Episódio 1
Taça, e mais vinho
Pedro Henrique
O vento levantava os cabelos ruivos de Beatriz fazendo-os beijar o nada. Estava frio do lado de fora do restaurante, entretanto o que de fato a incomodava era o que residia dentro.
Havia ceifado com êxito de sua memória o que vivera com Fred (seu parceiro de trabalho), contudo não se pode fugir da fúria da paixão, ela vai te consumir de qualquer jeito.
Ela está lá, em cada toque hesitante, em cada olhar apreensivo, em cada pensamento intrusivo.
Fred a encara percebendo que está muito quieta. Ele tenta puxar conversa, porém Beatriz não abre mão de manter intacta a muralha que a cerca, a coisa que a segrega do mundo, do sofrimento.
— Até quando você vai ficar me evitando? Questiona o rapaz.
— Eu não estou te evitando.
— Beatriz, desde que chegamos você não prestou atenção em nada do que eu disse.
— Isso é mentira.
— Ah, é? Então, o que eu estava falando neste exato momento?
Beatriz o observa percebendo que ele jamais compreenderá. Irritada, levanta e sai do estabelecimento.
Quando chega em casa nada passa por sua mente a não ser o desejo avassalador que ruge dentro dela por uma taça de vinho.
Na primeira taça, pensa em Fred; no seu cabelo, no seu rosto, na forma engraçada com que fala, no seu jeito de andar, na sua boca.
Na segunda taça, lembra de seu pai, da noite em que o matara, no gosto suculento que escorria do prato da vingança que sentiu ao passar a lâmina de um estilete em sua garganta.
Na terceira taça pensava em Patrick e no lixo de ser humano que, infelizmente, descobriu que ele era.
Taça e mais vinho, taça e mais vinho, taça e mais vinho! Mais, mais e mais! É preciso adormecer o que vive e que merece a morte. É preciso cortar a nódoa explícita que uma madrugada deixou. É preciso manter a barreira e a segregação.
Taça e mais vinho. Sim, mais, pois a vida brada e quando ela brada há de se ter coragem para bater de frente, no entanto, Beatriz não tem coragem, falta-lhe e muito, é perigoso demais voltar lá e ela sabe disso, pena que Fred não.
Caberá somente ao destino decidir qual será o próximo passo desta história.
A RAIVA PARA MATAR
“O
caráter do homem é o seu demônio”
—
Heráclito
Beatriz
entra no local e logo se depara com os rastros de sangue. Olha para o corpo
mórbido à sua frente e não consegue acreditar que se trata de Margarete,
diretora da CSB, sua agência de segurança.
Ela
se aproxima mais um pouco e avalia a bala que penetrou a cabeça de sua
ex-chefe, notando tratar-se do tiro de uma 45 ACP. Ágil, averígua o lugar e
cada membro da CSB que está presente na biblioteca.
—
Quem poderia ter feito isso? — questiona Fred, seu colega de campo.
—
Não sei. Já assistiu às filmagens das câmeras de segurança?
—
Sim, mas foram apagadas no momento em que a mataram. Estamos lidando com profissionais,
Bella.
— Já
te disse para não me chamar assim.
—
Perdão, é que desde aquela noite não...
—
Não aconteceu nada naquela noite — afirma Beatriz, não permitindo que o rapaz
diga nem mais uma palavra.
Ela
se abaixa, passa a mão no corpo de Margarete e beija o buraco permeado de
sangue aberto em sua cabeça, prometendo a ela que descobrirá quem fez isso.
— Sabe
quem vai ocupar a cadeira?
—
Provavelmente Patrick. Três dos membros do Conselho afirmaram que vão
indicá-lo. E...
Beatriz,
querem te colocar para dirigir o reformatório.
—
Claro que não — protesta Beatriz, se levantando. — Só trabalho em campo. E não
vou ficar lidando com um bando de adolescentes problemáticos e domá-los para se
tornarem um de nós.
Fred
olha para ela de maneira irônica, como quem diz: “mas nós éramos adolescentes problemáticos
e difíceis de domar e hoje somos um deles”. Porém, Beatriz o ignora e vai
embora.
Entretanto,
antes de sair pela porta, vira-se para Fred e diz:
—
Avise o Conselho que a tarefa é minha e que enviem outro para o reformatório.
No
dia seguinte, Beatriz vai até a reunião de posse do novo diretor da CSB,
Patrick. Ele se sente vitorioso, pois batalhou a vida inteira para ocupar tal
posição.
Assim
que a cerimônia se encerra, ela vai cumprimentá-lo.
—
Olha só, quem diria.
— É,
agora sou eu quem manda em tudo.
—
Parabéns.
—
Obrigado. E como você está? Sei o quanto ela era importante para você.
—
Vou ficar bem.
— Eu
sei. Fred me contou que você não quer dirigir o reformatório e... Bella, acho
melhor...
—
Beatriz.
—
Beatriz, perdão. Acho melhor não. Sabe que emoção e serviço de campo não
terminam bem.
—
Patrick, eu vou fazer isso. Eu devo isso a ela. Eu faria o mesmo por você. Você
sabe.
— Eu
sei, mas a CSB já está cuidando disso, Bella.
— Já
falei para não me chamar assim.
—
Perdão.
—
Patrick, eu vou, com ou sem a sua permissão, ou a do Conselho — diz ela, se
retirando do local.
Quando
chega em casa, recebe todos os autos do caso. Não sabe ao certo por onde
começar.
Não
era a primeira vez que investigava um assassinato dessa natureza, mas esse lhe
perturbava a cabeça.
Beatriz
repousa seus olhos sobre uma imagem das câmeras de segurança, mas não nota
nada.
Uma
hora se passa, ela já tentou todos os ângulos, mas nada. Duas, três, sete horas
e nada de um suspeito sequer, até que... Ela observa a foto de uma feira. Margarete
gostava de ir a feiras; descobriu isso quando ela a convidou para ir a uma.
Beatriz sempre achou estranho, afinal, não é todo dia que descobrimos que uma
das melhores agentes da CSB, e agora sua diretora, frequentava uma feira como
uma pessoa normal. Todavia, quem poderia compreender
Margarete?
Ela era imprevisível.
Na
filmagem da feira, que fica a poucos metros da biblioteca, Beatriz percebe um
homem encarando Margarete. Ele está de boné preto, com uma jaqueta da mesma
cor. Ela passa alguns minutos da filmagem e para no momento exato em que
Margarete se afasta para ir à biblioteca e vê que o rapaz a segue.
Tenta
buscar em outras câmeras e só encontra a de uma rua em que consegue ver apenas Margarete
atravessando a calçada. Quando o homem aparece, a luz de sua casa apaga.
Beatriz
sente algo atingir em cheio sua cabeça. Rola para frente, passando a mão na
nuca, e quando olha, contempla o vermelho vivo do sangue permeando seus dedos.
Visualiza
a figura que agora voa em sua direção, e ambos travam uma intensa luta. Beatriz
consegue, em alguns momentos, imobilizar o que parece ser um rapaz, porém as
habilidades dele assemelham-se às suas, o que gera certa dificuldade.
Quando
o olhar de ambos se cruza, Beatriz nota que ele possui olhos pretos como a
sombra de um beco.
Ele
a atinge com um murro que a faz cair no chão, e quando ganha fôlego para
continuar a luta, percebe que está sozinha. Olha para a mesinha de centro da
sala e não encontra seu computador. Corre para a janela e não vê nada, vai até
o quarto e o analisa, investiga o banheiro, lavabo, cozinha, guarda-roupa, olha
em cada centímetro da casa, mas nem um sinal do rapaz.
Volta
para a sala e se senta no sofá, passando as mãos no rosto, irada por ter
deixado o homem escapar.
A
campainha toca. Beatriz se levanta, vai até a porta, olha pelo olho mágico e vê
Fred, então abre a porta, deixando-o entrar. Assim que avalia o apartamento,
ele percebe que um ringue se instaurou ali.
—
Alguém invadiu — diz Beatriz.
—
Invadiu? — questiona Fred, preocupado.
—
Sim, eu estava analisando as filmagens das câmeras de segurança quando alguém
bateu com alguma coisa na minha cabeça.
—
Deixa eu ver — pede Fred. Ele averígua minuciosamente o machucado, tocando de
leve no sangue que o cobre. — Você precisa de um médico.
—
Não, eu mesma cuido disso.
DOIS
DIAS DEPOIS
Beatriz
vai até a rua onde ocorre a feira. Tentou refazer o mesmo caminho que
Margarete, na esperança de descobrir algo, porém não obteve sucesso.
Segue
seu caminho em direção à biblioteca, que ainda estava fechada por determinação
da CSB. Pensou em voltar para casa, mas achou melhor ir para a agência.
Chegando lá, foi imediatamente para sua sala averiguar novamente as filmagens.
Ficou
horas colada a elas, analisando com cautela cada uma. Na décima quarta
tentativa, percebeu algo que até então não notara. Fechou o computador e foi
para a sala de Patrick.
—
Tenho algo para te mostrar — disse, colocando o computador sobre a mesa. — Olhe
o jeito de andar dele. Patrick flexionou os olhos, compreendendo onde Beatriz
queria chegar.
—
Você acha que...
—
Sim. Agora vamos.
Patrick
se levanta, seguindo Beatriz, e ambos vão em direção à sala de Fred. Assim que entram,
ela saca a arma e a aponta para o rapaz.
— Ou,
ou, calma aí. O que está havendo?
—
Cala a boca, seu infeliz.
Beatriz
pega o cabo do carregador de celular de Fred, que está em cima da mesa, e o usa
como uma algema para não permitir que ele fuja. Depois, leva-o para a sala de
interrogatório.
Ela
abre o computador e mostra a filmagem para ele.
— O
que tem isso? — pergunta.
— Olhe,
não percebeu nada familiar?
—
Não.
—
Então, deixe-me refrescar sua memória — afirma Beatriz, desferindo sem medo um
murro no rosto do rapaz, levando Patrick a intervir.
—
Beatriz, pare. Fred, vou perguntar só uma vez e é bom que você me responda com
sinceridade. Você sabe muito bem que nós temos formas bem convincentes de fazer
com que conte a verdade.
Patrick
olha de soslaio para os objetos pontiagudos repousados sobre uma mesa no lado
esquerdo da sala, na tentativa de elucidar melhor sua argumentação. — Você
matou Margarete?
—
Quê? Não. Óbvio que não. Vocês estão ficando doidos? Por que eu faria isso?
—
Então, por que o jeito de andar do homem que seguia Margarete é igual ao seu?
Por que, logo após um bandido entrar na minha casa, você apareceu? Você está
escondendo algo. Fale a verdade.
—
Beatriz, não fui eu. Eu juro. E seus argumentos não têm fundamento. Você quer
me acusar só por um jeito de andar?
Beatriz
olha para Patrick em busca de apoio, entretanto ele fica do lado de Fred. Sabe
que não podem acusar alguém sem provas mais eficazes e consistentes.
—
Deixe ele detido temporariamente, até eu descobrir mais alguma coisa.
— Beatriz,
sabe que eu não posso.
—
Não é você que manda em tudo agora?
Ela
recolhe o computador e retorna para sua sala.
Lá,
decide analisar os registros de Margarete, todavia não encontra nada útil.
Nasceu há sessenta anos, não é casada, não teve filhos, foi recolhida pelo
reformatório por venda ilegal de drogas. Beatriz continua a leitura do arquivo
e se depara com um nome inesperado: Anastácia.
—
Quem é essa? — Pergunta para si mesma.
Sem
perder tempo, vai até o setor de arquivamento, solicitando que investiguem quem
é Anastácia. Duas semanas depois, recebe um e-mail informando que encontraram
poucas informações, apenas que o nome está vinculado ao arquivo de Margarete
com a instrução de contatá-la caso algo acontecesse.
Junto
ao corpo do e-mail, havia um endereço associado a esse nome. Horas depois, Beatriz
se encontrava em frente a um sítio antigo no interior do Estado de São Paulo.
Ao chegar, é recebida pelo caseiro, um homem velho e barbudo. Ela pede para
falar com o proprietário, mentindo que se trata de uma velha amiga.
Pouco
depois, Beatriz é recebida por Antônio Vilela e algo a incomoda, pois Vilela é
o mesmo sobrenome de Margarete.
—
Você sabe quem é esta moça? — Pergunta Beatriz, mostrando uma foto de
Margarete, assim que se sentam no sofá para conversar.
O
rapaz arregala os olhos ao ver a imagem.
—
Não posso te ajudar. Você deve estar enganada.
—
Talvez você saiba quem é. Qual é a relação dela com você?
— Já
falei que não sei quem é! — Grita ele. — Acho melhor você ir embora.
Beatriz
obedece às orientações do rapaz, contudo, mais tarde, quando a única coisa que
se ouve é o cantar dos grilos, decide invadir a casa por uma janela aberta.
No
cômodo, não há nada além de alguns sacos de ração. Ela segue pelo corredor,
procurando algo que possa lhe ajudar, até que encontra uma porta aberta. Ao
entrar, vê um escritório e começa a vasculhar o local, como um cão à procura de
um osso, mas não encontra nada de útil.
De
repente, escuta vozes se aproximando. Sem encontrar onde se esconder, saca sua
arma pronta para o que vier. Quando a porta se abre, seus olhos se arregalam,
sua pele gela e seu coração é tomado por um pavor que jamais imaginou sentir.
—
Margarete?
—
Beatriz?
Margarete
se aproxima, abaixando a arma a da garota.
— O
que faz aqui?
— O
que você faz aqui?
Margarete
reflete por um momento e se senta em um sofá à esquerda, juntamente com o homem
que recebeu Beatriz.
—
Não vai se sentar?
Atordoada,
Beatriz se aproxima e se junta a eles.
—
Como foi que me descobriu?
—
Seu arquivo.
—
Ah, sim, eu sabia que aquilo me traria dor de cabeça algum dia.
—
Mas o que diabos está acontecendo aqui?
—
Bom, sabe, é até engraçado. Sempre pensei que, se houvesse alguém no mundo
capaz de me descobrir, seria você. Eu te treinei muito bem. Agora, escute o que
vou lhe dizer e não me interrompa, ok?
—
Ok.
—
Ótimo! Então vamos lá. A CSB sempre foi emancipada das mãos do Estado por um
motivo: queríamos operar seguindo nossas próprias políticas e não toleramos
certas condutas.
Entretanto,
com o tempo, o governo atual começou a seguir um caminho sombrio. Eles
sequestram crianças e acho que você pode imaginar o que fazem com elas.
De
repente, Beatriz se lembra de seu pai e das malditas noites em que ele entrava
em seu quarto, dizendo:
—
Bella, minha querida, o papai está com saudade. Você não brinca mais com o
papai.
—
Beatriz, Beatriz! — A garota volta para a realidade. — Está tudo bem?
— Ah,
sim, está... é que... ignore.
Margarete
olha para ela, e, assim como no passado, vê a garotinha assustada que ainda
vive dentro de Beatriz. Portanto, aperta sua mão e diz:
—
Ele morreu, meu bem.
— Eu
sei.
Elas
continuam a conversa, e Margarete confessa que o presidente queria intervir na
diretoria da agência para facilitar seus negócios ilegais, sem enfrentar
contradições. Margarete soube que planejavam matá-la para que Patrick assumisse
e fosse manipulado pelo presidente.
—
Foi o Fred, não foi? Nós o prendemos. Vamos matá-lo agora mesmo.
Margarete
ri da ingenuidade de Beatriz.
—
Como chegou a essa conclusão?
— Eu
vi as câmeras de segurança momentos antes de você ir à biblioteca. Você estava
na feira, lembra?
—
Ah, sim. Minha querida, deixe-me esclarecer algo. Fred não tentou me matar. De
fato, era ele nas filmagens, mas ele estava me protegendo. Tenho muitas pessoas
leais a mim na CSB.
Assim
que soube da conspiração, pedi o apoio dele, e, como sempre, ele foi leal.
—
Quando fui à biblioteca, era... Bom, deixe-me mostrar algo.
Margarete
se levanta, vai até a escrivaninha e retira um envelope de uma gaveta. Ela pega
uma foto e se aproxima.
—
Tome.
Quando
Beatriz olha para a imagem, não percebe de imediato o que Margarete quer
mostrar e ao ler o nome “Anastácia”, fica ainda mais perturbada.
—
Anastácia é minha irmã gêmea — confessa Margarete. — Anos atrás, ela trabalhou
para nós, mas optou por seguir outros caminhos não tão bons. Contudo, ela era
minha irmã. Nós sempre marcávamos de nos encontrar uma vez por ano na
biblioteca municipal e...
Margarete
encara o chão, como se não acreditasse no que estava prestes a dizer.
—
Mandaram ela para me matar. Sabiam que nenhum agente deles conseguiria um contato
tão próximo comigo, exceto ela. Mas Fred foi mais rápido ao apertar o gatilho.
—
Então, quer dizer que o corpo na biblioteca...
—
Não era meu. Escute, Beatriz, você não está segura na CSB. Eles vão atrás de
você.
— Já
vieram.
—
Como assim?
—
Alguns dias após o crime, eu estava observando as imagens quando alguém invadiu
minha casa e me atacou, enfim. Mas, Margarete, se eles querem nos matar, o que
vamos fazer?
— O
que eu deveria ter feito há muito tempo.
— E
o que é?
—
Matar o presidente.
— O
quê? Isso é impossível!
—
Não, não é. Venho pensando nisso há algum tempo. A guarda dele passou por
algumas alterações. Eles queriam os melhores homens em termos de segurança, e
onde acha que os encontraram? — Nossa agência forneceu os melhores que temos,
entre eles…
—
Fred.
—
Exato.
—
Mas, e quanto a mim? Por que não me contou nada?
—
Não é pessoal, meu bem. Você é a melhor que eu treinei, não tenha dúvidas. Mas
você é muito impulsiva, não saberia se conter. Poderia acabar estragando o
plano.
Margarete
instrui Beatriz a conversar com Patrick e explicar que Fred é inocente. Agora
que ela sabe a verdade, eles poderão trabalhar juntos. Margarete revela que o
presidente participará de um jantar no Palácio da Alvorada na semana seguinte,
com investidores dos negócios ilegais.
Ela
orienta Beatriz a se voluntariar para a guarda com Fred e a fazer o que sabe
fazer de melhor: matar.
—
Depois, contarei toda a verdade ao conselho. Como estou viva, a cadeira voltará
para mim, pois no documento de transferência não consta minha assinatura. Seria
contra a política da agência se não me devolvessem o meu lugar. Entendeu bem,
Beatriz?
A
garota assente.
—
Ótimo. Você sabe o que deve fazer.
UMA
SEMANA DEPOIS
Beatriz
patrulha os corredores do Palácio da Alvorada, sem perceber nada estranho. O
plano está saindo conforme o previsto. Ela retorna à sua posição na sala de
jantar, observando cautelosamente a mesa. Seu estômago se revira ao ver todos
aqueles senhores milionários rindo e se deleitando com a desgraça de milhares
de crianças.
Ela
olha para Patrick, e a incredulidade percorre suas entranhas. Não consegue
acreditar que aquele é o homem que a tirou de sua antiga vida. Quando se
voluntariou, teve uma dificuldade colossal para manter a atuação e convencer
Patrick de que sabia do que ocorria entre a agência e o presidente. Patrick não
se convenceu de imediato.
—
Acho melhor não — disse a princípio, mas não conseguiu resistir a Beatriz. Na
verdade, ninguém conseguiria.
—
Está quase na hora. Você está pronta?
— Eu
nasci pronta — responde ela a Fred, através do comunicador no ouvido.
—
Ok.
Cinco
minutos depois, Beatriz ouve um “agora” em seu ouvido, saca a arma da cintura e
dispara na cabeça do presidente. Os guardas presentes pegam suas armas e
avançam com força total contra ela, mas se esquecem de que seu ódio é nutrido,
por já ser uma daquelas crianças.
Beatriz
executa com precisão cada manobra que lhe foi ensinada. Ceifa todos os agentes
e guardas presentes deixando Patrick por último. Ele sabe qual será seu destino
e tenta pegar sua arma, mas uma faca chega primeiro em sua mão e, em seguida,
na outra.
Beatriz
se aproxima com uma fúria que faz ferver as lembranças do passado,
ressuscitando cada gotícula daquela garotinha que ela foi um dia. Lembra-se da
noite em que fez o estilete encontrar a garganta de seu pai e sente novamente o
gosto odioso da vingança em sua boca.
—
Sabe, Patrick, uma vez você me disse que o caráter define o homem. Eu te
admirava tanto.
Você,
justo você, de todas as pessoas neste mundo.
—
Vai à merda.
—
Ah, acho que não.
Bang!
Episódio 3
A MORTE É O PREÇO
A garota abre os olhos
quando se depara com o rosto formidável de uma senhora a encarando. Ela olha
por alguns segundos para os olhos um tanto curiosos da velhinha, contudo a
ignora quando o ônibus para e sua mente também. Não quer pensar em trabalho, por
esse motivo optou por esta viagem; todavia, já está se arrependendo.
Beatriz até que gosta da
sua vida no trabalho. Bom, lidar com mortes e crimes que arrepiam os cabelos,
não é lá o emprego que toda garota queria ter, mas Beatriz não é qualquer
garota.
Todos
descem do veículo, inclusive a senhora que observava minuciosamente Beatriz.
Patrícia, a guia turística, diz a todos para fazerem o check-in e se acomodarem
em seus respectivos quartos, visto que a viagem foi longa e que amanhã o dia
será recheado de aventuras.
Beatriz
se vê a passos curtos de mergulhar nessa aventura, porém algo nela a incomoda;
sabe que, quando sente essa fisgada no peito, alguma coisa está prestes a
acontecer, mas ignora essa súbita e um tanto silenciosa sensação.
Ao
chegar ao quarto, não pensa duas vezes em fazer com que seu corpo saboreie com
pressa o conforto da cama, e não demora muito para o sono bater à sua porta. A
garota se sente morta, por esse motivo a abre e o convida a entrar. O sono
começa a vir e se instaura por completo em poucos minutos.
Beatriz
se deleita nesta coisa boa que é dormir. No entanto, quando sua mente está
prestes a contemplar o ponto mais alto e profundo de se estar no vácuo do
mundo, um grito corta os corredores, fazendo-a em um pulo levantar e correr em
direção ao som.
Ela
segue aquela voz grave e potente que se alastra pelos corredores e, quando
percebe, chega a um quarto. A vida ri de Beatriz naquele momento, como sempre a
vozinha conhecida e odiada, legítima, a qual é a mais segura das que há na
mente da garota. Beatriz, incrédula, aproxima-se do corpo da criança que se
encontra no centro de uma poça de sangue, tornando aquelas poucas horas de
maravilha um verdadeiro filme de terror.
Terror
por vezes é o sentimento que ela queria sentir, pois o que reside dentro de seu
peito é um ódio colossal. Só havia pedido uns dias em paz, longe de tudo que
representa seu cotidiano, e a vida lhe dera isso?
Ela
sai do quarto atormentada e, sem perceber, esbarra em Kamila, sua conhecida do
serviço. Kamila é delegada e, pelo que se pode inferir a partir do cenário
posto, é quem cuidará do caso.
Ambas
vão para um lugar afastado, e a delegada situa Beatriz sobre o ocorrido e pede
sua ajuda. Diz a ela que se trata de algo desconhecido, que não há sequer
imagens de câmeras de segurança que ajudem a chegar ao culpado, e que,
portanto, todos são suspeitos, inclusive Beatriz.
A
delegada afirma que sabe de sua especialidade para cuidar de casos assim e
insiste para que ela tope ajudá-la. A garota não vislumbra outra saída, então
aceita. E assim suas belas férias vão morte abaixo.
No dia seguinte, Beatriz
pega os autos que a polícia tem para dar início a seu trabalho. E, como Kamila
havia lhe dito, a polícia não tem nada, sendo assim, Beatriz vai onde tudo
começou: o quarto. Chegando lá, se depara com a senhorinha que lhe encarava no
ônibus.
A
senhora, por sua vez, quando olha para Beatriz, fica encantada, abre um sorriso
meigo e se aproxima. Ela pergunta se Beatriz é da polícia, e Beatriz se vê
coagida a dizer que sim, pois tem ciência de que não pode sair por aí dizendo
sua identidade aos quatro ventos.
A
senhora responde que já suspeitava que Beatriz fosse policial e atribui tal
tese ao fato de ela ser muito séria. As duas permanecem conversando, e a
senhora, que até então permanecia em anonimato, diz se chamar Vilma e fala que,
para qualquer coisa, Beatriz pode contar com ela.
Porém, antes de ir embora,
Beatriz a questiona sobre o motivo de estar ali. Vilma responde que ficou
curiosa, confessou que só viu um crime em sua vida, e foi quando seu filho
morreu; contudo, não quis tocar no assunto, afirmou que doía falar da perda e,
de fato, deveria doer.
E
Beatriz compreendeu, pois, ainda que não fosse mãe, podia sentir a profunda e
intangível ferida que se projetava nos olhos daquela mulher.
Vilma
foi embora, e Beatriz começou o que veio fazer. Antes, olhou cada centímetro do
lugar e, agora, procurava pelo corredor, mas nada encontrava. Decidiu que era
hora de parar e continuar no dia seguinte.
Optou por ir a um
restaurante perto do hotel porque ouviu dizer que lá a comida era divina.
Quando
chegou, foi muito bem recebida. Queria comer lagosta, e assim se fez. Após o
banquete divino, pediu a conta e foi ao caixa pagar. Assim que deu seu cartão,
algo chamou sua atenção. Não era algo grandioso, porém curioso.
Havia
uma foto de Vilma atrás do balcão com a seguinte frase: bruxa. Beatriz, a
princípio, achou estranho e perguntou à balconista sobre a foto. A balconista, por
sua vez, respondeu que aquela era uma antiga velhinha daquela pequena cidade.
Revelou que rondavam boatos de que ela falava com o próprio diabo e que fez uma
promessa a ele de matar quantas crianças pudesse.
—
Dizem que ela matou o próprio filho e deu pro demônio comer.
—
Meu Deus! Mas por quê?
—
Para pagar uma dívida.
—
Dívida?
—
Sim.
—
Essa moça tinha um câncer terminal, e para não morrer, fez um trato com o diabo
para poder viver e, em troca, ela mataria crianças.
—
E nunca prenderam ela?
—
Prender, prenderam, porém, não tinham provas contra ela, então tiveram que
soltar.
—
E onde ela está agora?
—
Ah, minha filha, ninguém sabe.
Beatriz começou a se sentir
enjoada, sentia seu estômago revirar sempre que ouvia algo relacionado a
crianças. Soube na própria pele o que é ser ferida na infância. Portanto, saiu
o mais rápido que pôde para a pousada, pois se lembrou da filha de Patrícia,
que estava com a mãe no passeio, e temeu pela vida da pequena.
No
entanto, o mal, como sempre, chega prévio e faz um estrago em tudo que toca. As
lágrimas no rosto de Patrícia já denunciavam tudo. Eram 00:26 e estava feito.
Beatriz aproximou-se de Patrícia e, junto àquela mãe, ofereceu a sua sincera
empatia. As lágrimas das duas fundiram-se em um louvor ao morto que nascia para
a outra vida.
Contudo,
o ódio que nocauteava suas vísceras foi maior. Beatriz se levantou e foi em
direção ao alvo. Quando encontrou Vilma, não esperou duas vezes, desferiu, sem
piedade, as costas de sua mão no rosto da idosa.
De
repente, um tapa virou dois, dois viraram três, três viraram sete, e sete
viraram uma surra. Vilma ficou sem entender o porquê de estar apanhando daquela
forma, apenas gritava e rogava a Beatriz que parasse.
—
Para de farsa, sua maldita, eu sei que foi você.
—
Eu o quê? — Perguntou Vilma com a boca cuspindo sangue.
—
Eu sei de tudo. Sei que você mata crianças para pagar uma promessa que fez ao
diabo. Sei que foi você que matou a garotinha na noite de ontem, e sei que foi
você que matou a filha de Patrícia. Outro tapa, outro soco, outro chute e mais
uma surra.
Quando
Beatriz percebeu que já estava quase matando Vilma, apenas a jogou como um saco
sem uso na parede esquerda de seu quarto e a imprensou com o antebraço.
—
Confessa. Confessa, sua maldita.
Vilma a encarou com os
olhos fixos e, de repente, aquela senhorinha meiga e formidável desapareceu,
abrindo espaço para outra, perversa e, sobretudo, cruel.
—
A morte é o preço, minha cara.
Episódio 4
O PESO DA MÃO DA VIDA
Quanto sofrimento um ser humano suporta?
Quantas lágrimas a alma precisa derramar? Quantas perdas há de se ter para
chegar ao fim? Lembro de tudo. Lembro-me de como era doce e amável. E quando lembro,
me questiono o porquê de a vida ter feito o que fez.
Era apenas uma garota. Era apenas uma
criança. Beatriz rola de um lado para o outro na cama e sua mente é tomada por
porções grandes de um passado que deixara para trás, mas que a persegue. Como
hiena correndo atrás de sua presa para provar o gosto suculento de carne.
Os pensamentos são os mais diversos
possíveis, todavia a lembrança busca em seu âmago o fragmento único e guardado
dos dias em que a genuinidade a abraçava. Trata-se de sua mãe. A projeção é
clara: praia. Castelos de areia e o abraço consolador da mulher que lhe dera a
vida.
Beatriz chega a sorrir quando se recorda
desse singelo momento. Sua mente a apresenta novamente à luz da existência.
Pode sentir o cheiro acalorado do mar em seu nariz. Há nos olhos de sua mãe uma
tranquilidade que era de seu costume passar. A garota sente em seu peito, aqui
no presente, a nobre sensação de se sentir segura, amada, especial.
Lembra-se de correr de um lado para o
outro, gritando:
—
Mamãe, mamãe. Olha o castelo de areia que eu fiz. É o castelo mais lindo do
mundo.
E a
voz de sua mãe vem tão audível em seus ouvidos:
—
Que lindo, minha princesa.
E assim a vida se fazia para Beatriz, não
tinha nada a pedir, nada a condenar; apenas queria um balde e uma pá de
brinquedo, para castelos de areia montar. E sobre o olhar fraterno de sua mãe,
o universo e a Via Láctea eram seus, todinhos seus. Tinha em suas mãos a
alegria e ela lhe divertia de forma simples, pois a vida deveria ser simples.
Mas… enfim.
É, leitores, há de se ter coragem para
mergulhar na lembrança, pois, como Beatriz nesse momento, o peso da lágrima
pode massagear seu rosto, revelando-lhe o poder da efemeridade do tempo e de
como o soco da vida pode doer.
Soco esse que tira a alegria e a
ingenuidade, soco esse que apaga quase que de forma plena uma memória do que é,
de fato, viver. Saibam que na vida há de se defrontar com o maligno, isso é
inerente à construção da persona forte e inabalável, no entanto, o injusto
reside no excessivo. E a dor te acompanha para sempre, impedindo-te de olhar o
que é bom e agradável.
Beatriz se levanta e vai até a sacada,
olha para o horizonte que se apresenta diante de seus olhos e enxuga outra
lágrima que corre por sua bochecha, sentindo, como desde o dia em que sentira
pela primeira vez, o peso da mão da vida.
Episódio 5
UMA AMIZADE VERDADEIRA
Beatriz
está mais uma vez em uma nova jornada. Sua chefe, Margarete, decidiu enviá-la para
um curso de hackers. A garota, apesar de ser filha da geração do eletrônico,
nunca foi uma especialista no assunto.
Sabia
fazer o básico e nada mais, e como os tempos estão mudando, agora precisa se
aprofundar. Ela até que gostou da ideia, tinha
ciência de que, depois desse intensivo, aprendendo mais e mais sobre o mundo
virtual, ninguém seria páreo para ela.
Porém,
o que não esperava era que, além de fazer a aquisição de novas habilidades,
também adquiriria uma nova amizade. Seu nome? Ah, sim, Vanessa.
Ambas
se conheceram assim que chegaram. Bastaram três taças de vinho e uma conversa
muito agradável, e pronto: o destino as selou. Beatriz vislumbrou muito de si
na garota. Vanessa também conseguiu visualizar-se na nova amiga.
E
assim, seguiu esse rio de águas turvas que eram, pois, apesar de ocultar aquilo
que temiam dizer ao mundo, puderam projetar-se uma na outra, dando-as o
precioso ombro amigo que tanto ansiavam, para que no momento cuja lágrima
estivesse a postos, pudessem correr uma a outra e dizer: amiga, me ajuda.
A
colega chegou a revelar, certa feita, que estava naquele curso, pois queria
trabalhar um dia na NASA, como seu avô. Falou que ele foi um dos cientistas de
computação de lá e que ambicionava trilhar o mesmo caminho.
Beatriz
ficou impressionada com Vanessa, e confirmou sua tese de que a nova companheira
era verdadeiramente um gênio. As duas viviam assim, conversando sobre os mais
diversos assuntos. Vanessa não hesitava em contar suas aventuras, e Beatriz
ficava admirada com seus relatos, sempre ficando perplexa com a entrega da
amiga à vida.
A
menina invejava o modo como a colega vivia. Ela não tinha medo de nada, era
ousada, astuta e sempre disposta a se jogar no improvável. Diferente de
Beatriz, que era azeda, reservada e ai daquele que ousasse questionar sobre o
seu passado. E, por graça da vida ou por alguma outra coisa cuja nomenclatura
não me vem no momento, sua nova amiga resolveu lhe questionar sobre sua
família, já que Beatriz nunca falava a respeito. Beatriz ficou um pouco irritada, porém, vinha se preparando para esse
momento, pois tinha a convicção de que esse dia chegaria.
Portanto,
a agente manteve sua postura e tentou se acalmar, resolveu dizer o que dizia
para todos aqueles cuja verdade não podia ser revelada: disse que os pais
faleceram em um acidente de carro, tendo sido criada por uma tia cristã, irmã
de sua mãe, e era isso, fim da história.
No
entanto, a verdade sempre submerge, sendo encontrada por quem menos se espera.
Numa noite, após voltarem de um restaurante, Beatriz convidou Vanessa para ir
ao seu quarto. A garota aceitou e as duas tiveram uma conversa profunda sobre a
vida e o que ainda queriam dela, acompanhadas por um delicioso chá de hortelã.
Em
certo momento, Vanessa falou de seu namorado, que morava em outra cidade e
cursava medicina veterinária, e, curiosamente, disse a Beatriz se ela também
tinha namorado. A moça elevou seu imaginário a Fred, mas ignorou por completo
aquele pensamento intrusivo.
Sabia
que entre os dois não poderia haver nada. Na verdade, não só entre os dois:
Beatriz era uma alma que divagava pelo mundo e fazia isso sozinha. Sem
companheiros.
Vanessa
percebeu que a amiga não queria tocar no assunto, portanto, não a forçou.
Entretanto, a ferida havia sido encostada e Beatriz precisava esvaziar a
cabeça, para que assim seus pensamentos intrusivos não dominassem sua mente.
Portanto,
educadamente, levantou-se da cama e foi ao banheiro lavar o rosto. E, ao
lavá-lo com água corrente, ansiava que o líquido levasse também tudo o que ela
era, tudo o que nunca foi, toda aquela angústia que a perseguia e mordia sua
carne, como um cão saboreando o santo alimento.
Vanessa,
astuta como era, aproveitou a oportunidade de ausência da amiga para buscar
mais sobre ela. Tinha um desejo vindo do profundo em saber mais, sentia que
Beatriz escondia algo sempre. Como se só se atrevesse a mostrar apenas uma
parcela de seu ser, e a amiga o queria completo, com todas as cicatrizes e
lepras. Com tudo que é ruim e bom, queria a companheira por inteiro e não só
uma simples casca. Queria saber, sentia que precisava saber, então decidiu
averiguar sua bolsa e lá, dentre os diversos pertences, encontrou a carteirinha
de agente de Beatriz.
Quando
Beatriz retornou do banheiro e viu o que considerava ser sua amiga, mexendo no
que não lhe pertencia, correu até ela e lhe deu um mata-leão.
Vanessa
sentiu-se temerosa e, quando questionada do porquê estava olhando o que não era
seu, respondeu que foi movida por um desejo incontrolável de curiosidade.
Afirmou
que não era nada demais, e que não imaginava que Beatriz fosse quem acabara de
descobrir quem ela era. Disse que não contaria para ninguém, que ela poderia
confiar nela, afinal, eram amigas. “Não somos? ”
Beatriz
não se convenceu a princípio, mas quando sentiu as lágrimas escorrerem dos
olhos da pobre coitada, de tão assustada que estava, constatou que poderia depositar nela confiança.
A
garota revelou detalhes e contou quem ela era de fato. Falou que trabalha em
uma agência secreta e compartilhou também o porquê de ter se sentido mal ao ser
provocada sobre se tinha um relacionamento.
Vanessa
a abraçou e, para quem parecia não ter segredos, também revelou suas verdades.
Confessou a Beatriz que seu avô não trabalhou na NASA coisa alguma. Afirmou que
só disse aquilo, para dar-se um pouco de dignidade. Não era ninguém no mundo,
não passava de uma garota de TI que nunca teve oportunidade de ir além e que só
estava ali para aperfeiçoar seu currículo.
Ambas
se acolheram e sentiram a dor uma da outra, vislumbraram nos comportamentos de
suas almas a pureza de uma amizade e a ânsia por mais da vida. E como o destino
não dá ponto sem nó, Beatriz disse que talvez pudesse falar com sua chefe a
respeito da nova amiga, e quem sabe ambas poderiam trabalhar juntas na agência.
Vanessa
se animou com a ideia, então, dois meses depois, ingressou na CSB. E o que
parecia apenas alguns míseros dias aprendendo a hackear o computador alheio, se
tornou um encaixe coeso de almas.
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