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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O bicho papão - Dinah Ribeiro de Amorim


BICHO – PAPÃO!
Dinah Ribeiro de Amorim
  Toda vez que quero brincar na calçada, Dª Zezé, a empregada lá de casa, avisa que é perigoso: vem o bicho – papão e te pega! Não é só na rua, não! Qualquer outra coisa perigosa que ainda desconheço, pode aparecer o tal bicho – papão, comedor de crianças, muito ruim mesmo, carregando um saco nas costas!
  De tanto ouvir falar nele, deu-me até vontade de vê-lo! Feio, narigudo, cara de mau, de roupas sujas e compridas, com grande saco nas costas, cheio de criancinhas, sempre pronto a carregar mais uma para quando tiver fome! Que coisa horrível! É para ter medo, mesmo!
  Outro dia, descobri que além de medroso, sou também muito curioso! Nem sei o que é maior em mim: curiosidade ou medo. Saí para a rua, escondido de mamãe e de Dª Zezé, que vivem pegando no meu pé! Até brincar com Pedrinho, meu amiguinho da casa ao lado, pode ser perigoso e  aparecer o tal bicho! Achei demais!
  Abri o portão, devagarzinho, e, fui saindo, sozinho, em direção à esquina. Nossa casa fica mais ou menos no meio de várias outras  iguais.
  Tudo bem, ninguém à vista! Tento dobrar a esquina e, para voltar, penso, seria fácil, virar as costas e fazer o caminho de volta. Ando um pouco rápido, já meio amedrontado. Nunca havia saído sozinho, mas “adorando” essa grande aventura!
  De repente, avisto um velho, muito velho, arrastando a perna, lembrando um pouco meu avô. Com um braço, segura uma bengala e, com o outro, uma sacola sobre os ombros. Lembrei na hora: “É o tal do bicho – papão! Preciso dar meia volta e correr para casa. Sua sacola deve estar cheia de crianças e usa uma bengala comprida para apanhá-las. Quero correr, mas não consigo. Quase tropeço nas minhas pernas pequenas e frágeis! Acho que ele irá vai me alcançar! Por que fui fazer isso!”
  Começo a chorar alto e percebo que minha casa está mais longe do que eu pensava. O velho, feio e sujo, mancando, mesmo assim me alcança. Olho para ele, apavorado, já esperando levar uma bengalada, mas seu olhar é bondoso, humilde, perguntando-me gentilmente por que choro! Espantado, respondo que não consigo achar a minha casa. Ele, com cara de dó, acha-me vendo que sou muito pequeno para andar sozinho pelas ruas,  resolve me acompanhar até a encontrarmos.
  Como? - penso eu - Não é o bicho-papão!
Sinto-me seguro ao seu lado e ele afirma que as ruas são perigosas para crianças sozinhas, nossa casa é um bem muito grande e, se a perdemos, ficamos como ele, velho, doente, caminhando pelas ruas, sem lugar para descansar.
  Arrisco uma pergunta: “O que o senhor tem nesse saco?”
— Roupas velhas e restos de comida que encontro por aí! Só isso! Responde ele.  Esse era o tão terrível bicho-papão da minha infância!
  Logo chegamos a minha casa, com mamãe e Dª Zezé à porta, desesperadas à minha procura. Assim que me vêem, correm a abraçar-me, olhando desconfiadas para o velho. Digo que ele é um bom amigo, que eu estava perdido e ele me encontrou achou, precisando agora de alguma comida e um pouco de roupa velha, porque não tem onde morar! Não era o bicho-papão, não, era um homem velho e bondoso, necessitando de ajuda.

  As duas entenderam, foram buscar algumas sobras do almoço para ele, que ficou horas sentado à nossa porta, descansando um pouco dessa vida longa e triste de homem sem direção! Na minha inocência, passei também muito tempo espiando-o, com curiosidade, atrás da janela da sala, descobrindo um mundo novo!

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