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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

UMA ESCUTA QUE FAZ MAL! - Dinah Ribeiro de Amorim




UMA ESCUTA QUE FAZ MAL!
 Dinah Ribeiro de Amorim

  Sempre me mandam dormir muito cedo. “Crianças têm que dormir cedo para crescerem fortes”- afirma mamãe. Custo muito a pegar no sono, lembrando todas as brincadeiras que fiz durante o dia. Já é um hábito de todas as noites. Rolo mil vezes na cama, desarrumo  lençóis, até que, finalmente, adormeço, sem perceber. Meus pais demoram a se deitar e ficam conversando até tarde. Às vezes, os escuto e sinto, com isso, uma espécie de proteção, de sossego.
  Numa dessas noites, ouvi-os discutindo, não era bem uma conversa normal e, prestei mais atenção. Papai dizia que ia embora, mudar de casa, havia conhecido outra mulher que seria agora sua nova esposa! Escutei as lágrimas de mamãe, e o que fariam comigo! Como explicar que não teria mais o pai em casa! Abaixando sua voz, papai respondeu que iria me avisar que faria uma longa viagem, voltando para me buscar assim que pudesse.

  Poderiam, por minha causa, chegar num acordo amigável e, como agora existia “a guarda compartilhada”... Não sei bem se foi isso que ouvi! Será que seria dividido ao meio, pensei amedrontado, ficaria tempos com um e com outro. Seriam duas casas! Sempre gostei muito da minha! E da companhia dos dois! Que conversa estranha estava ouvindo desta vez. Estranha e triste, juntando minhas lágrimas às de mamãe.

  A única coisa que me veio à cabeça, no meio de tanta complicação que não conseguia entender, foram as palavras de minha avó: “Nunca ouça conversa dos outros! Podem fazer muito mal!”. De verdade, fiquei muito mal nessa noite e lembrei que, nos últimos dias, papai estava chegando muito tarde e, distraído, mal respondia ao que eu falava! Coitada da mamãe, que seria de nós dois, agora.

  Não peguei no sono como de costume e amanheci abatido e cabisbaixo, sem coragem de olhar para os dois. Eles, ao contrario, mostravam-se animados e mais alegres, meio exagerados,  enchendo-me de atenção e carinhos. Deve ser remorso, pensei. São meus pais e agora querem desistir disso! Quando crescer, se tiver filhos, espero nunca fazer o mesmo!

 Passei vários dias esperando a hora em que me contariam tudo, meu pai arrumando suas malas e dizendo adeus! Dormia, agora, no sofá da sala e, mamãe, sozinha no quarto, chorava até amanhecer. Finalmente, meio gaguejando, chamaram-me para conversar e avisar que papai viajaria a serviço, demorando muito, mas voltaria para me buscar e passar uns dias com ele. Nem perceberam que eu ouvira tudo. Pensei em ligar para vovó e perguntar sobre essa tal “guarda compartilhada”, mas nem precisei. Ela chegou no dia seguinte para ficar comigo. Mamãe estava arrumando um emprego. Mais essa agora, ausência do pai e de mamãe o dia inteiro. Ainda bem que tinha vovó, sempre me senti seguro ao seu lado.


  O tempo foi passando, eu me acostumando, a tristeza diminuindo, mamãe contando novidades do seu novo emprego, papai aparecendo e me convidando para conhecer sua nova casa, o que não achei tão ruim assim, embora não fosse minha mãe, e, vovó, procurando preencher minhas dificuldades com suas histórias, comidas gostosas e brincadeiras divertidas! Percebi que ainda gostavam de mim, apesar das grandes mudanças.

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