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quinta-feira, 29 de junho de 2017

Mas Que Mundo É Esse? - Rejane Martins


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Mas Que Mundo É Esse?
Rejane Martins

Esta é a história de um garoto de três anos chamado Guilherme, apaixonado pelas histórias que seus pais viveram. Veladamente frisava todos os dias o batente da porta, e em seguida ávido, checava o quanto já crescera. Apesar de pequeno tinha consciência que seria necessário atingir certa maturidade para acompanhá-los nas peripécias. Sonhava com o momento de relatar sozinho as aventuras experienciadas de forma tão inebriante e única, e também de conduzir com tanta intensidade as conversas na roda entre amigos.

A fala da mãe exercia um poder mágico sobre ele, sentia-se hipnotizado com os relatos e o tom de voz ora suave ora excitante. Diariamente prometia a si mesmo ao se levantar que ficaria alerto, não perderia nada, nenhum suspiro sequer. Anotava mentalmente cada palavra e já a ordenava em posição de destaque no rol de prioridades.

Em primeiro lugar da lista, encontravam-se as compras no oceano, ansioso para imergir nas profundezas e finalmente ver as árvores onde cresciam os “Frutos do Mar” tão saborosos e servidos em ocasiões especiais. Mas o que mais intrigava o rapaz é como sua mãe voltava sempre seca para casa, a água do mar não umedecia nem os cabelos nem as roupas.

Estudava cuidadosamente os movimentos dos pais a procura de promoções que acabavam logo, isto porque deviam ser muito gostosas, mamãe dizia que todos queriam “Agarrar com Unhas e Dentes”. Mas a fascinação mor era a viagem feita por seus pais naquele hotel fazenda que “Parece um Paraíso”, lá só trabalham anjos, e o mais legal é que os anjos-monitores ensinavam todos a “Andar nas Nuvens” deve ser um chão tão fofinho, imagine pular de uma nuvem para a outra e ver a terra lá embaixo, bem longe.

Mas há lugares muito perigosos, que quer passar longe. Lembra do estresse causado pelo passeio indicado por um “Amigo da Onça” e também da mamãe. Só que não foi a fera que causou a fúria, mas o fato de tomar um “Banho de Água Fria” assim que chegou lá. A irritação foi tamanha que induziu a fazer algo que o menino jamais a imaginou ser capaz daquilo, ela “Bateu e Voltou” para casa. Coitado de quem apanhou, deve ter doido muito.

Já em casa, ligou para o amigo, agora só do felino, que naquele momento estava trabalhando com um comparsa muito esquisito, ele era o “Advogado do Diabo”. Logo o garoto deduziu que o sujeito não deveria ser tão mal assim, pois o pai tentando acalmá-la disse que com ele tudo “Acaba em Pizza”. Oba, pediria a de mussarela que ele adora.   


Inquieto, durante o jantar, expôs o desejo de acompanhá-los citando as proezas. Por um longo tempo riram copiosamente, tentaram explicar uma coisa chamada “força de expressão” e como interpretá-la. O garoto não entendeu nada, mas mais uma vez esperaria pacientemente agora pela alfabetização, só então saberia onde procurar “O Pé da Letra”.

O SORTUDO - Francisco Lucio Pereira


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O SORTUDO
Francisco Lucio Pereira


Com a humilhação sofrida após ser despedido depois de ter trabalhado muito tempo de sua vida na mesma profissão,  única que sabia fazer, aquele homem mesmo tendo sido proposto pelo empregador que ocupasse executasse outro tipo de tarefa,  não foi possível aceitar.

As exigências estavam fora de seu alcance por não saber ler nem escrever.

Lembrou-se de algo que fazia com prazer e era bem sucedido só lhe faltavam ferramentas adequadas.

A indenização foi tão pouca que mal dava para comprar uma caixa de ferramentas que precisava. Foi à cidade e trouxe-a.    

No dia seguinte um vizinho logo pediu-lhe um martelo dizendo que poderia comprá-lo.

- Não posso é para o meu trabalho, mas acabou vendendo. Logo outros vizinhos fizeram a mesma coisa. Ele começou a pensar Estou ganhando mais vendendo ferramentas que como porteiro do prostíbulo, resolveu comprar mais e revender, a ideia foi boa logo estava com uma loja de ferramentas.

Resolveu ajudar a escola local, tornou-se um dos mais bem quistos daquela cidade.

Um dia o prefeito chama-o para ser homenageado com as Chaves da Cidade.

Após as honras o prefeito pediu-lhe que assinasse o Livro de Homenageados.

- Sinto muito não sei ler nem escrever.


- Não tem problema logo aprenderá e quem sabe um dia será o prefeito da cidade.



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VÉNUS A DEUSA DO AMOR
Francisco Lucio Pereira


Um avião que sempre fazia aquele trajeto, bem revisado antes da viagem, pois levava pessoas de alto escalão, perdeu-se em meio de um denso nevoeiro, surgido de repente, com a mudança do tempo não prevista.

Sem grandes danos pousou, o piloto Gercino, ao contar os passageiros, super assustados, notou a falta de um, o Douglas seu amigo, logo lhe disseram que no tumultuo havia pulado ou caído, não se sabe onde.

Muito se procurou e nada, a polícia avisada, certa altura o responsável disse ao piloto:

— Sabe onde está? Aqui é Nápoles, Itália. Parla italiano? Gercino rapidamente:
— Só quero encontrar o meu amigo Douglas, que por acaso pretende se casar semana a que vem. Disseram-me que por aqui há uma ilha desabitada, segundo consta, tem até Boto cor de rosa nas proximidades.

Dois dias depois a ilha da Gaiola foi localizada, o desespero acabou. De longe Douglas gritou acenando, o navio atracou, o piloto abraçou o amigo chorando de alegria.

— Não chore alegre-se vou apresentar minha noiva, sua irmã Letícia, como ela gosta de aventura após o casamento viremos passar a lua de mel, onde dizem que um poeta Virgílio que com esse nome deve estar vigiando a ilha. Era considerado um Deus com suas lições poéticas, um mágico, e a magia continua, pois Vênus a Deusa do Amor nos protegerá, aqui havia até um templo.


Douglas, abraçou fervorosamente a noiva, de repente vários peixes estranhos passaram e desapareceram.


Quem é o Esperto Agora? - Rejane Martins



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Quem é o Esperto Agora?
Rejane Martins

João era um verdadeiro repelente, era só chegar a um lugar e todos imediatamente se lembravam de uma tarefa inadiável, deixando-o sozinho em um piscar de olhos.

Visivelmente portador de uma ingenuidade extrema que por muitos a identificam como uma deficiência real, suas brincadeiras e comentários eram dignos do bobo da corte, não se encaixavam no contexto do grupo. Logo alguém fazia um comentário jocoso sobre a interação social de João, provocando imediatamente o riso geral, inclusive dele.

Havia recorrentes práticas que tinham a intenção de colocá-lo no ridículo perante o grupo, o ápice se dava quando pediam para João escolher entre uma moeda de R$ 0,50 e outra de R$ 0,25, mas antes enalteciam o tamanho, o brilho da moeda maior. Acreditando piamente que o valor da moeda estava diretamente relacionado ao tamanho, seus olhos brilhavam ao fitar o maior artefato.

Num dia ensolarado, no início do verão, a caminho de um pic-nic precisavam transpor uma pinguela, não muito confiável. Resolveram que um integrante deveria verificar a segurança daquela obra arquitetônica. Fizeram o sorteio com gravetos e Carlos venceu a disputa escolhendo o menor.

Temeroso da incumbência, Carlos propôs uma nova disputa que avaliasse o mais inteligente. Aceita a argumentação apressou-se em escolher João como opositor. Não tardou a separar duas moedas, repetiu todo o ritual e pediu para que ele escolhesse a de maior valor.

João mais do que depressa escolheu a de R$ 0,50 deixando Carlos atônito, de boca aberta. Demorou um longo instante até que ele conseguisse erguer o queixo e pronunciar aos berros sua indignação com o amigão. Justo neste momento resolveu escolher a moeda correta.


No passado João sempre escolhia a maior moeda porque sempre depois da brincadeira recebia-a como troféu. Se percebessem a capacidade de entender a brincadeira, ela acabaria e assim nunca mais seria indenizado pela gozação.    

ESTOU MORANDO EM UM CANIL? - Do Carmo

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ESTOU MORANDO EM UM CANIL?
Do Carmo


Estava eu muito tranquila esperando chegar o elevador, pois hoje é dia de aula do ICAL, quando ouço latidos e sinto um calor queimando minhas pernas, vindo da respiração de dois monstruosos cachorros que desceram desabalados pelas escadas.

Fiquei aterrorizada, sentia-me em um vulcão, não sabia se chorava ou gritava.

Os monstros latiam e em meio do barulho, surge uma voz  ardida dizendo:

— Calma, filhotinhos, isso não lhes fará mal, a mamãe não vai deixar.

Irritei-me, tal qual um mar em ressaca.

A “Madrinha Protetora” parada em minha frente, ria com sarcasmo doce, dizendo:

— A senhora deverá tomar um calmante, tanto escândalo por nada. Os pobrezinhos latiram porque se assustaram ao encontrá-la parada e com uma bengala.


— Que maravilha! - Disse-lhe eu, com voz muito meiga de fel - Desculpe-me,  como fui esquecer que morava em um canil?

A Roupa Fala - Rejane Martins


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A Roupa Fala
Rejane Martins

A eficiência do quarto poder emprestou à mídia informal sua grande força. Atuando de forma quase invisível e usurpadora, influencia e molda o comportamento da sociedade.

Atire a primeira pedra, a mulher que nunca acordou, abriu o guarda-roupa e se viu diante de uma missão quase impossível, o que vestir. Mas para algumas o desafio não só depende do humor, do clima, da pressa ou da disponibilidade de objetos pendurados à sua frente. O censor social o crivo de maior peso, é o julgamento das outras que estipula o que e quando usar determinadas roupas.
Mesmo com a intenção de passar a mensagem “Não estou nem aí para ninguém” quando opta por indumentas básicas, ou ainda escolhe uma malha cinza que transmite um texto desesperançoso, o espaço é vasculhado a procura de uma peça com etiqueta de peso. Afinal, mesmo no descuido o toque deve ser de butique.

É mais burlesco ainda analisar esta mulher no meio social, deseja um bom dia à calça social azul e a camisa branca de botão com o logo do condomínio no bolso à esquerda, que hospeda o corpo do Sr. Juvenal o porteiro. O simples fato de cruzar na rua com um casal de tênis de corrida, fone de ouvido, ele com uma camiseta customizada “No pain, no gain” e ela com uma meia colorida mega colada, a faz automaticamente elevar as mãos e esconder a barrigona. Sem prejulgamento se justifica com o senso comum de que todas pessoas metidas a fitness gostam de aparecer. 
   
No ponto de ônibus chega a tempo de fazer companhia a um senhor de terno escuro carregando um livro de capa de couro preta, com o nariz torcido posta-se ao lado do religioso e inicia mentalmente o cálculo do tempo que está longe da religião. Porém o prazo para determinar o número exato é exíguo, sua a atenção logo foi atraída para aquela jovem mulher apaixonada pelo verão, usando short jeans e blusa soltinha tipo rata-de-praia, caminhando ao lado de um jovem envelhecido pela barba grande e descuidada, vestindo uma camisa xadrez vermelha bem estilo lenhador dos tempos modernos. Ah! Com certeza é ela que canta de galo.

Visão bloqueada com a chegada da condução que já abriga uma típica menina de 17 anos, com mochila, all star e jeans, sonhando acordada em vez de estudar para o Enem, o que esperar do futuro nas mãos destes jovens.

E assim com vários novos amigos que nem a conhecem, muitos iniciam mais um dia de trabalho relaxados após executarem a dinâmica ocupacional do bicho fofoqueiro.

O LAGO DE TUALATIN - Alberto Landi

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