A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O espelho, os vagalumes, e o arco-íris - Jany Patricio



O espelho,  os vagalumes, e o arco-íris   
Jany Patricio
               
Marcos atravessou o espelho do sótão junto com os vagalumes. Escorregou por uma cascata, caindo na relva úmida cercada de pedras musgosas.

        Curioso, seguiu os insetos, que eram em número de sete, cada um piscando uma cor do arco-íris.

        Adentraram numa floresta onde tudo era vermelho.  A terra, os troncos, flores e folhas  das árvores, as formigas, cogumelos, borboletas, lagartos, esquilos, coelhos, tartarugas,  pássaros , tudo! O sol brilhava na luz vermelha e no céu passeavam nuvens vermelhas.

        Quando olhou para suas mãos, estavam vermelhas. Procurou um lago para ver o seu reflexo na água, que também era vermelha, viu-se vermelho por inteiro.

        Porém, os vagalumes piscavam colorido, olhando para trás para ver se o garoto os seguia.

        Passaram por uma floresta laranja, depois amarela, verde, azul, índigo e finalmente, violeta.

        O garoto estava muito cansado, não conseguindo mais seguir seus amigos voadores, que por todo percurso eram coloridos, parou numa clareira violeta, encostou a cabeça numa pedra violeta e dormiu.

Vendo que o menino parou de segui-los, os insetos deram meia volta, e começaram a crescer. Cresceram, cresceram, até conseguirem carregar Marcos acima das nuvens, indo parar numa gruta, onde um fio de água mostrava o caminho para um lago dentro da montanha onde o soltaram.

Ao cair na água fria o garoto acordou, vislumbrando dentro da caverna uma arca que cintilava em todos os matizes de cores. Mas, uma correnteza o arrebatou. Ele tentava dar braçadas, mas a força da água era tão forte que o jogou para cima, indo sair no chafariz do jardim da sua casa, onde uma fina garoa formava junto com a luz do sol, um lindo arco-íris.

- Vejam! Lá está ele! – disse uma das crianças.

- Venha Marcos, a mamãe está preocupada com você.

Ele estava com muita fome. Sentiu o aroma da torta de maçã e foi correndo para casa.

- Meu filho, você está todo molhado, vai ficar resfriado!

Após tomar um banho quentinho, sentado no sofá, saboreando a torta de maçã com sorvete de creme, cercado pelos irmãos e abraçado pela mãe, Marcos viu sete vagalumes entrarem pela janela, cada um piscando para ele numa cor do arco-íris e saindo, como que dizendo:


- Este é o nosso segredo!

ROMEU E JULIETA EM TEMPOS MODERNOS! - Dinah Ribeiro de Amorim



ROMEU E JULIETA EM TEMPOS MODERNOS!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Tom, natural da Inglaterra, aos doze anos apaixona-se por Anne, sua vizinha e colega de escola. É o início da puberdade, quando os hormônios estão à solta, qualquer atração se transforma em paixão avassaladora.

  Frequentador de baladas com amigos, desinteressa-se por outras garotas que o cercam, achando em Anne o verdadeiro amor de sua vida. Olha-a de longe, admirando seus cabelos louros, rosto bonito e alegre, grandes olhos azuis. O primeiro amor da juventude!

  Fica surpreso quando percebe que é correspondido, tornando-se namoro sério o que nascia entre eles.

  Com o tempo, seus pais percebem o relacionamento e, como eram de posições sociais muito diferentes, resolvem interromper esse namoro. O pai de Tom, um pobre homem de ideias socialistas, e o de Anne, rico e grande capitalista.

  Os jovens sofrem muito e se encontram às escondidas.

  Descobertos, o pai de Tom resolve se mudar para a França, levando a família, arrumando novo emprego e deixando o partido.

  Anne, desesperada e saudosa, foge de casa, encontrando-se com Tom às margens do rio Sena. Sem trabalho e dinheiro, atraídos pelas águas desse grande rio, suas ondas suaves, de brilho manso e eterno, jovens  imaturos e inexperientes que eram, resolvem por fim à vida. Seria a melhor solução para eles.

  Quando vão saltar, aparece-lhes um anjo em forma de velho, puxando-os com uma bengala. Sabedor da situação, aconselha-os a não pular, mas a trabalhar para viver. Eram jovens demais para morrer sem saber o que a vida ainda lhes reservava.


  Sábio conselho! Atualmente, ambos são bem sucedidos na vida, casados, cada um com outra pessoa, lembrando sempre com gratidão aquele senhor idoso que os impediu de uma loucura. Chegaram a  conclusão de que a vida é realmente importante e não devemos desperdiçá-la!

Poesias de Jorge da Paixão


O Ser é vida
Jorge da Paixão       

A sensibilidade faz,
meu coração palpitar...
Vem a razão e me trás,
o direito de amar...   

O realismo é existência....
Existência é verdade...
O amor é uma ciência,
Que constrói felicidade...     

Viver é sentir motivo,
com o coração otimista....
Tendo pensamento positivo,
poderá galgar á conquista...

A construção do amor,
é feita no coração...
A alma gera o calor,
que faz a lapidação...  

O ser é vida....
O amor é luz...
O coração faz acolhida,
do que a Natureza produz...  

A minha fé é genuína,
pura, sem objeção...
Uma decisão divina....
Livre do meu coração...

Minha esperança é colorida...
O meu amor é um hino...
Deus, é a luz da minha vida...
O leme do meu destino...




A humildade é o espelho
Autor: Jorge da Paixão    

É a brisa perfumada,
que trás o aroma da flor...
Nesta noite enluarada,
e me embriaga de amor...

Não sente melancolia,
e nem faz reclamação...
O otimista noite e dia,
sente paz no coração...

O piedoso é quem sofre,
mais do que o sofredor...
Por ter um coração nobre,
iluminado de amor...

Um ano é um rosário,
e cada dia uma oração...
O futuro é o itinerário,
para a realização...    

Quem tem confiança em si,
ativa a luz do viver.....
Feliz no mundo a sorrir...
Vendo o jardim florescer...

A humildade é o espelho...
O entusiasmo o calor..
No meu coração vermelho...
O paraíso do amor...




A lâmpada é meu coração
Autor: Jorge da Paixão    

Meu coração é um paraíso,
aonde o amor veio morar...
Assumindo o compromisso,
de nunca lhe abandonar...   

Meu coração exprime ,
doce esperança a sonhar..
Num sentimento sublime,
cheio de amor para ofertar...  

Da luz sublime da minha vida,
a lâmpada é meu coração...
Pela esperança colorida,
trazendo o amor em amplidão   

Em tudo de belo que penso,
a poesia me inspira...
Com este amor imenso,
que no meu peito gira..

Em nenhum momento,
não consigo me esquecer...
Guardo em meu sentimento,
a saudade com prazer...

Tem um lugar determinado,
do amor em meu coração...
Que eu guardo com cuidado,
e profunda gratidão...




Desabafe num sorriso
Autor: Jorge da Paixão

No sorriso o sucesso,
da conquista da vitória...
A partida e o regressa,
permanecem na história.... 

O sorriso fortifica,
a sincera amizade...
E também significa,
Alegria e lealdade...

Um sorriso de bondade,
Traduz todo conteúdo...
A paz trás felicidade,
e o amor na vida é tudo...    

Desabafe num sorriso,
a magoa  do coração...
E se sinta no paraíso,
ao fazer sua oração...   

O sorriso é o carinho
da alma para a Natureza...
Um venturoso caminho,
da ternura com certeza...



Me encanta a Natureza
Autor: Jorge da Paixão    

Dentro de mim, mora o amor....
Bem no fundo do meu coração...
Tão sublime como a flor...
No jardim da perfeição....

Quem voa é o avião...
Você vai nele sentado...
Sentindo no coração...
A saudade do passado...  

A esperança cristalina,
numa linda posição...
Que com o amor combina,
dentro do meu coração...

É tão linda a elegância,
das flores ao perfumar...
E sem medir a distancia,
Vem a brisa lhe soprar...   

Me encanta a Natureza,
com seu charme de esperança...
Parecendo uma princesa,
quando uma poesia declama...

O mundo é maravilhoso,
para quem sabe viver...
Nele o Sol majestoso,
mais um dia vem trazer...




A aurora envaidecida
Autor: Jorge da Paixão  

O frio precisa de agasalho...
O coração de amor...
E o jardim do orvalho,
para cair sobre a flor...

No jarro vou colocar,
uma linda rosa amarela..
Para quando eu acordar,
poder conversar com ela...

A hora é que numera,
cada instante da vida...
Aonde o futuro espera,
a esperança prometida...


Perfumada de amor,
no jardim tão docilmente...
A singeleza da flor...
trás a paz alegremente...


A aurora envaidecida,
esclarece a verdade..
Radiante e colorida,
cheia de felicidade...

O tempo passa...
Mas a saudade fica...
E o coração realça,

o que o amor significa...

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

DESTINO ALTERADO - M.Luiza de C.Malina


DESTINO ALTERADO 
M.Luiza de C.Malina

- É evidente que é no meu, e continue a me chamar por senhora.

- Por que evidente, e por que  “senhora”?

- Porque já percebi que o senhor é um tanto entrão.

- Eu? Não, não. É a senhora.

- Ora! Vamos dizer que somos nós dois.

- É vamos dar a mão à palmatória. Afinal somos dois ratos de lixo alheio.
- E quanto ao lixo: no meu ou no seu?

- No seu, estaremos na sua cozinha. Sabe... A senhora não é boa observadora.
- Como assim?

- A senhora se apega a detalhes, não ao essencial.

- Então... Diga-me onde falhei.

- Aprecio bons vinhos. A garrafa sempre está no lixo. Nunca a rolha.
- E o que tem a ver a rolha com o lixo?

- Nada. Nada mesmo. Está vendo como a senhora não sabe nada sobre mim!
- E daí? Por um acaso, pinta seus bigodes com ela?

- Ah! O seu senso de humor... hahaha! A senhora perceberia através da falta da rolha, que sou um colecionador.

- Colecionador... Garanto que enche a casa de tranqueiras.

- Ah! este senso de humor...

- Como assim?

- O lixo é tão descartável quanto a senhora.

- Explica.

- Fácil. O que vai pro lixo é descartável.  Acho que é melhor não tirarmos conclusões com o lixo alheio. Passe bem!

Por coincidência, nunca mais colocaram o lixo em seus andares.


(Trabalho criado sobre a crônica O Lixo - de Luís Fernando Veríssmo)

A MAGIA DENTRO DO ESPELHO! - Dinah Ribeiro de Amorim



A MAGIA DENTRO DO ESPELHO!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Carlinhos começou a olhar fixamente para o espelho do armário. Estava na adolescência, idade crítica, quando se observa qualquer espinha ou sinal novo que aparece no rosto.

  Sua imagem refletida, mostra também, objetos pessoais, livros colocados em uma estante, sua cama, alguns cartazes de shows e esportes radicais.

  Tanto olhou que, de repente, as coisas começaram a se mexer, dentro do espelho. Os objetos voavam e circulavam a sua cabeça, a cama arriou, os cartazes caíram ao chão como se tivessem sido arrancados e, seus livros prediletos, ah! Seus queridos livros, se abriram, saltando deles personagens assustadores.

  Homens usando armaduras e capacetes, com espadas na mão, gladiavam-se. Feras bravias, raivosas, famintas, ameaçavam avançar sobre ele. De um livro, um vampiro, horroroso, maquiavélico, olhava-o gulosamente, desejoso de sugar seu sangue. Morcegos barulhentos o acompanhavam, abrindo suas asas escuras e brilhantes, escurecendo o dia. Com dentes aguçados, lotaram o quarto.

  O menino, desesperado, não conseguia fugir nem desviar seus olhos. Estava paralisado, aguardando coisas piores ou o seu fim. Queria gritar, chamar seus pais, mas não conseguia.

  Alguns livros ainda não tinham sido abertos e, Carlinhos, antevendo o que haveria, conhecedor dos conteúdos, acreditou que sua hora chegara!

  “Por que comprara esses livros!” Pensa ele, arrependido.

  Realmente, de outro livro, surge uma mulher diabólica, meio bruxa meio fera, de olhar faiscante, cabelos vermelhos semelhante a fogo, soltando baforadas de fumaça, apontando uma varinha em sua direção, firme, com garras no lugar de mãos, ameaçando-o transformá-lo num sapo com gargalhadas estridentes.
  De repente, para seu espanto, abriu-se um livro da infância “A Casa Sonolenta”, esquecido no meio daqueles outros. De dentro dele saíram a vovó de vassoura na mão, expulsando os gladiadores e a bruxa, com um grito. O cachorro amigo, com seus latidos, expulsa os morcegos invasores e o vampiro. As feras raivosas se encolhem medrosas com o gato e o rato, fugindo para dentro do livro. A pulguinha, graciosa e saltitante, que acordara todos eles para auxiliá-lo, dá-lhe uma coceirinha no pescoço, libertando-o daquela alucinação.

  Tudo volta ao normal! Carlinhos acalma-se.


 Que bom ter conservado aquele inocente livro da infância! - Pensa.

CÃES E GATOS - M.Luiza de C.Malina



CÃES E GATOS
M.Luiza de C.Malina

Cães e gatos vizinhos não combinam. Muito menos as vizinhas.

A vizinha, dona do cão de raça Dog Alemão, não suporta os 27 gatos uivando no cio e de sobra, fazendo sujeira no seu jardim, tampouco a gritaria que a mesma faz com os  filhos. A gritaria é tamanha que ao abrir a janela, o cão pula no muro latindo para a mesma. Acredito que o timbre da voz o incomode.
- Eu mato este cachorro, juro que o mato... Julianoooooo! Grita a vizinha chamando o filho.

- Au... Au... Au...

- Julianooooo! Está surdo? Venha aquiiiiii!

- Auauauauauauauauauauuuuuu!

- Ploft (a janela é fechada com toda a força) A conversa continua em tom de briga e o cachorro fica inquieto, sem latir, em posição de atenção. Juliano chora – o cão late e late...

- Eu mato este cão... Grita mais irritada abrindo a janela.

Dali a pouco é hora do almoço.

- Julianooooooooo! E o cão late....  - Eu já estou acreditando que o cão pensa que este é o nome dele.  É muito engraçado, eu fico na minha.

Em seguida:

- Blém... Blémmm... Blémmmmmmm  - batidas no panelão de alumínio chamando os gatos para o almoço que mais cheirava a carniça - MetidA! ExibidA! FeiosA! EspantalhA! FididA!... e os adjetivos seguiam boca à fora em número de 27 por todo o vale. Haja dicionário!

Um a um os gatos foram sumindo.  Juro. Eu não tive culpa no cartório.

Um dia a vizinha sumiu.


Sons ao redor - Jany Patricio



Sons ao redor  
Jany Patricio

Sábado à tarde. Marcia liga o aspirador que sufoca o som da música. Continua dançando no embalo do samba. Cantarolando Maria Rita ela se empolga na faxina.

        Seus ouvidos apurados percebem o barulho de chaves. É Rogério chegando com sacolas de supermercado que ao tocarem no chão revelam o som de garrafas.

        Sempre correndo. Trabalho, pós-graduação, academia, feira, mercado, cuidar de Bob, seu gato, ela não costumava prestar atenção nos sons da vizinhança. Só às vezes, quando latidos de cachorros ou disparos de alarmes atrapalhavam seu sono.

        Porém, num sábado à tarde, após terminar a limpeza da casa, tomar banho, e descansar no sofá, um som de bolero sorrateiramente entrou pelo vão da porta da sala.

        Lembrou-se das aulas de dança que parou de fazer desde que iniciou a pós.

        Desde então começou a observar os sons ao redor. Bolero, tango, samba e outros ritmos tocavam no apartamento vizinho aos sábados.

Na semana, ele saía cedo e ela chegava tarde.

        Numa segunda-feira, após participarem da assembleia do condomínio desceram juntos no elevador comentando sobre os assuntos da reunião. Pararam no mesmo andar. Olharam-se com surpresa.

        - Você mora neste?

        - Sim.

        - Damas primeiro.

        - Obrigada.

        Seus passos seguiram na mesma direção.

        - Somos vizinhos!

        Sorriram.

        - Boa noite, Márcia

        - Boa noite, Rogério

        Na semana seguinte iria ter uma festa na academia de dança do bairro. Convidada por uma amiga, Márcia foi espairecer.

        Quando chegou ao salão tocava um bolero. Avistou Rogério vindo em sua direção.

        - Você frequenta aqui?
                                                      





AS PAREDES FALAM! - Dinah Ribeiro de Amorim


AS PAREDES FALAM!
 Dinah Ribeiro de Amorim

  Quem pensa que vizinhos não escutam ou prestam atenção na vida da gente, engana-se. Principalmente casas geminadas ou apartamentos, quando o som vem de cima, dos lados ou de baixo.

 É o meu caso, pois moro num desses “apertamentos”, sem muito intervalo entre um andar e outro. Não ligo muito para barulhos, mesmo propositais, acho que estou meio surda ou desligada mesmo, mas tem gente que escuta demais! E se incomoda muito!

Acredito muito que “paredes falam”! Tive um amigo que quase adoeceu por causa do barulho de uma vizinha. Até hoje, quando escuta alguma coisa, já bate com a bengala no chão. Fico até meio assustada porque alguns barulhos são naturais, intencionais ou falta de educação mesmo!

  Coitado, sofre muito de insônia, acho que por causa disso.

  Bastava chegar a noite, sua vizinha de cima trazia uns amigos e começava uma batucada infernal, até altas horas, incomodando todo mundo. Não era só ele que se queixava. O prédio inteiro reclamava, pois todo mundo trabalhava cedo, inclusive ele. Além dos amigos e da batucada, havia os gatos, acho que uns oito, miando e correndo pela casa. Foi difícil tirá-la de lá, ninguém conseguia até que se mudou para uma casa, para felicidade de todos.

  Morri de rir numa noite, em seu apartamento, quando, antes de dormir, ao se preparar, pegava em primeiro lugar: panelas, baldes, tampas e martelo, deixando ao lado da cama. Perguntei-lhe para que era aquilo, e ele respondeu: “para a hora em que começar a função.” Tenho a impressão que a moça não dormia. Era sambista, macumbeira, sei lá, adorando quando ele começava a responder. Batucavam mais alto! Só sei que isso o deixou cismado e muito sensível a qualquer tipo de som, reagindo imediatamente.

  Tenho também algumas experiências com barulhos, mas atualmente, quando é demais, coloco música ou fone de ouvido. Bendita tecnologia! Durmo tranquilamente. Quem não dorme são eles! Acabam se acomodando e ficando quietos. Afinal, estou aposentada, Graças a Deus, e eles não. Uma noite de sono faz falta. Envelhece mais cedo!

 Lembro-me, quando menina, de um apartamento pequeno, cheio de gente. Morava com minha mãe e irmão. Como só havia um quarto, ele dormia nele e eu e mamãe, na sala, num sofá cama. Tínhamos quatro vizinhos e, justamente o da direita, era um casal novo, bastante descontrolado. Ela, coitada, moça simples, casou-se com um rapaz grã-fino na época, de família rica, mal acostumado, e mimado. Gostava dela, tiveram até um filho, mas ele não trabalhava, dependia do pai, que de vez em quando aparecia para vê-la. Brigavam todas as noites, que coisa horrível! Ele chegava tarde, ela reclamava, pegava a criança e queria ir embora, mas ele não deixava. Ficava aquele empurra, empurra, até altas horas. Eu, com um copo, muito curiosa, tampava um ouvido e colocava o outro no copo, encostado na parede. Tipo telefone sem fio. Acho que era a novela ou conto da época, pois não tínhamos ainda televisão. Que curiosidade feia! Coisas da infância.

  Minha mãe, sabiamente, a primeira coisa que fazia era abrir a porta e pegar o litro de leite que o leiteiro deixava.  Sua preocupação principal era que o litro não fosse quebrado. Naquela época, havia leiteiro e o leite, vendido em garrafas.


  Foram e são tantos os casos de “paredes que falam,” cada casa uma família, cada família um caso, que se déssemos conta disso, não abriríamos mais a boca!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

HOMENAGEM AO POETA MANOEL DE BARROS

Morre, aos 97 anos, o poeta Manoel de Barros em Campo Grande



O homem que reinventou a poesia.Que destinou às palavras outros tantos significados.
O homem que disse que apenas 10% do que diz é mentira, o resto é inventado".  deixa uma imensa lacuna na literatura brasileira.



Auto-Retrato Falado

Manoel de Barros


Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.

Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.

Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,

      aves, pessoas humildes, árvores e rios.

Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar

      entre pedras e lagartos.

Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto

      meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou

      abençoado a garças.

Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que

      fui salvo.

Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.

Os bois me recriam.

Agora eu sou tão ocaso!

Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço

      coisas inúteis.

No meu morrer tem uma dor de árvore.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A Festa do povo - Suzana da Cunha Lima


A Festa do povo
Suzana da Cunha Lima

Quando meus filhos ainda eram meninos, lá pelos oito, dez anos, eu os levei a uma Festa patrocinada pelo Exército, no Ibirapuera. Estava cheio de gente e de atrações. E o que chamava mais atenção era a torre, muito alta, erguida para simulação de saltos de paraquedas.  Toda a meninada queria ir lá, então formou-se uma extensa fila, desde a manhã.  Mães e pais ali plantados,  esperando a sua vez e a garotada  correndo pelos brinquedos e a toda hora nos perguntando quando iriam subir no elevador para de lá se jogarem, presos a um paraquedas.

Eu mesma também estava curiosa para saber a sensação de se lançar no vácuo. Na hora do almoço,  os organizadores deram uma senha numerada a todos  que estavam na fila, para que retornassem, depois, exatamente no lugar que estavam ocupando.

No retorno,  todos observaram certinho seu número  e não houve problema algum.  Já tínhamos nos  enturmado e, embora cansados e suados daquela longa espera, como qualquer pai e mãe, queríamos proporcionar aos nossos filhos aquela oportunidade única.

Quanto mais perto da porta do elevador que subia para a torre, mais excitadas as crianças ficavam. Foi quando um senhor colocou uma menina de uns sete anos à nossa frente, avisando ao militar que guardava a entrada,   que ela iria subir na torre.

Eu pensei que ele não havia reparado que o fim da fila estava lá atrás.

Ele não me prestou a atenção e simplesmente mostrou sua carteira ao militar.
Aí  o sangue me subiu à cabeça e lhe falei, já com voz alterada:

- Se o senhor tem uma carteira, eu também tenho e todos aqui também. É minha identificação como cidadã brasileira, que, como o senhor deve saber, diz que todos somos iguais perante a lei. Se o senhor é militar, não sabemos, porque está à paisana. Se estivesse a serviço, estaria uniformizado, sem nenhuma criança junto. Então, como vem chegando aqui, querendo furar a fila?

Peguei a mão da criança, levando-a  para o pai, dizendo:

— Aqui tem fila, viu? E seu lugar é lá atrás -  Tanto o pai quanto o militar ficaram sem ação.

Mas, não contente, a indignação subindo na cabeça,  ainda falei em voz bem alta, como se estivesse fazendo um comício:

- Que péssimo exemplo está dando à sua filha, como se esta  carteirinha tivesse mais valor do que as nossas? Não tem não. Isto é uma Festa do Povo e todos nós ficamos horas debaixo do sol para podermos subir à torre. O senhor devia ter feito o mesmo para sua filha. E vou logo dizendo que na minha frente ninguém vai passar. E virei-me falando bem alto, para o pessoal de trás: - E vocês não sejam bobos não. Eles são pagos com o dinheiro de nossos impostos. Todos ficamos na fila, por que ele não?

E peguei meus filhos passando bem na frente dele e do militar, para entrar no elevador.  Ainda olhei com o rabo do olho, depois que me despenquei lá de cima e vi que os bobalhões tinham cedido lugar para a menininha.

É por esta e outras que este país não vai para  frente, pensei. Todo mundo tem medo de carteirada e não conhece seus direitos. E os próprios pais não sabem educar seus filhos dentro da lei e da ordem.


O LAGO DE TUALATIN - Alberto Landi

  O LAGO DE TUALATIN Alberto Landi   O lago de Tualatin está localizado nos arredores da cidade de Portland, Oregon, é um dos poucos r...