A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

AINDA HÁ TEMPO PARA AMAR - CONTO COLETIVO 2011

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

BIBLIOTECA - LIVROS EM PDF

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

PEDRO HENRIQUE - PROJETO MEU ROMANCE 2024




FILHA DO TRAUMA


 

Às vezes, é preciso ir longe para chegar vindo de trás e alcançar a véspera da véspera da véspera do acontecimento. O momento preciso em que tomamos ou somos tomados por uma direção e um belo dia... ou um triste dia, somos o que somos.”

 

-      Carla Madeira


 

 

PRÓLOGO

 

     Beatriz era alta, tinha longos cabelos ruivos e olhos verdes escuros. Era metódica e sempre antes de finalizar suas vítimas buscava saber o que elas fizeram para merecer um fim tão trágico.

     Nascera em uma casa cuja fome era constante, seu pai, um agressor, não hesitava em fazer com que sua mão encontrasse o rosto de sua mãe.

     Para além disso, tinha o costume de entrar no quarto da filha pelas madrugadas, porém se esqueceu que a raiva vive no coração daqueles que pela vida são feridos, portanto em uma dessas madrugadas Beatriz estava lhe esperando com um estilete, objeto do qual utilizou para desferir um corte na garganta do que o mundo lhe nomeara como “pai”.

     A garota foi parar em um reformatório e lá conheceu Patrick, o diretor do lugar, que viu nela habilidades hábeis para serviços que exigem certas especificidades. Ele a apresentou para Margarete, diretora da CSB uma agência independente de segurança encarregada de cuidar de casos que o Estado não consegue.

     Juntos, Patrick e Margarete ofereceram a Beatriz a chance de sua vida, uma oportunidade de ter um futuro, de ser alguém, a possibilidade de canalizar sua dor e raiva.

     Em menos de dois anos Beatriz torna-se uma máquina de mata, subjuga com êxito habilidades de karatê, jiu-Jitsu, judô e boxe, além de dominar uma mira excelente podendo destruir seus oponentes a metros de distância.

     Sua nova versão é sábia, astuta, cruel, determinada e completamente motivada a fazer o que faz: matar.

 

O CARÁTER DO HOMEM É O SEU DEMÔNIO

 

     Beatriz entra no local e logo se depara com os rastros de sangue presentes ali. Olha para o corpo mórbido à sua frente e não consegue acreditar que se trata de Margarete, diretora da CSB, a agência de segurança em que trabalha.

     Ela se aproxima mais um pouco e avalia a bala que penetrou a cabeça de sua ex-chefe, notando que trata-se do tiro de uma 45 ACP. Ágil, averigua o lugar e cada membro da CSB presente ali.

     — Quem poderia ter feito isso? — questiona Fred, seu colega de campo.

     — Não sei. Já assistiu às filmagens das câmeras de segurança?

     — Sim, mas foram apagadas no momento em que a mataram. Estamos lidando com profissionais, Bella.

     — Já te disse para não me chamar assim.

     — Perdão, é que desde aquela noite, eu não...

    — Não aconteceu nada naquela noite — afirma Beatriz, não permitindo que o rapaz diga nem mais uma palavra.

     Ela se abaixa, passa a mão no corpo de Margarete e beija o buraco permeado de sangue aberto em sua cabeça, prometendo a ela que descobrirá quem fez isso.

     — Sabe quem vai ocupar a cadeira?

     — Provavelmente Patrick. Três dos membros do Conselho afirmaram que vão indicá-lo. E… Beatriz, querem te colocar para dirigir o reformatório.

     — Claro que não — protesta a garota, se levantando. — Só trabalho em campo. E não vou ficar lidando com um bando de adolescentes problemáticos e domá-los para se tornarem um de nós algum dia.

     Fred olha para ela de maneira irônica, como quem diz: “Mas nós éramos adolescentes problemáticos e difíceis de domar e hoje somos um deles”. Porém, Beatriz o ignora e vai embora.

     Entretanto, antes de sair pela porta, vira-se para Fred e diz:

     — Avise ao Conselho que o caso é meu e que enviem outro para o reformatório.

 

                                   •••

 

     No dia seguinte, nossa detetive vai até a reunião de posse do novo diretor da CSB, Patrick. Ele se sente vitorioso, pois batalhou a vida inteira para ocupar tal posição.

     Assim que a cerimônia se encerra, ela vai cumprimentá-lo.

     — Olha só, quem diria.

     — É, agora sou eu quem manda em tudo.

     — Parabéns.

     — Obrigado. E como você está? Sei o quanto ela era importante para você.

     — Vou ficar bem.

     — Eu sei. Fred me contou que você não quer dirigir o reformatório e... Bella, acho melhor...

     — Beatriz.

     — Beatriz, perdão. Acho melhor não. Sabe que emoção e serviço de campo não terminam bem.

     — Patrick, eu vou fazer isso. Eu devo isso a ela. Eu faria o mesmo por você. Você sabe.

     — Eu sei, mas a CSB já está cuidando disso, Bella.

     — Já falei para não me chamar assim.

     — Perdão.

     — Patrick, eu vou, com ou sem a sua permissão ou a do Conselho.

     — Você não dá o braço a torcer, né?

     — Não mesmo.

     — Ok. Ok. Vou conversar com eles, mas não garanto nada.

     — Eu sei que você vai me dar o caso, como também sei que não precisa da aprovação do conselho para isso.

     — Hurm. Você é danada, Beatriz. Bom. Ok. Mais uma vez você venceu. O caso é seu, se divirta com ele.

 

                                  •••

 

     Quando chega em casa, nossa detetive recebe todos os autos. Não sabe ao certo por onde começar.

     Não era a primeira vez que investigava um assassinato dessa natureza, no entanto esse lhe perturbava a cabeça.

     Beatriz repousa seus olhos sobre uma imagem das câmeras de segurança, mas não nota nada.

     Uma hora se passa, ela já tentou todos os ângulos, mas nada. Duas, três, sete horas e nada de um suspeito sequer, até que... Ela observa a foto de uma feira. Margarete gostava de ir à feira; descobriu isso quando ela a convidou para ir a uma.

     Beatriz sempre achou estranho, afinal, não é todo dia que descobrimos que uma das melhores agentes da CSB, e agora sua ex-diretora, frequentava uma feira como uma pessoa normal. Todavia, quem poderia compreender Margarete? Ela era imprevisível.

     Na filmagem da feira, que fica a poucos metros da biblioteca, a garota percebe um homem encarando Margarete. Ele está de boné preto, com uma jaqueta da mesma cor. Ela passa alguns minutos da filmagem e para no momento exato em que Margarete se afasta para ir à biblioteca, e vê que o rapaz a segue.

     Tenta buscar em outras câmeras e só encontra a de uma rua em que consegue visualizar apenas Margarete atravessando a calçada. Quando o homem aparece, a luz de sua casa apaga.

     Beatriz sente algo atingir em cheio sua cabeça. Rola para frente, passando a mão na nuca, e quando olha, contempla o vermelho vivo do sangue permeando seus dedos.

     Vislumbra a figura que agora voa em sua direção, e ambos travam uma intensa luta. Beatriz consegue, em alguns momentos, imobilizar o que parece ser um rapaz, porém as habilidades dele assemelham-se às suas, o que gera certa dificuldade.

     Quando o olhar dos dois se cruzam, a garota nota que ele possui olhos pretos como a sombra de um beco.

     Ele a atinge com um murro que a faz cair no chão, e quando ganha fôlego para continuar a luta, percebe que está sozinha. Olha para a mesinha de centro da sala e não encontra seu computador.

     Corre para a janela e não vê nada, vai até o quarto e o analisa, investiga o banheiro, o lavabo, a cozinha, o guarda-roupa, olha em cada centímetro da casa, mas nem um sinal do invasor.

     Volta para a sala e se senta no sofá, passando as mãos no rosto, irada por ter deixado o homem escapar.

     A campainha toca. Beatriz se levanta, vai até a porta, olha pelo olho mágico e vê Fred, então o deixa entrar.

     Assim que avalia o apartamento, ele percebe que um ringue se instaurou ali.

     — Alguém invadiu — Afirma Beatriz.

     — Invadiu? — questiona Fred, preocupado.

     — Sim, eu estava analisando as filmagens das câmeras de segurança quando alguém bateu com alguma coisa na minha cabeça.

     — Deixa eu ver — pede Fred. Ele averigua minuciosamente o machucado, tocando de leve no sangue que o cobre. — Você precisa de um médico.

     — Não, eu mesma cuido disso.

     — Por que você é assim?

     — Assim como?

     — Desse jeito. Eu só quero te ajudar.

     — Eu não preciso da sua ajuda.

     — Ok. Então eu vou embora. Fred se vira, pronto para ir em direção à porta.

     — Não. Fala Beatriz, segurando seu pulso. Por favor, fique.

     Fred analisa seu olhar tão claro como água cristalina e vê sinceridade ali. Portanto, ele se aproxima de Beatriz encurralando-a contra a parede.

     Ele a beija como se este exato momento fosse o último com ela. Depois, divaga com selinhos por seu pescoço, fazendo-a sentir chamas de turbulentos vulcões. Ela não hesita nem se recente, apenas se permite.

     — Bella.

DOIS DIAS DEPOIS

 

     Beatriz vai até a rua onde ocorre a feira. Tentou refazer o mesmo caminho que Margarete, na esperança de descobrir algo, porém não obteve sucesso.

     Segue seu caminho em direção à biblioteca, que ainda estava fechada por determinação da CSB. Pensou em voltar para casa, mas achou melhor ir para a agência.

     Chegando lá, foi imediatamente para sua sala averiguar novamente as filmagens. Ainda que suas expectativas de encontrar algo nelas que poderia ajudar no caso, fossem mínimas.

     Ficou horas colada na tela do computador, analisando com cautela cada um dos vídeos. Na décima quarta tentativa, percebeu algo que até então não notara. Fechou o computador e foi à sala de Patrick.

     — Tenho algo para te mostrar — disse, colocando o computador sobre a mesa. — Olhe o jeito de andar dele. Patrick flexionou os olhos, compreendendo onde Beatriz queria chegar.

     — Você acha que...

     — Sim. Agora vamos.

     Patrick se levanta, seguindo Beatriz, e ambos vão em direção à sala de Fred. Assim que entram, ela saca a arma e a aponta para o rapaz.

     — Ou, ou, calma aí. O que está havendo?

     — Cala a boca, seu infeliz.

     Beatriz pega o cabo do carregador de celular de Fred, que está em cima da mesa, e o usa como uma espécie algema para não permitir que ele fuja. Depois, leva-o para a sala de interrogatório.

     Ela abre o computador e mostra a filmagem para ele.

     — O que tem isso? — pergunta.

     — Olhe, não percebeu nada familiar?

     — Não.

     — Então, deixe-me refrescar sua memória — afirma Beatriz, desferindo sem medo um murro no rosto do rapaz, levando Patrick a intervir.

     — Beatriz, pare. Fred, vou perguntar só uma vez e é bom que você me responda com sinceridade. Você sabe muito bem que nós temos formas bem convincentes de fazer com que conte a verdade.

     Patrick olha de soslaio para os objetos pontiagudos repousados sobre uma mesa no lado esquerdo da sala, na tentativa de elucidar melhor sua argumentação. — Você matou Margarete?

     — Quê? Não. Óbvio que não. Vocês estão ficando doidos? Por que eu faria isso?

     — Então, por que o jeito de andar do homem que seguia Margarete é igual ao seu? Por que, logo após um bandido entrar na minha casa, você apareceu? Você está escondendo algo. Fale a verdade.

     — Beatriz, não fui eu. Eu juro. E seus argumentos não têm fundamento. Você quer me acusar por causa de um jeito de andar?

     A garota olha para Patrick em busca de apoio, entretanto ele fica do lado de Fred. Sabe que não podem acusar alguém sem provas mais eficazes e consistentes.

     — Deixe ele detido temporariamente, até eu descobrir mais alguma coisa.

     — Beatriz, sabe que eu não posso.

     — Não é você que manda em tudo agora?

     Ela recolhe o computador e retorna à sua sala, ignorando todos ao seu redor.

     Lá, decide analisar os registros de Margarete, todavia não encontra nada útil. Nasceu há sessenta anos, não é casada, não teve filhos, foi recolhida pelo reformatório por venda ilegal de drogas. Beatriz continua a leitura do arquivo de Margarete e se depara com um nome inesperado: Anastácia.

     — Quem é essa? — pergunta para si mesma.

     Sem perder tempo, vai até o setor de arquivamento, solicitando que investiguem quem é Anastácia.

 

                                   •••

 

     Mais uma vez em seu apartamento, nossa detetive finalmente sente o alívio repousar sobre seus ombros.

     Ela tira os saltos e se joga no sofá ao lado de uma boa taça de vinho. Massagea lentamente o pescoço no mesmo momento que reflete sobre Fred e Margarete.

     Ela sabe que não foi Fred quem matou Margarete, não seria possível. Ele a amava tanto quanto ela. Margarete também o salvou.

     Se não fosse ela, ele continuaria morando na rua. Sabia que Fred não poderia ser o culpado. Porém, por hora, ele é o único suspeito.

     Só que, calma. Ah, sim, como conheço a raposa da mente humana, posso inferir pelo sorriso que Beatriz dá neste momento que sua mente não só navega pelo caso.

     Sei que se dirige até o lado agradável do oceano e pula no cerne do afeto. Ah… Como ambiciona em vivenciar aquela noite outra vez. Foi tão visceral, tão íntima, tão sincera.

     Pena que depois de sua atitude hoje, esta relação que nasceu de um beijo tímido embaixo da cama, foi direcionada ao juízo da dúvida.

 

                                   •••

 

     Duas semanas depois, Beatriz recebe um e-mail informando que encontraram poucas informações sobre Anastácia, apenas que o nome está vinculado ao arquivo de Margarete com a instrução de contatá-la caso algo acontecesse.

     Junto ao corpo do e-mail, havia um endereço associado a esse nome. Então, nossa amável agente se apressou. Colocou sua roupa de campo, pegou sua arma e horas depois se encontrava em frente a um sítio antigo no interior do estado de São Paulo.

     Ao chegar, é recebida pelo caseiro, um homem velho e barbudo. Ela pede para falar com o proprietário, mentindo que se trata de uma velha amiga.

     Pouco depois, Beatriz é recebida por Antônio Vilela e algo a incomoda, pois Vilela é o mesmo sobrenome de Margarete.

     — Você sabe quem é esta moça? — pergunta, mostrando uma foto de Margarete, logo depois de se sentar no sofá para conversar.

     O rapaz arregala os olhos ao ver a imagem.

     — Não posso te ajudar. Você deve estar enganada.

     — Talvez você saiba quem é. Qual é a relação dela com você?

     — Já falei que não sei quem é! — Grita ele. — Acho melhor você ir embora.

     — Mas você não me respondeu.

     — Eu já disse que você deve estar enganada. Não conheço essa moça. Agora, vá embora, antes que eu chame a polícia.

     — Mas você não sabe nada sobre ela? Nenhuma informação?

     — Já disse que não. Grita o rapaz. — Vai embora, anda. Vai. Sai daqui.

     Apesar da resistência, Beatriz obedece à orientação do rapaz. Contudo, mais tarde, quando a única coisa que se ouve é o cantar hipnótico dos grilos, decide invadir a casa por uma janela aberta.

     No cômodo, não há nada além de alguns sacos de ração. Ela segue pelo corredor, procurando algo que possa lhe ajudar, até que encontra uma porta aberta.

     Ao entrar, vê um escritório e começa a vasculhar o local, como um cão faminto à procura de um osso, mas não encontra nada de útil.

     De repente, escuta vozes se aproximando. Sem encontrar onde se esconder, saca sua arma, pronta para o que vier.

     Quando a porta enfim se abre, seus olhos se arregalam, sua pele gela e seu coração é tomado por um pavor que jamais imaginou sentir.

     — Margarete?

     — Beatriz?

     Margarete se aproxima, abaixando a arma da garota.

     — O que faz aqui?

     — O que você faz aqui?

     Serena, Margarete reflete por um momento e se senta em um sofá à esquerda, juntamente com o homem que recebeu Beatriz.

     — Não vai se sentar?

     Atordoada, Beatriz se aproxima e se junta a eles.

     — Como foi que me descobriu?

     — Seu arquivo.

     — Ah, sim. Eu sabia que aquilo me traria dor de cabeça algum dia.

     — Mas o que diabos está acontecendo aqui?

     — Bom, sabe, é até engraçado. Sempre pensei que, se houvesse alguém no mundo capaz de me descobrir, seria você.

     Eu te treinei muito bem. Agora, escute o que vou lhe dizer e não me interrompa, ok?

     — Ok.

     — Ótimo! Então vamos lá. A CSB sempre foi emancipada das mãos do Estado por um motivo: queríamos operar seguindo nossas próprias políticas e não toleramos certas condutas.

     Todavia, tudo tem um custo e nossos fundadores, ainda que detentores de riquezas consideráveis, precisavam de quem investisse no projeto.

     Com isso, ao invés de dependermos do governo, dependemos deles.

     Entretanto, com o tempo, alguns dos maiores financiadores que temos começaram a seguir um caminho sombrio, Beatriz: eles sequestram crianças e acho que você pode imaginar o que fazem com elas.

     Até onde soube, são sete e eles estão juntos nisso.

     De repente, Beatriz se lembra de seu pai e das malditas noites em que ele entrava em seu quarto, dizendo:

     — Bella, minha querida, o papai está com saudade. Você não brinca mais com o papai. E seus olhos são assaltados pela raiva, pelo medo, pela dor…

     — Beatriz! Beatriz! — A garota volta para a realidade. — Está tudo bem?

     — Ah, sim, está... é que... ignore.

     Margarete olha para ela, e, assim como no passado, vê a garotinha assustada que ainda vive ali dentro. Portanto, aperta sua mão e diz:

     — Ele morreu, meu bem.

     — Eu sei.

     Elas continuam a conversa, e Margarete confessa que os investidores queriam intervir na diretoria da agência para facilitar seus negócios ilegais, sem enfrentar contradições. Margarete soube que planejavam matá-la para que Patrick assumisse e fosse manipulado por eles.

     — Foi o Fred, não foi? Nós o prendemos.

Vamos matá-lo agora mesmo.

     Margarete ri da ingenuidade de Beatriz.

     — Como chegou a essa conclusão?

     — Eu vi as câmeras de segurança momentos antes de você ir à biblioteca. Ele estava te seguindo. Você estava na feira, lembra?

     — Ah, sim. Minha querida, deixe-me esclarecer algo. Fred não tentou me matar. De fato, era ele nas filmagens, mas ele estava me protegendo. Tenho muitas pessoas leais a mim na CSB.

     Assim que soube da conspiração, pedi o apoio dele, e, como sempre, ele foi leal. — Quando fui à biblioteca, era... Bom, deixe-me mostrar.

     Margarete se levanta, vai até a escrivaninha e retira um envelope de uma gaveta. Ela pega uma foto e se aproxima.

     — Tome.

     Quando Beatriz olha para a imagem, não percebe de imediato o que Margarete quer mostrar e ao ler o nome “Anastácia”, fica ainda mais perturbada.

     — Anastácia é minha irmã gêmea — confessa Margarete. — Anos atrás, ela trabalhou para nós, contudo optou por seguir outros caminhos não tão bons. No entanto, ela era minha irmã. Nós sempre marcávamos de nos encontrar uma vez por ano na biblioteca municipal e...

     Margarete encara o chão, como se não acreditasse no que estava prestes a dizer.

     — Mandaram ela para me matar. Sabiam que nenhum agente deles conseguiria um contato tão próximo comigo, exceto ela. Mas Fred foi mais rápido ao apertar o gatilho.

     — Então, quer dizer que o corpo na biblioteca...

     — Não era meu. Escute, Beatriz, você não está segura na CSB. Eles vão atrás de você.

     — Já vieram.

     — Como assim?

     — Alguns dias após o crime, eu estava observando as imagens quando alguém invadiu minha casa e me atacou, enfim. Mas, Margarete, se eles querem nos matar, o que vamos fazer?

     — O que eu deveria ter feito há muito tempo.

     — E o que é?

     — Matar os investidores.

     — O quê? Isso é impossível!

     — Não, não é. Venho pensando nisso há algum tempo. Todo final de ano, como sabe, a CSB proporciona uma festa exclusiva para eles. Será lá.

     Obviamente, estava terminando de refinar o plano com Fred. Se tudo ocorrer da melhor forma possível, todos eles, um por um, terão o que merecem.

     — Mas, e quanto a mim? Por que não me contou nada?

     — Não é pessoal, meu bem. Você é a melhor que eu treinei, não tenha dúvidas disso. Entretanto você é muito impulsiva, não saberia se conter. Poderia acabar estragando o plano.

      Dito isso, Margarete instrui Beatriz a conversar com Patrick e explicar que Fred é inocente. Agora que ela sabe a verdade, eles poderão trabalhar juntos.

     Ela também a orienta a se voluntariar para a guarda do evento com Fred e a fazer o que sabe fazer de melhor: matar.

     — Depois, contarei toda a verdade ao conselho. Como estou viva, a cadeira voltará para mim, pois no documento de transferência não consta minha assinatura. Seria contra a política da agência se não me devolvessem o meu lugar. — Bom, esse é o plano. Alguma dúvida? A garota faz que não. — Ótimo. Você sabe o que deve fazer.

 

DUAS SEMANA DEPOIS

 

     Beatriz patrulha os corredores da casa que está sediando a comemoração, sem perceber nada de estranho. O plano está saindo conforme o previsto.

     Ela retorna à sua posição na sala de jantar, observando cautelosamente a mesa. Seu estômago se revira ao ver todos aqueles senhores milionários rindo e se deleitando com a desgraça de milhares de crianças.

     Ela olha para Patrick, e a incredulidade percorre suas entranhas. Não consegue acreditar que aquele é o homem que a tirou de sua antiga vida.

     Quando se voluntariou, teve uma dificuldade colossal para manter a atuação e convencer Patrick de que sabia do que ocorria entre a agência e os investidores. Patrick não se convenceu de imediato.

     — Acho melhor não — disse a princípio, mas não conseguiu resistir a Beatriz. Na verdade, ninguém conseguiria.

     — Está quase na hora. Você está pronta?

     — Eu nasci pronta — responde ela a Fred, através do comunicador no ouvido.

     — Ok.

     Cinco minutos depois, Beatriz ouve um “agora” em seu ouvido. Portanto, saca a arma da cintura e dispara na cabeça de três dos malditos financiadores.

     Os guardas presentes pegam suas armas também e avançam com força total contra ela, no entanto se esqueceram de que seu ódio é nutrido por já ter sido uma daquelas crianças.

     Com isso, nossa agente executa com precisão cada manobra que lhe foi ensinada. Ceifa todos os investidores e guardas presentes deixando Patrick por último.

     Ele sabe qual será seu destino e tenta pegar sua arma, entretanto uma faca chega primeiro em sua mão e, em seguida, na outra.

     Beatriz se aproxima com uma fúria que faz ferver as lembranças do passado, ressuscitando cada gotícula daquela garotinha que ela foi um dia.

     Lembra-se da noite em que fez o estilete encontrar a garganta de seu pai e sente novamente o gosto odioso da vingança em sua boca.

     — Sabe, Patrick, uma vez você me disse que o caráter do homem é o seu demônio. Eu te admirava tanto.

     Você, justo você, de todas as pessoas neste mundo.

     — Vai à merda.

     — Ah, acho que não.

     Bang!

TAÇA E MAIS VINHO

 

     O vento levantava os cabelos ruivos de Beatriz fazendo-os beijar o nada. Estava frio do lado de fora do restaurante, entretanto o que de fato a incomodava era o que residia dentro.

     Havia ceifado com êxito de sua memória o que vivera com Fred (seu parceiro de trabalho), contudo não se pode fugir da fúria da paixão, ela vai te consumir de qualquer jeito.

     Ela está lá, em cada toque hesitante, em cada olhar apreensivo, em cada pensamento intrusivo.

     Fred a encara percebendo que está muito quieta. Ele tenta puxar conversa, porém Beatriz não abre mão de manter intacta a muralha que a cerca, a coisa que a segrega do mundo, do sofrimento.

     — Até quando você vai ficar me evitando? Questiona o rapaz.

     — Eu não estou te evitando.

     — Beatriz, desde que nós chegamos você não prestou atenção em nada do que eu disse.

      — Isso é mentira.

     — Ah, é? Então, o que eu estava falando neste exato momento?

     Beatriz o observa percebendo que ele jamais compreenderá. Irritada, levanta e sai do estabelecimento.

     Quando chega em casa nada passa por sua mente a não ser o desejo avassalador que ruge dentro dela por uma taça de vinho.

     Na primeira taça, pensa em Fred; no seu cabelo, no seu rosto, na forma engraçada com que fala, no seu jeito de andar, na sua boca…

     Na segunda taça, lembra de seu pai, da noite em que o matara, no gosto suculento que escorria do prato da vingança que sentiu ao passar a lâmina de um estilete em sua garganta.

     Na terceira taça pensa em Patrick e no lixo de ser humano que infelizmente veio a descobrir que ele era.

     Taça e mais vinho, taça e mais vinho, taça e mais vinho! Mais, mais e mais! É preciso adormecer o que vive e que merece a morte. É preciso cortar a nódoa explícita que uma madrugada deixou. É preciso manter a barreira e a segregação.

     Taça e mais vinho. Sim, mais, pois a vida brada e quando ela brada há de se ter coragem para bater de frente, no entanto Beatriz não tem coragem, falta-lhe e muito, é perigoso demais voltar lá e ela sabe disso, pena que Fred não.

     Caberá somente ao destino decidir qual será o próximo passo desta história.


O PESO DA MÃO DA VIDA

 

     Quanto sofrimento um ser humano suporta? Quantas lágrimas a alma precisa derramar? Quantas perdas há de se ter para chegar ao fim? Lembro de tudo. Lembro de como era doce e amável. E quando lembro, me questiono o porquê de a vida ter feito o que fez.

     Era apenas uma garota. Era apenas uma criança. Beatriz rola de um lado para o outro na cama e sua mente é tomada por porções grandes de um passado que deixara para trás, mas que a persegue. Como hiena correndo atrás de sua presa para provar o gosto suculento de sua carne.

     Os pensamentos são os mais diversos possíveis, todavia a lembrança busca em seu âmago o fragmento único e guardado dos dias em que a genuinidade a abraçava. Trata-se de sua mãe. A projeção é clara: praia. Castelos de areia e o abraço consolador da mulher que lhe dera a vida.

     Beatriz chega a sorrir quando se recorda desse singelo momento. Sua mente a apresenta novamente à luz da existência. Pode sentir o cheiro acalorado do mar em seu nariz. Há nos olhos de sua mãe uma tranquilidade que era de seu costume passar. A garota sente em seu peito, aqui no presente, a nobre sensação de se sentir segura, amada, especial.

     Lembra-se de correr de um lado para o outro, gritando:

— Mamãe, mamãe. Olha o castelo de areia que eu fiz. É o castelo mais lindo do mundo.

E a voz de sua mãe vem tão audível em seus ouvidos:

— Que lindo, minha princesa.

     E assim a vida se fazia para Beatriz, não tinha nada a pedir, nada a condenar; apenas queria um balde e uma pá de brinquedo, para castelos de areia montar. E sobre o olhar fraterno de sua mãe, o universo e a Via Láctea eram seus, todinhos seus. Tinha em suas mãos a alegria e ela lhe vinha de formas simples, pois a vida deveria ser simples. Mas… enfim.

     É, leitores, há de se ter coragem para mergulhar na lembrança, pois como Beatriz nesse momento, o peso da lágrima pode massagear seu rosto, revelando-te o poder da efemeridade do tempo e de como o soco da vida pode doer.

     Soco esse que tira a alegria e a ingenuidade, soco esse que apaga quase que de forma plena uma memória do que é, de fato, viver. Saibam que na vida há de se defrontar com o maligno, isso é inerente à construção da persona forte e inabalável, no entanto o injusto reside no excessivo. E a dor te acompanha para sempre, impedindo-te de olhar o que é bom e agradável.

     Beatriz se levanta e vai até a sacada, olha para o horizonte que se apresenta diante de seus olhos e enxuga outra lágrima que corre por sua bochecha, sentindo, como desde o dia em que sentira pela primeira vez, o peso da mão da vida.


A MORTE É O PREÇO

 

     A garota abre os olhos quando se depara com o rosto formidável de uma senhora a encarando. Ela olha por alguns segundos para os olhos um tanto curiosos da velhinha, contudo a ignora quando o ônibus para e sua mente também.

     Não quer pensar em trabalho, por esse motivo optou por esta viagem; todavia, já está se arrependendo.

     Beatriz até que gosta da sua vida no trabalho. Bom, lidar com mortes e crimes que arrepiam os cabelos não é lá o emprego que toda garota queria ter, mas Beatriz não é qualquer garota.

     Todos descem do veículo, inclusive a senhora que a observava minuciosamente. Patrícia, a guia turística, diz a todos para fazerem o check-in e se acomodarem em seus respectivos quartos, visto que a viagem foi longa e que amanhã o dia será recheado de aventuras.

     Beatriz se vê a passos curtos de mergulhar nessa aventura, porém algo nela a incomoda; sabe que, quando sente essa fisgada no peito, alguma coisa horripilante está prestes a acontecer, mas ignora essa súbita e um tanto silenciosa sensação.

     Ao chegar no quarto, não pensa duas vezes em fazer com que seu corpo saboreie com pressa o conforto da cama, e não demora muito para o sono bater à sua porta. A garota se sente morta, por esse motivo a abre e o convida a entrar. O sono, então, começa a vir e se instaura por completo em poucos  minutos.

     Beatriz se deleita nesta coisa boa que é dormir. No entanto, quando sua mente está prestes a contemplar o ponto mais alto e profundo de se estar no vácuo do mundo, um grito corta os corredores, fazendo-a em um pulo levantar e correr em direção ao som.

     Nossa detetive segue aquela voz grave e potente que se alastra pelos corredores e, quando percebe, chega a um quarto. A vida ri de Beatriz naquele momento, como sempre a vozinha conhecida e odiada, legítima que é a mais segura das que há na mente da garota. Nossa menina, incrédula, aproxima-se do corpo da criança que se encontra no centro de uma poça de sangue, tornando aquelas poucas horas de maravilha um verdadeiro filme de terror.

     Terror por vezes é o sentimento que ela queria sentir, pois o que reside dentro de seu peito é um ódio colossal. Só havia pedido uns dias em paz, longe de tudo que representa seu cotidiano, e a vida lhe dera isso?

     Ela sai do quarto atormentada e, sem perceber, esbarra em Kamila, sua conhecida do serviço. Kamila é delegada e, pelo que se pode inferir a partir do cenário posto, é quem cuidará do caso.

     Ambas vão para um lugar afastado, e a delegada situa Beatriz sobre o ocorrido e pede sua ajuda. Diz a ela que trata-se de algo desconhecido, que não há nem sequer imagens de câmeras de segurança que ajudem a chegar ao culpado, e que, portanto, todos são suspeitos, inclusive Beatriz.

     Kamila afirma que sabe de sua especialidade para cuidar de casos assim e insiste para que ela tope ajudar. A garota não vislumbra outra saída, então aceita. E assim suas belas férias vão morte abaixo.

 

                                   •••

 

     No dia seguinte, Beatriz pega os autos que a polícia tem para dar início a seu trabalho. E, como Kamila havia lhe dito, a polícia não tem nada.

     Sendo assim, Beatriz vai onde tudo começou: o quarto. Chegando lá, se depara com a senhorinha que lhe encarava no ônibus.

     A senhora, por sua vez, quando olha para Beatriz, fica encantada, abre um sorriso meigo e se aproxima. Ela pergunta se Beatriz é da polícia, e Beatriz se vê coagida a dizer que sim, pois tem ciência de que não pode sair por aí dizendo sua identidade aos quatro ventos.

     A senhora responde que já suspeitava que nossa detetive fosse policial e atribui tal tese ao fato de ela ser muito séria. As duas ficam um tempo conversando, e a senhora, que até então permanecia em anonimato, diz se chamar Vilma e fala que, para qualquer coisa, Beatriz pode contar com ela.

     Porém, antes de ir embora, a garota questiona-a sobre o motivo de estar ali.

   Vilma responde que ficou curiosa, confessou que só viu um crime em sua vida, e foi quando seu filho morreu; contudo, não quis tocar no assunto, afirmou que doía falar da perda.

      Beatriz, por sua vez, compreendeu, pois, ainda que não fosse mãe, podia sentir a profunda e intangível ferida que se projetava nos olhos daquela mulher.

     Vilma foi embora, e a garota começou o que veio fazer. Antes, olhou cada centímetro do lugar e, agora, procurava pelo corredor, mas nada encontrava.

     Portanto, decidiu que era hora de parar e resolver continuar no dia seguinte.

     Cansada, optou por ir a um restaurante perto do hotel porque ouviu dizer que lá a comida era divina.

     Quando chegou, foi muito bem recebida. Queria comer lagosta, e assim se fez. Após o banquete divino, pediu a conta e foi ao caixa pagar. Assim que deu seu cartão, algo chamou sua atenção. Não era algo grandioso, porém curioso.

     Havia uma foto de Vilma atrás do balcão com a seguinte frase: bruxa. Beatriz, a princípio, achou estranho e perguntou à balconista sobre.

     Ela, indiferente a situação, respondeu que aquela era uma antiga velhinha daquela pequena cidade. Revelou que rondavam boatos de que ela falava com o próprio diabo e que fez uma promessa a ele de matar quantas crianças pudesse.

     — Dizem que ela matou o próprio filho e deu pro demônio comer.

     — Meu Deus! Mas por quê?

     — Para pagar uma dívida.

     — Dívida?

     — Sim. — Essa moça tinha um câncer terminal, e para não morrer, fez um trato com o diabo para poder viver e, em troca, ela mataria crianças.

     — E nunca prenderam ela?

     — Prender, prenderam, porém não tinham provas contra ela, então tiveram que soltar.

     — E onde ela está agora?

     — Ah, minha filha, ninguém sabe.

     Beatriz começou a se sentir enjoada, sentia seu estômago revirar sempre que ouvia algo relacionado a crianças. Soube na própria pele o que é ser ferida na infância. Portanto, saiu o mais rápido que pôde para a pousada, pois se lembrou da filha de Patrícia, a guia turística, que estava com a mãe no passeio, e temeu pela vida da pequena.

     No entanto, o mal, como sempre, chega prévio e faz um estrago em tudo que toca. As lágrimas no rosto de Patrícia já denunciavam tudo. Eram 00:26 e estava feito.

     Nossa menina aproximou-se de Patrícia e, junto àquela mãe, ofereceu a sua sincera empatia. As lágrimas das duas fundiram-se em um louvor ao morto que nascia para a outra vida.

     Contudo, o ódio que nocauteava suas vísceras foi maior. Beatriz se levantou e foi em direção ao alvo. Quando encontrou Vilma, não esperou duas vezes, desferiu, sem piedade, as costas de sua mão no rosto da idosa.

     De repente, um tapa virou dois, dois viraram  três, três viraram sete, e sete viraram uma surra. Vilma ficou sem entender o porquê de estar apanhando daquela forma, apenas gritava e rogava à garota que parasse.

     — Para de farsa, sua maldita, eu sei que foi você.

     — Eu o quê? — perguntou Vilma com a boca cuspindo sangue.

     — Eu sei de tudo. Sei que você mata crianças para pagar uma promessa que fez ao diabo. Sei que foi você que matou a garotinha na noite de ontem, e sei que foi você que matou a filha de Patrícia. Outro tapa, outro soco, outro chute e mais uma surra.

      Quando Beatriz percebeu que já estava quase matando Vilma, apenas a jogou como um saco sem uso na parede esquerda de seu quarto e a imprensou com o antebraço.

     — Confessa. Confessa, sua maldita.

Vilma a encarou com os olhos fixos e, de repente, aquela senhorinha meiga e formidável desapareceu, abrindo espaço para outra, perversa e, sobretudo, cruel.

     — A morte é o preço, minha cara.

O ATO FINAL

 

     É, leitores, chegamos ao ato final. O que acharam desta viagem chamada Beatriz? Ô garota viu. Mas não tenho licença para empreender a ela julgamentos.

     Teve uma vida marcada por eventos transformadores e tudo levou a onde chega hoje. Querem que eu teça algumas reflexões filosóficas e literárias antes de irmos para nossa última parada ou vamos de uma vez?

     Vejamos a melhor opção. Como sou pragmático, proponho irmos de uma vez. Prontos? Ok.

    

                                   •••

 

     Beatriz chega em casa e deita-se na cama. Três semanas após suas férias interrompidas e quase dois anos desde que Fred nunca mais a olhara. Já sabia que a relação entre eles não seria a mesma após o ocorrido com Margarete.

     No entanto, depois que saiu correndo daquele restaurante, soube que ele não aguentaria mais seus desaforos.

     Dito e feito. Lembra como se fosse ontem dela chegando à agência e ele ignorando completamente sua existência. Como se nunca, sob hipótese alguma, tivessem se conhecido.

     Margarete, já sabia do que havia entre eles, e sendo franco, até torcia para dar certo. Via um casal lindo nos dois. Porém, sabia que nem tudo é tão simples quanto parece.

     Mas, ela é PHD em conflitos, não é por mera coincidência que está a frente da agência, portanto decidiu enviá-los para uma missão juntos: fazer a guarda de um dos maiores casamentos do país.

     Sabia que esse seria o jeito perfeito de aproximá-los e também a equipe da outra agência que é subordinada a CSB e que faz esses serviços voltados para coisas mais leves, concordou.

     Só que, a maior dificuldade seria fazer os dois aceitarem. Por incrível que pareça, Fred foi o que se opôs. Beatriz, claro, teve de resistir a princípio, por mera vaidade, entretanto, acabou dando o braço a torcer.

     Fred, por outro lado, precisou de um trabalho maior. Não queria ter ciência da existência de Beatriz. Para ele, ela havia morrido; ainda que em seu âmago, ansiasse fervorosamente por seu toque. Como um cão que ambiciona no momento de vacas magras o morder dos ossos.

      Contudo não falarei sobre isso. Vamos ao casamento.

     Antes, porém, vejamos a conjuntura da situação para não sermos errôneos. Pensem no galo que tem seu afeto projetado e sonha deleitar-se na amada, mas é rejeitado, sempre rejeitado.

     Disse um “a”: rejeitado. Pensou: rejeitado. Tentou: rejeitado. Não há quem aguente.

     Ah, Beatriz, Beatriz... Só não puxo sua orelha porque vejo seu demônio e o vendo, compreendo. Mas não falemos sobre isso, sei que o leitor já tem ciência, agora sim, vamos ao casamento.

 

                                    •••

 

     Pense em uma festa que somente o bolo custa o valor de um automóvel. Então, é dessa que me refiro.

     Pessoas com seus sorrisos multi-milionários e com suas vestimentas que explicitam seu lugar de prestígio no mundo.

     Beatriz fica tempo integral em sua posição no piso superior da mansão onde está sendo sediado o evento. Ela se recusa a tirar os olhos de Fred, que se encontra no andar de baixo.

     Quer tê-lo outra vez e seu corpo dilacera-se por dentro com a ideia de sua rejeição não passar de uma simples vaidade efêmera.

     — Senhora, Beatriz?

     — Sim? Ao virar para o lado, a garota vislumbra um dos seguranças. É um rapaz formidável.

     Olhos castanhos, cabelos negros que cobrem sua testa e um sorriso de derreter multidões. De fato, é o tipo de cara que uma garota usaria para fazer ciúmes no amado.

     E como nossa detetive não é desprovida das artimanhas da vida, ela decide não só responder, como não esconde seu melhor sorriso e um lado seu, que só até então, quem conhecia, era Fred e Margarete.

     — Estão te chamando na sala de controle.

    — Ok. Diz com um tom um tanto pueril. Rapidamente e de soslaio, olha para Fred e nota que seu olhar está fixo nos dois, portanto decide desatar uma risada para cutucar mais ainda o que Fred sente e que é denunciado em seu olhar.

     O segurança franze as sobrancelhas estranhando Beatriz. Ela percebendo que está sendo mal interpretada, agarra o braço do rapaz, vira-o e o obriga a segui-la.

     — Só me segue. Diz entre os dentes num sorriso forçado.

     O segurança não hesita, até que gosta de ter aquela mulher agraciada com uma beleza rara, segurando seu braço.

     Quando chegam perto da sala de controle, Beatriz solta o braço do rapaz e dá de ombros, sem ao menos dar a ele uma explicação plausível sobre o que acabara de acontecer.

     Ao abrir a porta é recebida com uma pancada muito forte na cabeça, tão forte que quando acorda, está em um lugar com um fedor insuportável de urina, amarrada em uma cadeira com arames unindo-se a cordas, fazendo sua pele se rasgar e dela o sangue deslizar por suas mãos.

     Ela retoma a memória aos poucos, notando melhor a configuração do local e leva um susto ao ver uma figura que, em um primeiro momento, não consegue decodificar quem é.

     — Hora, hora.

     Justos céus. Não, não pode ser. — Ah, Beatriz, você só esqueceu de uma única lição, uma mísera e quase minúscula lição que te ensinei. — Quando vamos dar um tiro em alguém, e de te fato o intuito é nunca mais ver essa pessoa, o tiro deve ser dado para matar e de preferência na cabeça.

    — Patrick?

    — Como vai, minha cara?

    — Seu lixo.

  — Não, não fale assim com quem te ensinou tanto. Olha só para você, tão ingrata. Eu fiz tudo por você, tudo mesmo. Sempre. Era para eu ter sido menos receptivo a suas vontades.

     Poderíamos ter ficado milionários. Era só ter falado comigo primeiro, mas não. Você quis seguir o que Margarete te falou.

     Pois bem, olha só para onde você está agora. E não ache você que ela virá em um belo cavalo branco te salvar.

     — Cala boca.

  — Ah, está nervosa. Hurm! Ela vai deixar você apodrecer aqui. Ela nunca te contou do porquê se tornou diretora da CSB?

     Silêncio.

     — Hurm! Imaginei.

     Bom, deixe-me dizer como foi.

     Antes dessa nova geração de você e Fred, o conselho escolhia o novo presidente por um desafio.

     Era um intensivo de tortura e resistência e para ser o vencedor você teria que fazer uma coisa terrível.

     Margarete tinha uma amiga: Hortência. Hortência e ela eram unha e carne. Viviam juntas e não se desgrudavam por nada.

    E quando a lista dos aprovados para participarem do desafio foi divulgada e ambas viram seus nomes lá, a alegria foi imensa.

     No dia, eu fui o terceiro a ser eliminado, não consegui concluir a prova em que tinha que pegar uma chave dentro de um rio para passar para a próxima etapa.

     Portanto, só restou Beatriz e Hortência. No último desafio você tinha que derrotar seu oponente para ganhar, porém o que não sabíamos era que você deveria feri-lo de forma que ele não tivesse como se levantar mais.

     Estava no contrato que no desafio teria etapas de grande risco e que por esse motivo o recomendado era participar só aqueles que tivessem em si uma coragem indelével.

    Mas, resumindo a história, sua amada Margarete, enfiou uma estaca de madeira na perna de Hortência para ganhar o desafio e se tornar presidente da CSB.

     A coitada teve que amputar a perna direita porque a mulher que você julga ser um máximo, foi uma egoísta, mesquinha e sem um pingo de empatia.

     Beatriz não consegue conter as lágrimas que caminham solitárias por seu rosto.

     — É mentira. Margarete jamais faria isso. O único egoísta, mesquinho e sem um pingo de empatia aqui é você.

     Você queria deixar que crianças fossem vendidas para um bando de velhos tarados. Você que é um ser humano podre e desprezível!

     — Ah, minha cara, eu nunca disse que não era. E para que fique claro, eu teria feito pior com Hortência. Porém estou te dizendo isso para que veja que somos todos farinha do mesmo saco.

     Nós nascemos para isso, minha cara. Você acha que seu pai era o único pai ruim no mundo? Não, não mesmo. O meu eu fiz questão de queimá-lo para que ele soubesse como é bom sentir dor.

     Já nascemos condenados e o que fazemos é para sobreviver. Você viu o que aconteceu com Margarete, teriam feito o mesmo comigo. Eu não tinha escolha.

     — Nós sempre temos escolha.

     — Hurm. Admiro seu otimismo.

     — Vai se ferrar.

     Patrick, se aproxima de Beatriz e acaricia, com as costas da mão, seu rosto. Em seguida a afasta e quando Beatriz dá por si, seu rosto vira com o peso da bofetada.

     — A questão aqui, minha cara, é que eu preciso de você. E só você pode fazer o que eu quero.

     — Eu nunca faria nada para você.

     — Mas vai.

     Patrick se dirige até o canto da parede direita e acende uma lâmpada, que ilumina o outro lado da sala.

     Lá, Beatriz vê Fred desmaiado dentro de uma jaula. — É o seguinte. Se você não matar Margarete, ele morre.

    

                                   •••

 

     Respeitoso, leitor, vamos dar uma trégua do momento de aflição. Vamos aos comentários.

     Indubitavelmente esse Patrick, não é brincadeira não. Nem eu imaginava que ele fosse tão astuto ao ponto de driblar a morte.

     Ô carinha infeliz. É. é aquele velho ditado: vaso ruim não quebra facial.

     Bom, não vou ficar empreendendo julgamentos a ele, embora não encontre estima nenhuma em sua pessoa. Cabe a mim apenas o exercício da narração e estou em fúria pelos termos sofisticados e pela poeticidade dos eventos.  

     E acabamos der ver Patrick colocar nossa astuta detetive em uma saia justa. Ele quer que ela mate a pessoa que representa para ela o pouco de afeto que a vida lhe dera? Idiota. O leitor crê que nossa graciosa garota terá coragem para tal feito?

     Bom, agora estou vendo sua mente e sei que nela se passa o desespero. Vamos a linguagem:

     Beatriz é libertada por Patrick e seu corpo treme com a ideia de perder duas pessoas que são verdadeiros recipientes de sua ternura.

     Sua cabeça anda sobre uma corda bamba de decisões que não desejo nem ao meu pior inimigo tomar.

     Confusão, perturbação, desespero, ódio e raiva, são meros eufemismos que não chegam nem a léguas de distância de descrever com profunda veracidade o que de fato se passa no cérebro de nossa agente.

     Beatriz está aflita. Há de tomar uma decisão que pode mudar para sempre o rumo de sua vida.

     Hamlet certa feita disse: Ser ou não ser, eis a questão.

     Eu pego a frase, adapto-a e empreendo a indecisa de meu coração a seguinte provocação: fazer ou não fazer, eis a questão.

 

                                 •••

 

     Beatriz termina de colocar a dose da substância no risoto quando a campainha toca. Ela limpa as mãos no pano de prato e se dirige à porta.

     — Margarete!

  — Meu bem. Como está? Elas se beijam nas bochechas.

     — Entre, por favor.

   — Com licença. — Faz tempo que não venho aqui. Hurm! Adoro o jeito que seu apartamento é. Não tem nada, Beatriz. Só branco.

     — Sabe que não tenho tempo para me preocupar com essas baboseiras.

     — É baboseira decorar a própria casa?

     — Não vamos falar sobre isso.

     As duas seguem para o sofá e ficam por uma hora ali conversando. Falam sobre trabalho, vida, dinheiro. Sobre o futuro da agência até chegar em:

     — Não vejo Fred desde quando vocês fizeram a segurança do casamento multi-milionário.

     Cheguei a receber uma mensagem dele dizendo que iria passar uns dias fora, porém quando liguei para saber mais sobre, ele não me atendeu.

     Está sabendo de alguma coisa?

     — Não.

     Margarete olha para Beatriz como se estivesse vislumbrando cada átomo presente em seu corpo.

     — Beatriz, temos intimidade, então vou perguntar. O que verdadeiramente acontece entre vocês?

     A garota solta uma risada.

     — Nem eu sei, Margarete. Nem eu sei. Começou no reformatório, depois, quando você nos recrutou, continuamos. Porém, nunca tivemos o trabalho de dar um nome. Não é namoro, mas também não é amizade. É complicado.

     — Entendo. E você nunca se abriu para ele?

     — Me abrir pra que? Deixar as pessoas te verem por dentro só te deixa vulnerável. Fraco. Indefeso.

     — Então o jeito é ser uma barreira o resto da vida?

     — Sim.

     — Mas até quando, meu bem?

     — Até quando der para suportar.

    Margarete, aperta a mão de Beatriz com lágrimas nos olhos.

     — Até quando der para aguentar. Bom, acho melhor comermos logo. Sabe como fico quando a coisa começa a ficar sentimental demais.

     Beatriz sente um calafrio ao ouvir a palavra “comer”. Mas não pode negar a nítida imagem de Fred naquela jaula e sabe que Patrick não estava brincando.

       Ela precisa fazer isso, ainda que não queira.

     Elas vão à mesa de jantar e se servem do risoto de frango, bebem um pouco de vinho, a garota mais do que o habitual.

     Entretanto, quando Margarete pensa em levar o risoto à boca com a colher, Beatriz grita “não” e joga o prato de Margarete no chão.

     Obviamente, a presidente da CSB não entende nada. A situação se inflama mais ainda quando a garota cai no chão chorando. Pois finalmente tudo vem de uma só vez e seu corpo ao se ver colocado perante a todos os seus conflitos, não suporta o peso e rompe.

     Margarete, instantâneamente, vai até à menina e a abraça, colocando-a em seu colo a consolando. Ambas ficam assim por alguns minutos até nossa garota revelar tudo.

     Diz que Patrick está vivo e com Fred, diz que não aguenta mais ser rejeitada por seu amado.

     Confidencia que aquela garotinha que a outrora cortara a garganta do pai, ainda vive dentro dela e ela não sabe lidar com isso.

     Enfim, ela vomita anos e anos do que estava guardado em si.

     Margarete, fica perplexa e diz que cuidará de toda situação.

     — Não. Diz Beatriz se levantando. Você não pode. Se fizer isso ele vai matá-lo. Por favor, não vá atrás dele.

     — Mas o que podemos fazer, meu bem?

     — Eu não sei. Entretanto vou dar um jeito.

     — Ok.

    — Margarete?

    — Oi?

    — Ele me contou sobre a Hortência.

    Margarete fica em silêncio.

    — O que ele disse?

    — Tudo.

  — Bom… eu também já cometi erros, meu bem. Erros inimagináveis e o que fiz com ela foi um.

     Nós não éramos apenas amigas, se é que me entende.

     Eu a amei muito e por uma maldita vaidade estraguei tudo. Eu nunca me perdoei pelo que fiz com ela e quando a vi daquele jeito, quis arrancar minha própria carne.

     — Ela nunca te perdoou?

     — O que eu fiz não tem perdão.

 

                                •••

 

     Sabe, leitores, eu fico me questionando o porquê o mundo é como é. Sim, sempre me pareceu que Margarete fosse uma mulher idônea, sem vestígios de qualquer coisa que tange o mal.

     Não, calma, leitor. Não estou dizendo que uma das maiores flores do vale deste escrito é um ser humano que não merece amor nem respeito.

     A reflexão que quero inserir nesta minha breve e chata interrupção é aquela de que o livro é glorioso por fora. É tão belo e sedutor, porém… em suas profundezas há o monstro vestido de traumas e passado.

     Todos temos ele e o leitor seria muito asno se não compreendesse que o objetivo deste escrito é justamente tirar do rio o escondido.

     O que sempre esteve lá e que feliz ou infelizmente, nos torna essa unidade degradante forjada de carne e ossos.

      Porém, há o outro dia e é nele que lanço mão quando tudo desmorona.

     Voltemos a nossa detetive.

 

                                            •••

 

     Beatriz passa pela porta sem ser notada pelos seguranças, ela corre para um corredor escuro e antes de entrar na sala que se lembra de ter visto Fred pela última vez, recua, pois vê um dos capangas de Patrick.

     Assim que ele atravessa ela segue em frente. Quando chega naquele lugar horroroso, com um cheiro imensurável de urina, encontra Fred.

     O coitado está todo ensanguentado. Deve ter levado uma surra. E só de pensar que quem fez isso foi Patrick, seu ódio por ele aumenta.

     Ele está acordado e quando nota Beatriz ali estende a mão. Ela vai até ele.

     — Oi. Diz a garota.

     — Oi. Repete Fred rouco.

     — Eu vou tirar você daqui.

     Dito isso, ela pega sua arma e dá um tiro no cadeado da jaula, abrindo-a. Ela retira seu amado com cuidado e ele com muita dificuldade se move.

     — Minhas pernas doem muito.

     — Eu sei. Mas você consegue andar?

     — Consigo.

   — Ok, então se apoie em mim. Pode jogar todo seu peso.

     — Você é forte, né? Diz ele descontraindo o momento de aflição.

     Ambos seguem pelo caminho até a porta, no entanto antes que cheguem a saída, Patrick os cerca.

     — Ora, ora. Veja se não são os dois pombinhos?

     — Deixe-nos ir Patrick, será melhor para todos.

    — Melhor para quem? Você não cumpriu com o nosso acordo, ainda por cima, vem atrás dele para soltá-lo e quer que eu te deixe ir. Não, nem pensar.

    Beatriz avalia o lugar e nota os capangas de Patrick cercando-a. Então, ela fala bem baixinho no ouvido de Fred:

     — Eu vou precisar te soltar um pouco, tá bom?

     — Mate todos.

     — Eu irei.

     Desta forma, soltando seu amado no chão e sacando sua arma, nossa menina incorpora sua versão que o próprio diabo teme.

     Ela consegue com seus golpes e manobras colocar todos os capangas no chão, um por um.

     No entanto, em um dado momento sente uma bala raspar sua perna direita e perde a força nela.

     Quando nota o autor da lesão, imediatamente dispara de sua arma fazendo-o dormir para sempre.

     Nisso, Patrick a enforca, surpreendendo-a por trás. O ar se finda aos poucos para Beatriz, ela tenta sair das mãos daquele monstro, porém todas suas tentativas são inúteis.

     E quando pensa que seu fim chegou, o momento em que sente que será seu último respiro, um barulho libertador surge no ar: bang.

     Ela sente as mãos de Patrick soltando seu corpo aos poucos, até saírem por completo. Quando olha para o lado, vê Fred colocando a arma no chão.

     Quando olha para sua frente, vê o corpo de Patrick se contorcendo, lutando para que não tirem dele a vida.

      Entretanto, desta vez, Beatriz sabe onde atirar.

     Portanto, ela pega a arma que estava na mão de Fred e a aponta para a cabeça de Patrick.

     — Espero que seja feliz no inferno.

     Bang.

 

                                  •••

 

     Bom, leitores, aqui estamos, até aqui chegamos. Gostaram da história? Eu achei formidável escrevê-la. Mas calma, ainda não acabou. Nem tudo foi dito, há ainda uma última cena.

     Como sabem, gosto de trabalhar com a imaginação, então, concedam em vossas mentes uma linda princesinha, pequena e frágil.

     Seus olhos pertencem a Beatriz e sua boca a Fred. Agora, imaginem ela entrando com as alianças no casamento da nossa garota. Nossa preciosa detetive.

     A pequena entrega as alianças aos pais e Fred mal consegue se conter para dizer a sua amada o que esperou uma vida inteira para dizer.

     E no momento de colocar o anel na mão de sua quase esposa, sua cabeça é fragmentada em pedaços e toda matéria unificada ao sangue, respinga no vestido branco, feito a mão, de Beatriz.

     E ao olhar para o horizonte de onde veio a bala, ela nota uma figura abaixando a arma e sente como desde o início desta história, uma vontade inenarrável de matar.

 

                                FIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.

ARIANO E SUA SINA - VIDA / OBRAS / CURIOSIDADES DE ARIANO SUASSUNA

  Ariano Suassuna foi um dos mais importantes escritores brasileiros, conhecido por sua rica contribuição à literatura nordestina. Suas obra...