A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

CONTOS PARA SEMPRE - ANTOLOGIA ICAL 2022 - LANÇAMENTO 10-DEZEMBRO-22

 



Contos para Sempre


Contos para sempre

UMA EXPIRIÊNCIA MAIÚSCULA

 

Por: Ana Maruggi

Coordenadora da Oficina de Textos Criativos

 

 

A Oficina de textos criativos do ICAL existe desde 2009, e no decorrer dos anos os participantes foram deixando marcas literárias pelo caminho. Os rastros em páginas e páginas de livros editados:  livros infantis, livros de contos, memorialista e de culinária afetiva. Além disso, a Revista Eixo Cultural que trouxe muitos textos de alunos e de outros simpatizantes da ONG.

Hoje temos mais um resultado de boas escritas, a coletânea CONTOS PARA SEMPRE, uma antologia que já causa interesse quando se depara com a capa que traz a belíssima obra “Moça com livro” – Óleo sobre tela - do artista plástico brasileiro José Ferraz de Almeida Júnior, e que guarda entre as tantas páginas, 42 textos que discorrem por temas diversos:  contos de ficção que narram histórias de suspense, outros falam de amor, há poesia, há memórias...

Os autores vindos dos mais diversos campos de atuação, hoje se dedicam à criação de histórias. A maioria destes escritores tem nesta antologia, sua primeira publicação. Essa incomparável viagem que aguçou o apetite criativo deles, agora provoca o deleite de leitores como você. Esta obra é a experiência maiúscula de pessoas que tomaram para si a “responsabilidade” de criar histórias carregadas de valores vindos, são escritores com bagagem cultural elevada e invejável autoestima.

Eu, como coordenadora literária deste grupo, sugiro que siga a leitura na ordem de publicação, assim poderá perceber o estilo de cada um. 

Sumário

 

Adelaide Barrozo Dittmers

A escolha .............................................................. 13

A oportunidade ..................................................... 39

A transformação..................................................... 45

O olhar de uma avó ............................................... 51

Sou ......................................................................... 53

 

Alberto Landi

Clark, o capitão...................................................... 57

Freddy ................................................................... 63

 

Ana Catarina Sant’Anna Maués

O dejejum ............................................................... 71

O sonho de uma árvore............................................ 75

 

Claudionor Dias da Costa

A roda da vida ......................................................... 81

O soldado que não queria matar ............................. 95

 

Dinah Choichit

O vizinho falante .................................................... 105

Saudades ................................................................. 107

 

Hélio Fernando Salema

É a vida… ................................................................ 113

Esconde-esconde..................................................... 115

O caminhoneiro........................................................ 121

O último pileque....................................................... 135

Pássaros na gaiola..................................................... 153

 

Henrique Schnaider

João Lorota................................................................ .. 165

O violino mágico.......................................................... 171

Twist o touro campeão ............................................... 177

Um trem com alma...................................................... 181

 

Hirtis Lazarin

Cinquenta anos depois ............................................... 189

Feitiços da lua............................................................. 195

Foi por um triz ........................................................... 201

Inevitável..................................................................... 207

Lamento....................................................................... 211

 

Leon Alfonsín Vagliengo

A vingança do computador......................................... 215

Êxtase ......................................................................... 223

Matheus, o surfista .................................................... 225

O desencontro de Arminda Rosa e João Gaspar......... 229

O vigário e seu amigo vigarista ................................. 233

Vingança no Oregon — 1869....................................... 243

 

Maria do Carmo

Serei eu o herói de minha própria história

ou qual[1]quer outro tomará esse lugar ....................... 255

 

Morgana Cruz

Além do seu tempo...................................................... 263

Histórias de uma vida ................................................. 267

Lugar secreto .............................................................. 269

Presente inesperado ................................................... 271

 

Suzana da Cunha Lima

A Boa Nova.................................................................. 275

Conversa na hora de dormir....................................... 281

O engodo ................................................................... 287

Prólogo ...................................................................... 293




Contos para Sempre


No dia 10 de dezembro de 2022 fizemos o lançamento da antologia Contos para Sempre, cuja, nos deu muito prazer  publicar.

Estiveram presentes os autores e seus familiares. Foi uma honra conhecê-los, e sentir que fazemos parte da história de cada um.


Na mesma data comemoramos os aniversários da Dinah Choichit e do Claudionor Dias da Costa.

Parabéns aos aniversariantes!


Abaixo temos algumas fotos enviadas pelos participantes.


Foco na escrita, pois em 2023 temos novos projetos literários e vocês fazem parte deles.


Feliz Ano Novo!







































































































quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Um olhar ao redor - Adelaide Dittmers

 


Um olhar ao redor

Adelaide Dittmers

 

Olho em volta e estremeço.  Uma sala branca, cujas paredes estão forradas de coroas de flores. Estou em um velório.  De quem será? Não me lembro de ter recebido a notícia da morte de alguém conhecido.

Tento me mexer, mas não posso. Minhas pernas e braços estão imóveis.  Meu Deus! Estou preso a um caixão.  Quero levantar e não consigo.  Percebo que meus olhos estão fechados, mas estou vendo tudo ao meu redor.  Estou morto?  Meu corpo se arrepia todo, mas morto não pode se arrepiar.

Meus olhos, ou sei lá o que estou usando para enxergar, divisam muitas pessoas no lugar.

Minha mulher está abraçada ao meu filho e os dois soluçam.  A tristeza me invade e sinto-me impotente diante dessa cena.

Um grupo de amigos conversa a um canto.  Parecem discutir sobre algo, política ou negócios. Não ouço o que dizem.  Falam em voz baixa.

Não acredito! Dona Maricota também está aqui.  Como sempre não pára de tagarelar. Ah não! Está se aproximando de mim com uma vizinha.  O olhar compungido tem uma sobra de sarcasmo. ¨Era um homem forte.  Como foi morrer assim de repente! Sabe, aqui entre nós, dizem por aí que era um mulherengo e traía dona Clara, descaradamente¨.

Miserável! Veio ao meu velório só para fofocar e falar mal de mim.  Se eu pudesse a expulsava daqui. Se estivesse vivo, estaria vermelho de raiva.

O Rafael acabou de entrar.  Cara de pau! Me deve um dinheirão e não atendeu mais aos meus telefonemas.  O rosto coberto de uma dor, que com certeza não sente.

O que o Leo está fazendo?  Abraçando Clara de um jeito suspeito e parece comê-la com os olhos.  Nem esfriei ainda...Meu melhor amigo! É difícil acreditar em tanta falsidade!

Ouço sons de risadas, que vêm de fora.  O grupo das piadas!  Não respeita o sofrimento alheio. Porém, tenho que admitir, participei disso muitas vezes.

Que surpresa! É a Gracinha chegando perto de mim! Linda, elegante e discreta.  Vivi grandes momentos com ela.  Seu rosto espelha uma grande tristeza e lentamente deposita uma rosa vermelha em meu peito.  Coloca a mão em cima das minhas, fecha os olhos e deve estar fazendo uma oração.  Discretamente afasta-se e sai, mas o rastro de seu perfume permanece como um bálsamo.

Fito Clara, que está recebendo vários abraços de condolências.  Graças a Deus não viu Gracinha.

Um padre aparece a começam as orações.  Todos baixam a cabeça para acompanhá-las.  Será que estão rezando por mim? Duvido.  Muitos devem estar pensando no que vão fazer depois.

Neste momento, resolvo me entregar a Deus e ao que vier. Estou só, como nunca estive.  Saímos deste mundo completamente sozinhos.  Não importa quantas pessoas estejam a nossa volta. Felizmente vivi plenamente. Não me arrependo de nada.  Aceito meu desenlace como aceitei a vida.

 

 

O homem da gaita - Adelaide Dittmers

 



O homem da gaita

Adelaide Dittmers

 

 

Passou por mim um homem,

Gaita na boca,

Tocando indiferente,

Imerso na melodia.

 

Gorro colorido, cabelos compridos,

Passou por mim,

Sua música e ele,

No seu mundo.

 

Nada via ao seu redor,

O homem e sua gaita,

Ele e sua música 

Passaram por mim.

 

A tarde de céu azul,

A calçada florida,

Mesclavam-se ao homem,

Eram parte dele e sua gaita,

 

Passou por mim um homem,

Tocando indiferente,

Passou rápido pela minha vida,

Não passei pela dele.

A PILHA - Leon A. Vagliengo

 

 


A PILHA

Incluindo a esperança de Liberdade, ainda que tardia.

Leon Alfonsin Vagliengo

       

Olho em volta de mim, tentando descobrir algo que me inspire para escrever uma boa história. Estou em meu pequeno escritório, onde se encontram muitos objetos apropriados para o local, como canetas, lápis, réguas, computador, livros, impressora etc., mas nada disso me parece sugestivo para a elaboração de algum texto interessante. Minha imaginação é uma noite escura, nenhuma ideia a ilumina.

        Finalmente, uma porta se abriu deixando entrar a luz do pensamento, quando meu olhar pousou sobre uma enorme pilha de papéis. Nela, documentos bem recentes, amontoados sobre outros, antigos, alguns até muito antigos, concorrem para produzir em mim um desalento crônico, uma impressão desagradável de que nunca me libertarei de seu jugo cruel. Encontrei a minha estrada, passo a percorrê-la.

        Alguns desses documentos representam pagamentos inadiáveis, exigindo total prioridade; são processados assim que chegam e imediatamente mudam de categoria, juntando-se a outros porque trazem informações para registros contábeis e elaboração de relatórios. Os piores, porém, são aqueles que representam problemas que precisam ser solucionados, mas parecem não ter solução. Estes ficam, ficam... e ficam.

Entre esses papéis, existe até uma folha com vinte selos postais, que deverão ser utilizados para o envio de cartas pessoais que não consegui tempo para escrever. Seriam várias, não escrevi nenhuma até agora. Um dia ainda as escreverei, e farão parte de um interessante e simpático treino de redação idealizado pela professora de escrita literária, com a utilização de um recurso que hoje já se tornou arcaico, mas assume, neste contexto, uma conotação saudosista quase poética.

Ah! A escrita literária!

Que vontade de retomar e completar cada um dos rascunhos de histórias que tenho acumulados em arquivos de meu computador! Ou, de escrever todos os textos semanais recomendados nas aulas! Mas não tem sido possível, o tempo é escasso, as preocupações rotineiras desviam os meus pensamentos, muitas vezes escravizam o meu cérebro.

Apesar de tudo, ainda tenho encontrado algum tempo para o prazer de escrever alguns textos. Não consigo fazer muitos, mas não desisto. Sempre sai algum, e assim vou levando.

        Porém, a grande pilha, simbolizando tantos afazeres de que não consigo dar conta, continua sempre lá, impiedosa e ostensivamente, para que eu a veja todos os dias.

No início, constatar o seu contínuo crescimento me desesperava. Com o passar do tempo, porém, a habitualidade em vê-la foi criando em mim uma espécie de calo mental, fui desenvolvendo naturalmente defesas psicológicas que me permitem, hoje, conviver tranquilamente com as suas pendências, sem mais pesar em minha consciência o fato de não conseguir extingui-la.

        Muitas vezes penso nisso e fico com a sensação de que me tornei um sem-vergonha.

OBJETO COMPANHIA - Hélio Fernando Salema

 


OBJETO COMPANHIA

Helio Fernando Salema

 

Minha garrafa d’água tem sido minha companheira há muitos anos, desde que a recebi de presente do meu filho. Inicialmente era usada nas viagens de carro, principalmente no verão. O conteúdo permanecia gelado durante todo o trajeto, o que facilitava a minha hidratação sem necessidade de parar o veículo e, melhor ainda, não ingerir água sem saber a procedência. Embora eu já não costumava adquirir em qualquer comércio, pois sempre ficava em dúvida não só a respeito da origem como também da qualidade.

 

Em casa, ela é figura permanente na minha mesa, faz parte do meu dia a dia, sempre olhando para mim e lembrando-me de que ela tem um presente necessário e agradável para me satisfazer.

 

Nos dias quentes, abastece-me de água gelada ou água de coco enquanto assisto ao futebol pela TV. Também quando estou na varanda apreciando a bela paisagem e o céu que muito me encanta. Às vezes, chegou a acreditar que ela também se encanta como eu.

 

Nas noites frias é ela que ajuda no aquecimento do meu corpo com chá quente preservado durante toda a madrugada, mostrando sua resistência a oscilação da temperatura, o que me da uma tremenda força para encarar os rigores do inverno.

 

Quando saboreio o seu conteúdo o som que ouço parece me dizer:

—“Guardei com carinho só para você “

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

AO ENCONTRO DA FELICIDADE - Henrique Schnaider




 AO ENCONTRO DA FELICIDADE

Henrique Schnaider

 

Décio era um senhor já nos seus cinquenta anos, viúvo desde quando tinha quarenta. Levava uma vida pacata sem muito brilho, já estava perto de se aposentar. Era funcionário público, trabalhava numa função monótona, na qual sequer tinha alguma chance de se destacar. Era todo dia a mesma coisa, verificação de papeis carimbar e despachar.

Ele tinha poucos amigos no trabalho. Já era um sujeito de pouca conversa e assim não dava abertura para que os colegas tentassem uma aproximação, puxar um papo e tentar saber algo de sua vida.

De segunda a sexta feira era a mesma rotina ele sempre desanimado, saia do trabalho e passava num parque que havia a caminho de sua casa. Era o único momento de lazer na vida dele. Caminhava pelas veredas à sombra de enormes jequitibás e de manacás de um perfume inebriante. O canto dos passarinhos dominava o Parque, sabiás laranjeiras com seu canto sem muita alegria. Bem-te-vis tinham um canto forte querendo aparecer mais que todos.

Os bandos de periquitos Tuim e as maritacas, faziam a maior arruaça encantando ao Décio, que se sentava num banco no meio de todo aquele alvoroço. Sempre existe um dia na nossa vida que nos dá uma oportunidade e para ele aquele dia chegou. Uma porta se abriu na vida daquele homem triste e daquela porta sai uma bela mulher que se sentou ali ao seu lado no banco. Ele logo reparou que ela tinha uns olhos azuis, coisas de boneca.

A mulher olhou para Décio e logo puxou conversa, além de bonita, era comunicativa deixando-o com mil campainhas tocando no coração. Ela perguntou a ele qual era o seu nome e ele respondeu:

— Meu nome é Décio, minha mãe adorava este nome, que tinha sido do meu avô, eu não gosto muito do nome, prefiro ser chamado de Dé, mas como é uma homenagem ao meu avô eu aceito. E o seu nome qual é?

— Eu me chamo Monalisa, meu pai adorava este quadro e resolveu fazer uma homenagem ao pintor dele, Leonardo da Vinci. Eu gosto do meu nome e acho muito bonito e charmoso.

Enquanto ela falava, Décio não cansava de olhar para aqueles lindos olhos azuis e falou:

— Você sabe Monalisa, que tem lindos olhos azuis, me encantei com eles. Ela corou, baixou os olhos envergonhada, tomou um folego e respondeu:

— Obrigado pelo elogio, você também é um homem muito atraente e eu simpatizei com você.

Décio sentiu que a eterna noite que era sua vida, naquele momento viu que o sol estava nascendo, depois de tantos anos de viuvez no seu coração e timidamente tomou as mãos de Monalisa e lhe disse:

— Acho que os anjos enviaram você aqui hoje para mudar minha vida para sempre.

E Monalisa se aproximou de Décio ficando bem próxima a ele e assim permaneceram por horas aproveitando aquele momento que era só deles.

Os dois não perderam tempo, descompromissados que eram, depois de pouco tempo foram viver juntos, pois sentiram que foram feitos um para o outro e iriam ser felizes por muitos e muitos anos. 

 

A PORTA - Adelaide Dittmers

 


A PORTA

Adelaide Dittmers

 

Diante de mim há uma porta.  Há uma porta diante de mim.

Para onde me levará? Tenho que abri-la para descobrir.

O medo me avassala. 

E se abrir para uma noite escura? Onde sombras assustadoras aparecerão...

Ou ao abrir me deparar com um dia ensolarado e céu azul...

O que me espera do outro lado, afinal?

Tenho que ter coragem.  Faz parte da caminhada.

Seja o que for que encontrarei, tenho que enfrentar ou me comprazer.

Empurro a porta abre devagar.  O espanto me paralisa.  Diante de mim há caminhos entrelaçados e tortuosos.  Passo a passo, sigo lentamente.  Atordoada, percebo que têm forma de neurônios e se ligam uns aos outros em grande velocidade.

De súbito, uma espécie de nuvem afeta minha visão e sinto um vento forte me carregando. Surpreendida avisto uma bela paisagem, que surge aos poucos no meio da névoa.  Meus pulmões enchem-se de ar puro.  Um sentimento de gratidão inunda meus sentidos. Mais abaixo, um mar verde e límpido lambe a areia branca.  Corro para ele. Mas nesse momento sou arrancada dali e me deparo com homens caçando, vestidos de peles de animais. Os rostos têm feições rudes, as mãos grossas carregam machados feitos de pedra.

Levada outra vez por aquela força estranha, vou parar em outros tempos e lugares.  À minha frente, homens com lanças lutam com ferocidade. Tento fugir dali.  O sangue de um guerreiro espirra em meu rosto.  Desfaleço de susto e volto a mim em uma estreita estrada de terra, onde um homem sentado em uma pedra, fala sobre amor e respeito ao próximo para doze embevecidos ouvintes.  A paz aninha-se em minha alma.  Fecho os olhos para absorver aquele momento.  Quando volto a abri-los, estou em um prédio escuro, com paredes de pedra, onde homens confabulam sob uma tocha, que mal ilumina o aposento.  Olhos ferinos me dizem que lá ódio e não compaixão.  É um lugar lúgubre e amedrontador.  Esforço-me em sair.

Sou jogada em uma praça e ao levantar os olhos, fico horrorizada ao ver pessoas sendo queimadas em fogueiras.  Tampo os ouvidos para não ouvir seus gritos lancinantes.

Sou de novo transportada, impotente que estou de sair desse caleidoscópio de lugares e épocas.  Um campo está sendo lavrado por pessoas pobremente vestidas.  Uma mulher está à sombra de uma árvore amamentando uma criança.  O olhar perdido demonstra desesperança.  Ao longe, um grande castelo ergue-se majestoso.

Novamente, aquela força inexplicável me deposita em um ambiente claro e quando tento entender onde estou, tampo a boca para não gritar de espanto.  Diante de mim, nascendo da pedra bruta, translúcida e pura do mármore, está uma mãe segurando o filho morto.  Fico extasiada! Sento-me no chão frio e admiro comovida o grande mestre executar sua obra. Quis permanecer ali por mais tempo, mas nessa louca viagem não sou dona da minha vontade.

Uma rua estreita e imunda, cercada de pequenas casas é minha próxima parada.  No chão de pedras irrregulares jazem pessoas, cujos corpos estão cobertos de enormes bolhas.  A peste negra.  Dou um passo para trás.  O terror se apodera de mim.

E continuo nesse caminho insano.  Passo por muitas batalhas.  Homens com poderes absolutos, revoluções, mulheres oprimidas, escravos açoitados sem piedade desfilam sob os meus aturdidos olhos.

 De repente, estou em um lugar hostil.  Homens e crianças magérrimos estão sendo empurrados com violência para uma sala totalmente vedada.  Um arrepio percorre-me inteira.  Sinto-me exausta. Viro a cabeça.  Quero sair dali.  O arrependimento de ter aberto aquela porta toma todos os meus sentidos.

Para minha surpresa, vejo-me então em um hospital.  Olho em volta.  Uma mulher geme ao se esforçar em dar vida a um novo ser.  Aproximo-me dela.  Paro estática. È minha mãe. Quero chegar mais perto, mas não consigo.  O choro de uma criança ecoa na sala. ¨Uma menina¨, diz o médico sorrindo.  Atônita, percebo que sou eu, que estou nascendo.  Viro-me, e à minha frente está a mesma porta. Respiro fundo e baixando a maçaneta, entro...                      

O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...