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quarta-feira, 8 de maio de 2024

A ÚLTIMA CARTA - Helio Fernando Salema

 



A ÚLTIMA CARTA

Helio Fernando Salema

 

 A ÚLTIMA CARTA

Helio Fernando Salema

 

 

 

Ainda sentada em frente ao gerente do Banco, Adélia viu, no seu celular, a mensagem de D. Mercedes, a governanta, de que o agente dos correios havia deixado um envelope. Despediu-se do gerente e saiu apressada para pegar o táxi.

 

Durante a viagem, ideias não muito boas brotavam na sua mente. Não só pela conversa com o gerente, mas também com relação ao envelope. Ao chegar, desceu do táxi e foi logo abrindo a bolsa para pegar as chaves. Não conseguindo segurá-las com firmeza, deixou-as cair sobre a grama. Ao abaixar, sentiu-se tonta. Sentou-se no chão. Com as mãos nervosas, pegou o chaveiro. Em seguida, respirou aliviada, levantou-se, lentamente. Ao sentir a firmeza das pernas, caminhou com muito cuidado, mantendo as chaves prontas para abrir a porta.

 

Ao entrar, passou pela mesa, percebeu o envelope, olhou e dirigiu-se para a cozinha. Tomou o remédio que ficava no armário. Após ingerir o comprimido, continuou absorvendo pequenos goles de água. Sabia que D. Mercedes tinha ido ao médico e que, certamente, demoraria.

 

Ao pegar a carta viu que a remetente era sua nora e o endereço uma pequena cidade no interior do Canadá. Achou estranho que não fora escrita pelo seu único filho.

 

Minha querida sogra. Inicio esta carta com uma boa notícia. Seu neto nasceu há duas semanas. Está ótimo. Recebeu o mesmo nome do pai. Devido a uma forte nevasca, ficamos sem comunicação, por isso não pude me comunicar com a senhora antes.

 

A notícia ruim é que eu estava em casa sozinha quando começaram as dores do parto. Liguei para a empresa e o meu marido pegou a moto e veio para me socorrer. Infelizmente, a moto foi atingida por um carro. Os vizinhos me socorrem e fui levada ao hospital. Fui submetida a uma cesariana. Fiquei por uns dias em estado de choque. Os médicos não deixaram que eu fosse ao velório. Disseram-me que a urna estava lacrada. Somente na semana seguinte, eu recebi alta do hospital junto com meu filho.

 

Hoje mais calma, decidi informá-la da tragédia e dizer que vou continuar morando aqui e vou fazer tudo que meu marido sonhava para o nosso filho. Seu neto irá estudar no colégio que o pai escolheu. Se a senhora não puder vir, farei o possível para um dia levar seu neto para a senhora conhecê-lo. Na próxima carta lhe enviarei fotos dele.

 

Antes de concluir a leitura, o celular toca. Adélia coloca a carta sobre a mesa e atende à ligação:

— Dona Adélia, aqui é o gerente de sua conta. Assim que a senhora saiu, conclui o documento do seguro de vida da senhora para o seu filho, só falta a senhora assinar.

Ela, com a voz trêmula:

— Não é mais necessário…


Destino, o que é o destino? - Helio Salema

 



Destino, o que é o destino?

Helio Salema

 


II Capítulo


Bento e Gregório eram amigos desde os tempos de colégio. Nos fins de semana, se reuniam com outros amigos, na prática de esportes.

Mesmo quando Gregório se mudou para outra cidade a fim de cursar engenharia mecânica, em alguns fins de semana regressava para a sua cidade natal e era animada a reunião com os antigos amigos.

Após formatura, mudou-se para outro Estado. Nos últimos dois anos, só se falava por telefone. Bento, ao concluir o Segundo Grau, dedicou-se às lojas do pai, que já apresentava sinais de doença grave.

 

Hoje, aniversário do Bento, Gregório retornou para fazer uma surpresa ao amigo. A mulher no carro em chamas era sua ex-namorada, que terminou o relacionamento assim que ele saiu para outro Estado. Talvez por isso que não retornava à sua cidade natal.

 

Ao ouvir o grito do Gregório:

— Sai daí…

Bento acatou a ordem e foi-se afastando em direção ao amigo que segurava o bebê.

Um carro para próximo e um casal sai correndo. O marido, que era bombeiro, consegue abrir a porta do carro e retira a mulher. Ele a conduz para junto do seu carro, onde sua esposa, que é médica, logo começa a examinar a vítima. Balança a cabeça!!!

 

Outros veículos foram chegando, inclusive a viatura policial. Com o uso de vários extintores, o fogo foi sendo dominado. Do veículo, quase nada restou. As várias malas e sacolas eram, agora, um monte de cinzas.

 

Bento, que reconheceu a mulher, Maria Clara, ficou sem saber como dizer ao amigo Gregório, que continuava segurando o bebê, como um pai dando todo carinho do mundo ao filho, que pouco antes estava chorando, desesperadamente.

 

Os policiais quiseram saber quem eram os três, que a princípio pareciam serem os sobreviventes. Gregório explicou que de longe viu quando o carro perdeu o controle, atravessou a pista e bateu de frente na árvore. Parou para socorrer, em seguida, seu amigo chegou e conseguiu tirar a criança. Eles se afastaram com receio de explosão. Então aquele casal parou e o homem conseguiu retirar a mulher, enquanto outras pessoas apagavam as chamas.

Um policial perguntou se conheciam as vítimas. Bento relatou que o bebê era filho da vítima, cujo marido era “AQUELE SUJEITO” que matou um casal e fugiu, no mês passado.

— Talvez ela estivesse indo ao encontro dele.

E os parentes da criança?

— A mãe e o irmão da vítima foram embora, sem deixar endereço, logo após ela se juntou ao tal cara que apareceu na cidade. Ninguém nunca soube quem ele era nem de onde veio.

— Então, o bebê não tem parente?

Bento, olhando para Gregório:

— Talvez… Sim.

O policial foi chamado à viatura.

Bento, ao perceber o terrível espanto no semblante do amigo:

— Este menino nasceu de parto normal sete meses depois que você foi embora e não mais voltou. Sempre estivemos em dúvida, mas como você e nem ela jamais comentaram sobre o término do namoro, decidimos ficar calados.

 

 

 

CINCO ANOS DEPOIS.

 

Mais um fim de semana que Gregório retorna à sua cidade. Nestes últimos cinco anos, foram pouquíssimos os que não esteve presente. Hoje é um dia especial. Na escola, Bento e seu filho Sandro e o amigo Gregório com o seu filho Gregorinho. Terminada a festa do Dia dos Pais, foram os quatro almoçar.

 

Após o almoço, decidiram ir até um parque onde as crianças encontraram outros amigos. Enquanto a turminha brincava, animadamente, os pais ficaram conversando e admirando o entrosamento dos filhos. Por um instante, o silêncio dominou entre os amigos, quando Gregório ficou bastante emocionado:

— Destino. O que é o destino?

Bento percebeu que o amigo queria revelar alguma coisa importante, continuou calado. Gregório, em tom de desabado, começa a relatar:

— Quando eu falei para Maria Clara que tinha conseguido um emprego, ela demonstrou-se muito contente. Ao saber que era em outro Estado, mostrou-se surpresa. Tentei explicar que era muito importante para mim.

Foi quando ela respondeu:

— Vá e seja feliz. Não precisa voltar.

— Assim terminava um relacionamento que para mim seria eterno. Eu só comentei com minha mãe e minha irmã, pedindo que não falassem nada, pois eu não sabia como estaria tempos depois. Dias antes do acidente, minha irmã telefona e diz que minha mãe estava muito doente. Decidi vir e escolhi justamente o dia do seu aniversário. Era uma surpresa, desejava muito lhe fazer. Só acreditei que era o pai, depois do resultado do DNA, embora estivesse muita vontade de criá-lo como filho. Mesmo que o pai fosse outra pessoa. Tenho pensado e refletido muito.

 O que é o destino?

 

 

 

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