A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

O ENVELOPE LACRADO Henrique Schnaider

 

 


O ENVELOPE LACRADO

Henrique Schnaider

 

Lá pelos idos de 2016, fui para Israel e pela primeira vez nesta vida, reuniu-se toda minha família, de cerca de 40 pessoas. Estavam presentes meus dois irmãos, Salomão e Paulo, ambos falecidos. Também suas esposas Ilana e Judith, e muitos sobrinhos e sobrinhos netos.

Estava presente eu e minha finada esposa Lourdes. Nesta ocasião a reunião foi no Kibutz onde morava meu filho Ariel que preparou um churrasco maravilhoso com tudo do bom e do melhor e a confraternização foi grande e onde revi muitos sobrinhos que não via desde crianças e conheci outros que ainda não tinha conhecido.

Foi então que fiquei sabendo que meus irmãos haviam preparado um documento que estava num envelope lacrado e nós três assinamos no envelope. Este envelope que não sei o que estava escrito, iria ser enterrado dentro duma caixa para ser aberto daqui a 40 anos, isto é, em 2056, provavelmente pelos nossos descendentes.

Assim se passou, a caixa foi enterrada num cerimonial com forte emoção em que todos os presentes foram às lágrimas. Deve ser de ter a sensação de que é efêmero e a nossa vida é curta. O churrasco continuou e todos nós gostamos muito daquele encontro onde ainda ficamos por várias e várias horas.

Os anos se passaram e simplesmente me esqueci deste fato e do segredo contido e enterrado naquela caixa. E como a professora Ana pediu para escrevermos sobre um fato que causou muita emoção na minha vida e foi aí que me lembrei do que se passou naquele encontro emocionante por todos os aspectos da reunião da família e a caixa com o envelope que passou a ser um segredo a ser desvendado no futuro.

Como não sei quem da família ficou encarregado de passar às novas gerações o local onde foi enterrada a caixa e na época marcada alguém irá se encarregar de tirar a caixa e ver revelado finalmente o que foi escrito naquele envelope lacrado.

Como me lembrei deste fato ocorrido na minha vida, entrarei em contato com minhas cunhadas Ilana e Judith, para em primeiro lugar saber delas se ainda se lembram do fato ocorrido nas nossas vidas. E do que foi feito, e quem se encarregou de passar aos nossos descendentes o que ficou combinado naquele encontro da família que nos levou a muita emoção e curiosidade.

Não sei, e provavelmente nunca vou saber, qual foi a intenção dos meus irmãos ao deixar para as futuras gerações da família Schnaider e nem porque decidiram fazer isto e o que deixaram escrito naquele envelope.

 

O GATO QUE NÃO MIAVA - Helio Fernando Salema

 


O GATO QUE NÃO MIAVA

Helio Fernando Salema


Era uma vez uma aldeia rural, onde cada lavrador tinha seu pedaço de terra para cultivar as mais variadas espécies de alimentos. Uma vez por semana, eles se reuniam e transportavam para a cidade mais próxima a produção colhida. Não era muita, mas o suficiente para se manterem. Sempre que havia algum problema com qualquer morador, os demais corriam para socorrê-lo. Tudo transcorria em plena harmonia.

 

Entretanto, nos últimos meses, estava ocorrendo uma redução na colheita, pois eles faziam questão de só levar o que fosse de boa qualidade e assim conseguir um bom preço. O resultado financeiro a cada semana diminuía. Este problema estava incomodando muito a ponto de realizarem reuniões para encontrar uma solução. Todos concordaram que a terra talvez estivesse cansada pelos anos que já teria produzido. Porém, o aumento na quantidade de adubação natural não foi suficiente, também, o rodízio das plantações não produziu o efeito esperado.

 

Um dia quando caminhava pelo campo, uma menina viu um gato muito bonito. Ficou encantada pelo animal, que até então ela nunca tinha visto, pois não havia nenhum naquela região. Aproximou-se dele com todo cuidado e, como ele parecia manso, logo começou a acariciá-lo. O animal, também encantado com ela, aceitava com muita satisfação. Ela fala mansinho com ele que parecia entender o que era.

Acostumada com outros animais e aves, resolveu levá-lo para sua casa, depois de ter brincado com ele por alguns minutos.

 

Quando seu pai retornou da lavoura no final do dia, ficou surpreso, e ele que conhecia esta espécie, mas não tinha a menor simpatia por gatos, disse que aquele animal não poderia ficar na casa. Imediatamente o colocou para fora aos berros. A menina começou a chorar e como era obediente foi para o seu quarto.

 

Na manhã seguinte, assim que o pai saiu para trabalhar, ela pode então ir à procura do bichinho, que na véspera lhe deu muita alegria e tristeza. Não sabendo como atraí-lo seguia caminhando pelo campo, emitindo os mesmos sons que usava para chamar as galinhas, os patos e outros animais. Embora não obtendo êxito, também não desistiu e, ao lembrar-se do lugar onde o havia visto pela primeira vez, foi correndo, e ao chegar teve uma surpresa… O gato olhava para ela com um olhar de espanto e alegria. Ela lentamente foi em direção a ele, que também se movia para junto dela.

 

Depois de ficarem juntos por alguns minutos se acariciando, a menina teve um lampejo de tristeza. Como evitar que o pai ao ver o animal, que ele tanto detestava, não pensasse em “dar um sumiço com ele”. Olhando atentamente para o gato, ficou imaginando como mantê-lo próximo dela e longe dos olhos e dos pensamentos do pai. Surpresa ao ver que o animal olhava nos olhos dela e parecia que entendia seus pensamentos e também tudo que ela dizia, pois a obedecia imediatamente.

 

Lembrou-se de que no rancho em que o pai guardava as ferramentas e os produtos da lavoura, havia uma porta de tábuas pela qual o seu animal queridinho poderia entrar e sair. Foi andando naquela direção e à medida que caminhava ele a acompanhava.

 

Ao chegarem ao galpão, ela mostrou para o gato um local bem escondido, onde ela colocou alguns panos velhos para que ele ali pudesse ficar. Explicando para ele que ia buscar água e comida e que ele deveria ficar ali escondido e, mais uma vez, ela se surpreendeu com o olhar atento do animal. Assim o manteve escondido, perto dela e fora do alcance dos olhares do pai.

 

Como por um milagre, as plantações começaram a demonstrar melhora não só na qualidade como também na quantidade. Aos poucos os lavradores perceberam a mudança e por mais que tentassem, não obtiveram uma resposta. A satisfação de todos era maior a cada semana, aumentada e comentada. Planos não faltaram para a aquisição de bens, que até pouco tempo não imaginavam.

 

 Até que um dia, quando o pai saiu para levar as mercadorias para a cidade, a menina aproveitou e foi até o galpão e lá ficou brincando com o gato, despreocupadamente, inclusive deixando a porta do galpão aberta.

 

O pai, quando percebeu que havia esquecido de levar uma ferramenta para devolver a um amigo, volta correndo e, terrivelmente assustado fica ao ver o galpão aberto. Logo pensa em coisas ruins. Entra correndo… Ao ver a filha sentada no chão… Se espanta. Ao olhar para o outro lado vê o gato, volta em direção à filha e, aos berros:

— O que este animal está fazendo aqui?

Uma voz estranha e suave ecoa:

ESTOU AQUI PARA COMER OS RATOS QUE ESTRAGAVAM AS PLANTAÇÕES.

 

BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES DE ITAQUERA - Henrique Schnaider

 


BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES DE ITAQUERA

Henrique Schnaider


Os sete anões de moravam num casebre muito simples dentro da mata, no bairro de Itaquera na periferia de São Paulo e lutavam com muita dificuldade pela sobrevivência, numa cidade que é cruel com os moradores pobres e onde milhares deles passam fome, sem nenhuma assistência, vivendo das chamadas quentinhas, isso quando conseguem se alimentar pelo menos uma vez por dia.

Justamente pelo fato de serem anões, enfrentam também o preconceito, para encontrarem trabalho. A única vantagem que tinham, é que como anões, acabavam vivendo de pequenas apresentações em circos mambembes, estes em verdadeira extinção. Lá muito longe, na periferia da grande cidade.

À noite, cansados, porém dispostos, iam os sete em fila indiana cantando músicas Rap e Fank numa caminhada longa de duas horas até chegarem na Escola Estadual Mirela Silveira. Ficavam todos na mesma classe para fazer o curso de Alfabetização de jovens e adultos, pois eram completamente analfabetos.

Não sabiam sequer escrever seus nomes que mais pareciam apelidos que receberam quando nasceram.  Eram conhecidos como Atchim, Dengoso, Dunga, Feliz, Mestre, Soneca e Zangado, mas pareciam felizes com seus nomes.

Os sete não se comportavam direito nas aulas, já que eram brincalhões, dando muito trabalho para a professora que ralhava com eles a todo momento. Mas o que tinham de pequenos, sobrava em inteligência e acabavam indo bem nas provas, se destacando dos demais alunos.

Um dia ao voltar para casa, depois da aula. Voltavam cantando na mesma algazarra de quando vinham. Porém no meio do caminho se depararam com uma cena inesperada de uma menina caída desfalecida na calçada. Tentaram reanimá-la, mas ela não melhorou.

Foi então que, condoídos, pela situação da pobre menina, resolveram levá-la para casa. Todos juntos, lá se foram em direção ao  casebre  carregando a menina..

Depois de acomodarem a menina numa caminha que eles mesmos fizeram. Finalmente ela acordou e deram à ela uma sopinha quente. Eles fizeram mil perguntas, mas a pobrezinha parecia meio confusa e mal conseguia responder.

Conversaram entre eles numa pequena conferência e decidiram dar o nome a ela de Branca de Itaquera. E assim começaram a cuidar dela e a Branca teve uma grande evolução. Tornou-se falante, alegre e chamava a todos de papai:

— Papai, Zangado, dá um sorriso para mim.

E ele não resistia e abria seu melhor sorriso para ela.

Tudo ia bem na casa dos anões que de dia saiam para fazer alguns bicos e à noite iam para a Escola. Enquanto isso, a Branca cuidava da casa mantendo a mesma um brinco.

Certo dia ao voltarem para casa, tomaram um grande susto, pois havia invadido a casa um homem muito mal-encarado, um verdadeiro lobo mal, dizendo-se pai da Branca e que a levaria embora, pois ela o ajudava a pedir esmolas nos faróis das ruas.

Os anões encararam o homem pois eram muito bons na luta de ringue nos circos. E deram uma tremenda surra no sujeito que saiu em desabalada carreira e nunca mais ousou voltar lá.

Hoje Branca de Itaquera é uma linda mulher. Estudou e se formou professora. Vive ainda com seus papais anões já velhinhos, dos quais cuida com muito amor e carinho e nem pensa em se casar, preferindo viver com eles.

 

 

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