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terça-feira, 3 de abril de 2018

FUGA - Hirtis Lazarin

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FUGA
Hirtis Lazarin

O estresse do dia-a-dia acabou comigo.  O corre-corre no escritório, clientes impacientes, horas extras a perder de vista, as horas perdidas no trânsito transformaram-me num trapo de gente.  Robotizada.

Não acredito em quem diz que as pessoas param de sonhar porque envelhecem.  Eu estou envelhecendo porque parei de produzir sonhos.

E, num momento de rara lucidez, joguei tudo pro alto.  Pedi demissão, arrumei as malas, não dei adeus a ninguém e voei.  Voei pra Firenze.  Um cantinho acolhedor que respira arte, comida boa e ótimos vinhos.

O mês era julho.  Dias longos, cheios de vida, cheios de poesia, cheios da alegria de milhões de turistas.

A lua ansiosa não encontra seu espaço e vê-se obrigada a expulsar o sol que ainda esbanja cores.  Teimoso, despede-se querendo ficar.

Em cada canto, flores, flores e mais flores.

Uma abundância colorida que amansa a alma, que nos inspira e nos faz sonhar.  E não é que nos sonhos há espaço até para o amor?

Andei o dia todo, sem pressa nem hora pra voltar.  Caí bem cedo na cama e adormeci como não  fazia há séculos.

Era madrugada.  Acordei bruscamente como se um meteorito tivesse caído sobre mim.

Gelei dos pés aos cabelos.  Seria mais que normal um grito assustado, um pedido de socorro.

Não sei explicar o porquê, mas permaneci imóvel, de olhos fechados.

Senti um corpo desnudo e quente roçar o meu debaixo dos lençóis.  Com esforço mantive a respiração controlada na espera atenta e angustiante do que viria depois.

Seria um louco?  Um assassino de mulheres?  Ou um estuprador?

Um perfume masculino amadeirado penetrou-me as narinas, caminhou até meu cérebro e o cérebro passou a emitir ondas de prazer.

Braços másculos enlaçaram-me com a força de Hércules e a delicadeza de Romeu.

Mãos grandes alisaram meus cabelos negros e fartos.

Eu já não me dominava mais.  Liberei os desejos, os mais sensuais, os mais pecaminosos.  Perdi o pudor.

Lábios ávidos úmidos encontraram os meus receptivos.  Bocas ardentes.

Ainda de olhos fechados, desfrutei a magia daquele momento único.

Entregamo-nos de corpo e alma.  Não sei por quanto tempo...  Até que gritos prazerosos explodiram barulhentos.

Pausadamente, a respiração ofegante voltou à calma, os braços se afrouxaram e a cabeça tombou no travesseiro abandonado.

O ar tinha gosto de felicidade.

Senti a paz de criança embalada no colo materno.

Caí num sono profundo.

UM PEDIDO DE PERDÃO! - Dinah Ribeiro de Amorim

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UM PEDIDO DE PERDÃO!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Orei, orei muito, perto da sua morte. Queria salvá-lo, pelos filhos, por ele que amava a vida, por mim... pela falta que faria depois...

  Sabia, no fundo, que ainda dependia dele. Num momento mais sério, algum infortúnio, na hora da dor, estávamos ainda juntos como um fio não interrompido, um elo não totalmente desfeito.

  Não sei explicar o que senti! Dor pela perda, compaixão pelo seu sofrimento, pela sua solidão num momento tão difícil, apesar dos filhos e irmãos. Raiva, também, por ainda me fazer sofrer...

  Tentei ser forte, animá-lo, orar por ele; fazer pedidos de prece a pastores, dar-lhe alguma esperança. Quando percebi que a doença implacável tomava conta, falava-lhe de Jesus, de paz, de uma outra vida, outro tipo de salvação! E ele creu!

  Juntos no seu final! Não era bem isso que eu queria, não era o que tinha imaginado. Queria-o vivo! Terminar com ele nossa vida na terra. Eu o tinha afastado. Gostaria de corrigir meu erro!

  Amor, compaixão, interesse, com certeza não, mas, respeito, compreensão da vida, amizade, num amadurecimento que só se adquire com a idade, com certeza sim!

  Chorei, chorei muito quando decidiu ser sedado, despedindo-se de tudo e de todos.

  Nunca imaginei que pudesse ser tão corajoso. Mais que todos nós à sua volta.
  Senti-me fraca, impotente, quebrada, como se nada mais importasse.

  Veio naquele exato momento, uma lembrança à minha memória: quando decidimos pela separação havia dito: “Você ainda vai chorar muito, lágrimas de sangue. ”

  Lágrimas de sangue não, mas lágrimas de uma mulher ferida, machucada, vencida, sim, principalmente quando ouvi um pedido de perdão, perdão pelos seus erros e agradecimento pelos filhos que tivemos juntos!

  Guardo em minha Bíblia o bilhete que me deixou e é um conforto saber que está livre, totalmente livre dos sacrifícios impostos por essa doença maligna...

  Sinto muita tristeza ainda! Lágrimas me vêm aos olhos quando lembro seus momentos finais. Pareço uma mulher viúva, apesar de anos de separação.

  Se o perdoei? Com certeza, perdoei-o sim!

Quem era ela? - Hirtis Lazarin

  Quem era ela? Hirtis Lazarin     A rua já estava quase deserta. Já se ouvia o cri-cri-lar dos grilos. A lua iluminava só um tantin...