A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 3 de março de 2022

A PRAÇA - Henrique Schnaider

 





A PRAÇA

Henrique Schnaider

 

Gilberto chegou cedo naquela praça enorme mais parecendo um parque. A primeira impressão foi de encantamento, tal a beleza do local cheio de árvores que existiam lá. De todos os tipos, gigantes de copas muito altas, proporcionando um sombreado aconchegante.

Havia também árvores de outros tipos, como o ipê amarelo, manacá da serra, Cambuci, Ingá, canelinha. Árvores gigantes como a copaíba, coqueiros reais, araucárias, figueira brava, o maravilhoso jequitibá branco.

Gilberto ficou com água na boca quando indo mais para dentro da enorme praça, deu de cara com pitangueiras, jabuticabeiras, as goiabeiras que crescem em todos os lugares. Ele percebeu que alguém plantou a graviola que não é nativa aqui da terra.

Ele continuou andando e encontrou uma enorme paineira bem no centro da praça. Havia um chafariz ao lado com um enorme jato d’agua, refrescando o local.

Os bancos estavam tomados com casais de namorados que pelo encanto do local, trocavam carícias e olhares apaixonados. Gilberto até suspirou, sentindo falta da sua amada. Finalmente achou um cantinho para se sentar e poder apreciar mais coisas que a praça oferecia.

Dezenas de passarinhos tomavam conta das árvores desde o os sabiás laranjeiras com o seu canto triste e bonito envolvendo o local. Os bem-te-vis chamando a todos com seu piado bem-te-viiii. Gilberto se encantou quando chegaram nas árvores um bando de maritacas e perequitinhos tuim causando um barulho enorme com seus cri cri cri.

Gilberto ficou com água na boca quando ali perto as pipocas pulavam sem parar no carrinho do pipoqueiro, espalhando no ar seu cheiro característico que a todos atraí. Ele adorava pipoca doce enchendo o carrinho com sua cor vermelha de sabor delicioso.

A praça estava lotada de pessoas desde as mais simples até algumas vestidas com roupas elegantes, alegres parecendo estar felizes apenas por estarem ali. Todas passeando vagarosamente saboreando os aromas e perfumes espalhados pelo ar.  

Crianças brincavam no parquinho correndo para poder usar todos os brinquedos ao mesmo tempo. Os pais fiscalizavam para que as coisas corressem na mais completa paz e a algazarra não virasse bagunça.

Para colaborar com este paraíso na terra, o dia estava lindo, nenhuma nuvem no mata-borrão do céu. Uma brisa corria pelos canteiros aliviando as pessoas e deixando a temperatura agradável.

Gilberto percebeu que, como não podia deixar de ser, lá estava o vendedor de cachorro-quente com filas de pessoas para comprar e saborear um dos sanduíches mais populares do país. Logo ao lado a barraca do pastel lotada de gente, cada um escolhendo o pastel do seu gosto, palmito, carne, calabresa etc.

Gilberto resolveu andar mais um pouco e viu um outro lado da praça, muitas pessoas adestrando e ensinando seus cães a conviverem com os outros amigos caninos, dentro de um canil que havia no local. O au au da cachorrada era ensurdecedor.

A mistura de ruídos das crianças, passarinhos e dos cachorros deixava a praça cheia de vida. As cores das flores, das roupas coloridas das pessoas e dos passarinhos, coloriam a praça com muito encantamento.

Gilberto viu que havia lâmpadas coloridas na praça toda, que permitiam passeios noturnos. Ele parou para sentir os perfumes que vinham de todos os lados e os sabores de todas comidas do local se misturavam e competiam entre si.

A tarde caia e dava a praça um ar ainda mais bonito recebendo os últimos raios do sol.

Gilberto resolveu ir embora, mas com a certeza que voltaria naquela praça muitas outras vezes.

A Praça - Adelaide Dittmers

 




A Praça

Adelaide Dittmers

 

A praça deitava-se languidamente sob um sol morno de primavera.  Flores de todas as cores salpicavam o extenso e macio gramado.  Árvores espalhavam-se pelo belo jardim, oferecendo as sombras generosas àqueles que as quisessem desfrutar.

Bancos distribuíam-se pelos os largos caminhos, que a cortavam, onde pessoas sentavam-se para admirar o lugar ou para ficar imersas em suas leituras. No centro do gramado, crianças corriam para lá e para cá, respirando liberdade e prazer, como só os pequenos sabem usufruir de maneira plena e sem freios.  Algumas delas desciam velozmente pelos escorregadores ou balançavam-se tão alto, como que almejando chegar ao céu.  Subiam e desciam no trepa-trepa e seus gritos de alegria ecoavam por todo o canto.

Sob uma frondosa árvore, uma família estendeu uma toalha, em que colocou várias iguarias e acomodou-se para apreciar a paisagem, gozando de um saboroso pic-nic.  Conversavam e riam animados, com certeza esquecendo os problemas do quotidiano.

Mais adiante, um homem de cabelos longos e desgrenhados, vestido com roupas rotas e sujas, dormia ao lado de uma garrafa vazia.   O que será que o levou àquele estado?

Cães passeavam com seus donos, felizes pelo passeio, rosnando e latindo para outros, que por eles passavam ou aproximando-se para cheirá-los, abanando o rabo numa tentativa de reconhecimento.

Bicicletas, patins e skates deslizavam, atravessando a praça de ponta a ponta;

Dois senhores de idade avançada andavam devagar, apoiados em suas bengalas, lançando olhares nostálgicos à vida que se derramava pelo jardim e que aos poucos lhes fugia.

Um casal de papagaios passou ruidosamente pelos ares, chamando a atenção dos freqüentadores, que apontavam para eles, mostrando às crianças aquelas aves tão simpáticas e barulhentas.

No alto de uma árvore, um bem-te-vi entoou seu belo canto, enquanto bem abaixo, um beija-flor sugava o pólen de uma flor.

As horas foram passando e a tarde vestiu-se com os tons alaranjados, rosas e lilases do pôr-do-sol.  O deslumbramento pelo espetáculo, que anuncia o fim do dia, tomou conta do coração de todos, fazendo-os se sentir parte daquele momento mágico, que a natureza proporciona.

Aos poucos, o lugar foi ficando vazio e solitário e quando a noite chegou de mansinho com sua roupagem estrelada e prateada pelo luar, a praça adormeceu placidamente embalada pelo silêncio.

A praça - Ana Catarina S. Maués



A praça

Ana Catarina S. Maués

 

Existe uma praça que parece uma reserva florestal, mais pela aparência do que pelo tamanho. Em cem metros quadrados, no formato de um coração, ela pulsa como tal quando abriga, num amor celestial, animais e plantas em harmonia e perfeição. Pássaros de todos os tamanhos e com diferentes cantos, podem ser vistos e ouvidos como orquestra afinada e brincando em revogadas, tiram arrepios de quem os vê, em rasantes, por entre os troncos das frondosas Nogueiras. Borboletas exibem suas divertidas roupagens e de flor em flor, no centro da praça, em festival de cheiro e cor, disputam o néctar oferecido também às abelhas, que em voos rápidos e ligeiros, evitam chocar-se umas com os outras promovendo assim, verdadeira dança de arrancar aplausos de alguém observa.

       Na relva, bem cuidada, esquilos movimentam-se de um canto ao outro a procura de nozes, parando de tempo em tempo a saboreá-las com olhinhos atentos a outro que queira furtar.

        Bancos de pedra compõem a paisagem, sem esquecer os casais apaixonados que a exalar amor, em beijos molhados, enchem de ternura todo o lugar.


Tudo vale a pena quando a alma não é pequena - Hirtis Lazarin

 




Tudo vale a pena quando a alma não é pequena

Hirtis Lazarin

 

Ela olhou-se no espelho antes de deixar o quarto pequeno e bem organizado.

Cabelos volumosos e ondulados, revoltos em flocos acinzentados, um batom rosa claro cintilava nos lábios não tão carnudos quanto outrora e um colar de pérolas miudinhas que nunca desgrudou do seu pescoço.  Ajeitou a gola do vestido azul marinho, decote em X, deixando à mostra o contorno do busto avantajado.

Deu meia volta, aprovou a imagem refletida e completou o ritual com um perfume delicado, escolhido entre os muitos que enfeitavam o criado mudo.

Desceu as escadas com cautela para não se perder no salto.  Era teimosa e infringia as normas da casa.

A sala de estar era espaçosa e confortável para atender pessoas exigentes.  As poltronas espalhadas eram macias e o tecido brilhoso indicava que foram compradas recentemente. Um arranjo de flores frescas coloria uma mesinha de canto entalhada em madeira nobre.  Um burburinho de vozes, às vezes, um mais acalorado atrapalhava o bate-papo de alguém que contava retalhos da vida.

Dona Dora, a loirinha dos olhos azuis, tricotava ao lado de Jurema.  Jurema folheava rapidamente uma revista e não conseguia ler.  Já perdera os óculos incontáveis vezes e tinha medo de contar à filha.  Seu Geraldo era o mais velho da casa e não tinha travas na língua.  Outros cochilavam...

Laurita chegou despercebida e sentou-se ao piano. Os primeiros acordes foram capazes, não só de atrair a atenção do pequeno público como também de ouvir gritinhos acanhados solicitando melodias.

Depois de atender a vários pedidos, levantou-se, fez um gesto de agradecimento e recostou-se numa poltrona afastada das demais.

Laurita era uma senhora de fino trato.  Construía as frases com correção e pronunciava com destaque os “R” e “S” das palavras. Foi atriz de teatro e conquistou todas as glórias que a carreira pode oferecer. Sempre rejeitou trabalhos na T.V., pois nada era mais gratificante que o contato direto com o público. O aplauso é a energia que fortalece o artista.

Foi feliz no casamento enquanto durou...  Acreditou que, juntos, tivessem descoberto a chave mágica do companheirismo, do respeito e da tolerância. Com muito trabalho e dedicação, o casal conquistou um patrimônio que lhe permitia desfrutar os prazeres da vida e garantia uma velhice saudável.

O trabalho de Laurita passou a exigir apresentações fora da capital e as viagens tornaram-se rotineiras.  E, não raras vezes, Arturo, envolvido em negócios da empresa, mão pode acompanhá-la.  E, foi assim, que as oportunidades de traição começaram.  Começou sem querer e se tornou rotineira.

Envolvida em muitos ensaios e eventos, ela se descuidou das finanças, pois a confiança absoluta que sempre depositou no esposo garantia-lhe tranquilidade.

Tudo desmoronou quando o gerente do banco a convocou para uma reunião secreta. Saldo vermelho na conta corrente, a casa hipotecada e uma solicitação de empréstimo.

Não havia outra saída para ela senão a separação, acreditar nos seus quarenta e três anos e canalizar a dor no trabalho com paixão.

Quantas vezes, o cansaço emocional, o desânimo e o desespero chegavam... Mas, a força da alma feminina ia derrubando os obstáculos.

Hoje, Laurita tem setenta e oito anos e vive numa Casa de Repouso.  Está feliz e usa sua arte para fazer o que mais gosta:  preencher seu tempo e daqueles que se tornaram sua família.

 

O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...