A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quarta-feira, 24 de abril de 2024

O LAGO DE TUALATIN - Alberto Landi

 




O LAGO DE TUALATIN

Alberto Landi

 

O lago de Tualatin está localizado nos arredores da cidade de Portland, Oregon, é um dos poucos refúgios urbanos nacionais.

É um lugar fantástico, pois há uma grande variedade de aves como flamingos, gaviões, falcões, garças-azuis e diversos pássaros.

Situado na planície de inundação do Rio Tualatin, esse refúgio tem muitas espécies que escapam muitas vezes aos olhos de quem a visita.

Margeando o lago há pequenas mesas e alguns fast-food para quem deseja passar o dia e apreciar a beleza local.

Em suas águas límpidas e transparentes, havia um flamingo que se destacava dos demais, uma ave elegante, de uma coloração exuberante, admirava a sua imagem nessas águas.  Plumagem rosada, peito delicado, parecia um top-model desfilando na passarela, marcas pretas na frente da asa, alimentação a base de camarões, algas, crustáceos e plânctons, cauda curta, asas grandes e musculosas, pés palmados, ótimos aliados para agarrar o fundo de lagos, vôo bonito e rápido.

Mas era uma imagem que não lhe agradava, na verdade, queria ser um predador voraz, uma ave de rapina.

Decidiu contatar um falcão, pois admirava as suas asas longas e afiladas, cauda curta, uma aerodinâmica adaptada a voos rápidos e execução de manobras ágeis. Plumagem cinzenta azulada no dorso e asas, cabeça preta, bico escuro com base amarela e pernas da mesma cor.

O falcão por sua vez começou a fazer amizade com o flamingo, dando algumas orientações de como se comportar e viver da caça.

Em uma das lições dadas foi como abater pequenos roedores com o bico.

— Vá em frente e caia de bico neles, diz o falcão.

O flamingo não estava se adaptando com os possíveis novos costumes e com muita pena dos roedores recuou, como dizendo isso não é legal.

O falcão ficou bravo e disse ao flamingo que ele precisaria se consultar com a coruja terapeuta, para perder o medo.

Com pouca conversa, a coruja percebeu que o flamingo não iria se adaptar com o novo habitat, e o convenceu   para se aceitar da maneira como ele é e vive, se assumir sem nenhuma culpa.

Moral da história: Uma vez flamingo, sempre flamingo.!

 

Destino, o que é o destino! - Helio Salema

 


Destino, o que é o destino!

Helio Salema

II Capítulo

 

Bento e Gregório eram amigos desde os tempos de colégio. Nos fins de semana se reuniam com outros amigos na prática de esportes.

Mesmo quando Gregório mudou-se para outra cidade a fim de cursar engenharia mecânica, em alguns fins de semana regressava para a sua cidade natal e era animada a reunião com os antigos amigos.

Após formatura mudou-se para outro Estado. Nos últimos dois anos só se falavam por telefone. Bento, ao concluir o Segundo Grau, dedicou-se as lojas do pai, que já apresentava sinais de doença grave.

 

Hoje, aniversário do Bento, Gregório retornou para fazer uma surpresa ao amigo. A mulher no carro em chamas era ex-namorada do Gregório, que terminou com ele assim que ele saiu para outro Estado. Talvez por isso que Gregório não retornava a sua cidade natal.

 

Ao ouvir o grito do Gregório:

— Sai daí…

Bento acatou a ordem do amigo e foi-se afastando em direção a

Gregório e ao bebê.

Um carro para próximo e um casal sai correndo. O marido que era bombeiro consegue abrir a porta do carro e retira a mulher. A conduz para junto do seu carro, onde sua esposa que é médica logo começa a examinar a vítima. Balança a cabeça!!!

 

Outros veículos foram chegando, inclusive a viatura policial. Com o uso de vários extintores o fogo foi sendo dominado. Do veículo quase nada restou. As várias malas e sacolas eram, agora, um monte de cinzas.

 

Bento que reconheceu a mulher, Maria Clara, ficou sem saber como dizer ao amigo Gregório, que continuava segurando o bebê, como um pai dando todo carinho do mundo ao filho, que pouco antes estava chorando, desesperadamente.

 

Os policiais quiseram saber quem eram os três, que a princípio pareciam serem os sobreviventes. Gregório explicou que de longe viu quando o carro perder o controle, atravessou a pista e bateu de frente na árvore. Parou para socorrer, em seguida seu amigo chegou e conseguiu tirar a criança. Eles se afastaram com receio de explosão. Então aquele casal parou e o homem conseguiu retirar a mulher, enquanto outras pessoas apagavam as chamas.

Um policial perguntou se conheciam as vítimas. Bento relatou que a criança era filho da mulher, cujo marido era “AQUELE SUJEITO” que matou um casal e fugiu, no mês passado:

—Talvez ela estivesse indo ao encontro dele.

E os parentes da criança?

— A mãe, e o irmão da vítima foram embora, sem deixar endereço, logo após ela se juntar ao tal cara que apareceu na cidade. Ninguém nunca soube quem ele era nem de onde veio.

— Então o bebê não tem parente?

Bento olhando para Gregório:

— Talvez…Sim.

O policial foi chamado à viatura.

Bento ao perceber o terrível espanto no semblante do amigo:

— Este menino nasceu de parto normal sete meses depois que você foi embora e não mais voltou. Sempre estivemos em dúvida, mas como você nem ela, jamais comentaram sobre o término do namoro, decidimos ficar calados.

 

 

 

CINCO ANOS DEPOIS

 

Mais um fim de semana que Gregório retorna a sua cidade. Nestes últimos cinco anos foram pouquíssimos os que não esteve presente. Hoje um dia especial. Na escola Bento e seu filho Sandro e o amigo Gregório com o seu filho Gregorinho. Terminada a festa do Dia dos Pais, foram os quatro almoçar.

 

Após o almoço, decidiram ir até um parque onde as crianças encontraram outros amigos. Enquanto a turminha brincava, animadamente, Bento e Gregório ficaram conversando e admirando o entrosamento dos filhos. Por um instante, o silêncio dominou entre os amigos, quando Gregório bastante emocionado:

— Destino. O que é o destino?

Bento percebeu que o amigo queria revelar alguma coisa importante, continuou calado. Gregório, em tom de desabado, começa a relatar:

— Quando eu falei para Maria Clara que tinha conseguido um emprego, ela demonstrou-se muito contente. Ao saber que era em outro Estado mostrou-se surpresa. Tentei explicar que era muito importante para mim.

Foi quando ela respondeu:

— Vai e seja feliz. Não precisa voltar.

— Assim terminava um relacionamento que para mim seria eterno. Eu só comentei com minha mãe e minha irmã, pedindo que não falassem nada, pois eu não sabia como estaria tempos depois. Dias antes do acidente, minha irmã telefona e diz que minha mãe estava muito doente. Decidi vir e escolhi, justamente o dia do seu aniversário. Era uma surpresa que desejava muito lhe fazer. Só acreditei que era o pai, depois do resultado do DNA, embora estivesse muita vontade de criá-lo como filho.

Mesmo que o pai fosse outra pessoa. Tendo pensado e refletido muito.

 O que é o destino???

 

 

PAIS ADOTIVOS LEGAIS! - Dinah Ribeiro de Amorim

 



PAIS ADOTIVOS LEGAIS!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Bento e Rogério, amigos inseparáveis, levam a filha adotada à escola. Aos seis anos, já vai frequentar o primeiro ano, menina precoce e muito inteligente, quase alfabetizada.

Orgulhosos e preocupados, percebe-se o carinho que sentem pela menina Luiza, que caminha entre os dois, ansiosa para conhecer a nova professora. Não os chama de pais, mas de tios, embora more com eles.

Os amigos a adotaram uns cinco anos antes, após salvá-la de terrível acidente em estrada, um capotamento de carro, que se incendiou rápido.

Conseguiram tirá-la, ainda bebê, presa na cadeirinha do banco de trás, aos berros. Os pais, inconscientes, morreram na explosão.  Mal deu tempo de eles correrem e se salvarem.

Essa tragédia deixou-os em choque por muitos meses, não sabendo direito o que fazer com a criança pequena e com dó de entregá-la a estranhos. Segundo a polícia, só havia uma avó materna ainda viva que, com o sofrimento dessa perda, ficou sem condições de educar a neta, interna em casa de repouso.

Inexperientes, os dois amigos resolvem recorrer ao Juizado de Menores, explicar a situação e a vontade de adotá-la.

Assim a pequena Luiza cresceu, amada e criada, com dois papais ou titios.

Logo no primeiro dia de aula, as crianças notam que vem à escola com os dois amigos e, sem a mãe, como todas elas. Estranham e começam a observá-la, curiosos.

Luiza já começa a se destacar dos outros alunos. Desperta a curiosidade dos coleguinhas que perguntam, várias vezes, se não tem mãe ou qual deles é seu pai?

A menina, desembaraçada, responde que foi criada por eles, mas, realmente, não conheceu os pais, chama-os de tios. Descobre nela atenção sobre eles, como veio ao mundo e acabou sendo criada por Bento e Rogério. Demonstra não saber nada sobre o acidente.

Os dias passam alegres na escola, com Luiza, que é a mais inteligente e capaz. Torna-se líder da criançada nas atividades escolares e brincadeiras.

Às vezes, volta para casa, meio quieta, o que não é normal, quando avista os coleguinhas abraçados por suas mães.

Os dois amigos, preocupados, sentem que está na hora de contar-lhe a verdade, como veio viver com eles. Mas compreendem que terá um grande choque. Não está preparada para isso. Sentem a sua necessidade de saber sobre os pais, principalmente da mãe, quando toda criança depende da criação e do amor materno.

A menina Luiza, somente com eles, não demonstrou essa falta de carinho, mas, no meio das outras crianças, seus primeiros contatos sociais, começa a manifestar essa ausência carinhosa comum aos coleguinhas.

O que fazer? Foram criados longe dos pais, enfrentaram seus problemas sozinhos, venceram razoavelmente na vida, a ponto de se compadecerem dos problemas alheios, como aconteceu no caso de Luiza. Mas, falar sobre a ausência dos pais dela, da falta que faz uma mãe, não sabem como revelar isso a uma menina de seis anos.

Por mais que tentem agradá-la, considerá-la como filha, não conseguem substituir o amor do pai e da mãe verdadeira.

Após conversarem e meditarem sobre o assunto, resolvem pedir o auxílio da irmã de Bento, casada, com três filhos, para orientá-los como agir como verdadeiros pais e explicar à menina o porquê está com eles.

Carolina, a irmã de Bento, compreende logo a situação e já previa que teriam problemas nesse sentido. Percebia, achando graça, como agiam com Luiza, tratavam-na como se fosse um homenzinho, fazendo-a participar da vida deles. Vestiam-na com roupas esportivas, levavam-na a jogos ou a brincadeiras de meninos, não era tratada como uma menina delicada e sim como eles gostariam de ser tratados na infância. Isso chamou a atenção dos dois amigos, que creram nas verdades que a irmã de Bento falava. Precisavam mudar de atitude em relação à Luiza, se quisessem que fosse feliz como menina e, mais tarde, como mulher.

Queriam o bem dela e pretendiam mudar o comportamento. Contavam com Carolina, para isso.

Incentivam Luiza a passar uns dias de convivência com a tia Carolina.

— Por que isso? Pergunta a menina.

— Gosto de viver com vocês. Acho que vou acabar brigando com os primos. E é mais longe da escola.

Bento, entristecido, responde que é só por uns tempos, para a tia ensiná-la melhor como se vestir, brincar com sua filha, ter mais amiguinhas.

Luiza, conformada, quando fala em brincadeiras e ter mais amigos, concorda. Gosta de se socializar.

Realmente, na casa da tia, a menina começa a se divertir e gostar. Brigam um pouco também, comum na criançada, mas sente-se bem e é tratada como uma prima querida ou filha pela tia, que lhe oferece carinhos iguais aos filhos. Sentia falta de uma mãe!

O tempo passa e Luiza sente, às vezes, saudades de Bento e Rogério, o mesmo acontece também com eles. Parece que perderam uma filha, de verdade.

Carolina começa a levá-la a escola e faz amizade com outras mulheres, mãe dos coleguinhas.

Logo Luiza começa a receber muitos convites para festinhas e brincadeiras. Vem a preocupação da tia em ensiná-la a se vestir, comprar vestidos e sapatos de moda, criar na menina um pouco da vaidade e dos costumes sociais, o que não sabia com os tios.

O carinho de Carolina começa a transparecer na alegria de Luiza.

Começa a amar a tia como mãe de verdade.

Numa noite, acorda assustada, tem um sonho estranho e chama a tia, que, preocupada, corre a atendê-la. Encontra-a chorando.

— O que aconteceu, Luiza? Está sentindo alguma dor?

— Não, responde à menina, sonhei com uma mulher bonita, meio estranha, longe, parecia me chamar, mas não consegui ouvir. Senti grande tristeza ao vê-la.

— São sonhos Luiza, vai ver comeu alguma coisa que fez mal, ontem, responde Carolina.

— Não sei, tia, parece que ela me conhece! Só não sei de onde! Responde Luiza.

Carolina, pensativa, acha melhor conversar com Bento. Será que é a primeira vez que acontece isso? Pensa.

Na noite seguinte, Luiza sonha novamente com a mesma mulher bonita, chamando-a e, assustada, vai dormir com a tia.

Vem à cabeça da menina, curiosidades a respeito de sua mãe! Começa a interrogar a tia quem foi sua mãe, de verdade.

Diante disso, Bento e Rogério são chamados e contam a verdade para a menina. Os pais morreram num acidente de carro e, só ela conseguiram salvar. Passavam por uma estrada e viram quando o carro capotou. Como não tinha mais ninguém que a cuidasse, resolveram adotá-la como filha, encantados por ela e amando-a muito.

Luiza permanece em silêncio, um pouco chocada; fica quieta por vários dias, sem grandes manifestações. Até a escola, que sempre gostou, não mudou a tristeza e quietude. Parecia outra menina.

Os sonhos pararam e, com o tempo, Luiza manifestou grande saudade dos tios. Pediu para voltar à casa deles. Já sabia muitas coisas sobre meninas e, principalmente, a quem deveria amar e agradecer.

Despede-se da tia Carolina, uma tia – mãe mesmo e, volta, aos dois papais ou titios que a vida lhe deu.

Amadurece, consciente dos problemas que teve. Nunca mais aconteceram sonhos estranhos.

 


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