O
potro manco que virou rei
Dinah R. Amorim
Mamãe Estrela era rainha
do curral,  com tiara e tudo! Respeitada
até pelos mais selvagens, precisava deixar um cavalo herdeiro, o que era sua grande
preocupação. Necessitava de um vencedor de corridas e saltos, para manter a
linhagem, como fora com seu pai e avô.  
Após muitas tentativas,
nasce-lhe um macho, de pelo preto e luzidio, mas manco de uma perna. Cresce
forte e charmoso, com única dificuldade para  ser futuro rei: capenga. 
  Se não puder ser coroado, Mamãe Estrela continuará
sem ter para quem transmitir o título, e terá que passar a coroa para um
estranho que vença os desafios.  
No entanto havia na região
um sábio muito velho que diziam portar uma varinha mágica. Ele era um ancião
respeitado, era calado e observador, e com seus poderes já tinha resolvido
muitos problemas insolúveis naquela parte do país. 
Eis que o ancião decide
ajudar.
Quem sabe quando adulto
poderá correr, saltar, pular. Iniciou-se então, a difícil tarefa de aprendizagem.
 Apesar de Estrela duvidar dos resultados, ela
colaborava no necessário para ter um vencedor na família. Seu filhote talvez continuasse
o reinado.  
  Os dias passavam rapidamente,
e o pequeno cavalinho corria manquitolando pelas campinas, saltava com
dificuldade pequenos obstáculos. E assim, auxiliado pela varinha que portava o
velho homem,  tentava salvar o reinado.  Ganhar, finalmente,  a coroa no torneio do reino. 
Dias árduos e incessantes
de  muito treino se seguiram. 
  Até que chegou o tão temido dia da
competição. Alguns cavalos de fora, de outros distantes currais, desejavam também
aqueles prados verdejantes. Todos alazões de grande porte e muito bem
treinados. Seria muito fácil ganhar daquele potrinho manco, cor do Ébano, como
o chamavam. Já era tempo de Estrela passar a coroa. 
O mago ancião, persistente,
acostumado a acreditar e ver
acontecerem milagres, apostava em Ébano, e na tradição de Estrela. 
  Alinhados na chiringa, Ébano analisava os
outros competidores, e não os temia. Dada a largada, todos saíram em disparada.
Galopavam e saltavam, até o a linha final.
 Surpreendentemente,  Ébano já acostumado a pular com a melhor
perna, nos treinos sucessivos com o ancião, saltava com muita facilidade, o que
não acontecia com os outros. Perdia um pouco no galope, mas ganhava na altitude
e agilidade. Seu treino eficiente lhe valia pela deficiência. Atingiu logo o
ponto de chegada, antes de todos os
outros. 
  Muito aplaudido, recebeu com honra a tiara da
mãe emocionada. O mago, com leve sorriso, sorrateiramente, se retirou para sua
caverna!
