A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quarta-feira, 25 de abril de 2018

AS ARMADILHAS QUE VIDA NOS ARMA - Henrique Schnaider



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AS ARMADILHAS QUE VIDA NOS ARMA
Henrique Schnaider

Carlos era rico, um homem de boa aparência, cabelos louros, lisos bem tratados, chamava atenção pelos olhos azuis.

Era um atleta, corpo delineado, malhado na Academia.

Sua tez era de um branco nórdico. Muito vaidoso, andava sempre bem vestido, seja esporte ou social.

Possuía uma mansão, num dos bairros mais elegantes da capital, com muitos empregados. Moravam com ele a esposa Clarissa, mulher atraente, frequentadora da alta sociedade, dois filhos André e Silvio, ambos cursando Faculdade de Engenharia.

Levava uma vida agitada, mas apesar de possuir tudo que uma pessoa sonha ter e fazer, não conseguia sentir-se feliz, procurava ter paz de espirito. Tinha entusiasmo por tudo que fazia, mas acabava por magoar as pessoas sem intenção.

Clarissa e os meninos tinham outras atividades, pouco participavam da vida de Carlos.

Até que certo dia, coisas do destino, Carlos conheceu Andrea, frequentadora do mesmo circulo social. A paixão foi imediata, muitos encontros, parecia que ele finalmente encontrara a felicidade nos braços de Andrea.

Depois de certo tempo, no iate de Carlos, fazendo um cruzeiro pelos mares do Caribe, algo inesperado acontece!!!

Carlos começou a sentir fortes dores constantes nas costas, a tal ponto que tiveram que interrompera viagem. Assim que chegou foi consultar um especialista, que diagnosticou câncer de pulmão.

O mundo de Carlos desabou, para ele que possuía tudo, dinheiro, beleza, amor, nada tinha agora nenhuma importância, não lhe restava mais do que três meses de vida.

Os tratamentos iniciados com quimioterapia, radioterapia, de pouco adiantaram.  Carlos passou por um sofrimento atroz na medida que doença avançava, tirando completamente as esperanças de uma cura, causando-lhe profunda depressão.

Andrea, tratou de sumir da vida dele. Apesar de estar sendo tratado no melhor hospital do país, com todo luxo e conforto, via sua vida se esvair rapidamente.
Na cama sem forças para levantar, ele imaginava quanta coisa poderia ter feito, que não deu importância quando teve chance de fazer. Concluiu que a vaidade é um sentimento efêmero, a beleza é passageira, o dinheiro nada vale se não tivermos saúde.

O fim estava próximo, Carlos chamou mulher e filhos, sorriu, conseguiu, finalmente alcançar a paz que sempre almejou, fechou os olhos, se foi para sempre como uma vela que se apaga.


segunda-feira, 23 de abril de 2018

Método Snowflake para construção de romances



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Surgiu uma nova ideia para um livro?
Precisamos planejar o roteiro do enredo.

O roteiro do enredo é fundamental para que o autor não se confunda, não se atrapalhe com os acontecimentos.
O que é roteiro de enredo?
É um arquivo onde vai ser anotado tudo o que vai acontecer na uma história, das cenas descritas aos diálogos dos personagens – exatamente como o roteiro de um filme.

Há quem não precise desse roteiro. 

Esse, por exemplo, é o roteiro de Harry Potter e a Ordem da Fênix, feito por J.K. Rowling para que ela pudesse ter uma ideia mais concisa da história


Método Snowflake para construção de romances

Randy Ingermanson criou o método “snowflake” (floco de neve) para os novos escritores começarem a estruturar o enredo de seus livros. Isso foi pensado porque muitos escritores têm dificuldade em estruturar o enredo.

E como funciona? Através do outline (esboço, esquema) é construído o roteiro partindo de um resumo. Parece estranho partir de um resumo se nem se conhece ainda a história, não é mesmo? Pois é isso mesmo, em vez de partir do enredo para o resumo, neste método o autor vai partir do resumo para elaborar a estruturação do romance.

O método é composto de 10 etapas, e quando elas estiverem prontas, já haverá uma história completa faltando apenas alguns acertos e a revisão.

Vamos ao método snowflake?

Primeira Etapa: Resumo em 1 linha

Se você fosse resumir a história que deseja escrever, em apenas uma linha, uma única linha, como seria?
Por exemplo, Vidas Secas seria assim: Saga de uma família de retirantes da seca do nordeste.
Faça isso com a sua história, experimente.

Segunda Etapa: Criar 1 parágrafo

Crie agora um parágrafo que resuma a história do começo ao fim. Construa esse parágrafo com 5 frases.

Na primeira frase insira o cenário, local, e já comece a contar o que acontece lá.

Na segunda e terceira insira o que seria o “arranque” da história. Isto é, dedique-as às aventuras, aos acontecimentos que vão impulsionar os personagens principais. Aqui o autor vai apresentar o que chamamos de picos dramáticos que são os momentos de maior tensão da trama.

As duas últimas frases são reservadas para o desfecho, uma vai indicar a direção da história, e a última vai finaliza-la.



Terceira Etapa: Resumo de personagens principais.

Aqui é onde você poderá se focar nos seus personagens. Randy Ingermanson diz que é preciso fazer uma página de resumo sobre cada personagem principal, que contenha: Nome do personagem, sua função na história, objetivo do personagem, sua motivação, os obstáculos em seu caminho, a sua aprendizagem no fim da história e, por fim, um parágrafo completo da história pelo ponto de vista do personagem.

É preciso fazer isso para cada um dos personagens principais.

Quarta Etapa: Parágrafo completo do resumo dos acontecimentos.

Nessa fase você terá de voltar ao resumo de acontecimentos (Etapa 2) e fazer um parágrafo completo de cada um dos acontecimentos, do cenário à conclusão. Isso mesmo, vai transformar cada frase em parágrafo completo traçando um resumo dos acontecimentos. Aqui é onde você pode começar a adicionar mais detalhes sobre o que deve acontecer e até sobre o que os personagens irão conversar.

Quinta Etapa: Roteiro de personagens secundários e expansão dos personagens principais.

Agora você deve começar a fazer um resumo dos personagens secundários usando a mesma base do resumo dos principais. Aqui você deve escrever no que os principais irão se transformar.

Vai também voltar à Etapa 3 onde fez Resumo de Personagens Principais, e vai expandir a fixa dos personagens principais, adicionando mais detalhes à história de cada um e sua relação com os demais personagens, sejam principais, secundários ou aqueles que só ficam no fundo (personagens background).

Aqui você pode desenvolver as tramas secundárias, que podem ajudar ou problematizar a história. Você começa a perceber que nasce a trama paralela à primeira (ou segunda trama).

Sexta Etapa: Expansão dos parágrafos, texto completo.

Nessa fase você terá de pegar cada um dos parágrafos dos acontecimentos que estão na Etapa 4 e escrevê-los em uma página, adicionando novos detalhes, além das falas e relações entre os personagens que serão desenvolvidas nessa cena. Cada parágrafo da etapa 4 vai virar 1 página.

Aproveite nesta Etapa para inserir as informações da Etapa 5 sobre os personagens.

É aqui que a história realmente começará a ser desenvolvida a trama, vai nascer um resumo entrelaçando a trama principal e a secundária. Aqui nascerão seus primeiros capítulos.

Sétima Etapa: Criar Fichas de personagens.

Nesta Etapa você vai construir o Arco dos Personagens.

Volte aos resumos dos personagens na Etapa 5. A partir daí você vai escrever uma ficha completa e detalhada sobre cada um dos personagens (principais, secundários e até background, se você quiser).

Aqui você vai adicionar mais detalhes para os resumos de motivação, obstáculos e aprendizagem de acordo com as mudanças que você fez na história nos últimos passos. Mas também pode adicionar detalhes mais simples e que podem ser até sem importância, como a cor dos olhos, outros traços físicos, hobbys, etc…


Etapa Oitava : Divisão dos parágrafos em capítulos e cenas.

Esta é uma continuação da Etapa 6. Agora você pode começar a desenvolver seus capítulos e as cenas que farão parte da história. Como fazer isso?
Tome a Expansão da Etapa 6 onde você expandiu cada parágrafo em 1 página, e divida em Capítulos.

Você poderá fazer isso no Word, Excel, ou ainda em pastas contendo os núcleos de cada personagem.

Etapa Nona: Desenvolvimento de cenas

(Há um passo opcional no meio disso tudo, o passo 9, o rascunho completo de cenas, mas não irei adicionar aqui porque ele já vem sendo desenvolvido nas Etapas 4 ou 8, e será concluída com a fase 10).

Desenvolver com mais vagar as cenas que foram criadas. Nesta Etapa você pode fazer um rascunhão do livro e inserir diálogos, descrições.

Este ainda não será o texto oficial, mas um esboço completo já maduro que dará ao autor visão geral do que está acontecendo na história.

Etapa décima:  Texto Oficial

Aqui sim será o texto é oficial, aquele em que a história apresenta todos os detalhes, todas as ferramentas literárias. Nesta Etapa há total preocupação com o texto, pois é a primeira versão do livro. Não chamamos mais de resumo este texto.

O que há de bom no processo snowflake é que o autor pode voltar à qualquer fase e modifica-la como desejar. Isso só vai contribuir com a clareza do texto.

Origem: linadoon.wordpress

"Saber viver, não é fácil" - Hirtis Lazarin



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"Saber viver, não é fácil"
Hirtis Lazarin

Thomas, filho único de empresário bem-sucedido, já nasceu cheio de privilégios.
Cercado de mimos e dengos, nunca ouviu palavras negativas e tão necessárias. 

 São elas que nos ensinam que na vida nem tudo é possível e que ouviremos muitos ”nãos".  E são esses "nãos" que nos darão forças para continuarmos na luta que não privilegia ninguém.

O menino cresceu sem limites, nem restrições.  Aos dezesseis anos já conhecia quase todos os países, além do Atlântico.

Ia à faculdade para agradar e fazer um carinho à mãe, que não se conformava com o filho "bom vivant". Sabia o quanto errou em sua formação. 

Thomas sabia que não precisava trabalhar, pois na ausência dos pais, teria dinheiro suficiente para viver muito bem pro resto da vida.

Mas a vida não é um caminho retilíneo e previsível.  Todo cuidado é pouco nas curvas que surgem inesperadamente.  Uma freada brusca pode provocar capotamento capaz de trazer estarrecimentos sem solução.

E foi numa dessas curvas perigosas que Thomas, em alta velocidade, não respeitou as placas de trânsito e não freou a tempo.

Sua vida virou de ponta cabeça.

Numa noitada carioca como outras tantas, conheceu Helô, mulher exuberante, alguns anos mais velha.

Helô era culta, inteligente e divertida.  Conhecia a noite, a lua, as estrelas e os encantos que ela produz.  Uma companheirona.

Thomas apaixonou-se perdidamente por Helô.  Dizem que o amor cega.  Thomas foi aconselhado.  Não deu ouvidos aos conselhos dos pais nem dos amigos.  Não sabia ou fingia não saber que sentimentos que brotam rápido demais podem morrer num piscar de olhos. 

Ninguém o reconhecia mais.  Era outro homem.  Contrariando a todos, mudaram-se pra Nova York.  Dinheiro não faltava.

Tudo perfeito...Um casal jovem em pleno vigor.

Thomas realizava todos os desejos, sonhos, fantasias e loucuras da amada.  Só para citar uma loucura, num mesmo dia, numa única loja, comprou vinte pares de sapatos Prada pra Helô.

Já estavam juntos há pouco mais de um ano. A vida que todos sonham.

Depois de uma noite bem dormida que costumava se prolongar até às treze horas, Thomas acordou e sentiu a falta da mulher na cama.  Estranhou. Sempre foi difícil tira-la debaixo dos lençóis.

Chamou-a várias vezes e nada...  Percorreu todos os aposentos do loft e nada também.

Acendeu as luzes.  As portas do guarda-roupa estavam escancaradas.  As gavetas e cabides vazios.  Algumas peças perdidas no chão revelavam pressa.  Sobre a mesa de jantar um bilhete:

"Thomas,
               nossa saga terminou.
               Você é maravilhoso.
               Sou aventureira.
               Minha vida segue. 
                    Adeus...
                                          P.S. Levei todo dinheiro da nossa conta conjunta.

O homem rico, seguro, apaixonado desmoronou.  Acordou horas depois, quando o cachorrinho lambia-lhe a boca.

Perdido e só.  Ali estava o homem fraco que não aprendeu a ouvir não.  Não sabia perder. Sem rumo, caminhou dias e dias pela cidade sem dormir nem comer.

Anestesiado pelo álcool, andou quilômetros e mais quilômetros de estrada até uma cidadezinha.  Perambulando pelas ruas, encontrou, num beco sem saída, um fusca abandonado. 

Fez dele sua morada.  O novo morador chegou quietinho e assim ficou.  Nunca atrapalhou ninguém.  Pouco falava.  Magro, franzino, vivia de comida e roupas doadas.

O nome?  De onde vinha?  Nunca mais se lembrou.

A solidão levou-o à bebida.  A bebida ingerida em excesso transformou-o num fantasma que vivia só porque ainda respirava.  Os dias passavam e ele perambulava pelas ruas.  À noite recolhia-se no seu cantinho.

O outono foi-se e o inverno despontou rigoroso.  O asfalto, as árvores, os telhados, o fusca, amanheceram enfeitados de neve.  Um vento frio e cortante assobiava aos ouvidos, as nuvens embaçadas entristeceram o dia. 

Thomas, encolhido no espaço reduzido do carro enferrujado e frio, foi encontrado morto de mãos juntas.

Um pedido de socorro que jamais balbuciou.

Frustação. - Dinah Choichit


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Frustação.
Dinah Choichit


Miro estava a passeio em São Paulo e resolveu ir para a fazenda de seus pais.  Estava desconfiado de que algo não estava correndo bem.

Seu pai andava muito preocupado, as contas não batiam com o saldo bancário.

Miro tinha um primo que trabalhava com ele na fazenda, era encarregado da administração. Eduardo ganhava bem, mas tinha muito ciúmes de Miro. 

Acontece que o pai de Eduardo também já teve bens, mas perdeu tudo na mesa de jogo. A mãe fugira com o capataz. Eduardo revoltou-se, tornou-se vingativo. Até que foi acolhido pelo tio.

A má índole do menino imperava. Desde pequeno não se conformava com a situação. Vivia pensando com pegar o dinheiro do tio e fugir. Até que planejou como fazê-lo. Começou desviando pequenas somas e sondou o tio. Depois passou a maiores quantias, e viu que o velho já andava desconfiado. Quando soube que Miro viria, ficou preocupado.

O tio não tinha outros parentes, somente Miro e ele, Eduardo. Sabia também que se Miro morresse, ele seria o herdeiro do tio. Dali à arquitetar um plano, foi um pulo.

Miro chegaria daqui a dois dias. Ele e que iria buscá-lo no aeroporto. Revólver ele já tinha, mas como matá-lo para que não desconfiassem dele?

Pedir ajuda nem pensar. Lembrou-se da cachoeira no caminho, Miro sempre pedia para parar e dar uma olhada. Era bem funda, perigosa. Miro ficava sentado alguns minutos admirando o cair da água. Dizia que se acalmava olhando a natureza, principalmente aquela cachoeira.

Não teve dúvida, pegaria o revólver e quando Miro sentasse daria o tiro nas costas e o jogaria cachoeira abaixo. O corpo seria tragado pelo turbilhão da água e seria levado para bem longe.

Ficou tranquilo. Limpou a arma, guardou e esperou o dia.

Foi buscá-lo por volta das 10.00 horas da manhã, como combinado. Abraços para cá, abraços prá lá, e Miro apresentou a namorada que viera conhecer os pais.

Eduardo ficou uma arara. Seus planos foram por água abaixo. Disfarçou sua ira, e tratou de carregar as malas.

Acabara de se acomodar quando Miro viu o revólver na cintura do Eduardo. Perguntou o que ele pretendia com aquela arma.

Eduardo quase bateu no barranco.  Se controlando disse que havia certas notícias de ladrões de gado assaltando as fazendas. Estava só prevenido.

Foi conversando alegremente com o primo e a namorada até chegarem na fazenda. Recolheu-se ao quarto e deu um tiro na cabeça.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Que segredos são esses? - Hitis Lazarin



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Que segredos são esses?
Hitis Lazarin

A lua, o brilho que encanta até crianças...

E com a gente não foi diferente.

Ainda molecas, mas bem curiosas, assim que o sol ia embora, deitávamos na grama verdinha do quintal lá em casa.  Ansiosas esperávamos a lua chegar.

E lá vinha ela cheia, cheia de graça, cheia de surpresas.  E cada vez que vinha era como se fosse a primeira vez.  Contemplar e ver seus reflexos lustrando os telhados vizinhos, velhos e encardidos, era pura magia.

Ali deitadas, brincávamos de descobrir o que ela escondia dentro de si.  E a cada dia, nossa cabecinha criativa via coisas diferentes.  Eram montanhas, pássaros voando, ETs, cavalo galopando, às vezes com cavaleiros, outras vezes não.  Ouvimos dizer que era São Jorge armado de lança indo para a guerra.  Mas, santo vai à guerra?  Não ousávamos discordar.

Nossa tristeza era saber que, em poucos dias, ela ia diminuindo...diminuindo...até desaparecer por inteiro.  Onde será que a lua se escondia?  Asas à nossa imaginação.

Ah!  E ela tinha fases, fases como os adultos têm, de alegria e de tristeza.  E, na tristeza, preferia se esconder.  Acho que ela não queria chorar na nossa frente.  Respeitava a ingenuidade infantil.

Nós crescemos um pouco e a compreensão do mundo cresceu junto, não tanto quanto deveria ser.

E, então, veio a triste notícia: a lua cheia é sorrateira.  Aproveita-se da luz do sol e brilha como se o brilho fosse só seu. E que aquele luar perolado é a luz do sol que está sonhando.  Não gostei disso não.  Lua malandrinha.  Assemelha-se à minha amiga Joana que copia do meu caderno as lições de matemática.  Eu finjo que não sei.  Não gosto de brigar.

E mais outra novidade:  a lua cheia é tão cheia de mistérios que encanta e inspira poetas, músicos, pintores...

Dizem até que o lobo se apaixonou por ela.  E todo mês, cheio de saudade, sobe ao ponto mais alto da montanha e uiva solitário por um amor que nunca irá tocar.  E nas noites em que ela desaparece, o lobo silencia e ela uiva para ele não chorar.  Esse lobo é muito ingênuo.  Com tantas lobas desamparadas a vagar por essas matas de Deus... 

Leiam mais esta novidade: Até os rios são enfeitiçados por ela.  Deslizam chorando por não poder carregar a imagem dela projetada em suas águas.  Eu jamais acreditaria nessas historinhas.

Chegou a vez dos amantes, amores proibidos.  Aqueles que se encontram às escondidas.  Fazem juras de amor, quase nunca verdadeiras, impossíveis de realizar.  Quando pensam que estão sós e que não há testemunhas, lá fora, bem no alto do céu, está ela, a lua cheia a bisbilhotar, pela fresta quase imperceptível do remendo do telhado.

Afinal, que mistério, que segredos são esses que a lua cheia tem?  Ela aparece quando quer, brinca, bisbilhota, mexe com os sentimentos da gente, enfeitiça e desaparece?


A FLORESTA ENCANTADA - Michel Milhão



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A FLORESTA ENCANTADA
Michel Milhão

   Havia uma trilha pela floresta com uma cerca viva, alta de um lado, e eles seguiram por ali. Bem acima as estrelas brilhavam e piscavam, a lua cheia emitia luz amarelo-dourado da cor do milho maduro, era capaz de enxergar arbustos espinhentos de rosas no meio da cerca.
  Jonathan e Mafalda avançavam com um só destino, sem medo no meio daquela floresta encantada, apesar dos uivos terríveis que alardeavam toda região.
  Com a espada em riste enfrentavam tudo, sempre atentos. De repente surgiu um desengonçado urso com cabeça de Javali, acompanhado de vários lobos ferozes, rosnando e avançando para o casal. Ele gritou:
— Não tenha medo, Mafalda! Não corra, fique ao meu lado.
— Mas são muitos! Cuidado, Jonathan! Olhe, uma enorme cobra atrás de você!!!
  Como um raio, ele virou-se decepando a víbora, ao mesmo tempo em que um lobo pulou em sua direção, mas teve o mesmo destino da cobra.
  O enorme urso avançava, o casal ia se afastando apreensivo, apavorado. A luta era desigual, o rapaz já bastante ferido, foi quando o urso, com urros ensurdecedores arrancou-lhe a espada. A garota gritava:
— Agora é o fim!!!
  Já embaixo do urso, os lobos entraram a luta, mordendo-o, foi quando ele se lembrou, e gritou:
— Você é a princesa Mafalda, não deve morrer. O bracelete! O bracelete!
  Ela imediatamente tocou no bracelete em forma de cobra que mordia o próprio rabo, tinha ganhado como presente de uma grande feiticeira pelos serviços prestados.
  Como por encanto, os animais viraram.
— Agora sairemos da floresta, vamos encontrar pessoas, se perguntarem de onde viemos, diremos: Lá de trás.
— E para onde vão?
— Para frente!
  Contando com a sorte, ainda muito fracos, avançaram agarrados, se protegendo de tudo e de todos.
  A floresta cinza embaralhou a luz, as cores e a distância resplandecia e sumia como se fosse ilusão de ótica.
  Sem condições de seguir, deitaram-se e adormeceram.
  Ao raiar do sol, já refeitos, estava na hora da procura das terras esquecidas, lugar como era conhecido, onde o príncipe Jonathan estava sendo aguardado pelo seu povo.
  Dias depois, vieram vários cavaleiros e os levaram ao palácio.
  Alguns anos depois como eram esperados, o reino das terras esquecidas já não era mais um lugar esquecido, prosperaram agora todos felizes, foi quando ouviram um choro de criança, era o filho tão esperado, o herdeiro do trono.
                                                                                                                        
                                                                                                       


Que nem vela - Ana Catarina Sant’Anna Maués



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Que nem vela
Ana Catarina Sant’Anna Maués

   Ela era jovem ainda, mas de uma espiritualidade notável. Certo dia conversava com as amigas sobre futuro e o assunto foi indo e indo até a idade de noventa anos.
   Uma disse:
— Quando chegar nessa idade farei um testamento. Nele pedirei para ser enterrada com todas as minhas pérolas, pois terei inúmeros colares, brincos e braceletes. Amo pérolas!
   A outra tomando a palavra falou:
— Já eu distribuirei tudo o que acumularei. Rica, vou deixar meus sete filhos muito bem de vida.
   Nessa hora olharam Laurita e indagaram:
— E você?
   Ela, com olhar reflexivo, respondeu:
— Não é que eu tenha certezas e o que observo aconteça cem por cento, mas noto que a maioria das pessoas que passam a vida cultivando nobres sentimentos, dedicadas a viverem colocando-se em último plano, fazendo do exercício do perdão uma prática recorrente sempre desejando a conciliação, quando envelhecem não colhem para si, os frutos que pensavam ter plantado entre familiares, parentes e amigos. Nestes casos, a impressão que tenho, é que cada um, que conviveu com essa pessoa, viveu seguindo uma verdade individual, pouco valendo o exemplo e o esforço daquela que cedeu sempre em prol da paz.
   As duas amigas que escutavam o monólogo entreolharam-se e dialogaram entre si:
— O que?
   Do que ela está falando?
   Laurita continua:
— Meninas! Queria muito quando chegasse a noventa anos ter compreendido o sentido da vida. Mais do que a minha própria, entender o que ocorre com os relacionamentos humanos. Parece que se é um por dentro, cheio de boas intenções, mas não se consegue externar isso de forma clara, que transpareça o eu real, daí gera má interpretação com aqueles que se lida no dia a dia.
—Aff! Laurita, você é complicada.
— Não sou não! Explico novamente. As reais intenções de alguém não são captadas pelas pessoas do convívio, na forma que foram concebidas no interior, gerando erro de interpretação, por isso sofrimento na convivência fazendo o vínculo entre elas se destruir. Observo que as relações estão redondinhas, tudo corre perfeito, aí de repente algo acontece e tudo desanda tomando rumo imprevisível. Somos senhores de decisão e cada decisão alcança o outro e os demais numa reação em cadeia, empurrando ambos, anos luz do que estavam vivendo até aquele momento. Nesse sentido a vida é uma aventura onde o planejamento nem sempre dá certo. Gostaria com noventa anos ter encontrado o fio da meada desse assunto e poder ensinar todos que se aproximarem de mim. Alcançando este, esse, aquele que por sua vez entrará em contato com outro e outro e mais outro, para que evitem erros de relacionamento. Ser como vela, consumindo-me em luz.

Quem era ela? - Hirtis Lazarin

  Quem era ela? Hirtis Lazarin     A rua já estava quase deserta. Já se ouvia o cri-cri-lar dos grilos. A lua iluminava só um tantin...