PROJETO MEU ROMANCE
UMA HERANÇA INESPERADA
Vanessa
Proteu
Em
uma tarde nublada, Charles Alvim estava em casa, rodeado por livros e algumas
garrafas de vinho que ele adorava degustar em momentos de reflexão. Com 35 anos,
ele era um homem reservado, que preferia a companhia de seu gato Simão a se
misturar com as pessoas. Apesar de ser um investigador excepcional, sua vida
pessoal era marcada pela solidão e por traumas do passado que ele tentava curar
em sessões de terapia.
Enquanto
Charles organizava suas anotações sobre um caso recente, ouviu a campainha
tocar. Era sua vizinha. Flávia, aparecia frequentemente com alguma desculpa
para conversar. Ela sempre demonstrava interesse por ele, mas Charles mantinha
a guarda alta. “Oi, Charles! Eu trouxe
algumas tortinhas que fiz. Posso entrar?”, disse ela com um sorriso
caloroso.
“Claro, Flávia”, respondeu ele, tentando
ser educado enquanto pensava em como poderia voltar rapidamente ao seu
trabalho. Ao passo que ela falava sobre as últimas novidades do bairro, Charles
não pôde deixar de notar como ela olhava para ele, uma mistura de admiração e
preocupação. Era ela uma mulher de beleza natural, usava roupas cuja estampa
destacava sua meiguice e sensibilidade. Uma mulher agradável e dedicada aos
estudos. Gostava de ler, em especial, poesias.
A
conversa foi interrompida por uma notificação no celular de Charles. Era uma
mensagem inesperada: “Você recebeu uma herança da tia Sônia Alvim. Venha ao
cartório amanhã para mais informações.” Ele ficou surpreso; não via sua tia há
anos e sempre soubera que a relação entre ela e seu pai era complicada.
Após
a visita de Flávia, Charles não conseguiu se concentrar mais no trabalho. As
memórias da infância começaram a ressurgir: os encontros raros com a tia, seus
sorrisos calorosos e o jeito especial que tinha de contar histórias. Ele também
se lembrava do clima tenso entre ela e o pai, que sempre o fazia sentir-se
dividido.
No
dia seguinte, Charles foi ao cartório. A funcionária o recebeu com simpatia e
entregou-lhe os documentos da herança: uma pequena casa no interior e uma
coleção de objetos antigos que pertenciam à falecida. A casa parecia um refúgio
tranquilo, longe da agitação da cidade.
Ao
retornar para casa, Charles ponderou sobre o que fazer com essa herança. A
ideia de ter um espaço onde pudesse se isolar ainda mais o atraia, mas também
havia algo dentro dele que desejava explorar esse legado familiar.
Nos
dias seguintes, enquanto investigava os objetos deixados por sua tia — cartas
antigas e fotos desbotadas — começou a sentir uma conexão renovada com ela. As
cartas revelavam um lado da história familiar que ele nunca conhecera: as lutas
de sua tia contra os fantasmas do passado e como ela havia encontrado consolo
na arte e na escrita.
Inspirado
por essas descobertas, Alvim decidiu visitar a casa deixada por Sônia no fim de
semana seguinte. Ao chegar lá, encontrou um lugar cheio de história e
personalidade; cada quarto contava uma parte da vida dela. Ele sentiu uma onda de
emoções: tristeza pela perda dela e alegria pela chance de redescobrir suas
raízes.
Enquanto
explorava o lugar, ouviu um suave miado vindo do jardim. Um gato preto apareceu
entre as flores; era como se estivesse esperando por ele. Charles sorriu ao perceber
que ali também poderia encontrar um novo começo.
Nos
dias seguintes, ele começou a passar mais tempo na casa que havia herdado,
organizando os pertences e refletindo sobre sua própria vida. A presença do
gato se tornou reconfortante; foi ali que Charles percebeu que não precisava
viver sozinho ou carregar seus traumas sem ajuda.
E
assim, com Flávia sempre presente para oferecer apoio e amizade nas tardes
solitárias e o novo amigo felino ao seu lado na casa da tia, Charles Alvim
começou a entender que se abrir para os outros poderia ser tão gratificante
quanto desvendar os mistérios do mundo exterior.
Ele
ainda era o detetive observador e organizado que todos admiravam — mas agora
também estava aprendendo a ser mais vulnerável e acolhedor consigo mesmo e com
aqueles ao seu redor. E essa nova fase em sua vida prometia ser tão intrigante
quanto qualquer caso que já tivesse resolvido.
A FORÇA DO DESTINO
Charles
Alvim sempre se considerou um homem de ação. Alguém que moldava seu próprio
destino por meio de trabalho árduo e determinação. Sim, ainda havia nele um
pouco de fé, mas ele a guardava para si, mostrando-se cético diante dos outros.
Como investigador, precisava ser frio em suas análises e por isso sempre
acreditou no poder das escolhas.
Parece,
no entanto, que a vida nem sempre nos dá a chance de escolher bem e, de fato,
há coisas que estão além da nossa compreensão.
No
período da escola, o futuro investigador, era só um garoto franzino, pouco
popular e de temperamento passivo-agressivo. Ele sabia revidar usando
argumentos. Ninguém mexia com o Charlesim. Logo, conquistou amigos que dividiam
o mesmo interesse por livros e filmes de investigação e, por estes, era chamado
de Zim.
Nessa
fase de sua vida, acabou se apaixonando por uma garota um tanto quanto esnobe.
Sara era o nome dela. Eles tiveram um relacionamento efêmero, onde Sara o traiu
com seu melhor amigo, Lucas. Na época, os dois brigaram e Lucas levou uma surra
de Zim. O “amigo” não ousou revidar por julgar merecido.
O
tempo passou e Charles não havia tirado Sara dos seus pensamentos. Ele se
fechou para o amor como uma planta dormideira se fecha ao toque do vento.
Agora,
longe da cidade onde tudo aconteceu, o destino trouxe de volta à lembrança o
inevitável.
Zim
recebe a indecente proposta de investigar um suposto caso de adultério.
Trata-se de uma investigação particular. Ele fora indicado por um conhecido e
foi até o local ver se valeria a pena aceitar ou não o caso.
Chegando
lá, um cara alto, bem-vestido e cheio de si, se apresentou:
—
Olá, meu nome é Lucas Vicente. Preciso de um detetive para investigar se minha
esposa Sara realmente está me traindo.
Perplexo
com as reviravoltas da vida, Charles se apresenta e diz com voz firme:
—
Acaso não sabe quem eu sou? Fui seu melhor amigo no passado. E hoje a vida me
trouxe aqui para dizer que talvez tenha sido um livramento.
Lucas
ficou atônito, gaguejou e meio que desconfortável, sorriu dizendo:
— É
você mesmo, Zim? Como o tempo passa. Sei que no passado tivemos nossas
desavenças, mas estou desesperado. Nós nos mudamos para cá, pois precisei vir a
trabalho. Um colega me indicou dizendo ser um dos melhores, quiçá o melhor
dessa cidade. Não imaginei que seria você.
—
Nem nos meus maiores pesadelos pensei em te ver novamente. — Bradou Alvim,
batendo o punho sobre a mesa de modo a chamar a atenção dos outros clientes do
bistrô no qual estavam.
Levantou-se
rapidamente, dando as costas a Lucas e a tudo o que aquele amigo representara.
Seus olhos ficaram marejados e um nó desenvolveu-se em sua garganta.
Quando
finalmente chegou à casa, tirou os sapatos, jogando-os num canto. Era
impossível não abrir a garrafa de vinho que recebera de presente de um de seus
clientes. Na caixinha de som, a música do artista de quem era fã, Alexandre
Pires, cuja letra trazia: “isso é coisa do destino. Eu sofri, mas
estou indo. Hoje vou resistindo, essa dor me consumindo…” Acariciou seu
gato Simão bem como o Noturno, gato herdado de sua tia Sônia e refletiu sobre
tudo o que havia vivido. Mas em poças de lágrimas, sorriu, deixando uma
gotícula de vinho escapar de sua boca e manchar mais uma de suas camisas
preferidas. Desta vez, no entanto, nem se importou. Queria, de fato, saborear o
tinto sabor da vingança concedida a ele pelo destino.
DEVANEIOS E MISTÉRIO
A
noite se arrastava e cada minuto parecia uma eternidade. O som incessante de
batidas e murmúrios vinha de baixo da janela como se uma figura enigmática
estivesse determinada a me manter acordado. Olhei para o relógio na cabeceira
da cama. Já passava das 2h da manhã e a escuridão do quarto parecia engolir
qualquer vestígio de clareza que eu ainda tinha. Minha mente fervilhava com
tudo o que acontecera durante o dia.
Isso
sem falar nos acontecimentos estranhos na cidade e dos casos ainda
inexplicáveis de desaparecimentos. E agora aquela mulher lá fora.
Levantei-me
devagar e fui até a janela. A lua cheia iluminava o cenário com uma luz
prateada revelando uma figura magra e agitada. Seus cabelos desgrenhados
balançavam com o vento e ela murmurava palavras incompreensíveis.
—
Ei, você está bem? — Chamei-a hesitante.
Ela
respondeu com semblante angustiado:
—
Eles estão vindo; eles não são o que parecem!
Fiquei
intrigado, apesar de não dar muita ideia a uma louca.
— Senhora,
vá dormir e me deixe dormir também! — E ela repetia com constância as mesmas
palavras.
Não
consegui voltar para a cama e sentei-me à mesa na penumbra da cozinha. Abri
outra garrafa de vinho para acalmar meus pensamentos. Fui para o escritório, acendi
a velha luminária que pouco iluminava as minhas ideias, busquei minhas
anotações sobre o caso em questão, ao passo que as palavras desconexas daquela
mulher pairavam sobre minha cabeça. O que ela queria dizer com aquilo?
Mais
uma taça até as coisas fazerem sentido e quando me dei conta, já era dia.
Liguei a TV para acompanhar os noticiários e a manchete me chamou a atenção: “Eles estão chegando em nossa cidade. O
deputado César Azevedo e sua família se mudarão para uma fazenda na região.”
Ao
ler a manchete, balbuciei, involuntariamente, as palavras daquela senhora:
“eles estão vindo; eles não são o que parecem.”
A
adrenalina correu em minhas veias enquanto eu tentava juntar as peças do
quebra-cabeça. O deputado César Azevedo não era um nome qualquer; ele trazia
consigo uma história de controvérsias, promessas não cumpridas e um passado que
muitos preferiam esquecer. As palavras da mulher ecoavam em minha mente, e eu
sabia que precisava agir.
Decidi
sair e investigar mais sobre a fazenda que ele havia adquirido. O dia estava
ensolarado, mas uma sensação de inquietude pairava no ar. Peguei meu carro e
dirigi até a propriedade. Ao chegar, percebi haver uma movimentação estranha.
Carros de luxo estacionados, pessoas em trajes formais conversando em grupos,
mas o que mais me chamou a atenção foi um grupo de homens que pareciam estar
monitorando tudo com olhares desconfiados.
Aproximando-me
discretamente, ouvi fragmentos de conversas sobre “negócios” e “o plano”. Meu
coração acelerou. O que estava acontecendo ali? A imagem da mulher do dia
anterior voltou à minha mente; ela poderia ter razão.
Resolvi
me infiltrar na festa disfarçando-me como um dos convidados. Com um copo na mão
e um sorriso no rosto, comecei a circular pelo local. Consegui ouvir mais sobre
as intenções do deputado: ele estava planejando transformar a fazenda em um
centro de eventos para atrair turistas e investidores, mas havia algo mais
sinistro por trás disso — uma proposta para desviar recursos públicos para seus
próprios interesses.
Com
isso em mente, decidi que precisava de provas. Encontrei um acesso aos fundos
da propriedade e, ao entrar na sala dos arquivos, encontrei documentos que
confirmavam minhas suspeitas: contratos fraudulentos, pagamentos em dinheiro
vivo e até mesmo referências a pessoas desaparecidas que poderiam estar ligadas
a esse esquema.
Enquanto
examinava os papéis, ouvi passos se aproximando. Meu coração disparou.
Precisava sair dali antes que fosse pego. Com os documentos escondidos sob a
roupa, corri para a saída e consegui escapar por pouco.
De
volta à cidade, fui direto à delegacia local. Relatei tudo o que descobri ao
chefe da polícia. Ele inicialmente hesitou, mas quando mostrei os documentos,
seu semblante mudou. Ele sabia que precisava agir rapidamente.
Nas
semanas seguintes, o caso tomou proporções maiores do que eu esperava. A
polícia realizou uma operação na fazenda e prendeu o deputado com seus
cúmplices. Os desaparecimentos foram investigados e alguns dos indivíduos foram
encontrados — vítimas de um esquema cruel que explorava pessoas vulneráveis.
No
final das contas, aquela noite sem sono me levou a descobrir uma verdade
sombria escondida sob a superfície da cidade. A mulher da janela? Eu nunca
soube seu nome ou se ela era realmente louca, mas sua advertência me salvou de
um destino muito pior.
Enquanto
observava o sol nascer após dias de caos, percebi que às vezes é preciso ouvir
as vozes ignoradas ao nosso redor; elas podem ser as chaves para abrir portas sombrias
que muitos preferem manter fechadas. E assim, a cidade começou a se curar
lentamente das feridas profundas causadas pela ambição desmedida de alguns —
tudo graças ao impulso de uma noite insone.
UM CRIME NA BIBLIOTECA
O
detetive Charles Alvim estava tomando seu café em um pequeno bistrô quando
recebeu uma ligação urgente. O corpo de uma mulher havia sido encontrado na
Biblioteca Municipal, e a cena do crime precisava de sua atenção imediata.
Assim
que chegou ao local, Charles notou a agitação dos bibliotecários e o murmúrio
dos visitantes que tentavam entender o que estava acontecendo. Ele se dirigiu à
sala de leitura, onde o corpo da vítima, uma bibliotecária chamada Elisabete,
estava deitado entre as estantes repletas de livros. A expressão em seu rosto
era de terror.
Charles
começou a examinar a cena e, ao chegar mais perto, percebeu que já tinha visto
aquela mulher antes. Não se lembrava muito bem de onde, mas tinha a sensação de
já a ter visto.
Não
havia sinais de luta, mas uma pilha de livros ao lado do corpo chamou sua
atenção. Eram todos títulos sobre mistérios e crimes não resolvidos. Ele se
perguntou se Elisabete estava lendo algo que poderia ter levado à sua morte.
Conversando
com os funcionários da biblioteca, Charles descobriu que a senhora tinha um
interesse especial por enigmas e frequentemente organizava grupos de leitura
sobre literatura policial. Um dos participantes, um homem chamado Ricardo,
parecia particularmente perturbado pela notícia. Ele mencionou que a
bibliotecária havia encontrado um livro raro que poderia conter pistas sobre um
crime antigo.
Intrigado,
Charles decidiu investigar o livro mencionado. Ele procurou na seção de
raridades da biblioteca e encontrou um volume empoeirado com anotações à
margem. As anotações eram trechos de cartas escritas por um famoso criminoso do
passado, e algumas faziam referência a um local secreto na cidade.
Com
essa nova pista em mãos, Charles seguiu para o endereço indicado nas cartas. Ao
chegar lá, encontrou uma pequena caverna escondida sob um parque. Dentro, havia
objetos antigos e documentos que revelavam a conexão entre o criminoso e uma
série de crimes não resolvidos que assombravam a cidade há décadas.
Enquanto
analisava as evidências, Charles percebeu que Elisabete não havia apenas
encontrado o livro; ela estava prestes a desvendar um mistério muito maior. Mas
alguém não queria que isso acontecesse.
De
volta à biblioteca, ele confrontou Ricardo. Após um intenso interrogatório,
ficou claro que Ricardo estava tentando proteger seu próprio segredo: ele era
descendente do criminoso mencionado nas cartas e não queria que a vítima
revelasse a verdade sobre seu passado familiar. Cruzando informações, ele
percebeu que Ricardo tinha negócios com o deputado César Azevedo e assim ele se
lembrou de onde conhecia a vítima. Elisabete era a mulher que o incomodara
debaixo da janela. Infelizmente, Charles não conseguiu ajudá-la. Mas, usando
suas habilidades, fez todo o possível para desvendar esse terrível crime.
Com
as provas em mãos e a motivação clara, conseguiu resolver o caso. Ricardo foi
preso, e a memória de Elisabete foi honrada com uma nova seção na biblioteca
dedicada aos mistérios não resolvidos intitulada: Devaneios e mistério
Charles
Alvim saiu da biblioteca com a sensação de dever cumprido, mas também com uma
reflexão profunda sobre como o conhecimento pode ser tanto uma bênção quanto
uma maldição. E assim, mais um caso foi desvendado nas páginas da história da
cidade.
REVIRAVOLTAS NUM CRIME PASSIONAL
Em uma
manhã ensolarada Lara decidiu que seria o dia perfeito para fazer uma surpresa
para seu marido Rafael. Após alguns anos de rotina ela sentia que a paixão
deles precisava de um toque especial. Com isso em mente, ela dirigiu-se ao
salão de beleza e transformou seus longos cabelos castanhos em um corte curto e
ousado, tingindo-os de um ruivo vibrante. Para completar o visual, escolheu um
vestido justo que acentuava ainda mais suas belas curvas, algo que raramente
usava no dia a dia.
Com
o coração acelerado, Lara chegou ao escritório de Rafael. Ao entrar no prédio
sua confiança crescia, no entanto, ao avistar seu marido, a expressão dele
mudou drasticamente. Ele paralisou com os olhos arregalados e a boca aberta em
sinal de incredulidade, mas antes que pudesse reagir, uma mulher alta,
elegante, bem vestida aproximou-se de Rafael com um sorriso sedutor, colocou as
mãos levemente sobre seus ombros acariciando até o pescoço e falando bem
próximo à sua boca.
Lara
percebeu a conexão instantânea entre os dois. Desconcertada e ferida, decidiu
se afastar discretamente e enquanto caminhava pelo corredor sua mente
fervilhava com pensamentos confusos e emoções conflitantes. Afinal, o que
deveria ser um momento especial havia se transformado em um pesadelo.
Todavia,
o pior ainda estava por vir. Naquela mesma tarde Lara recebeu uma ligação
preocupante. Alguém foi encontrado morto
no estacionamento do seu marido.
O corpo era de Estela, a mulher que estava com
Rafael horas antes. O detetive Charles Alvim foi chamado para investigar o
crime, afinal ele era conhecido por sua astúcia e habilidade para desvendar
mistérios complexos.
Ele
começou a interrogar testemunhas e coletar evidências. Rafael, bem como os
outros funcionários da empresa, alegaram não saber de nenhuma rivalidade entre
a colega de trabalho e outrem, mas ao verificar algumas imagens das câmeras,
Charles percebeu a visita de Lara no local e acabou por envolvê-la na
investigação.
Lara
relatou suas suspeitas e as coisas mudaram de rumo. Deste modo, após uma
análise minuciosa, alguém percebeu que ela havia flertado com outros homens na
empresa e tinha uma reputação bastante duvidosa. A tensão aumentava à medida
que Charles seguia as pistas que levavam a Rafael como possível suspeito.
Conforme
a investigação avançava, Lara se viu cada vez mais presa em um emaranhado de
emoções e incertezas. O detetive Charles Alvim, determinado a esclarecer o
caso, começou a reunir evidências que apontavam para um possível esquema de
extorsão envolvendo Estela. A mulher, conhecida por suas manipulações, havia se
envolvido com vários homens da empresa, inclusive Rafael, mas nada parecia
sugerir que ele tivesse motivos para matá-la.
Certa
noite, enquanto analisava as provas em seu escritório, Charles recebeu uma
informação crucial: a vítima havia deixado um diário secreto que continha
detalhes sobre seus relacionamentos e ameaças que havia feito a algumas
pessoas. Ao investigar mais a fundo, Charles descobriu que a jovem estava
prestes a revelar um escândalo envolvendo um alto executivo da empresa — alguém
que poderia ter muito a perder com essa revelação.
Com
isso em mente, Charles convocou Rafael para uma conversa. Durante o
interrogatório, ele revelou haver terminado seu relacionamento com Estela meses
antes do crime e que ela estava obcecada por ele desde então. Ele também
mencionou uma conversa estranha que teve com ela dias antes de sua morte, onde
ela insinuou saber segredos comprometedores sobre outras pessoas.
Com
essas novas informações em mãos, Charles conseguiu identificar um suspeito: um
colega de trabalho que havia sido visto discutindo acaloradamente com ela na
véspera do crime. Após uma investigação minuciosa, o detetive descobriu que
esse homem tinha um histórico de violência e um motivo claro para silenciar Estela.
Quando
as evidências foram apresentadas à polícia, o verdadeiro culpado foi preso.
Lara e Rafael puderam finalmente respirar aliviados. A revelação do escândalo
na empresa trouxe à tona uma série de mudanças e demissões, mas Lara percebeu
que o mais importante era reconstruir a confiança e o amor entre eles.
Com
o peso das suspeitas afastado, Lara decidiu surpreender Rafael novamente — não
apenas com sua nova aparência ousada, mas também com uma viagem romântica para
reavivar a paixão entre eles. O casal partiu para um destino paradisíaco, onde
podiam deixar as sombras do passado para trás e recomeçar sua história juntos,
mais fortes e unidos do que nunca.
ORGULHO FERIDO
Charles está tomado por uma alegria contagiante! O sucesso com que seus casos se resolvem chama a atenção dos seus superiores e colegas de trabalho. Eles comemoram na delegacia e relembram como o detetive conseguiu desvendar diversos mistérios, porém Eduardo Pereira, um de seus colegas, não compactua da mesma alegria. Ele nutre uma inveja crescente de Alvim, uma vez que não recebe o mesmo reconhecimento. As risadas e as conversas paralelas logo são interrompidas pelas palmas fortes do delegado:
— Pessoal, a festa acabou. Temos uma série de crimes para solucionar, incluindo uma tentativa de roubo em uma joalheria e um roubo a um Banco.
— Sim, chefe! — Eduardo responde prontamente tentando mostrar proatividade. Charles e Eduardo foram então designados para trabalharem juntos no caso e o investigador já estava convicto de que mais um crime seria resolvido. Todavia, Charles não contava que a maldade e o ciúme de seu colega colocariam as coisas num novo rumo.
Ao examinar detidamente o local do roubo, ele não encontra nem uma prova sequer. Não há registros nas câmeras de segurança e as testemunhas, em choque, dizem não ter visto o rosto dos bandidos. Ele tenta entender como as portas foram arrombadas e como os alarmes foram desligados.
Bastante frustrado por não conseguir nada concreto, voltou para casa com suas anotações e com a estranha sensação de ter fracassado. Pegou seu Impala preto e dirigiu apressadamente até sua casa. Chegando lá notou algo estranho. A porta dos fundos estava semiaberta. Sacou a arma e colocou-se em estado de alerta. Pisou em uma poça escura enquanto caminhava até a porta com a intenção de fechá-la. Agachou-se cuidadosamente para examinar o fluido viscoso na poça. Percebeu que se tratava de sangue. Preocupou-se, franziu a testa e coçou a cabeça, refletindo desconforto e tensão. Mordeu os lábios e foi caminhando lentamente por todos os cômodos a fim de verificar se havia alguém em sua residência. Não achou nada.
Aliviou-se por uns segundos e, olhando sua imagem abatida refletida no vidro da cristaleira disse: “Um mistério é apenas uma pergunta esperando uma resposta; eu sou a resposta”. Encheu sua taça cuja boca já estava à espera do sabor macio das uvas da casta cabernet sauvignon. Resolveu tomar um banho para esfriar as ideias e eliminar qualquer vestígio daquele dia misteriosamente improdutivo. No entanto, ao arredar as cortinas do box, levou um grande susto:
— Meu Deus, não! — Levou ambas as mãos à boca, não conseguiu evitar que suas lágrimas caíssem. Ali, caído às margens da banheira, seu melhor amigo, o gato que criara por anos. Simão teve a garganta cortada. Num desespero profundo, Charles liga para Flávia, que imediatamente vai consolá-lo.
Após recuperar-se parcialmente do susto, ele assume novamente a postura de investigador e pergunta se Flávia viu alguma coisa. Ela lamenta e balança a cabeça em sinal negativo.
O detetive está tão triste que mal consegue raciocinar. Ele chora, abraça Flávia, troca a taça pela garrafa e seus pensamentos se reviram em sua mente e o torturam como o fogo do inferno.
— Alguém está me dando um recado ameaçador.
— Nesse caso, é melhor comunicar seus colegas da polícia, diz Flávia, com um semblante preocupado.
Enquanto Charles segue em busca de pistas sobre quem poderia ter feito algo contra o seu amigo felino, o policial Eduardo segue à frente da investigação do crime de roubo.
Ainda abalado e confuso, Charles resolveu tirar férias e ir para um lugar isolado passar uns dias. Fez uma pequena mala, deixou o Noturno, gato herdado de sua tia, sob os cuidados de Flávia e partiu.
PERIGO NAS MONTANHAS
— Socooooorro! Socooooorro! Não quero mais apanhar.
— Você não vai mais apanhar. Você vai morrer.
— Por favor, não faça isso. Eu lhe imploro. Nãaaaaaao!
Charles se diverte no ônibus de excursão rumo às montanhas. Um lugar calmo, isolado e cheio de paz. A paz de que ele precisa para recuperar-se e voltar ao trabalho.
Os passageiros cantam ao ritmo do violão de Maicon, batem palma e riem.
Ao lado de Alvim, um viajante solitário, homossexual e disposto a conversar durante toda a viagem. À sua frente, um casal meio discreto. Estão sob o olhar observador de Charles. A mulher parece oprimida, mantendo-se encolhida a maior parte do tempo. Cabeça baixa e olhar triste. O homem mexe no celular, desviando os olhos para sua esposa a cada cinco minutos. Ele parece controlá-la.
No banco da frente há dois adolescentes entediados por estarem viajando com seus avós que não os deixam em paz. Charles sorri e balança a cabeça, parecendo debochar daquela situação.
— Meu nome é Josué, mas pode me chamar de Jô. Ai, estou tão feliz com essa viagem! Faz tempo que tô programando. Amo lugares isolados e com belas paisagens. Sou fotógrafo, sabe. E não fico sem minha câmera. E você? O que faz da vida?
— Eu… trabalho com respostas.
— Como assim, respostas? Por acaso é repórter?
Charles ri. — Não exatamente. Um mistério é como uma pergunta e eu sou a resposta.
— Hum, enigmático. Gostei. E como se chama?
— Charles. Charles Alvim, ao seu dispor.
— E por acaso o Charles Alvim não teria um cartão?
O investigador hesita, temendo a aproximação. Mas, ainda assim, coloca a mão na parte interior do casaco e puxa do bolso o seu cartão de visita e o entrega a Josué que sorri a ponto de revelar a covinha de amor no rosto.
Após esse tour, chegaram à pousada Raio de Sol.
Os quartos são próximos uns dos outros. O cheiro de flores e o ar puro encantam os hóspedes. A vista é de um grande lago que reflete a beleza das árvores frutíferas. Campo de golfe, mesa de jogos, redes e cantos de leituras ao ar livre e um vasto jardim propício para belas fotografias.
— Olá, pessoal. Sou Wilson, o dono da pousada e espero que se sintam à vontade aqui. Aquele ali é o Alfredo, nosso guia e ele irá acompanhá-los durante os passeios. Aqui há vários pontos turísticos interessantes, como o Morro do Anjo, a cachoeira Véu de noiva, A gruta da Santa Aurora e um santuário ao norte.
Todos estão ansiosos para explorar cada canto. Exceto um empresário que vai do refeitório para o quarto e não socializa com ninguém. O casal Caio e Brenda chamam a atenção pelas discussões e pelo controle exacerbado que ele tem sobre ela.
A cozinheira é tão jovem e bela que mais parece uma nutricionista, pensa Charles, ao se deparar com ela na cozinha. — Tem vinho? — ele pergunta.
— Tem vinho branco, vodca, whisky e posso fazer uns drinks.
— Own, não. Pode ser vinho. Prefiro tinto, mas na ausência do que é bom, o meio-termo serve.
Ela pisca pra ele e passa as mãos nos cabelos como se quisesse seduzi-lo. Mas Charles não se deixa levar por devaneios bobos. Ele é observador e precavido. Repara no hematoma no braço dela. A jovem percebe e puxa a manga da blusa.
Alvim, vai para o quarto, pega em sua mala um livro, pensa no seu gato Simão e ainda busca entender quem pode ter feito algo tão cruel.
“Este telefone está desligado ou fora da área de cobertura. Tentei novamente mais tarde.” — Atende, “senhor Resposta”, acho que estou encrencado…
No dia seguinte, pela manhã, todos os hóspedes se encontram no horário do café. A manhã está ensolarada, será um ótimo dia para explorar as belezas do local. O último a chegar à mesa do café é o empresário. No entanto, Charles sente falta de mais alguém. Onde está o fotógrafo Josué? — ele se pergunta. Mas como não é capaz de criar laços, mantém seus pensamentos em outras questões.
Durante o passeio, ouve Brenda chorar e dizer ao marido:
— Você não devia ter feito isso!
— Cale a boca! Ele diz, cerrando os dentes e apertando o braço da esposa.
O guia surge no meio do passeio, se desculpando pelo atraso e pede para conversar com Charles em particular. Pela sua experiência, Alvim percebeu que tinha algo errado acontecendo. Alfredo explica que um corpo foi achado mais cedo e que precisava da ajuda de Charles para resolver esse crime.
— Claro, Alfredo! Então me leve até o local.
Ao chegar lá, Charles se choca ao ver o corpo. Múltiplas fraturas e um afundamento do crânio. Josué, cuja alegria havia encantado o investigador, agora estava inerte, com as palmas das mãos sobre o rosto, talvez tentando proteger-se de brutal violência. Mas não foi suficiente para livrá-lo da morte.
— Ele morreu por traumatismo craniano. Foi atingido várias vezes por um objeto. — comenta Charles, suspirando em sinal de lamento.
— Sabemos que ele viajava sozinho e que ontem à tarde saiu para fazer umas fotos perto do lago. Agora foi encontrado aqui pelo Wilson, funcionário da pousada.
— O que? Ele não é o dono? — Alvim indaga, surpreso.
— Não, o dono da pousada Raio de Sol não mora aqui e vem uma vez por mês.
Sem entender o motivo da mentira do Wilson, Charles faz suas anotações acerca do crime. Todos são considerados suspeitos e terão que ser interrogados meticulosamente.
O detetive resolve pegar o celular para fazer umas ligações. Precisa contatar a polícia local e obter equipamentos essenciais para sua investigação. Ele percebe que há um recado em sua caixa postal de um número desconhecido. O recado fez Charles sentir um frio na espinha, pois entre os pedidos de socorro, se ouvia:
— Você não vai mais apanhar. Você vai morrer.
— Por favor, não faça isso. Eu lhe imploro. Nãaaaaaao…
Talvez se tivesse ouvido e atendido a ligação, Josué ainda estaria vivo. Alvim se culpa nesse momento, mas garante:
— Todo mistério é apenas uma pergunta esperando uma resposta; vou encontrá-la.
A lista de suspeitos é extensa, mas para um bom investigador, é possível delimitar conforme as evidências que surgem. É importante encontrar o celular da vítima e a arma do crime.
Parece que Josué correu da região do lago até a floresta onde seu corpo foi encontrado. Para tentar fazer as ligações para o investigador, ele teria que estar parado, tendo em mãos o cartão de visita e o celular. Talvez ele tenha encontrado um lugar para se esconder e, no meio tempo, tenha conseguido fazer a ligação pedindo socorro. Mas por que ligar pra alguém que acabara de conhecer e não para a polícia?
Charles segue essa linha de raciocínio e se lembra da tal gruta que fica no meio da floresta. Lá estava a carteira de Josué e o cartão do investigador. Na carteira, os documentos do rapaz, um pouco de dinheiro e algumas fotografias.
— A câmera fotográfica! Como não pensei nisso antes. Ele estava tirando fotos, segundo o que o guia disse. Mas nada foi encontrado em torno do lago ou aqui. Retornarei e procurarei nos quartos.
No caminho de volta, ele vê algo refletindo no meio do mato. Finalmente era o celular dele. A tela estava quebrada, mas ainda assim Charles conseguiu desbloquear usando a face da vítima que já havia sido locomovida até o IML da cidade que ficava há uma hora de distância. Ele não compartilhou com ninguém esse detalhe da investigação, afinal, qualquer um ali poderia ter cometido o crime. Josué era homossexual e a homofobia era uma possível motivação para o crime.
No celular, havia páginas trancadas às quais Alvim não podia acessar. Havia, também, muitas fotos e uma delas chamou a atenção de Charles. Josué sentado em um balanço tendo um violão nas mãos. Ele, então, se lembrou do instrumento musical que o jovem Maicon tocava no ônibus. Será mera coincidência? Para ter certeza, o brilhante investigador usa um programa de alta definição para a imagem e aproxima a foto, visando ver os olhos de Josué e assim ver se quem havia tirado a foto era realmente o Maicon.
Suas suspeitas se confirmaram. Maicon já conhecia a vítima e tinha um relacionamento íntimo com ele. Charles conseguiu um mandado de busca e apreensão e foi até o quarto do suspeito. Lá, ele encontrou a arma do crime, a própria câmera de Josué. Uma DSRL preta, de marca Nikon, pesando 2,02 libras, o que equivale a 916 gramas. A câmera estava visivelmente danificada, apesar de limpa. Foi levada para análise a fim de encontrar fluidos sanguíneos compatíveis com a vítima.
Um equipamento desse tipo custa em torno de 18 mil reais, o que revela que Josué tinha uma boa renda. Então, qual seria a real motivação por trás desse crime?
Charles confronta Maicon que finalmente confessa o assassinato:
— Você acha que o Jô era um cara legal? Ele me enganou no passado, me traiu, me roubou e sumiu. Pensei que ele fosse me reconhecer no ônibus enquanto tocava o violão, mas ele estava tão concentrado em você que nem se deu conta. Jurei que iria me vingar por tudo que ele me causou. Ele tirou fotos nossas juntos e depois me chantageou, ameaçou contar pra minha esposa e me expor no trabalho. Eu paguei, pois não podia arriscar perder tudo que construí. Quando soube que ele viria pra esse lugar isolado, aproveitei para me livrar dele de vez. E isso é tudo.
— Bem, se não queria destruir sua vida, parece que foi exatamente o que fez tirando a vida do Josué e interrompendo minhas férias.
Com o mistério das montanhas solucionado, Charles retorna para Vila Nova sem ter descansado. E durante a viagem de volta, pensa em Flávia. Sente saudades das suas risadas e do seu jeitinho doce de resolver as coisas. Precisa ouvir sua voz, saborear seu abraço e deitar em seu colo deixando de ser aquele homem independente e solitário pelo menos uma vez e sendo cuidado pela morena de sorriso fácil.
LEMBRANÇAS NATALINAS
Quando
Charles chega em casa. Flávia o espera com seu gato Noturno e com uma remessa
de biscoitos de polvilho feitos por ela. O cheiro faz com que ele volte ao
passado e se lembre de um dia marcante em sua vida.
Na
véspera de Natal, a avó estava sentada na sala, cercada por enfeites que,
embora bonitos, pareciam tristes sem o brilho do neto. As luzes da árvore
piscavam suavemente, refletindo um mundo que parecia ignorar sua angústia. O
cheiro de rabanadas e biscoitos frescos se espalhava pela casa, mas a avó não
conseguia saborear nada. O coração dela estava pesado, como se uma sombra a
seguisse.
Enquanto
olhava pela janela em direção à chuva que caía suavemente, sua mente vagava
para os dias em que seu neto era uma criança. Lembranças de risadas ecoavam em
sua cabeça, como um eco distante. O menino que corria pela casa, com os cabelos
bagunçados e olhos brilhantes, agora era um jovem soldado lutando em um campo
de batalha desconhecido. A saudade se misturava à preocupação, como um fio
invisível que a prendia ao passado.
Ela
fechou os olhos por um momento e fez uma oração silenciosa. “Por favor, Deus,
traga-o de volta para mim", pensou com toda a força do seu ser. A guerra
foi cruel e ela sabia disso; as notícias eram escassas e muitas vezes sombrias.
Cada carta que chegava era um pequeno alívio, mas quando se tornaram raras como
estrelas em uma noite nublada, sua esperança começou a murchar.
Naquela
noite, enquanto a tempestade rugia lá fora, algo chamou sua atenção: um barulho
suave na porta da frente. Seria a imaginação dela? O coração acelerou ao pensar
que poderia ser ele. Ela se levantou rapidamente, quase tropeçando no tapete da
entrada e correu até a porta.
Ao
abrir, o frio cortante da noite entrou com uma figura envolta em um casaco
pesado. Era ele! O jovem estava encharcado e exausto, mas seus olhos brilhavam
com uma luz que aquecia o coração da avó. Ele estava ali! O abraço deles foi
instantâneo e intenso; o calor humano dissipa o frio do mundo exterior.
"Desculpe
por não escrevi", disse ele entre soluços de emoção. "As coisas estavam
complicadas lá... mas eu prometi que voltaria para o Natal." A avó não
conseguiu conter as lágrimas; eram lágrimas de alívio e alegria pura.
Enquanto
eles se sentavam juntos à mesa decorada para a ceia de Natal, as vozes e
risadas que ela tanto ansiava preenchiam o ambiente novamente. A presença dele
trouxe vida à casa; cada garfada compartilhada era recheada de histórias sobre
experiências vividas e promessas feitas para o futuro.
Naquela
noite mágica, entre canções natalinas e risos sinceros, a avó percebeu que,
mesmo nas sombras mais profundas da dor e da saudade, a luz do amor sempre
encontraria um caminho para brilhar. E assim, sob as luzes da árvore em casa,
eles celebraram aquele Natal juntos — um Natal que seria lembrado como um
renascimento após tempos sombrios.
Charles
segura a mão de sua avó e diz que tem uma notícia para ela. Ele não queria mais
servir como soldado. Ele queria ser investigador. Ela o abraçou forte, quase o
deixando sem ar e disse que era o melhor presente que ele poderia dar a ela.
Sua avó o ajudou a pagar os estudos e dar início a sua carreira.
Enquanto
ele conta para Flávia como seus biscoitos o fizeram lembrar de sua querida
vovozinha, ela o questiona sobre seus pais:
—
Você quase não fala de sua família. Tempos atrás mencionou a sua tia que
faleceu e agora a sua avó. Mas ainda não falou dos seus pais.
—
Sim, é verdade. Minha história é marcada por tragédias, sabe? Não gosto muito
de falar sobre o passado, pois me machuca bastante. Tive que fazer terapia, a
fim de superar tudo que passou. Meu pai era alcoólatra, batia na minha mãe
sempre que bebia. Fomos despejados, pois ele não pagou o aluguel. Então, fomos
morar na casa da minha avó. Um dia estávamos no carro com ele; eu e minha mãe e
ele bateu o carro. Ambos morreram, e fiquei internado. Foi assim que consegui
essa cicatriz na barriga. Levantei a camisa para que ela pudesse ver.
—
Nossa, nem sei o que dizer. Sinto muito por tudo que passou.
—
Obrigado. Fui criado pela minha avó paterna, Cristina. Sou muito grato por tudo
que ela fez por mim. Quando ela ficou doente, foi muito difícil. Mas ninguém é
eterno. Fiz o possível para ajudá-la, mas ela faleceu vítima de um câncer
agressivo. Meu avô mora em uma cidade distante e a última vez que o vi foi no
velório da minha tia. Tenho alguns primos, mas não somos próximos. E eu gosto
da solidão, pois é ela que me capacita.
Flávia
o abraça, tendo os olhos marejados. Cada vez mais, ela o admira. Ele agradece
por ela estar ali. Nunca pensou que encontraria alguém tão sensível e companheira.
Seus rostos estão colados um no outro e a alma dela suspira como se clamasse
por um beijo. Mas Charles se esquiva e, disfarçando, pede mais um biscoito.
—Claro!—diz
ela, sorrindo. O que ele dá a ela são apenas migalhas, mas para a Flávia, isso
é o mundo.
O
PODER DA AMIZADE
"Pare! Polícia!" gritou
Charles.
Sua
voz ressoava com autoridade, enquanto a adrenalina pulsava em suas veias. O
suspeito olhou por cima do ombro, hesitou por um breve momento e, percebendo
que não tinha como escapar, desacelerou. O investigador alcançou-o rapidamente,
colocando a mão em seu ombro e afirmando: "Você está preso! Tem o direito
de permanecer em silêncio." A tensão da perseguição deu lugar à
necessidade de garantir que a justiça fosse feita, enquanto ele começava a
conduzir o suspeito para longe da cena do crime.
Tratava-se
de um crime cibernético onde uma quadrilha aplicava golpes virtuais. Foi
difícil para o detetive dar fim a esse caso, afinal ele não possui conhecimento
específico em crimes virtuais. Não é muito fã de equipamentos digitais,
tampouco domina as novas tecnologias.
Quem
sugeriu colocá-lo nesse tipo de investigação foi o policial Eduardo. Ele nutre
muita inveja e tinha certeza de que seu adversário se daria mal em mais um caso
sabotado por ele. Desta vez, ele sabia que Alvim não possuía conhecimento
necessário e, por isso, deixou esse caso em suas mãos.
No
entanto, o detetive é determinado e não para por qualquer obstáculo. Conciliou
um curso de especialização e o trabalho para ter êxito. Nesse curso intensivo
de uma semana, ele aprendeu os caminhos possíveis para entrar na “conta virtual
de alguém, aprendeu como hackear um celular, uma conta de rede social, como
falsificar um perfil, como ver a pessoa em realidade sem que ela saiba disso,
etc.
Durante
o curso, Charles ficou fascinado por um colega de classe chamado Ravi, um
expert em hacking ético com um senso de humor afiado e uma personalidade
carismática. Ravi tinha uma habilidade impressionante de descomplicar os
conceitos mais complexos, tornando o aprendizado divertido. Eles logo se
tornaram amigos, compartilhando histórias e experiências enquanto exploravam os
limites do que era possível no mundo digital e na vida real.
Certa
tarde, enquanto praticavam técnicas de vigilância em uma simulação de campo,
Ravi desafiou Charles a usar suas novas habilidades para filmar discretamente
pessoas em um parque. Com um sorriso travesso, Ravi explicou como se aproximar
de forma sutil e capturar momentos sem ser notado. Charles aceitou o desafio e
os dois se dirigiram ao parque.
Com
suas câmeras escondidas, eles começaram a observar as interações cotidianas.
Charles ficou surpreso ao perceber como pequenos detalhes poderiam revelar
tanto sobre as pessoas: um sorriso furtivo entre amantes, a preocupação nos
olhos de uma mãe enquanto observava seu filho brincar. Ravi, sempre perspicaz,
comentou: "A verdadeira arte da vigilância não é apenas capturar imagens,
mas entender as histórias por trás delas."
Enquanto
passavam horas juntos naquele parque, a amizade entre eles floresceu. Trocaram
ideias sobre ética na investigação e discutiram os limites do que era aceitável
em nome da justiça. Ravi desafiou Charles a pensar criticamente sobre suas
ações e suas consequências.
Ao
final do curso, Charles não apenas havia adquirido novas habilidades valiosas,
mas também ganhado um amigo leal. Juntos, eles decidiram usar seus
conhecimentos para combater crimes cibernéticos e proteger aqueles que não
podiam se defender. A amizade deles se tornou uma força poderosa na luta pela
justiça, provando que até mesmo nas sombras do mundo digital, conexões genuínas
podem brilhar intensamente. Dessa forma, mais um crime foi revelado com
sucesso.
Ao
saberem como Charles e Ravi se saíram bem, a delegacia resolveu contratar o
hacker para fazer parte da equipe e agregar nas investigações.
—
“Vamos sair para comemorar?”, Alvim convida seu novo amigo. Eles vão pra um bar
no fim do dia, pedem uma porção de carne com fritas, dois chopes e começam a
conversar:
—Urgh,
amarga demais! Só você pra me fazer beber isso no lugar de vinho. — Os dois
riem.
Charles
quer a ajuda dele para desvendar quem pode estar por trás da morte ameaçadora
do seu gato. Ravi promete que fará de tudo para ajudá-lo:
—
Fique tranquilo, amigo. Logo, logo, a gente descobrirá quem invadiu sua casa
naquele dia.
Dias
depois, Ravi conseguiu recuperar as imagens das câmeras próximas à residência
de Charles e descobriu finalmente o que aconteceu. Ligou para o amigo imediatamente
e Charles ficou surpreso ao saber que a pessoa que invadiu sua casa era o irmão
do policial Eduardo. As coisas começaram a fazer sentido.
Ravi
pergunta o que Charles planeja fazer. O investigador diz que não fará nada por
enquanto, mas se manterá atento às armadilhas do seu inimigo.
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