A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quarta-feira, 18 de outubro de 2023

DESCRIÇÃO DE CENÁRIO E CONTEXTO - 17 DE OUTUBRO DE 23

 


Nenhum lugar é igual para todos. Duas pessoas olhando para a mesma imagem, para o mesmo cenário, ou mesmo ambiente ao mesmo tempo, quando forem descrever o que veem, teremos impressões diferentes.  Uma pessoa pode descrever a configuração do terreno, a maneira como o riacho ziguezagueia torto pela floresta, enquanto a outra lhe dirá como isso lembra a floresta perto da casa da avó, onde brincavam quando crianças.

O cenário não tem vida sem o filtro do narrador. São os narradores que o tornam interessante. Você pode passar três páginas descrevendo uma sala com absoluta minúcia, mas um único parágrafo descrevendo a reação do seu narrador à sala, as poucas coisas individuais que ele ou ela decide notar, nos dirá infinitamente mais. Isso nos dá um tom de proximidade, de intimidade com o espaço. E vai nos dar também uma ideia de seu caráter, e do personagem que ocupa esse cenário.

A visão do narrador é completa, profunda, intensa, no entanto ele só aproveitará as informações que lhe chegarem e que façam parte do contexto do enredo.

De que adiantaria perder tempo do leitor traçando as linhas curvas de uma rua que cerca uma casa, se todo o enredo se passa dentro do imóvel? De que adiantaria preencher linhas e linhas falando da má conservação do prédio, se o que vai importar é toctoc dos passos no assoalho antigo e mal ajustado, do placplac da torneira que goteja incansavelmente assombrando quem chega sem aviso, da parca iluminação que provoca sombras contorcidas e inexplicáveis pelas paredes? Descrever uma chuva torrencial, não é o mesmo que mostrar os pingos escorrendo pelas vidraças, formando poças e descendo pela rua em declive.

Importa, sim, que se descrevam a mobília e tapeçaria, dessa maneira o leitor fará juízo dos habitantes do lugar e os julgará pobres, ricos, ou...

 

TAREFA - Algumas imagens – façam a descrição baseadas em histórias que serão criadas por vocês. A descrição criada deverá ser o primeiro parágrafo do seu texto. 














Então, você sabe o que acontece lá dentro? - Henrique Schnaider

 

 




Então, você sabe o que acontece lá dentro?

Henrique Schnaider

 

 

“Então, você sabe o que acontece lá dentro? ”.

José fez uma cara de espanto, pois não imaginava que poderia haver algo tão ruim naquele lugar.

Entraram curiosos, e ficaram chocados com o que viram.

Os pacientes despidos faziam necessidades a esmo, em campo aberto. Cada caso era mais chocante do que o outro. Percebeu-se que ali as pessoas recebiam tratamento desumano. José ainda comparou aos animais, nem sequer um animal merece ser tratado dessa forma.

Havia a necessidade de uma mudança radical na estrutura do lugar.

Justamente neste dia estava assumindo a direção do Manicômio o Dr. João Marques, profissional altamente conceituado, professor com cursos de aperfeiçoamento e aprimoramento do tratamento de doenças mentais.

De repente, José pensou que o Dr. Marques fosse a solução para realizar mudanças radicais no hospital. Haveria de ter esperança para um tratamento humanitário para aqueles pacientes. Então foi levar-lhe as considerações de degrado dos pacientes. 

Dr. João Marques, pessoa de fino trato, os recebeu no seu gabinete e foi logo dizendo estar abalado, tanto quanto os visitantes, pela forma que encontrou aquele Nosocômio. A partir de hoje tomarei as devidas medidas para que tudo seja radicalmente alterado”. “Os métodos de tratamento serão renovados, e os pacientes serão dignamente tratados” — disse imperiosamente.  

Todos saíram de lá esperançosos por uma mudança profunda no tratamento dos doentes.

Passados três meses da nossa visita ao manicômio Municipal, foram convidados a retornar ao local. Logo à entrada já se podiam ver mudanças, a limpeza, o jardim aparado, as clínicas pintadas. Aquele ar de abandono não existia mais. Os visitantes ficaram ainda mais impressionados com os pacientes bem-vestidos, bem-tratados, como qualquer ser humano deve ser. 

Desta vez, saíram de lá felizes, exaltando o trabalho singular do Dr. Marques, pois, sem ele, aqueles pacientes não teriam como se reerguer.

 

Narciso o invisível - Henrique Schnaider

 




Narciso o invisível

Henrique Schnaider

 

Narciso nasceu num lar uma família descente, o pai homem trabalhador tinha um trabalho pesado, era auxiliar de pedreiro e precisava aguardar quando surgia uma oportunidade de trabalho, trabalhava muito e pesado, mas ganhava muito pouco.

A mãe era faxineira, pegava, pois raspava, limpava e cozinhava, mas o dinheiro era pouco já que moravam numa pequena cidade do interior e os moradores eram pessoas com poucos recursos que pagavam pouco e ela às vezes trazia alguma comida que sobrava das patroas.

Assim Narciso e a família não passavam fome, mas a comida era pouca para três refeições para eles e assim Narciso e os pais levavam uma vida pobre sem nenhum luxo.

Até que um dia, quando Narciso atingiu a adolescência aos 15 anos e como todo adolescente dava problemas aos pais que já tinham aquela vida sofrida e o filho rebelde e que não ajudava em nada. Revoltado como sempre acordou e colocou uma blusa velha e de repente olhou para o espelho do quarto e não se viu, não havia imagem.

Sentiu um tremor tomando todo seu corpo sem saber o que pensar e do que se tratava aquilo e pensou. – Será que estou invisível e será que é quando visto esta blusa? Aquele fato abalou muito o rapaz, mas aos poucos foi se acalmando e ficou pensando como tirar proveito daquela situação.

O rapaz não tinha muita ideia sobre conceito de moral já que seus pais, pessoas muito simples, não lhe passaram este conceito, e a única coisa que o pai fazia quando o rapaz aprontava das suas, era lhe bater com a vara de marmelo. Desse jeito, Narciso agia como lhe aprouvesse, desde que escapasse da surra que o pai lhe dava.

Narciso resolveu ir para a rua para ver se era visto ou não? Na medida que foi andando, logo percebeu que não era visto pelas pessoas. Entrou num Mercado e alguma comida e notou que tudo onde ele encostava a mão também não era mais visto pelos funcionários do mercado.

Ele levou toda aquela comida para casa e como não tinha outro jeito contou aos pais oque estava acontecendo e como estava invisível aí tirou a blusa e para assombro dos pais ele apareceu e ficaram sem saber o que fazer.

Refletiram, discutiram entre eles e chegaram à conclusão de que iriam tirar proveito daquela situação e a partir daí a vida daquelas pessoas mudou completamente. Não faltava mais comida, tinham todo do bom e do melhor. Boas roupas um luxo só.

Mas como é bom dura pouco, um dia Narciso saiu como fazia habitualmente para pegar tudo que lhe aprouvesse. Pegou várias roupas e quando ia sair, o encanto da blusa velha terminou e os funcionários da loja prenderam o rapaz que a esta altura já tinha dezoito anos.

Narciso pegou cinco anos de cadeia e os pais dele outra vez passaram por muitas dificuldades comendo o pão que o diabo amassou e nunca conseguiram entender nem como a velha blusa tinha o poder da invisibilidade e nem como deixou de ter.

Narciso e família se mudaram daquela cidade depois que o rapaz saiu da cadeia e nunca mais se ouviu falar deles. E assim o segredo da velha blusa ficou escondido para sempre.

 

 

Krakatoa, o inferno de Java - Henrique Schnaider

 




Krakatoa, o inferno de Java

Henrique Schnaider

 

A pequena ilha de Krakatoa, no meio do estreito de Sunda, entre as grandes ilhas de Sumatra e Java, na Indonésia, foi praticamente destruída no dia 27 de agosto de 1883, uma segunda-feira, pela explosão de um vulcão.

As erupções tinham começado no domingo, mas a mais violenta delas foi a terceira erupção da segunda-feira, uma explosão gigantesca, um barulho tão alto que foi ouvido a 5 mil quilômetros dali, nas ilhas Mauricio, onde se achou que fosse um tiro de canhão dado por algum navio.

Aconteceu há 137 anos e foi sentida no planeta inteiro.

Em 1883, o mundo presenciou um evento natural tão bombástico e violento que pode ser notado, de alguma forma, por praticamente todos os habitantes do planeta.

Faça uma ideia então dos habitantes da ilha que morreram aos milhares, e a situação da das famílias que habitavam a ilha, entre elas a de Sunak Omiori, que juntou sua esposa Miora e os filhos Ting e a filha Sunori, e escaparam milagrosamente, fugindo para o interior da ilha, o mais distante possível daquele demônio de fogo e lavas.

A erupção do vulcão Krakatoa, na Indonésia, lançou detritos a até 100 km de altura, causou colossais tsunamis que mataram milhares de pessoas e foram percebidos até no Canal da Mancha. O fenômeno alterou o clima do Planeta, mexeu com a luz, com o ar e até com as cores do crepúsculo em vários cantos da Terra.

A história desse extraordinário evento é contada em podcast da série “Que História” da BBC Brasil, que traz também, o depoimento de uma testemunha da erupção, encontrado nos arquivos da BBC, que era justamente Sunak Omiori.

Ele contou coisas que inacreditáveis, ondas gigantescas de 20 metros de altura, tremores de terra de tal maneira que parecia que a terra iria se desfazer em milhões de pedaços. A água do mar avançando por todos os lados e sensação para ele, que a ilha desapareceria, e por pouco isso não realmente aconteceu.

Sunak levou a família para a parte mais alta da ilha e aguardou que Deus fizesse o milagre de salvá-los, e isso aconteceu, fazendo que ele presenciasse o que é a violência de um vulcão enfurecido. Na ilha, restaram destroços.

Precisamente às 10 h e 5 minutos, a ilha, basicamente, de 10 mil kms cúbicos, foi desintegrada por uma explosão que lançou rochas e cinzas a até 100 quilômetros de altura. A ilha desapareceu, e deixou por alguns segundos um enorme buraco no mar. Esse buraco foi enchido por trilhões de toneladas de água. Estava tão quente no interior desse buraco que a água imediatamente se converteu em vapor. Esse vapor causou tsunamis gigantes, quatro ao todo, que causaram um enorme estrago nas costas de Sumatra e Java.

Mas quando a sorte sorri para alguém... Deus os salvou, ficaram para contar tudo aquilo que nunca imaginaram testemunhar.

 

O fantasma de Malta - Alberto Landi

 





O fantasma de Malta

Alberto Landi

 

Havia um castelo muito antigo na ilha de Malta, onde os habitantes temiam penetrar, pois diziam ser mal-assombrado.

Certo dia Ben um capitão dos mares, durante sua missão, acabou se perdendo na densa floresta nas cercanias do castelo.

Já tarde da noite, o frio e neblina eram intensos, quando avistou a certa distância aquela construção.

Feliz por encontrar um abrigo, pois o tempo estava bem severo, bateu à porta e foi recebido pelo Sr. Matthew, proprietário, que o convidou para entrar e pernoitar.

Pouco antes da meia-noite, o capitão foi levado a um suntuoso quarto.

Cansado como estava, adormeceu de imediato.

Quando chegou a madrugada, ele despertou muito assustado. Ao abrir os olhos, viu uma linda criança, cercada de uma luz cintilante, parada bem em sua frente. Após alguns segundos desapareceu e o quarto voltou a ficar escuro.

Na manhã seguinte, quando se sentou à mesa para tomar o café da manhã, relatou o acontecido ao Sr. Matthew.

— Caro amigo agradeço pela sua hospedagem e carinho como me tratou, agora preciso partir. Ontem o senhor me deu um grande susto ao enviar uma criança ao quarto para me despertar no meio da noite. Honestamente não gostei.

Matthew chamou o mordomo James perguntando a ele:

— James, em que quarto você alojou o amigo capitão?

— Meu Senhor, respondeu o mordomo, como o castelo está cheio de convidados, eu não tive escolha, coloquei o Sr. Ben no quarto do menino, porém, acendi a lareira, porque ele só aparece no escuro.

Ah, disse Matthew, você fez muito mal, porque o fogo da lareira sempre apaga na madrugada.

Em seguida, dirigindo-se a Ben explicou:

— Meu nobre amigo, minha família guarda um segredo há muitos séculos. Nesse castelo vive um fantasma de um menino, o Ryan, e o quarto preferido dele é aquele em que você dormiu. Você foi um privilegiado em ver esse pequeno fantasma.

Bem, que nunca acreditou e nem tem medo de fantasmas, perguntou:

— Por que, privilegiado?

— Porque todos que o viram ganharam dinheiro e foram muito felizes, disse Matthew.

Após alguns anos, o capitão conheceu uma jovem com quem se casou, tornou-se rico e teve um filho.

Ryan, o fantasma, passou a fazer parte de seus sonhos, pois aparecia com frequência.

O capitão e família, após muito tempo, resolveram visitar o castelo onde Matthew vivia.

Relatou a mudança de sua vida desde que estivera lá, apresentou a esposa e o filho Ryan, homenageando a criança fantasma.

O capitão sempre pensou que os fantasmas, tão recorrentes no cinema e na literatura, não ganharam um reconhecimento filosófico. No entanto, nossa imaginação continua fascinada pela ideia de que um morto possa retornar para nos visitar. A crença em fantasmas é inata ao homem. É encontrada em todas as épocas e em todos os locais e talvez nenhum ser humano esteja totalmente livre disso.

Ele acabou aceitando que um fantasma pode mudar a vida de alguém, para o bem ou para o mal.

“Eu não acredito em fantasmas… Mas, que eles existem, existem! ” 

 

Juju e a Poltrona Falante - Adelaide Dittmers

 



Juju e a Poltrona Falante

Adelaide Dittmers

 


Era a primeira vez que Juju vinha visitar a tia-avó do pai. A mãe, a avó e ela pararam à frente de uma casa antiga cercada por um jardim, onde flores perfumavam o ambiente.  Um ipê-amarelo imperava em um dos lados.

Ao toque da campainha, uma senhora simpática abriu a porta.  Um sorriso feliz ao vê-las.  Entraram e a conversa correu solta. A menina, porém, começou a ficar inquieta. A senhora percebeu e disse-lhe que podia explorar a casa ou brincar no jardim.

Ela se levantou contente com a sugestão da tia.  Estava curiosa em conhecer aquela casa cheia de móveis antigos, tapetes coloridos e muitos quadros. 

Foi percorrendo as salas, de cujo teto pendiam grandes lustres, e se surpreendeu com a mesa já posta, em que pães, geleias e bolos fatiados esperavam pelas visitas.  Sorrateiramente pegou um pedaço de bolo, olhando para os lados com medo de ser flagrada por alguém.

Saindo dali, chegou a um hall, em que uma larga escada levava para o andar superior. Subiu devagar até chegar a um comprido corredor.  No fundo, havia outra escada.  Foi até lá.  Era bem estreita. A menina a galgou com muito cuidado, parou admirada ao ver um lindo vitral, que a iluminava. Com os dedos lambuzados tocou nas suas formas coloridas.

No final da escada, chegou a um pequeno hall, onde havia uma pesada porta.  Juju empurrou-a com força e ela se abriu rangendo.  Devagar, medindo casa passo, a pequena entrou no amplo e escuro sótão.  Apertou os olhinhos para tentar enxergar à sua volta.  Ao fundo, duas pequenas janelas.  Com cuidado foi até elas. Tropeçou em algo, mas conseguiu se equilibrar.   Determinada, empurrou uma e depois a outra, que se abriram, clareando o sótão.  Uma réstia de sol esgueirou-se pelos cantos do lugar.

Voltou-se e colocou as mãozinhas na boca, surpresa com tantas coisas que se espalhavam por ali: móveis, livros empilhados e tapetes enrolados, mas o que mais lhe chamou a atenção foi uma grande e larga poltrona de veludo vermelho no meio do cômodo. Tinha um rasgo em um dos grossos braços.  Em cima dela, uma boneca de pano, com pernas muito compridas.

Ao aproximar-se da poltrona, viu uma grande boca em seu encosto, que falou:

— Olá menina!

A garota deu um pulo para trás, assustada.

— Não tenha medo, sou uma poltrona mágica, que fala.  Aliás, adoro falar.

A boneca levantou-se e disse;

— Ela fala até demais,

A criança arregalou os olhos.

— Vocês estão vivas?

— Estamos.  Há muito tempo fomos abandonadas aqui na escuridão.  Disse a poltrona.

— Você chegou e deixou entrar a luz do sol.  Obrigada!  Completou a boneca.

— Como você se chama, linda menina? Perguntou a poltrona.

— Juliana, mas me chamam de Juju.

— Gostei do seu apelido.  Sente-se no meu colo.  Adoro crianças.

Meio receosa, mas, ao mesmo tempo, encantada, Juju sentou-se com cuidado ao lado da boneca.

— Por que abandonaram vocês aqui? Uma poltrona e uma boneca que falam!

— Há muito tempo, eu ficava na sala.  Era a poltrona preferida de todos, principalmente de Dona Guilhermina, que se sentava em mim, como uma rainha para ler, conversar com as visitas ou fazer tricô. Participei de muitas festas.  Ouvi muitas histórias. Os filhos e, mais tarde, os netos adoravam pular em mim.  Eu me divertia muito com eles.

— E você, boneca?  Como veio parar aqui?

— Eu era de Antonia, uma das filhas de Dona Guilhermina.  Ela era muito apegada a mim.  Dormia com ela, e tudo. Mas ela cresceu, casou e me deu para a filha.  Fiquei muitos anos com ela, mas ela também cresceu e foi embora, e um dia já não me queriam mais e vim para cá.

— Meu destino é parecido.  Envelheci, a pele do meu braço se rompeu e me trouxeram para este sótão e logo depois jogaram a Ritinha em cima de mim, o que foi uma bênção porque não fiquei mais sozinha.

— Que triste!  Você se chama Ritinha, boneca? Acrescentou a menina.

— Sim.

Juju passou a mão suave e carinhosamente no braço da poltrona.

— Você é tão macia… Queria ter uma poltrona como você!

A velha poltrona ficou emocionada e o seu veludo brilhou de satisfação.

A garota virou-se para a boneca e a acomodou em seu colo.  Ritinha sorriu de felicidade.

Nesse momento, uma voz gritou lá de baixo:

— Juju, onde você está? Venha tomar o lanche!

— Não vá, não! Estamos adorando ter você aqui.

— Eu também estou adorando vocês! E gritando respondeu:

— Já vou!

— Eu vou, mas eu volto.  Disse com ternura. E colocou delicadamente Ritinha no colo de sua amiga.

Desceu as escadas correndo e quase sem respirar, gritou:

— Mamãe, lá em cima tem uma poltrona e uma boneca que falam!

A mãe sorriu.

— Esta menina tem uma imaginação tão fértil...

— Você não acredita.  Tem que subir para ver com seus próprios olhos.

— Vamos Juju! Sente-se para lancharmos. Olha quanta coisa gostosa.

A menina obedeceu, mas nem sentiu direito o gosto das delícias que estavam sobre a mesa. O pensamente fixo na pobre poltrona e na boneca de pano.

No fim do lanche arrastou a mãe para o sótão.

— Veja mãe, como é linda e fofa esta poltrona e que simpática é a Ritinha!

— Ritinha? Você já deu um nome a ela.?

— Ela me disse seu nome.

— Ah! Filha!  Você é muito engraçada.

— Dona Poltrona, trouxe minha mãe para conversar com você.

Mas para espanto da menina, a poltrona ficou muda e ela reparou que a boca desaparecera.

— Por favor, fale! Minha mãe não acredita que você fala.

E nada.  Nem ela ou a boneca disseram uma única palavra.

A decepção estampou-se no rosto da criança. A mãe balançou a cabeça.

— Mamãe, mesmo que ela não está falando, quero levar a poltrona e a boneca para nossa casa.

— O quê? De jeito nenhum.  Não quero esta velharia desbotada em casa.

— Não fale assim delas.  Eu quero!

E começou a chorar.

— Eu quero! Repetiu gritando.

— Ah meu Deus! Vai começar a fazer birra agora.

— Eu quero! Por favor! Implorou.

— Aonde vou por essa poltrona enorme? 

— No meu quarto. Lá cabe.

A mãe olhou para a filha. As lágrimas corriam pelas faces. A boca deformada pelo choro. Era uma criança dócil e meiga.  Nunca insistia em pedir coisas.

— Está certo.  Vou descer e falar com a vovó Guilhermina.

— Eu quero ficar mais um pouco aqui.

Quando a mãe saiu, ela disse:

— Por que vocês não falaram nada?

A boca apareceu novamente no encosto da poltrona.

— Os adultos não compreendem a magia que há no mundo.  Só as crianças percebem o que é encantado.  Só você pode nos ouvir.

— É isso então? Que pena que minha mãe não pode conversar com vocês. Vai ser o nosso segredo. Disse sorrindo e limpando as lágrimas com os dedinhos. E continuou;

— Mas vocês ouviram.  Vão para minha casa.  Estou muito feliz!

A boca de veludo abriu-se em um grande sorriso e a boneca pulou de alegria.

— Sente-se bem perto de mim para abraçá-la. 

Juju aconchegou-se nos braços macios da velha poltrona e abraçou Ritinha.  Um raio de sol iluminou as três.

— E tem mais… Vou pedir à mamãe para consertar seu braço.

E deitou-se sobre ele.

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um dia trágico - Alberto Landi

 


Um dia trágico

Alberto Landi

 

Sarah, com 19 anos, é uma jovem sensitiva. Desde pequena era muito mais astuta do que a média de sua idade.

Ela tinha habilidades de sentir mais profundamente as coisas, demonstrava empatia e sentia muita preocupação com problemas das pessoas.

Tinha uma percepção maior das sutilezas e detalhes, talvez resgatados das experiências de vidas passadas.

Uma noite teve um sonho, se transportou para uma das encarnações bem longínquas, na época do império romano.

O sonho revelado foi tão intenso e real, que no dia seguinte reuniu a família e com muita emoção passou a narrar.

 

Era uma quinta-feira no ano 79d.c, amanheceu bem frio e a brisa que vinha do mar fazia o ar parecer denso e úmido.

Morava com seus familiares na aldeia de Ercolano, bem próximo ao Vesúvio. Seu nome Apolônia.

A vila de Ercolano era um vilarejo cheio de becos, ruelas e ladeiras, o que havia de interessante eram as termas.

Seu pai, um centurião romano, chamava-se Ascânio. Roma nesse tempo era governada pelo imperador Tito, um homem muito generoso com o povo e que comandava as legiões romanas.

Nesse dia, ao entardecer, ela observou uma grande explosão, o Vesúvio lançava uma coluna de grande altitude das quais cinzas começaram a cair, cobrindo toda a região.

Iniciou-se uma grande correria. Os fluxos piroclásticos começaram a atingir as cercanias mais próximas ao vulcão.

As luzes vistas no monte foram interpretadas como sendo um incêndio.

Apolônia congelou em terror.

Os fluxos moviam-se rapidamente, eram densos e a temperatura era intensa destruindo tudo, ocorreram tremores leves, seguida de um maremoto que atingia o golfo de Nápoles.

A nuvem gigante de cinzas, gás ejetado e vidro vulcânico soterraram todos.

Sabíamos que o gigante ativo nos observava do alto, e poderia entrar em erupção a qualquer momento com sua nuvem piroclástica, gases e vapores.

Meu pai ficou fascinado com a cena no início, pensando que se tratava de algo extraordinário pelo qual valia à pena investigar. Reuniu a família e com uma pequena embarcação e tripulação reduzida rumou aos pés do vulcão para observar mais de perto a erupção.

Ele foi um verdadeiro herói, pois a intenção era resgatar pessoas que estavam presas em uma vila localizada à base do Monte Vesúvio, transformando a busca em uma causa humanitária. Ele pretendia resgatar o maior número de pessoas e, apesar do cenário caótico, liderava a expedição com calma e presença de espírito, mesmo quando todos nós já tínhamos entrado em pânico ao seu redor.

Ao detectar as chamas, ele assegurava aos que o cercavam, de que se tratava apenas do brilho das pequenas aldeias. Da pequena embarcação podíamos ver todos esses acontecimentos.

Terremotos começaram a acontecer de maneira tão intensa, que as pessoas mal conseguiam se movimentar pelas ruas, e o chão sob os pés das pessoas se abria.

Os tremores continuaram até depois da pior parte da erupção ter passado.

Pedaços de pedras choviam em chamas do céu, as cinzas eram tantas que faziam as pessoas afundarem nas ruas, toneladas de detritos se acumulavam nas praias, impossibilitando a navegação.

As pessoas para andarem nas ruas precisavam amarrar travesseiros bem altos em suas cabeças para não serem atingidas pelas pedras.

Gritos na escuridão chamavam seus entes queridos que sucumbiam em meio as chamas.

O fluxo piroclástico causou grande mortandade, desabamento, asfixia pela inalação de cinzas vulcânicas e gases tóxicos.

Corpos deixaram seus moldes na cinza vulcânica petrificada, revelava detalhes fantásticos, como a posição em que as pessoas estavam ao morrer e até mesmo as dobras de roupas que usavam.

Não houve tempo de se despedirem de seus familiares, pois todas sucumbiram em lugares diferentes.

Foi uma tragédia que impactou o panorama político e social do império romano.

 

Sarah, muito abalada pelo sonho, recebeu todo o conforto pela sua família, após a narração.

Havia atrás de seu pescoço desde seu nascimento uma pequena mancha que poderia estar relacionada com o fluxo piroclástico.

Estima-se que a explosão de lava tenha causado a morte de 16.000 pessoas das cidades de Pompeia e Ercolano, principais alvos da catástrofe, aterrorizando gerações de italianos que ainda moram na região, seguros na área devido à dormência do vulcão.

Foram enterradas em cinzas com seus habitantes para sempre, deixando para trás apenas restos de artefatos encontrados ao longo dos séculos servidos para entender precisamente como tudo aconteceu...

 

 

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