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terça-feira, 22 de março de 2022

Duas irmãs - Ana Catarina S. Maués

 


 Duas irmãs

Ana Catarina S. Maués

 

     Oh! Que dia lindo. Oh! Que dia lindo! Era assim que Norma entrava pela manhã no quarto escuro da irmã mais velha. Sempre cantarolando uma canção, puxando o edredom que descansava suavemente por sobre o corpo de Sônia e esta, como querendo fugir daquela alegria contagiante, enroscava-se cada vez mais para dentro do cobertor.

— Levante minha irmã, mas desperte feliz, certo. Deixe aí no travesseiro essa cara fechada. O sol está frio, a brisa sopra suave, teremos uma manhã gostosa.

     Irmãs, com diferença de dois anos da primeira para a segunda, tudo dividiam, desde uma fatia de bolo até roupas, sapatos e bolsas.

— Norma, não sei que sapato usar pra missa, se este fechado ou essa sandalinha baixa, talvez você me empreste aquele de salto rampa marrom, que se acha?

— Claro minha irmã pode pegar.

— Ah! Deixa. Vou com este aqui mesmo. Respondeu Sônia, mas ainda com cara de indecisa.

    Estudavam na mesma escola, em séries diferentes, mas isso não as impediam de irem e voltarem juntas para casa, numa amizade elogiável a quem observasse.

     Os pais eram atentos com as notas das filhas no colégio principalmente com as da mais velha que, segundo eles, era lenta e preguiçosa.

 —  Norma, fiquei com nota vermelha. O que faço? Disse com as lágrimas já escapulindo dos olhos.

    —  Calma, daremos um jeito. Mas por favor não chore. Eu vou imitar a letra da mamãe no caderno de avisos e aí você não mostra pra ela, só mostra quando a nota vier azul, pois você vai tirar nota melhor da outra vez não vai?  

    Em casa ajudavam nas tarefas, porém quando algo saia errado para não ver Sônia choramingando por causa da bronca a ser recebida, Norma logo assumia a culpa.

    De alma doce e angelical Sônia, era protegida pela irmã mais nova com personalidade arrojada e determinada.

    Uma vez, na saída do colégio, elas se encontraram com umas meninas de outra escola que começaram a puxar encrenca. Dizer coisinhas sobre o cabelo delas que era desarrumado, que elas exalavam mau cheiro, coisas desse tipo.  Foi Sônia com sua humildade natural que segurou a irmã para que não saísse uma briga de socos e pontapés.  

     

     O coração de ambas não havia despertado para o amor até que um dia, chegou um aluno novo no colégio. Rapaz alto, corpo atlético, braço robusto, cabelo bem cortado, modelo ideal das meninas.

     Norma investiu forte na conquista. Primeiro mandou um bilhetinho anônimo. Depois mandou recadinhos audaciosos pelas amigas, depois propôs um encontro, mas ele não dava atenção.

     Em casa ela contava tudo para a irmã, que calada ficava sem revelar o sentimento de amor que nutria pelo mesmo rapaz.

     Até que devido a insistência de Norma, eles iniciaram um namorinho, mas na verdade era para ele se aproximar de Sônia que cada vez mais dominava e avançava dentro do coração dele, que, pelo seu jeito inseguro de ser, não tinha coragem de se revelar para ela e se viu no emaranhado promovido por Norma.

    O envolvimento dos dois só durou uma semana. Logo, logo o sentimento verdadeiro por Sônia explodiu e sem poder segurar se declarou.

    Com o tempo a paixão se consolidou, Sônia mesmo recatada, conseguiu roubar o coração do moço, para tristeza de Norma que passou a perseguir o casal fazendo muitas intrigas. Dissimulada enchia a cabeça de Sônia falando de infidelidade do moço que se chamava Paulo. Mas não adiantava as mentiras de Norma, o casal era bem estruturado, apesar da pouca idade.

     O tempo passou e as coisas se ajeitaram. Não sei se Norma conseguiu olhar para Paulo como cunhado, pois era muito engraçado ver ele caminhando de mãos dadas com as duas, vindo do colégio, ou indo à missa aos domingos. Os três pareciam muito unidos.

     E deu casamento. Paulo e Sônia casaram, logo depois da formatura do colegial. Ele conseguiu um bom emprego e não perdeu tempo. No papel o casamento foi a dois, mas entre quatro paredes será que não ficou a três?


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