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quarta-feira, 10 de maio de 2017

Princesinha do Oeste - Ana Catarina SantAnna Maues


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Princesinha do Oeste
Ana Catarina SantAnna Maues

      Princesinha do Oeste, era nome nada adequado daquele vilarejo constituído de vielas e casebres onde barro e lixo faziam parte do cenário. Em contraste, um único imóvel de imponente construção no alto do morro, com visão privilegiada de toda aquela miséria. A economia do lugar girava em torno da casa grande, que era como os habitantes denominavam a mansão de Dona Santinha, proprietária de tudo por ali,  e que gostava de ser chamada assim, usando isto como artificio para camuflar seu caráter frio, que dissimulava com maestria.


Os homens do vilarejo trabalhavam com as inúmeras cabeças de gado e também com os cavalos puro sangue árabe, as mulheres na vasta plantação de arroz, horta e pomar, e as crianças, mesmo as bem novinhas, na casa grande, fazendo todo o trabalho doméstico, supervisionado de perto pela própria Dona Santinha.  Todos naquele lugar viam como natural os maus tratos sofridos pelas crianças. Dona Santinha sabia seduzir pais e avós que silenciavam em total aprovação aos mais cruéis castigos que aplicava em filhos e netos de seus empregados. Ninguém ousava argui-la quando  chegavam em suas casas com marcas de chicote ou queimaduras que pareciam ser de cigarro. Tratadas com chutes e puxões de cabelo era assim o dia a dia delas, mesmo com  tarefas bem realizadas. Quando alcançavam certa idade deixavam a casa e iam para os outros trabalhos, porém totalmente alquebradas com olhar sem vida, como robotizadas. As idas de Dona Santinha até o vilarejo só aconteciam, segundo ela, por uma boa causa,  visitar os mais idosos e os doentes. Para estes ela levava um chazinho especial, e isto significava muito para as famílias, era verdadeira glória, receber a visita de Dona Santinha, pois podiam ouvir as mais doces palavras ficando envoltos numa atmosfera mística num quase torpor e assim ficavam até sua saída.  Dali a algum tempo os visitados faleciam e todos  conformavam-se com a partida deles. 

A rotina da senhora de vida e de morte,  já perdurava  por décadas, mas certo dia entrou pela porta principal da casa grande, Martinha, menina  de aspecto franzino e tez pálida que despertou algo em Dona Santinha, que parecia ter sido contagiada por um sentimento, diferente dos que nutria. Sem saber definir, aproximou-se da menina e colocou-a no colo, acariciando seus cabelinhos cor de fogo, naquele instante decidiu que Martinha iria ser sua sucessora na administração da casa e dos negócios. E foi assim que todos  passaram  a ver a menina, como continuação de Dona Santinha. Martinha experimentava o poder a cada dia, e se fortalecia com isto, tornando-se com o tempo uma pequena tirana.  Certa noite, conversando com seus botões, chegou a conclusão  de que nada mais havia para aprender com Dona Santinha, e nesta hora  decidiu  ir  até o quarto  e   oferecer a ela  o chazinho especial, que a mesma  bebeu placidamente, confiando no sentimento que acreditava ter a menina  por ela. Com a morte de Dona Santinha, Martinha adotou o pseudônimo de Princesinha do Oeste, pois dizia a si mesma e a todos que ela era a cidade. Aquele vilarejo estagnado recebera por herança, novo período de dominação.

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