O VELHO
TREM!
Dinah Ribeiro de Amorim
É um velho trem, ou uma carcaça
de vagões, encostado num campo aberto da cidade, fora dos trilhos.
Pelo modelo, foi útil e
ligeiro muitos anos atrás. Bastante
longo. Através de suas janelas, algumas ainda em bom estado, observa-se que foi
uma locomoção muito usada e elegante.
De longe, é triste,
solitário e abandonado. De perto, aparenta um resto de vida e contentamento.
Crianças aparecem para
brincar e entram nele. Readquire, então, vontade de voltar ao que foi,
lembra-se de viagens passadas e dá um meio sorriso.
Facilita como pode a
correria delas, por entre seus corredores e bancos.
Já foi um trem muito
utilizado pelo pessoal mais antigo. Pessoas ilustres se locomoviam, através
dele, pelas estradas de ferro do nosso estado.
Ouvindo os gritos alegres
da meninada, recorda-se das senhoras elegantes que traziam seus bebês gorduchos
e risonhos ao colo. Adormeciam logo, assim que iniciava seu trajeto de barulho
rápido e ritmado, ondulado e único, sem sair dos trilhos. Amava vê-los.
Parecia-lhe uma comunicação com o futuro que já ameaçava chegar, cheio de
inovações.
Antigamente, os
transatlânticos lideravam as viagens internacionais. As terrestres, somente os
trens, iguais a ele, imperavam entre os viajantes.
Eram chiques, bem
acolchoados, forneciam estabilidade e conforto aos que os utilizavam. Até
refeições ofereciam.
Em pouco tempo, tudo
mudou. O chamado progresso, desenvolvimento das cidades, aumento de população,
transformou nosso domínio. Surgiram os ônibus para transportes, as viações,
acabaram conosco. Fomos deixando, aos poucos, de funcionar.
O aumento dos automóveis
particulares, as facilidades das compras também contribuíram para que ninguém
mais usasse os trens. Ficamos sem nada, ou melhor, a ver e ouvir também aviões.
Com tanta inovação,
acabamos sendo utilizados como ferro-velho, um ou outro, como museu, exibido
como antiguidade. Ainda alguns tiveram essa sorte.
“Ah! Que pena, a
criançada vai embora! Adeus, crianças, esperem, quero abraçá-los. Voltem sempre
para eu me alegrar um pouco.”
Uma mãe vem buscá-los e
ainda grita:
_Cuidado, crianças, não
corram aí dentro. Podem se machucar com algum prego solto ou ponta de ferro.
O coração do velho trem
se fecha, endurece, não deve sentir o presente. Ficou no passado, mas pequena
lágrima rola do teto e escorre pelo vagão do maquinista.
O passado, difícil de
esquecer totalmente…