A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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terça-feira, 6 de junho de 2023

A CAÇADA - CLAUDIONOR DIAS DA COSTA

 


A CAÇADA

(As palavras grifadas foram escolhidas para compor a história)

Claudionor Dias da Costa

 

No jardim de minha casa havia muitas borboletas que sempre faziam magnifica dança frenética em voos cruzados.

Olhei pela janela e mantive o olhar circunspecto, atento naquela exótica  bailarina de cor azul que se destacava naquele bale telúrico.

Mas, meus pensamentos românticos e sonhadores se dissolveram consumidos pela ambição de sacrificar aquele exemplar por conta do dinheiro que poderia ganhar. Corri para o velho catálogo de espécimes que possuía desde a época de menino, quando  vivia solto pelos campos correndo atrás delas.

Fui como um foguete em direção à garagem e do alto da prateleira do armário empoeirado encontrei o velho puçá que guardava, não sei bem por quê. Surgiu agora a oportunidade de usá-lo com lucro. Melhorar minha conta corrente.!

Que maravilha!

Meu pensamento ficou fixo no bolo de dinheiro que teria vendendo-a a um colecionador…. Aquilo parecia um martelo a bater sem parar na minha cabeça.

Tão afobado e eufórico, me detive de repente à porta, e minha atenção se dirigiu para um curió que cantava perto das borboletas, pareciam acompanhar, dançando, seu canto. Logo afastei aquela boba visão romântica outra vez e pensei cochichando para mim mesmo:

- Uma borboleta-azul e branca rara e um passarinho raro como o curió quanto não valerão…

Cuidadosamente, tirei os sapatos para não os espantar.

Pé ante pé… muito devagar… numa distração do bichinho…Pluft, lancei o puçá e consegui pegá-lo apesar do vento.

Arregalei os olhos, minha ambição começou a gritar:

— Falta a borboleta. Não a perca.

Aquele azul contrastando com o branco parecia refletir a luz do sol, aumentando minha ansiedade. Após guardar o curió num pequeno aquário, saí em perseguição daquela raridade azul.

Por incrível que pareça, foi mais difícil do que o passarinho. Fiquei atrás por um bom tempo sacudindo o puçá. Várias tentativas, e eu já cansado estava a ponto de desistir, quando a vi pousar sobre uma flor no jardim. Dei um salto de atleta e a apanhei. Coloquei-a numa pequena caixa de papelão.

Todo vitorioso e já pensando quanto arrecadaria com o sucesso da minha caça, ouvi uma voz de criança entrando pelo portão.

Era minha filha de treze anos retornando da escola. Olá, papai. Foi logo dizendo e me beijou.

Com olhar sorrateiro e todo orgulhoso, disse a ela:

— Veja, minha querida, que tenho duas surpresas para mostrar a você. E ainda ganharemos um bom dinheirinho com elas.

Levei-a à garagem e mostrei minhas conquistas.

Quando ela viu, ficou parada como se não acreditasse.

— Papai, você mesmo que apanhou?

 Olhei de peito estufado para ela, e sorrindo, confirmei.

— Não acredito… Aquele pai que vivia me falando sobre amar a natureza e protegê-la teve coragem de fazer isso?

Desfilou um longo discurso sobre ecologia, que com certeza aprendeu na escola, mostrou até aspectos espirituais e direitos que os animais têm idênticos aos do ser humano.

Fiquei mudo, refletindo sobre o que estava me dizendo, engoli minha ambição desmedida e, porque não dizer ignorante. Como se diz: “caiu a ficha” e dei “a mão à palmatória”. Assumi, perante aquela doce e meiga menina que me olhava com seus olhos da cor de jabuticaba, meu erro.

Depois do perdão concedido por ela, nos sentamos no banco do jardim e entregando a ela agora minha vergonhosa caçada, deixei que soltasse o curió e a borboleta.

Ficamos parados vendo os bichinhos voarem…

Para nossa surpresa o curió foi ao alto da árvore e próximo ao amontoado de borboletas, agora comandado pela azul e branca, cantou como que agradecido àquela menina.

Confesso que senti até um alívio pela lição que aprendi. Não pude deixar de lembrar as imagens de quando criança quando corria nos campos só pelo prazer de achar que brincava com as borboletas…

 

NO JARDIM DA MINHA CASA - Henrique Schnaider




NO JARDIM DA MINHA CASA

Henrique Schnaider

 

Nasci numa casa muito grande, havia espaço, suficiente para que eu brincasse à vontade. Eu brincava principalmente no jardim da casa. Era um jardim extenso que beirava a mureta da frente da edificação, com variados tipos de plantas. Mas, me encantavam, as flores delicadas ou exóticas. Elas pintavam o lugar de diversas cores, exalavam múltiplos perfumes, e agradavam quem passasse. Os manacás dominavam o quintal, as rosas o enfeitavam, os cravos o perfumavam juntamente com a lavanda e madressilva.

Com estas árvores muito bem cuidadas principalmente por minha mãe que tinha um grande amor pelo jardim da nossa casa. Todos os dias ela vinha ao jardim e eu a acompanhava e com amor e carinho regava todas as plantas e enquanto regava, conversava com elas e o que me impressionava era que as plantas reagiam as palavras de minha mãe.

Eu tinha um tio irmão do meu pai, enquanto meu pai era uma pessoa desprendida sem ambições, ele era uma pessoa boa de verdade. Já meu tio era o oposto do meu pai, ambicioso, charlatão, jogador inveterado. Um dia ele veio visitar meu pai e aproveitou para ir ao jardim ver se tinha algo interessante para ganhar alguns trocados.

Caminhando pelas Alamedas floridas, meu tio avistou uma borboleta. A beleza dela concorria com a beleza do sol. Asas azuis e brancas e de tamanho grande. Seu apetite cresceu, ao pensar que se pegasse esta borboleta rara, poderia ganhar um bom dinheiro. 

Viu um puçá e pensou, — vai ser fácil de pegar esta borboleta. Fiquei ali observando para ver no que ia dar, o que meu tio estava fazendo. Nisso ele com o puçá na mão fez um movimento certeiro e caçou a borboleta. Mas ele era muito ambicioso e avistou um passarinho Curió, ficou encantado, pássaro raro e muito valioso, pensando no bolo de dinheiro que ganharia.

Ele foi até a garagem do meu pai e pegou um alçapão, para tentar pegar o curió, tirou os sapatos para não o espantar e apesar do vento conseguiu apanhá-lo. Eu só olhando assombrado com o que meu tio acabava de fazer, já que meus pais e principalmente minha mãe sempre me ensinaram a não fazer este tipo de coisa.

De repente aparece no jardim a minha mãe avistando o meu tio com a borboleta e o curió capturados. Minha mãe ficou furiosa e deu uma tremenda bronca no meu tio e exigiu que ele soltasse os bichinhos de volta para o jardim, já que lá era a moradia deles.

Meu tio baixou as orelhas envergonhado pela bronca recebida dela, que lhe ensinou a ter bons modos e deixar de ser tão ambicioso no que ele prometeu mudar e não ser um mau-caráter ambicioso.

Naquele dia o meu amor e a minha admiração pela minha mãe cresceram muito e aprendi a ser um homem de bons princípios e de muita educação.

Quanto ao meu tio para dizer a verdade não sei se aprendeu a lição, pois depois desse dia ele não apareceu mais lá em casa.

A Borboleta Azul - Adelaide Dittmers

 




A Borboleta Azul

Adelaide Dittmers

 

Borboletas coloridas voejavam pelo jardim banhado pelo sol da manhã.  Aproximei-me da janela para inspirar o ar puro e perfumado das flores.  Na roseira, uma exótica borboleta-azul e preta me chamou a atenção.  Majestosa em suas cores e na forma delicada.

— Não acredito! Gritei. Uma morpho azul! 

“Vale muito dinheiro! ”, pensei.  Há muito tempo catalogava as diversas espécies de borboletas, que apareciam no jardim. E essa era muito rara.

Coloquei na mesa xícara de café, e corri como um foguete até um pequeno depósito, que ficava ao lado da casa. Precisava do puçá.  Caí, ao tropeçar em uma pedra, mas me levantei rápido.  Precisava pegar aquela borboleta.  Não podia perder a oportunidade de vendê-la.

A porta do compartimento estava fechada por uma corrente presa a um cadeado. A chave estava escondida em um pequeno nicho ao lado da porta.  Com a mão trêmula, tentei agarrá-la, que com a minha pressa, caiu no chão. Nervoso, soltei um palavrão. Olhei para a roseira. A borboleta ainda estava lá.  Desajeitadamente, abri a porta.

De jeito nenhum, podia perder o bolo de dinheiro, que essa caça me daria.

Ao tentar alcançar o puçá, inadvertidamente puxei com força um martelo, que atingiu meu pé. Gritei de dor.  Mesmo assim, peguei o puçá e mancando, fui em direção ao meu objetivo, andando bem devagar para não espantá-la. 

Nesse momento, ela voou para um arbusto próximo.  Lentamente, tentei me aproximar, mas estaquei encantado com o canto de um curió, que no galho baixo de uma mangueira.  Estava com sorte, o curió também valia muito dinheiro.

A indecisão tomou conta de mim. O que deveria caçar, a borboleta ou o pássaro?  Distraído, pisei em uma poça de lama, afundando meus sapatos. Livrei-me deles e decidi pegar primeiro o curió.

De repente, uma lufada de vento balançou os galhos da árvore.  Fiquei azul de medo de que o pássaro voasse, mas fui mais rápido do que ele e, zapt, prendi aquele belo espécime.   O curió tentava desesperadamente se livrar de sua minúscula prisão.

Corri até a casa, onde, com muito cuidado, o coloquei em uma velha gaiola, há muito não usada.

Voltei ao jardim.  Tinha que encontrar a borboleta.  As notas de dinheiro voavam em círculo em torno da minha cabeça.

Espantado, vi o filho do empregado, uma criança de sete anos, vindo em minha direção, segurando a cobiçada borboleta pelas asas.

O menino, com um sorriso triunfante, disse:

— O senhor gosta muito de borboletas e esta é linda! Estendeu, então, sua mãozinha para me entregá-la.

Um rubor coloriu meu rosto.  Fiquei com muita vergonha de só considerar ganhar dinheiro, quando o menino só pensou em me deixar feliz com seu presente.

O sol iluminava o jardim com seus raios generosos.  Dentro de mim outro sol aqueceu meu coração e algo no meu íntimo sacudiu minha consciência.

Sorri para a criança:   

— Realmente ela é linda e... merece ser livre.

Soltei-a com cuidado e ela voou soberana, confundindo-se com o azul do céu.

Virei-me e olhei para o pobre curió, encolhido na gaiola com os olhinhos fechados.  Abri a portinhola.  Peguei-o com delicadeza e o soltei.  Bateu as asinhas vigorosamente.  O vento suave o abraçou e o levou...

O menino bateu palmas.

Sentindo a alegria da criança, disse:

— Nada vale mais do que a satisfação de admirar os pequenos seres enfeitarem a natureza. E abaixei a cabeça ao pensar que quase fui vencido pela minha ganância.

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