujeira no corredor? Contrata o Gregório, zelador do prédio para investigar a origem das fezes. Para isso, ele vestiu a capa, o chapéu e a lupa à mão, incorporou Sherlock Holmes para a tarefa.

A primeira tarefa era saber quem tinha pet no edifício. Depois mandou examinar os dejetos para conhecer a ração. O tamanho das fezes já eliminou os gatinhos, cachorrinhos pequenos, periquitos etc.

Examinando bem, concluiu que seria de “um grande cão”. Gregório se reúne com a síndica e investigam entre os moradores quem tem “cães enormes”.

Chegaram à conclusão que só poderia ser a “louca do 71” pois só ela tem um animal capaz de fazer uma sujeira tão grande. Mas quem iria bater  à sua porta?

Gregório estava receoso de interpelar a dona do cão, pelo seu histórico de agressividade. Resolveram então ele e a síndica munidos de muita coragem bater à sua porta e pedir que limpasse a sujeira. Da próxima vez pagaria multa.

Qual foi a sua surpresa ao saber que o cão havia morrido há 2 semanas. Voltaram à estaca zero.

Resolveram examinar as câmeras de segurança.  Foi grande a surpresa de Gregório quando viu que não era um cão e sim um homem.

Identificado o culpado, Gregório o interpelou e este muito envergonhado pediu desculpas dizendo que foi um desarranjo incontrolável que pode acontecer com todo ser humano.

Gregório satisfeito pelo caso solucionado guardou sua capa, chapéu e lupa para poder incorporar Sherlock numa eventual próxima investigação.


O CAPITÃO DAS ILHAS PERDIDAS - Dinah Choichit

 



O CAPITÃO DAS ILHAS PERDIDAS

Dinah Choichit

 

Josué tinha um barco muito grande e navegava por toda a costa do Brasil. Ia muito do Rio de Janeiro até a Bahia. Tinha 5 marinheiros que trabalhavam com ele. Todos da Bahia, e gostavam muito dele. Tinha muita paciência com seus empregados.

Na ida para a Bahia paravam em diversas cidades, desciam, faziam um lanche e voltavam para o barco. O serviço era pouco. Consertavam a rede, limpavam o barco inteiro e pintavam de verde e branco. As velas eram azuis com desenhos de estrelas e embaixo estava escrito, em letras garrafais: VIVA O BRASIL

Fizeram muitas viagens. O objetivo do barco era trazer peixes frescos para os Restaurantes de Classe. Sempre traziam novidades, além de peixes. E o principal eram as ostras frescas, nas sextas-feiras.

Na última viagem, quando estavam quase chegando ao Rio de Janeiro, em Angra dos Reis, caiu uma tempestade tão forte que o barco ficou balançando sem parar e a mercadoria foi se espalhando pelo convés, sem controle nenhum.  Os marinheiros ficaram apavorados, por mais que se esforçassem para juntar as cestas com os peixes eles caiam fora, era impossível juntá-los, de tão forte que o barco balançava. Até os marinheiros eram jogados de um lado para o outro e isso causou um desastre terrível. Um deles foi jogado ao mar e não houve chance de salvá-lo, sumiu engolido pelas ondas bravias.

O Capitão Josué ficou apavorado, mandou que todos se recolhessem e deixassem os peixes soltos. Não fazia questão da mercadoria e sim dos seus funcionários.  Tratava-os como verdadeiros filhos. A chuva, relâmpagos, vento forte continuavam. O Capitão não sabia mais o que fazer. 

Chamou o segundo Capitão, era seu sobrinho.  Mandou que ele tentasse manobras de segurança até passar o vendaval, ele precisava pensar. Mas quando Josué se virou, uma das velas girou no ar, e caiu na sua cabeça, deixando-o desacordado com desconforto respiratório.  O Capitão Josué estava desmaiado e teve que ser socorrido pela tripulação. Os outros marinheiros ajudaram na condução do barco pesqueiro na espera de que o Capitão Josué melhorasse e desse as ordens. Todos estavam em pânico, sem ação e chorando.

A chuva e trovoadas foram passando e o Capitão melhorou. Mandou recolherem os peixes, precisavam levar os pescados para o continente. Em minutos a chuva já estava calma, sem ondas agressivas, o barco já deslizava tranquilo, seguiram em direção ao Rio de Janeiro e fizeram suas entregas.

O Capitão reuniu os funcionários, avisou que no dia seguinte haveria uma missa para o marinheiro desaparecido, para toda a tripulação e suas famílias. Que estavam de folga, que aproveitassem, pois na próxima semana sairiam novamente.

DESAFIO - Hirtis Lazarin

 


DESAFIO

Hirtis Lazarin

 

O dia acordou ouvindo as preces desencontradas de três pescadores exaustos.  Palavras simples e verdadeiras em agradecimento a Deus.  Noites e dias tranquilos em alto mar e um barco carregado de peixes.

Missão cumprida.  Hora de voltar para a praia de Torrinhos, costa do vilarejo de São Miguel Gostoso.

Capitão Ramos, homem de corpo tonificado pela rudeza da vida, pele castigada pelo sol e pelo sal, beiços grossos e rachados, é o dono da embarcação.  A coitada está velha e necessitada de reparos.  Da pintura amarela, uma ou outra pincelada. No casco, sobraram algumas letras do nome batizado.

Os dois ajudantes ligaram o radinho de pilha e se acomodaram estendidos displicentemente no chão duro do convés.  Ramos assumiu o leme.  O caminho era longo.  Muitos quilômetros de água e uma vontade imensa de chegar.

Assim que aportassem, sentariam ao redor de uma fogueira e assariam alguns peixes.  Era a hora de beber, comer, contar causos sobre o mar, os desafios, o peixe perdido.  Um ritual que reforçava os laços de pertencimento.

O silêncio e a monotonia do balanço das ondas levaram Ramos à infância.  Sentiu saudade do pai, seu herói e professor. Desde pequenino, grudava-se nele, atento a todos os detalhes quando o assunto era o mar, sua fartura e seu perigo.

Aprendeu com ele tudo o que precisava saber: os movimentos do nascer e pôr do sol, o voar dos pássaros, a movimentação das nuvens, a direção e força dos ventos.

Era por volta das quinze horas, quando uma avalanche de nuvens acinzentou o céu e a chuva pesada desabou.  Embora apreensivos, os caiçaras estavam convictos de que seria passageira.

Não foi o que aconteceu.  A chuva virou tempestade e o dia virou noite.  Um vento uivante causava arrepios e formava ondas cada vez maiores.  Da proa à popa, tudo já estava alagado.

Os rapazes agarraram-se aos cestos de peixes.  Ramos agarrou-se ao leme para não perder o equilíbrio. Com os olhos fixos no horizonte, nada mais via a sua frente.  Assustador...

De repente, uma onda gigantesca engoliu e arrastou tudo que estava solto no convés e junto foram os dois ajudantes.  Nem tiveram tempo de gritar.

A embarcação era uma folha seca solta no oceano bravio.

Capitão Ramos estava só.  Em pânico, caiu de joelhos e vomitou.  O barco rodopiava aceleradamente.  Ficou cego.

Foi então que uma mulher vestida de azul, coroada com flores brancas e pés nus apareceu e caminhou lentamente sobre as águas em sua direção.   Aproximou-se e estendeu-lhe as mãos.

O capitão Ramos nunca mais voltou.

O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...