A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 8 de junho de 2017

Pé Grande - Christianne Vieira



Pé Grande
Christianne Vieira

Osvaldo e Ester caminharam muitos quilômetros até chegar à clareira. A cada passo o caminho se tornava ainda maior.  Calcularam  andar vinte quilômetros por dia, mas essa meta estava longe de ser cumprida.

Uma viagem de Aventura, seria o  tempero para suas novas vidas.

O roteiro foi pensado, por meses. Atravessariam um grande parque estadual. Planejaram o tempo e as áreas de acampamento. A mochila, outro desafio, devia ter o menor peso possível.

Eles se conheceram em um grupo de ecoturismo,  ambos gostavam da Aventura, de Liberdade, do desconhecido.

Já haviam percorrido três dos pontos de apoio do roteiro. As pernoites anteriores transcorreram tranquilas, muito  cansados, apos o jantar, nem o céu estrelado os mantivera acordados.

A próxima etapa seria puxada, montanha acima, Trecho íngreme, cheio de precipícios.. A vista era um bálsamo, para aliviar  os pés doloridos e   bolhas. A felicidade  em  chegar à cachoeira dourada compensaria qualquer sacrifício.

Atravessaram a clareira cheia de flores. O sol brilhava inclemente, só o céu trazia ânimo. Até o acampamento  da noite faltava um bom trecho, resolveram acelerar o passo. Osvaldo dava as coordenadas  tentando manter Ester animada. O cansaço ia e vinha como a brisa.

Após duas subidas pararam para tomar água e descansar um pouco. As mochilas pesavam tanto, como se o mundo estivesse nelas.

Ester estava faminta, queria montar  o acampamento da noite. Osvaldo começou  pela  barraca, e o fogo com gravetos. A comida desidratada, parecia um banquete. Ela pegou uma toalha, o sabonete três em um,  e a  roupa. Foi até o rio  se banhar. Osvaldo lhe deu um beijo carinhoso, disse que logo a encontraria. Ao entrar na água fria seu corpo ficou  anestesiado, acalmando os ferimentos. Quando já estava acostumada à temperatura, começou a relaxar. Ouviu o marido se aproximar.  Ele entrou no rio também. Trocaram carinhos, brincaram na água.  Ao sair Ester não achou a roupa. Osvaldo vinha logo atrás dela, enrolado na toalha, também não as encontrou. Estranho, algum animal poderia tê-las levado.

Encafifados, seguiram para o acampamento. O cheiro de comida estava delicioso. Sentaram-se em torno da fogueira e jantaram. Anoiteceu depressa, apenas  conseguiam ver, o tapete de estrelas  forrando o céu, de uma noite escura. Até que o sono falou mais alto. Apagaram o lampião, deixando só a fogueira para manter o calor. Eis que um vulto enorme passou próximo da barraca.  Um gigante  chacoalhando as folhas , e um cheiro azedo ficou no ar.

Eles se abraçaram, assustados. O melhor seria ficarem em silêncio. Não conseguiram dormir e a noite se arrastou, lentamente, até o amanhecer.

Já claro, saíram da barraca, amassados e devastados pelo cansaço, foram em busca de alguma pegada deixada pela criatura.

Viram enormes rastros. Tão grande que Ester cabia inteira dentro delas. O que podia ser aquilo? Resolveram partir para o próximo ponto. No caminho havia um empório de suprimentos, poderiam se informar. Foi um trecho difícil de cumprir. 

Chegaram à loja no entardecer, e no balcão um homem baixo com bigodes volumosos os atendeu. Após separarem alguns itens, foram até o caixa, e perguntaram sobre o gigante. Ele respondeu que havia uma lenda sobre o Pé Grande.

A criatura morava  em uma caverna do Parque. Nas noites de lua minguante, saia para caçar. Suas pegadas eram assustadoras. Como um Alert, levava o que encontrasse, como roupas e suprimentos, por exemplo. Existiam muitas histórias a seu respeito, diziam que era inofensivo, se alimentava de pequenos animais, mas encontrá-lo certamente seria um perigo.

O casal se entreolhou com expressão de dor e medo. Não gostariam de passar por isso novamente. Se amavam demais, nada de ruim os separaria.


Pagaram o homem, e seguiram para a Estrada. Iam pegar um ônibus de volta para casa. A aventura chegara ao fim.

Força da bondade - Ana Catarina Sant’Anna Maués

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Força da bondade
Ana Catarina Sant’Anna Maués

              Aprovado em concurso público Federal, dá para imaginar o humor de Beto. Contador recém-formado, obteve ótima classificação e preparava-se para o primeiro dia de trabalho, fazendo a barba em frente ao espelho. Ali sozinho, lembrava das noites em claro debruçado sobre livros, e nos milhares de exercícios praticados até a exaustão. Saiu de terno e gravata,  com peito empinado mostrando todo o orgulho.

              Chegou pontual, e após as apresentações de praxe, foi apontada sua mesa de trabalho, nela uma pilha de papéis. Ficou assustado, sem saber como começar. Um pouco atrapalhado pegava uma porção deles, olhava e largava, pegava outra, respirava e deixava ao lado. No segundo dia iniciou a leitura de um calhamaço qualquer, mas não deu saída. No terceiro, quarto, quinto e assim por diante, chegando à conclusão de que a teoria não tinha nada a ver com a prática. Esta conclusão foi estarrecedora.

           Conforme o tempo passava mais papéis iam sendo depositados na mesa, e seu desespero aumentava, pois não conseguia fazer nada, adiantar algo, progredir em dados, encaminhar; estava absolutamente paralisado. Começou a esconder os documentos dentro das gavetas, para que os colegas de sessão não percebessem o acúmulo. Nesta rotina de fingir trabalhar seguia Beto, até que outros setores começaram a cobrar informações, relatórios, despachos e ele dando desculpas esfarrapadas ia enrolando até que não deu mais, e resolveu sumir, não apareceu mais para o serviço.

             Os colegas ligavam para o celular, para o telefone residencial, e ele não atendia. Todos estavam preocupados com o sumiço, mas só seu Adamastor, um senhorzinho de cabeça bem branca, procurou o setor de recursos humanos, descobriu o endereço de Beto, e num final de semana tomou um ônibus e foi, pessoalmente saber o que tinha acontecido.

           Quem abriu a porta foi a mãe de Beto, que muito feliz recebeu o visitante, e convidou-o a ir até o quarto, dizendo que o filho estava em profunda depressão. Com muito custo seu Adamastor conseguiu fazê-lo falar. Beto contou tudo, falou sobre seu total fracasso no serviço.

            Seu Adamastor não tinha graduação alguma, ou qualquer curso importante. Era o mais humilde funcionário, porém com um conhecimento incrível de tudo, e colocou toda a sua experiência a disposição de Beto.

            Na segunda-feira Beto apareceu para trabalhar. Seu Adamastor cumpriu o prometido. Juntos foram retirando papéis importantes das gavetas e um a um, por grau de prioridade foram resolvendo os assuntos.


             Beto superou o trauma inicial, não sofreu constrangimento por parte dos colegas, e hoje é um contador muito respeitado.     

O VALOR DA HONRA - Do Carmo


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O VALOR DA HONRA
Do Carmo


Cabisbaixo, tal e qual um salgueiro, José caminha para casa e pensativo ensaia um diálogo adocicado para não chocar a esposa.

Pensava: A Elza é tão sensível, se souber da humilhação que sofri, irá banhar-se em lágrimas.

Segue andando quando algo lhe bate à perna, vê uma pasta de couro jogada na calçada.

Apanha-a pensando: será que o dono está desesperado por perdê-la? E se foi roubada, como estará? Assustada, chorando, quem sabe? Chegando em casa, vou abri-la e ver se contem alguma identificação e imediatamente avisarei que está a salvo comigo.

Apressa-se em chegar em casa.

Rapidamente conta para Elza a origem da pasta e colocando-a sobre a mesa, despeja seu conteúdo. Qual sua surpresa ao ver saindo dela, maços de dinheiro envoltos em elásticos, espalhando-se pela mesa. Cai também um comprovante de saque bancário, com o nome do favorecido e o endereço da agência.

Tão logo amanhece, dirige-se ao banco para conversar com o gerente e enquanto espera o horário de inicio do atendimento, faz uma prece pedindo auxílio divino.

Nova surpresa, ao dirigir-se à sala do gerente, ouve vozes e claramente ouve as palavras  pasta de couro. Não pensou meia vez, entra na sala e diz:

- Senhor, olha ela aqui!

- Como o senhor está com ela?

Em poucas palavras ele conta o ocorrido e como localizou o banco. 
Entrega a pasta ao dono e pede que a examine para ver como tudo está como estava antes de perdê-la.

Muito emocionado, o senhor olha o conteúdo da pasta e pegando um dos maços, sorri e entrega-o para José. Este porém, com voz embargada de angustiante emoção, lhe diz:

Dinheiro não resolve a minha situação, porque ele acaba. O que eu preciso é de um emprego que seja duradouro.

Admirado e comovido diante dessa segunda atitude de honradez, imediatamente o convida para ser assessor do presidente da firma em que trabalha, uma vez que é o proprietário dela.

Naquele instante surge uma profunda amizade e a vida do casal José e Elza inicia uma nova fase de felicidade em suas vidas.

UMA HISTORIA VERDADEIRA - Do Carmo


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UMA HISTORIA VERDADEIRA
Do Carmo

Conheci uma garota, hoje senhora, que teve uma reviravolta em sua carreira de trabalho, totalmente inusitada.

Recém-formada em economia, aluna exemplar de renomada faculdade paulistana, tenta conseguir emprego em algum grande banco, sempre se  decepcionando porque não tinha experiência na função pleiteada e desiludida sabia que seu currículo jamais chegaria nas mãos de algum diretor.

Mas, sempre há um mas, e o dela não foi muito ao encontro de suas expectativas, mas era uma porta que se abria para o futuro.

Soube que haveria concurso público para a função de escriturário, dois meses após a inscrição. Ansiosa, informou-se sobre o programa versado, comprou apostilas, frequentou uma escola de datilografia, na época não havia computador.

Finalmente chegou o sábado, dia da prova escrita, cujo resultado seria publicado na terça feira seguinte e os aprovados, fariam a prova prática no sábado seguinte, ou seja, datilografariam um texto com vinte linhas, computando o tempo e erros.

Cinco dias de alegria angustiante demorou uma eternidade.

Sexta feira ensolarada, lá vai ela correndo comprar o Diário Oficial do Estado. Avidamente folheia-o e de repente grita, passei, passei, vou fazer a prova de datilografia, amanhã! Mal conciliou o sono, foi uma noite de preces esperançosas. Queria sentir-se tranquila, porém, seu coração batia mais que um tambor. A sorte estava laçada.

Que alivio, terminou a doída espera do resultado.

Quinta feira, outra corrida à banca de jornal. Quando estava chegando, o garoto entregador correndo gritou:

- Você foi aprovada em décimo segundo lugar!

Sem saber se ria ou chorava, abraçou-se ao menino e depois de alguns minutos, voltou correndo para casa, sem pagar o jornal.

Dez dias depois estava empregada e foi designada para um grupo de engenheiros avalistas, de correntistas que necessitam de empréstimos.

A desiludida economista datilografava o dia inteiro. Mas...

Em certa reunião, foi solicitada para secretariá-los, uma vez que a secretária faltara.

Que dia iluminado!

Atenta ao que falavam, para não deixar escapar nada, percebeu que eles estavam aplicando um índice econômico errado. Sem se dar conta, falou:

- Se vocês usarem tal índice, será mais confortável para o cliente e a rentabilidade para o banco, será a mesma.

Indignado, um dos senhores disse:

-Como se atreve a falar assim? O que você entende de economia?

Altiva, segura e aparentando tranquilidade, contou sua história.

Outro senhor pediu para que trouxesse seu Histórico Escolar, para examiná-lo.

Com o coração aos saltos pediu licença para pegá-lo em sua mesa, uma cópia autenticada. Mal conseguia andar.


No dia seguinte, ela foi chamada para apresentar-se ao Diretor Administrativo, que depois de algumas perguntas, nomeou-a Economista Padrão.

O SIGNIFICADO DE UMA ROSA! - (Amora)



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O SIGNIFICADO DE UMA ROSA! 
(Amora)

John e Mary resolvem se casar, após dez anos de vida em comum.

Não eram muito adeptos a cerimoniais, casamentos, papeladas, mas depois que John teve um mal súbito, ameaça de enfarte, Mary, muito assustada, resolve legalizar a situação e, sente-se finalmente grávida, um sonho antigo que ficara no esquecimento.

Como lua de mel, escolhem a bela Itália, Verona, Veneza, Firenze, Roma, Milão, sendo que na Ilha de Capri, têm uma surpresa!

Uma mulher morena, aspecto de cigana, oferece-se para ler a mão. Como Mary não crê nessas coisas, sorri amavelmente e nega-se ao pedido.

Olhando-a intensamente, a mulher estende-lhe uma rosa e pede que a guarde, como lembrança de viagem.

Após algum tempo, distraída, Mary deixa-a cair fazendo com que outra pessoa a pisoteie, sem querer.

Na volta ao hotel, preocupada, comenta com John sobre a linda rosa recebida que havia caído. Que pena! O marido, achando graça na história, prefere comentar sobre a bela viagem feita a Capri, finalizando as férias que tiraram. Voltariam a Roma, de Roma a Amsterdã e, em seguida, La Guardia, Miami, onde moravam.

Bela viagem, com certeza, pensa Mary emocionada. Tantas lembranças e cultura para comentar com amigos e familiares. Sabe Deus quando fariam outra novamente.

Durante o caminho de volta, John teve novamente um mal súbito, mal dando tempo de chegarem em casa. Mary, assustadíssima, leva-o ao hospital e, após alguns dias, recebe a notícia que houvera um novo enfarte e ele falecera.

Chorosa, entristecida, ainda cheia de malas, Mary volta para casa, tentando avisar parentes e amigos que voltaram de viagem e John falecera. Nem sabe direito como falar, engasgada pela emoção. Tão felizes com a viagem, e tão infeliz ela agora, completamente sem ação. Será que foi muita emoção contida! Muita correria! Dúvidas e perguntas que sempre fazemos diante de algo inesperado.

Desliga seu telefone pela décima vez e senta-se um pouco tentando colocar pensamentos em ordem.

Olha distraidamente para um vaso no armário e percebe uma rosa envelhecida, amarelada, sem cair nenhuma pétala, como se a esperasse inteira, antes de se romper toda. De longe, banhada pela luz do sol, parece dourada, transformando o vermelho púrpura em ouro velho.

Quem a colocara ali! Não se lembra de ninguém. A última rosa que recebera foi em Capri, daquela cigana insistente em falar-lhe.

Retira-a com cuidado do vaso e aí ela se desfolha toda! 

E tem gente que não acredita em nada, pensa Mary surpreendida! Talvez fosse algum aviso do perigo que sofreria!

UMA LENDA REAL - Do Carmo

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UMA LENDA REAL
Do Carmo


Rodrigo, um jovem Antropólogo, professor de História, aproveita o período de férias de inverno da faculdade onde leciona, para viajar a procura de aventura.

De personalidade ousada, aventureiro destemido, tem como objetivo mergulhar em profundas águas à procura de seres desconhecidos.

Tão logo se acomoda no luxuoso hotel reservado, vai informar-se dos lugares turísticos e a possibilidade de mergulhar.

Que dia produtivo! Muito organizado, logo depois do jantar, vai para o quarto, faz um roteiro para os dez primeiros dias, deixando os dez dias finais, para repetir os passeios mais exóticos e interessantes.

Tudo muito bem organizado, adormece feliz, depois de duas régias doses de finíssimo wisky.

Mal amanhece, já Rodrigo está todo equipado para seu primeiro mergulho.

Está ansioso, o barqueiro, um senhor muito simpático e falante, já o espera e alegre logo perguntou:

- Você quer encontrar uma sereia?

Sorrindo com a curiosidade do senhor, disse amigável:

- Sim, e prometo levá-la para São Paulo, de onde vim e casar-me com ela. 
Prometo também, que o nosso primeiro filho será seu afilhado.

Rodrigo joga-se nas verdes e transparentes águas e desaparece.

Dois anos depois, o senhor barqueiro, muito sorridente, recebe como passageiros, nada mais, nada menos que:

Rodrigo, Rebeca e o pequeno Marco Antonio.


Quem era ela? - Hirtis Lazarin

  Quem era ela? Hirtis Lazarin     A rua já estava quase deserta. Já se ouvia o cri-cri-lar dos grilos. A lua iluminava só um tantin...