A HISTÓRIA DE JOSÉ
MALAGHETTA
Dizer o quê? A vida é assim... As
coisas vão, mesmo, acontecendo...
ORIGENS
Os italianos Vittorio Malaghetta e Francesca Bianchi eram naturais da Comuna de Lucca, na região Toscana. Conheceram-se por acaso numa missa na Basílica de San Frediano, e várias trocas de olhares muito interessados entre os dois perturbou a concentração de ambos na cerimônia religiosa. Ao final da missa, Vittorio apresentou-se para ela e, a partir desse momento, floresceu uma paixão que percorreu rapidamente as etapas de namoro e noivado e logo evoluiu para o enlace matrimonial, conforme preconizavam os costumes no final dos anos sessenta.
Infelizmente, desde os primeiros meses após o
casamento, a vida em comum do casal Vittorio e Francesca Malaghetta não estava
sendo facilitada pelas famílias. Ao contrário, muitas críticas e intrigas de
lado a lado, motivadas principalmente pelo ciúme das “mammas”, envenenavam o
relacionamento do casal, tornando insuportável seu relacionamento e impossível
um convívio harmonioso. Coisa de italianos.
Porém, a cumplicidade entre Vittorio e
Francesca foi mais forte e resolveram ir embora, para bem longe das famílias. Escolheram
de comum acordo emigrar para o Brasil. Iriam para São Paulo, onde fixariam
residência, e estariam livres daquelas interferências. Para tanto, contaram com
a ajuda do pai de Vittorio que, mesmo a contragosto, reconheceu os motivos, respeitou
a decisão do filho e contribuiu com os recursos necessários para que eles
pudessem concretizar aquela difícil decisão, recomeçando seu casamento em outro
país.
Ao fazerem escala no Rio de Janeiro, porém,
encantaram-se com a cidade e mudaram de ideia. Não iriam mais para São Paulo, ficariam
por lá mesmo. Vittorio procurou se informar sobre onde se concentrava a colônia
italiana, e o casal sediou-se no bairro de Santa Teresa, numa casa modesta que
o generoso dote recebido de seu pai proporcionou. Com o que sobrou, ainda montou
uma loja de frios e laticínios para ganhar o sustento da família.
O MENINO
Dois anos depois que se estabeleceram no Rio
de Janeiro, foram abençoados com o nascimento de um “bambino”, que foi batizado
na Igreja com o nome de Giuseppe, mas registrado em cartório na versão
brasileira de José Malaghetta. Em casa, porém, era o Beppe, e com esse nome
ficou conhecido pela vizinhança durante toda a infância e juventude.
Sempre protegido pela atenção afetuosa dos
pais, Beppe foi um garoto feliz, com amigos imaginários e outros de verdade,
com quem brincava. Na escola era um bom aluno, sob o rigor carinhoso de sua
mãe. O que tinha de diferente e causava admiração a seus pais, era o notório
talento para encontrar coisas extraviadas em casa. Ele gostava disso. Nessas
horas fazia perguntas, avaliava os passos de quem havia perdido o objeto, e
quase sempre conseguia encontrá-lo por meio de deduções lógicas. Sempre que
isso acontecia, sua mãe, admirada e divertida, exclamava:
— “Beppe, mio piccolo San Longuinho!” — e dava
três pulinhos, olhando para ele, rindo.
Mal sabia ela...
Vittorio, o pai de Beppe, era um homem
grandalhão, de rosto muito vermelho, que sempre valorizava com entusiasmo
exagerado tudo o que se referia à Itália. Coisa de italianos.
Era apaixonado por automobilismo, e quando recebia
a visita de Lorenzo, seu conterrâneo e vizinho de bairro, o assunto não era
outro, e corria tão animado que impressionava os ouvidos de Beppe, ainda menino,
que a tudo escutava com muita atenção. O final das animadas conversas era
sempre o mesmo: os dois amigos concordavam que os carros Alfa-Romeu eram os
melhores do mundo. Coisa de italianos.
— “Come vorrei avere quella macchina!” — exclamava Vittorio para o amigo em sua língua pátria, com voz emocionada, abrindo os braços em gestos exagerados e com olhos arregalados de euforia. Coisa de italianos.
De tanto ouvir as empolgadas conversas do pai
sobre automóveis, nasceu no menino Beppe o sonho infantil de profissão: seria
mecânico de automóveis. Ainda era adolescente quando começou a frequentar aulas
de mecânica e a trabalhar como ajudante numa pequena oficina, com a aprovação
de sua “mamma”, que já antevia um bom futuro para seu filho; quem sabe, ainda
seria um engenheiro, e dizia para as amigas, orgulhosa, em sua língua:
— “Almeno, Beppe non sarà um venditore de
mozzarelle come suo padre”.
Coisa de italianas.
UM SONHO REALIZADO
Aos quinze anos, Beppe ainda gostava de acompanhar
os pais, aos domingos pela manhã, quando Vittorio costumava levar Francesca em
passeios de carro, para conhecer os pontos mais bonitos da cidade. Num desses
dias percorriam o bairro do Jardim Botânico, encantados com suas ruas
densamente arborizadas, e Vittorio conduzia seu velho Fusca bem devagar, para
poderem apreciar as lindas residências que as margeavam.
Quando passavam por uma antiga e bonita casa
térrea, abriu-se a porta da garagem, chamando a atenção de Vittorio, que parou
o carro imediatamente ao ver que lá dentro havia um belíssimo JK, o Alfa Romeo
brasileiro, modelo que já tinha saído de linha havia alguns anos e não se via
mais nas ruas. Mas estava reluzente, parecia novo.
Ao ver aquele Alfa Romeo, a paixão de Vittorio
bateu forte, ficou agitado, quase maluco. Queria admirá-lo de perto. Encostou o
Fusca e desceu, aproximando-se para conversar com o homem que saíra por aquela
porta, perguntando se poderia ver o automóvel. Era o caseiro do imóvel, que já
não tinha moradores.
Ele lhe contou que o carro quase não fora
usado, porque seu Antero, o antigo proprietário, faleceu pouco tempo depois que
o comprou. Dona Marieta, a viúva, manteve o carro do marido na garagem por
muitos anos, com pena de vendê-lo; mas recentemente ela também havia falecido e
seu único filho, quando aparecia, dizia que queria livrar-se logo daquele
“carro velho”, como se referia a ele, pois pretendia mudar-se para a casa que
herdou e precisaria da garagem.
— O JK está novo, e à venda. Essa garotada não
dá valor para coisas antigas — comentou o caseiro, indiscreto.
A loja de frios e laticínios de Vittorio
estava tendo um bom movimento e ele havia conseguido, mesmo com algum
sacrifício, juntar algum dinheiro, que foi suficiente para comprar o tão
sonhado Alfa-Romeo, o JK brasileiro.
— É só para nossos passeios — justificou-se
para Francesca, que não estava gostando nada daquela gastança — “al lavoro,
vado com la mia Volksvagen”, concluiu, conseguindo convencê-la.
Um carro lindo e raro. Por onde passava com ele, Vittorio chamava a atenção de todos. Só um sujeito
muito rico pode andar com um carro desses, comentavam seus vizinhos, com uma
pontinha de inveja.
NASCE UM DETETIVE
Cerca de seis meses depois da compra do JK,
numa noite quente de dezembro, o relógio bateu dezenove horas e o metódico
Vittorio ainda não havia chegado de sua loja de frios e laticínios, como era de
costume. Dona Francesca estranhou, mas resolveu aguardar mais um pouco. O tempo
foi passando, já eram mais de nove horas, e nada do Vittorio. Não voltou, não
telefonou. Cada vez mais preocupada, chamou o filho e foram à Delegacia, onde
ouviram que, de acordo com o procedimento policial, ainda era cedo para iniciar
uma procura.
— Não se preocupe, senhora — disse o policial sem
conter aquela expressão de carioca, meio sugestiva — a noite está bonita,
talvez ele tenha encontrado algum amigo e foram comemorar alguma coisa...deve
estar se divertindo — concluiu.
Dona Francesca não disse nada, mas ficou muito
zangada, pensando “imagine que o meu marido faria isso, ainda mais sem me
avisar. Mas quando chegar... Ah, vai ter que se explicar...”. Puxou Beppe pelo
braço e voltaram para casa, na esperança de que Vittorio já houvesse chegado.
Mas não, ele não estava lá.
Já
fazia dois dias que Vittorio estava desaparecido. Nenhum sinal dele, nenhuma
pista tinha sido encontrada pelos policiais. O velho Fusca que usava para ir ao
trabalho continuava estacionado próximo à loja de frios e laticínios,
encontrada aberta e vazia, sem ninguém em seu interior. Nesses dois dias foi
exaustivamente periciada pelos investigadores, mas não encontraram qualquer
coisa que pudesse oferecer subsídios para a localização de Vittorio. Aparentemente,
nada havia sido roubado.
Os investigadores fizeram muitas perguntas
para a desesperada Francesca e para Beppe, buscando encontrar alguma pista. As
perguntas ouvidas desencadearam o raciocínio do rapaz, que também procurava
respostas lógicas para cada dúvida, como fazia quando era criança e procurava
coisas extraviadas. Resolveu pedir licença na oficina para ajudar a mãe e
tentar encontrar algum rumo que o levasse a entender o que havia acontecido com
o pai.
O
Natal estava próximo e a esperança de encontrar Vittorio não diminuía. Nem
Francesca e nem Beppe aceitavam admitir a pior hipótese. Mas o medo prevalecia
em seus pensamentos quando pensavam nele.
A
perícia liberou o local no terceiro dia, e Francesca, impotente para encontrar seu marido
e sem alternativa que não fosse aguardar os resultados dos trabalhos da
polícia, mesmo enquanto vivia aquele drama, precisou reabrir a loja de frios e laticínios para atender
a freguesia, contando com a ajuda de Beppe. Vittorio havia gastado quase todas
as economias da família para comprar o JK e agora precisavam de dinheiro para
pagar as contas que continuavam a chegar.
Naquele mesmo dia o telefone tocou muitas
vezes, recebendo pedidos de clientes. Mas numa dessas chamadas, quando atendeu,
Francesca teve que sentar-se, as pernas quase não a sustentaram. Foi um
sequestro, meu Deus! E não tinham recursos para pagar nenhum resgate! Vittorio
havia gastado as economias da família na compra do carro. Com mãos trêmulas ela
anotou as exigências dos sequestradores, que lhe deram cinco dias para
conseguir a quantia que queriam para libertar Vittorio; ameaçaram dar um fim
nele se ela falasse com a polícia; e depois dariam as instruções para a entrega
do dinheiro. Logo desligaram para evitar que fossem localizados.
Francesca, então, apavorada, contou tudo que
ouvira para Beppe, concluindo:
— “Dio Mio! Pensano que siamo ricchi! Siamo
perduti!”.
Mesmo assustado com a
notícia, Beppe procurou manter a calma; perguntou para a mãe como era a voz que
ouviu, o jeito de falar do bandido e outros detalhes que imaginou sobre a
conversa; em seguida, começou um
levantamento de clientes e fornecedores, mas tinha apenas nomes. Precisava
conhecê-los. Examinou as notas de compra e de venda, para tentar identificar
quem havia estado na loja no dia em que seu pai não voltou para casa. Depois,
repassou todas as anotações que havia feito; examinou clientes, fornecedores,
amigos, vizinhos e até parentes e imigrantes conhecidos.
Passou a analisar tudo o que se referia aos
hábitos de Vittorio O relacionamento amoroso profundo que seu pai tinha com a
família era coisa de italiano, e derrubava qualquer hipótese de que a houvesse
abandonado. Como seu pai circulava sempre pelas imediações, tirou um dia para
visitar especialmente alguns locais que ele frequentava, por onde passava com
seu carro antigo e luxuoso, que, naquele bairro modesto, sempre chamava muita
atenção.
Aos poucos foi descartando algumas
possibilidades e elegendo outras. Ignorou a ameaça dos sequestradores sobre
falar com a Polícia e foi à Delegacia, onde relatou a conversa telefônica e
explicou suas deduções para os Investigadores, indicando possíveis implicados
no sequestro. O tempo era curto, faltavam apenas dois dias para o pagamento do
resgate e não tinham o dinheiro imaginado pelos sequestradores.
Vendo a coerência das conclusões do rapaz, os
investigadores concordaram com aquelas análises e resolveram agir conforme as
conclusões indicavam. Monitorando os suspeitos, os policiais perceberam que um
deles, o dono de um boteco das imediações da casa de Vittorio, demonstrava
comportamento incomum, parecia muito ansioso; no dia seguinte, ao afastar-se do
boteco foi seguido sem que percebesse, e conduziu os policiais até o local onde
Vittorio estava preso, vigiado por outros dois marginais. Mediante cuidadosa
ação policial foi libertado sem resistência pelos sequestradores, que foram
presos.
Depois de seis dias em cativeiro, na antevéspera
do Natal, Vittorio voltou para casa, são e salvo. Assim que os viu, abraçou
Francesca e Beppe, e os três ficaram assim por um longo tempo, enlaçados e
chorando muito, enquanto pronunciavam frases melosas, candentes, emocionadas e
dramáticas sobre o que sentiram naqueles momentos terríveis. Depois de muito
choro e emoção, Dona Francesca finalmente se pronunciou, com profunda
inspiração de suas origens:
— “Quanto sei magro, Vittorio! Ti preparerò
una bellíssima pasta com la brachola”!
A ajuda inteligente de Beppe, fundamental para
a solução do caso, foi reconhecida e muito elogiada pelos dois policiais mais
antigos do Departamento de Investigações, mas não pelo detetive mais novo da
equipe, o Romualdo, que nada disse e se roeu de ciúmes.
Os cumprimentos que recebeu calaram fundo em
sua cabeça de adolescente, e um novo sonho profissional foi se fortalecendo com
o passar do tempo, até predominar, e ele
reformulou os seus planos.
Pouco tempo depois, concluiu o curso de
mecânica, mas desistiu dessa profissão e pediu demissão da oficina para poder
completar os estudos no ensino médio e preparar-se para o concurso para
investigador de polícia.
Dona Francesca, em sua simplicidade, não
concordava com isso:
— Vai trocar o certo pelo duvidoso. Você é
maluco, não regula bem.
— Pois é, mãe. Um mecânico tem que fazer
muitas regulagens, e eu não regulo bem. Prefiro ser investigador de polícia —
respondeu Beppe, bem-humorado.
— Deixa o menino, Francesca. Ele sabe o que
faz — completou Vittorio.
E assim, resoluto, Beppe
prestou, com sucesso, o concurso logo que completou o ensino médio, aos dezoito
anos, e finalmente tornou-se José Malaghetta, o mais jovem investigador de toda
a polícia do Rio de Janeiro, designado para a Delegacia Policial de Copacabana
– 12º DP. Mas não pretendia parar por aí. Em seus planos, ainda havia o Curso
de Direito.
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UM DIA DE GRANDES EMOÇÕES
Ou, quando até os olhos sorriem...
—
CARAMBA! CHEGUEI! UFA!
Com
essas exclamações de alívio, Romeu terminou seu longo treino de corrida naquela
quente manhã carioca; estava cansado, ofegante, mas satisfeito. Enquanto
caminhava com a camiseta molhada de suor, agora em passos lentos para recuperar
o fôlego, tinha no rosto uma expressão de felicidade, sorrindo sozinho à toa,
como um bobo, sem perceber, aquele sorriso feliz e suave de quem conseguira
cumprir a dura meta diária de correr os dez quilômetros. Agora chegara o
momento de relaxar.
Como
fazia todos os dias ao terminar o treino, no caminho de casa entrou no pequeno
supermercado e dirigiu-se à geladeira das bebidas, onde procurou um gatorade.
Com aquela sede toda, arregalou os olhos, que até brilharam ao ver que tinha o
seu preferido, pois muitas vezes estava em falta.
—
Oba! Hoje tem de uva! — Exclamou, pegando a garrafinha.
Ao
encaminhar-se para o pagamento, notou entrarem na loja outros três rapazes com
roupas de atleta, mas não prestou muita atenção neles, porque agora o seu foco
era outro.
Do
mesmo jeitinho de sempre, abriu o seu melhor sorriso para a Adriana, a bela
moreninha do caixa que ele estava paquerando, e vice-versa. Já ia lhe dizer
algum galanteio quando seu rosto se crispou e seus olhos se apertaram numa
careta de dor intensa, em reação à forte coronhada que levara na cabeça.
De
repente, tudo escureceu. Romeu caiu ao chão e ficou desmaiado no meio do
corredor, em frente ao balcão do caixa, mas fora da vista dos demais clientes,
que correram para trás das prateleiras ao ver a agressão. Nem presenciou o
assalto que ocorria a sua volta, realizado pelo eu agressor e dois comparsas, todos
vestidos como ele, com camisetas de mesma cor e marca esportiva. Também não
ouviu os tiros disparados em direção ao gerente, que saiu do escritório para
ver o que estava acontecendo, e, por muita sorte, não foi atingido.
Os
assaltantes levaram apenas o dinheiro do caixa e saíram rapidamente, andando
com fingida naturalidade, cada um em uma direção diferente para dificultar uma
possível caçada.
Aos
poucos, Romeu foi recobrando a consciência, mas seu rosto mantinha aquela
expressão de dor. Ainda tonto, teve que se apoiar no balcão para se levantar do
chão, e foi imediatamente cercado por três clientes que haviam se abrigado dos
tiros no fundo da loja.
Quando
o viram em trajes de corredor iguais aos dos criminosos, não tiveram dúvidas em
apontá-lo para os dois agentes da polícia militar que chegavam à loja naquele
momento, e estes imobilizaram Romeu, completamente atordoado e com a cabeça
ferida, vertendo sangue. Os ladrões já haviam desaparecido.
A
pequena sacola de pano que Romeu levava a tiracolo mostrava um volume suspeito
que chamou a atenção dos policiais. Logo a examinaram, nela encontrando o
revólver que o bandido havia escondido ao ouvir a sirene da radiopatrulha, para
se desfazer dela e sair andando pela rua com seus comparsas sem nada que os
incriminasse, assim não despertando suspeitas no caso de serem alcançados por
uma revista policial.
Mesmo
atordoado, Romeu já se sentia em grande complicação. Como explicaria para a
polícia a presença da arma em sua sacola?
Nesse
momento, sentindo-se mais segura, mas com a voz ainda trêmula pelo susto que
passara, apareceu Adriana, a moreninha do caixa, que se abrigara debaixo do
balcão e a tudo assistira de seu esconderijo.
Ela
relatou com clareza toda a ação que havia presenciado, e defendeu Romeu,
esclarecendo que o assaltante o havia nocauteado com uma coronhada na cabeça e
depois plantado a arma em sua sacola, acrescentando que o moço era um cliente
habitual, muito “boa gente”.
Como
esse depoimento era coerente com o aspecto físico precário que viam no rapaz, e
ainda com a confirmação do gerente, que também conhecia Romeu havia bastante
tempo, os outros clientes e os guardas se convenceram de sua inocência no caso
e ele foi liberado, ainda fazendo muitas caretas pela dor de cabeça.
Na
saída dos guardas, ouviu-se um dizer para o outro, em tom meio zombeteiro:
—
Ocorrência encerrada. Nem foi caso para chamar a Civil. Ainda bem, o detetive
Malaghetta estica muito qualquer assunto.
Encerrada,
mas não para Romeu e Adriana.
Mesmo
com a cabeça doendo, mas um pouco menos atordoado, ele sentiu que o clima era
propício e perguntou se poderia buscá-la na saída do serviço para… trocar umas
ideias… tomar um lanche…
—
Sim — ela respondeu apenas, tímida, olhando para Romeu com um sorriso, sorrindo
também com os olhos, seus lindos olhos de mel.
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