A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O COPO TEIMOSO - Dinah Ribeiro de Amorim





O COPO TEIMOSO

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Dona Marina, funcionária aposentada, reúne uma vez por semana as amigas,  para um joguinho de cartas. Fazem desse entretenimento um compromisso inadiável. Além do jogo, é servido um lanche de intervalo, que sempre consiste num refresco em copos de cristal e um bolo feito por Maria, ajudante de anos, preparado para a ocasião.

Na semana em que a filha de Dona Marina chega de uma viagem à Inglaterra e é presenteada com lindo aparelho de chá, em louça pintada, orgulho de toda dona de casa, resolve oferecer às amigas, um delicioso chá de menta, junto ao bolo de Maria, deixando de lado os copos de cristal.

Não é que os copos, enciumados, acostumados a serem usados, quando o armário é aberto e as xícaras retiradas, um deles, o mais teimoso, se atira ao chão, com raiva, mal dando tempo de Maria apanhá-lo. Virou cacos, o coitado.

Era também bonito e valioso, mas muito ciumento e teimoso.

 

A HISTÓRIA DO JACARÉ ACACIO - Claudionor Dias da Costa

 

 

A HISTÓRIA DO JACARÉ ACÁCIO

Claudionor Dias da Costa

 

                Eu sou o Zezinho e vou contar a vocês uma história emocionante.

                Sempre depois do almoço eu e meus amigos   brincávamos   na rua e mamãe recomendava:

                − Brinquem bastante, mas não fiquem muito perto do lago!

                Como somos travessos, dava mais vontade de ir até lá.

                Meu amigo Dentinho era terrível, queria porque queria, ir ao lago e se deixasse até nadaria.       

                Apressados entramos na vendinha do Senhor Antônio para ver as novidades de balas e doces, e davam água na boca.                  

                  De repente ouvimos o vozeirão dele:

             — Meninos vocês souberam da história do jacaré?

                Ficamos com os olhos esbugalhados com a cara assustada do Senhor Antônio, o que aumentou nosso pavor. Ele continuou falando:

                  — O Oscar, aquele jardineiro da Prefeitura quem me contou. Disse que estava fazendo limpeza do mato perto do lago. Deu uma paradinha para descansar e se assustou olhando para a frente em direção a água.

Nesse instante o vendeiro tinha os olhos de pavor:

                −Sabem o que ele viu?

Arriscou uns segundos esperando respostas, mas a gente estava mudo:

                — Nada mais nada menos do que um “baita” jacaré na margem.

                Nesse momento encostado no balcão quase caímos de costas.  Olhei pro Dentinho, ele já não parecia tão afim de cair no lago.

                Saímos para a calçada e ficamos comentando a tarde inteira duvidando do tal aparecimento do jacaré. Achamos que o Senhor Oscar teve uma ilusão ou coisa parecida.

                Mais tarde, chegando em casa, mamãe perguntou se estava tudo bem. Achou que eu estava meio amarelo e preocupado.

                 No jantar fiquei quieto, conversei muito pouco com papai e mamãe.

                 Naquela noite, revirei muito na cama e tive um pesadelo com o jacaré, e o que poderia fazer conosco se nos pegasse.

                    Após dois dias com provas na escola, ficamos novamente livres para brincadeiras e saímos pela rua despreocupados.

                    Nos cansamos de empinar pipas e, mais ainda do futebol no campinho de terra.

                    Procurando novidades, Dentinho teve a ideia de amedrontar as meninas da turma. Fomos até perto delas que brincavam de pular corda e ele foi logo gritando:

                — Vamos rápido para o lago que tem uma surpresa!

                   Corremos rindo com a certeza de pregar um susto nas meninas.

                   Olhamos e não vimos nada. Sentamos um pouquinho longe da margem e ficamos “batendo papo” observando o surgimento de algum movimento na água. Estávamos ansiosos para “aprontar” com as meninas, muito embora, confesso que eu também tinha medo.

                   Até que lá pelas tantas, o Dentinho começou o suspense:

                  A água está se mexendo lá embaixo. Estão vendo?

                   Todos ficaram apreensivos e logo ele foi gritando:

                — É um jacaré!

                  As meninas agitadas, se esconderam atrás de uma árvore e ficaram observando atentas para confirmar se era verdade.

                  Aquele vulto escuro veio se aproximando mais para perto.

                  Surgiu no meio do lago e deu para ver claramente um jacaré. O Senhor Oscar tinha razão.

                   Fomos embora num atropelo só, ainda olhando para trás não acreditando naquilo. As meninas, nem se fala.

                  No dia seguinte, muito mais curiosos e querendo ver de novo a figura daquele bicho, Dentinho nos empurrava para ir até lá. Foi o que aconteceu.

                   Sentamo-nos próximo da margem. Não demorou muito e o jacaré veio em nossa direção.

                   Com toda a nossa pouca coragem, ficamos surpresos quando um pouco mais perto, ele tirou a cabeça da água e disse:

                   − Não fiquem com medo meninos. Eu sou meio feio, até reconheço, mas sou manso e posso até ser amigo de vocês.

                    Aquilo nos deixou perplexos, não acreditamos que estávamos ouvindo um jacaré.

                    E começamos a conversar com ele, que contou a sua história dizendo que seu nome era Acácio. Começamos a gostar dele e ficamos amigos.      

                   Depois de um tempo, ele olhou para nós meio tristonho e pediu:

                   — Tenho que confessar que quando vocês ficam na margem conversando e tomando sorvete, fico ao longe com tremenda vontade de estar junto. E mais ainda, quero experimentar aquele de morango bonito com três bolas.

                    Nessa hora pedi que esperassem que já voltava.

                    Fui até a praça e arrastei o   Senhor João sorveteiro até o lago. No caminho contei a história do jacaré Acácio para ele e disse que pagaríamos o sorvete.

                    Sorrindo se aproximou e disse ao Acácio:

                     — Soube que você quer tomar sorvete, né?

                    E preparou um bem grande com três bolas de morango conforme o pedido do nosso mais novo amigo jacaré. Ele saiu do lago ficou em duas patas em pé. Agarrando o sorvete deu um grande sorriso com seu bocão e um montão de dentes. Agradeceu muito olhando para nós. Fiz até   uma foto com o celular.

                    Contamos tudo à mamãe e papai que vibraram com a história.

                    A partir daquele dia, sempre íamos ao lago e brincávamos muito com o Acácio. Até nadávamos juntos,  e muitas vezes nos sentávamos em suas costas imitando um barco.

                     Ele ficava muito feliz e nós também.

                     Essa foi a história do jacaré Acácio que gostava de sorvetes.         

MARGARETH FOTOGRAFA UM CRIME. - Dinah Ribeiro de Amorim

 




MARGARETH FOTOGRAFA UM CRIME.

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Margareth, fotógrafa profissional, trabalha para a Revista Eventos. Sempre que surgem novidades é chamada e, como a cidade do Aconchego está sempre acontecendo, fotografa muito.

Frio, calor, chuvas, dias ensolarados, lá está ela, de máquina na mão, tentando cobrir desfiles, comícios, festividades e cenas do cotidiano, com o objetivo de agradar o leitor.

Dias de folga são raros e, quando acontecem, procura passá-los dormindo; mal se dedica à família, pai e mãe idosos. Isso a contraria e, num raro domingo livre, resolve levá-los a passear no campo. Coloca os pais no carro e fecha a porta de casa, quando o celular toca insistentemente. É o diretor da revista que lhe pede para fotografar com urgência um comício contra o atual secretário de saúde da cidade. Querem sua demissão.

" Logo Dr. Alfredo, pensa ela, um médico tão bom! Querido por todos. Qual será a causa?"

Tristonha, pede aos pais que voltem para casa e desculpa-se, tem trabalho. Outro dia sairão.

Os pais, acostumados com a sua profissão, sorriem e se preparam para o domingo de sempre, na televisão.

Margareth dirige rápido em direção à Secretaria de Saúde, com a entrada bloqueada por seguranças, que impedem pessoas em tumulto.

Gritam todos ao mesmo tempo: "Abaixo Dr. Alfredo! Queremos justiça! Devolvam nosso dinheiro!"

Espantada, a moça prepara a máquina e bate as fotos iniciais da manifestação, sem saber do que se trata, mas curiosa. Locomove-se rapidamente, tenta infiltrar-se entre eles, cada vez mais numerosos e irrequietos. Leva um empurrão e derruba a máquina, que cai ainda explodindo fotos...

Apanha-a com rapidez, evita que pisem, examina-a com cuidado e procura outro lugar. Continua a observar o que acontece. Escuta um estampido, semelhante a tiro, quando estava no meio da multidão e alguém cai. Aflita, tenta ajustar a máquina, que não funciona. Acontece um silêncio, rodeiam a pessoa atingida, o tumulto cessa e a maioria corre apressada. Com certeza aquilo não era previsto. A polícia e uma ambulância chegam rápidas ao local e Margareth reconhece o corpo gordo de Dr. Alfredo, imóvel, ser levado na maca. Policiais interrogam os presentes, algemam os mais exaltados e percebem uma arma jogada no chão, ao lado de um homem afro descendente. Acham-no suspeito. Aproximam-se e, com aspereza, perguntam se a arma é dele. O homem negro nega, jogaram-na após o tiro. Os policiais duvidam e empurram-no ao chão. Puxam seus braços e o algemam também. “Todos para a delegacia! ”

Em instantes, o comício se desfaz, os que conseguem fogem, a paz se restabelece. Margareth, angustiada, vai à revista, conversar com o diretor. Confusa, mal sabe como se explicar. Conseguiu poucas fotos, não soube o porquê do tumulto e como foi o crime.

Thiago, seu chefe, explica-lhe que Dr. Alfredo criou um plano de saúde barato, popular, com pequenas contribuições mensais e promessas de atendimento. Isso não aconteceu. Quando as pessoas necessitaram do plano, não havia nem Pronto Socorro. Daí a revolta da população. Muitos doentes sofreram, houve até mortes prematuras. Queriam justiça, mas, homicídio, ninguém esperou... Perderam o controle quando o avistaram e tentou se explicar. Agora, era chegar ao culpado. Tudo indica que foi o homem negro perto da arma.

Na delegacia, muitos interrogatórios, quais foram os planejadores do tumulto, detenções, deveriam ter recorrido às autoridades legais, mas o mais atingido foi José, o negro encontrado perto da arma. Queriam forçá-lo a confessar o crime. A maioria foi solta por falta de provas e José, sem um advogado que o defendesse, apanhou muito e ficou detido.

Caracterizou-se crime grave com o falecimento de Dr. Alfredo, transformou-se de réu popular a vítima. José, o acusado violento e sem controle, preso, aguarda julgamento.

Margareth não é jornalista nem fotógrafa policial, o caso é novidade em sua vida profissional, mas fica atenta e medita sobre o assunto. Tem intuição que algum erro ocorre na acusação policial. Não acredita que o José seja o culpado. Não tem ficha policial, boa família, pobre, honesto, trabalhador, nem porte de arma possui. Comenta com o chefe e discute as várias opiniões. Lembra-se de buscar a máquina no conserto.

Com a máquina na mão, Thiago revela no computador as poucas fotos antes de bater no chão. Ele e Margareth prestam atenção e, uma delas, a última, mostra um grupo acotovelado em torno de Dr. Alfredo, que cai após o tiro. José não está entre eles, mas o movimento da arma sendo jogada e abandonada aos seus pés é bem nítido, resta agora saber quem foi.

Margareth e Thiago exclamam: ”O homem é inocente! Temos que ir à polícia. ”

Na delegacia, ansiosos, controlam as emoções. Precisam conversar com o delegado encarregado do caso, Dr. Mourão. Esperam minutos que parecem séculos e entram na sala do delegado. Avisam que possuem fotos relacionadas à morte do Dr. Alfredo.

Dr. Mourão acha que o caso está praticamente resolvido, liga a máquina de Margareth ao seu computador, olha as fotos com ligeiro interesse. Não sabia que a moça esteve fotografando o evento. Esse interesse aumenta quando percebe a última, que mostra a arma sendo jogada por alguém aos pés de José. Agora. É localizar quem esteve no grupo próximo ao médico, uma longa e difícil pesquisa. Isso inocentou o homem preso injustamente, e orientam-no para cobrar pelos danos morais que sofreu.

Thiago e Margareth se confessam amigos de José e não saem da delegacia até a soltura. O até então cabisbaixo, melancólico, amargurado e já conformado José, aparece, quase feliz, em total agradecimento.

O final desse caso policial será a futura reportagem que Margareth e Thiago farão, quando a polícia descobrir o verdadeiro culpado. A revista Eventos, além das frivolidades da cidade, cobrirá também assuntos humanitários, de interesse e bem-estar da população.

 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

MELISSA A SAPECA - Alberto Landi

 




MELISSA A SAPECA

Alberto Landi

 

Melissa era uma ovelha, branca e suave como o algodão, vivia saltitando pelos verdes pastos. Essa era a sua diversão. Mas, apesar de ser a mais idosa do rebanho, era desobediente. E isso preocupava o bom pastor.

— Melissa, há muitos perigos por aí, não vá muito longe, é melhor me obedecer, sou o seu pastor e te quero muito bem, nem sei o que fazer se eu a perder.

 

Para ter controle sobre Melissa, e tê-la junto com ele, comprou novelos de lã, e propôs a ela que fizesse meias para as demais ovelhas do rebanho, o inverno que estava se aproximando.

 

Melissa gostou da ideia e começou a tricotar. Isso fez com que ela se mantivesse ocupada, e não saísse pelos pastos sozinha.

 

Porém, num dia ensolarado, saiu e nem ligou quando o pastor a chamou para se reunir com o rebanho. Estava tão distraída ,que nem notou que uma tempestade estava se aproximando.

 

O pastor de volta, contou as ovelhas, e justamente estava faltando a Melissa. Ela havia deixado as meias todas jogadas no canto.

 

O pastor muito preocupado, começou a orar para que ela aparecesse:

Não fuja Melissa, não consigo te ver nesses imensos pastos. Volte para o seu rebanho e para o seu pastor. Me ajude a organizar a distribuição das meias que você tricotou.

 

Melissa não apareceu, havia rolado numa ribanceira no meio de umas plantações. O pastor de tanto procurá-la acabou encontrando. Muito chorosa se disse arrependida do que fez, pela desobediência.

 

A partir desse momento, Melissa tornou-se uma ovelha obediente e ficava sempre em alerta ao que o pastor falava.

 

Disse o pastor:

—Melissa olhe sempre por onde anda, há muitos perigos por aí. Não vá muito longe., fique sempre próximo de mim. Sou seu pastor, te quero muito bem. Se você se aborreceu tricotando para as suas amiguinhas, não precisa mais fazê-lo.

E assim a ovelha Melissa, nunca mais se afastou de seu querido pastor, já que era muito estimada!

 

1º lugar - PRESENTE HUMANO - Ana Catarina Sant’Anna Maués

 


Ana Catarina Sant’Anna Maués


1º colocado

CONCURSO DE NATAL ICAL 2020


Presente humano

Ana Catarina Sant’Anna Maués


   Músicas, enfeites, animação, comércio com altos índices de vendas, hum! Este ano o Natal promete ser dos melhores, dizia Bruna na mesa do almoço. Rodrigo, no entanto, estava ali apenas fisicamente, pois os pensamentos o levavam para bem longe. Bruna insistiu:

— Querido, estou falando com você?

— Oh! Sim benzinho, me desculpe, estou longe.

— Você fará aquilo este ano novamente? Perguntou ela.

— Sim! Você entende né, é muito importante para mim e para eles também.

— Entender eu entendo, mas acho esquisito dar este tipo de presente para as pessoas.

   Mais tarde Rodrigo, em frente ao espelho, arrumava a barba postiça, já todo vestido de vermelho, calçou as botas e veio para a sala onde esposa e um casal de amigos o aguardavam para a ceia.

— Ora, ora, tá bonito hein! Brincam sorridentes quando o veem.

   Ele, eloquente, respondeu:

— Vou dar uma voltinha e já venho. Não comecem a ceia sem mim.

   O casal convidado estranhou, mas Bruna veio em socorro:

— Como um bom papai Noel ele vai entregar alguns presentes, mas não se preocupem, ele volta logo.

   Rodrigo bateu a porta do carro e dirigindo foi observando as ruas fervilhando de pessoas com pacotes que se denunciavam serem presentes. As luzes coloridas cintilando em árvores e bonecos na frente das casas davam o tom festivo à noite especial, mas ele procurava por algo bem diferente do que via. Nesta busca ele foi se afastando da agitação e chegando à periferia da cidade, encontrou o que procurava. De longe avistou um jovem sentado sozinho no banco de uma praça. Aproximou-se e ofereceu um lanche que tirou do saco que carregava nas costas. Rodrigo tinha um dom especial, um carisma cativante e conseguiu tirar daquele rapaz o porquê de estar na véspera do Natal sem família, sem amigos. Com mais um pouco de conversa ele convenceu o jovem a entrar no seu carro e seguir até a próxima pessoa que desta vez não estava só. Ele viu uma moça carregando uma criança com apenas alguns meses de vida. Com o mesmo gesto e simpatia ofereceu o lanche e a prosa veio em seguida, e pouco tempo depois ela e o bebê também entraram no carro.

   Ele olhou o relógio e calculou que havia tempo para mais uma pessoa, e neste momento viu um idoso deitado sob a marquise de um velho depósito abandonado. Parou o carro, ofereceu o lanche e recolheu mais um para o automóvel. Já contavam três os escolhidos desta noite. O carro avançou pelas ruas deixando para trás a vida que levavam.

   Rodrigo parou na frente de uma casa bem modesta, bateu, e uma moça abriu a porta, de pronto estranhou a figura de um Noel na sua frente, mas ele com dom celestial conseguiu que ela o escutasse. Depois de algum tempo foi até o carro e trouxe o jovem, aquele primeiro com quem teve contato.

   Ali, na porta mesmo ocorreu um compromisso da parte do rapaz e um sentimento de acolhimento da parte da moça. O jovem havia se envolvido com assalto a mão armada, foi preso, e quando terminou de cumprir a pena não teve coragem de voltar para casa, mesmo com profundo arrependimento no peito pelo mal,  e grande vergonha que fez passar sua irmã, afinal eram só os dois, um contava com o outro e ele falhou feio, decepcionando-a quando entrou para o mundo do crime, porém um pedido de perdão sincero e a palavra de que seria um homem honrado, desta noite em diante, bastaram para que a irmã o acolhesse com ternura.

  Ao retornar ao carro contou aos outros, o quanto estava feliz com o resultado da entrega deste seu primeiro presente.

   O próximo seria a jovem mãe com seu bebê de cinco meses. Desta vez o bairro era nobre e uma mansão podia ser vista no final da rua. Margarida era o nome da moça. Rodrigo sozinho, atravessou o jardim, mas antes de tocar na campainha colheu uma flor. Quem atendeu foi um casal elegantemente vestido. Ele entregou a flor dizendo apenas, que uma outra flor de nome Margarida havia mandado entregar. Em segundos a senhora chorou copiosamente, e o senhor prendeu o choro, então Rodrigo aproveitou para dizer que apesar de tudo que a fez sair de casa, das más companhias, das drogas e tudo o mais, ela agora amadureceu e pedia perdão, pois tinha uma criança para cuidar, o netinho deles. Dizendo isto foi até o carro e trouxe Margarida e a criança. Ao vê-los os pais os abraçaram e um pacto de amor se estabeleceu.

   Voltando ao veículo, após a entrega de seu segundo presente, notou que o senhorzinho não estava mais lá. Olhou em volta e o viu longe, caminhando na avenida. Correu e o alcançou. Num breve diálogo ele expôs o receio, disse que no caso dele não teria chance alguma, que a família não o queria de volta, que o álcool fez destruir tudo que de bom havia nele, que os filhos o expulsaram de casa com razão, pois até pequenos furtos ele já andava fazendo para gastar com bebida, que era incontrolável o seu vício, mas Rodrigo sempre determinado, não desistia fácil, por isso articulou uma, duas, três vezes sobre a possibilidade dele estar errado, até que o convenceu de tentar, afinal o “não” ele já tinha.

   Chegaram, e uma bonita festa acontecia dentro da casa, já na parte rural da cidade. Rodrigo bateu palmas o mais forte que pode, a música estava alta e ninguém escutou. Resolveu então entrar de mãos dadas com o senhorzinho que se chamava Emanuel, e mudo esperou que os notassem. Não demorou e alguém desligou o som. Todos voltaram-se e perplexos ficaram, até que uma criança, o netinho do recém chegado veio e abraçando-o disse:
 — Vovô, quanta saudade!

   Depois disso não houve mais o que dizer ou o que explicar. A família toda reunida festejou a chegada de Emanuel que se comprometeu a ficar longe do álcool, e os dois filhos mais velhos acertaram de providenciar um tratamento para o pai.

   Saindo dali, Rodrigo estava pleno de alegria, como uma taça transbordava felicidade. Ao chegar em casa com sorriso de orelha a orelha percebeu as luzes apagadas e estranhou a casa toda no escuro. Abriu a porta chamando pela esposa e neste momento com gritos de vivas as luzes acenderam e apareceram, não apenas Bruna, que planejou a surpresa, mas também o casal de amigos e muitos dos que, nos outros Natais, ele deu como presente, e vieram abraçá-lo em mais um ano de gratidão, pois estavam perdidos e foram encontrados.



2º lugar - DUAS CRIANÇAS - Suzana da Cunha Lima

 




2º colocado

CONCURSO DE NATAL ICAL 2020

DUAS CRIANÇAS

Suzana da Cunha Lima

Ele nasceu há mais de dois mil anos em Belém, uma cidadezinha da Palestina, e foi colocado, recém-nascido, numa manjedoura.  Ainda bebê, precisou se refugiar no Egito, para fugir da sanha infanticida dos soldados do Rei Herodes.

Quando o perigo acabou, voltou para sua terra onde cresceu, pobre e analfabeto. Morreu aos trinta e três anos, nas mãos dos carrascos de seu próprio povo.

Ele era Jesus de Nazaré, um Rei cujo reino não é deste mundo, porém o Poder transformador de sua Palavra e de sua Verdade permanece vivo até hoje.

Aylan Kurdi nasceu dois mil anos depois, em Korbana, na Síria, e morreu, ainda criança, coberta de espuma e sal, nas praias de Ali Hoca, em Bodrun, Turquia.  Levada pelas ondas, como um dejeto qualquer, é um símbolo trágico do desespero migratório, que tem sepultado tantas vidas e tantos sonhos. 

 Aylan Kurdi também precisou fugir do longo braço dos soldados de sua própria pátria, esfacelada pela guerra civil e por um perverso fanatismo que não obedece a nenhuma regra ou convenção humana civilizada.

Ele morreu, porém, sua voz ressurge no grito e indignação dos povos e, quem sabe, consiga tocar, com sua inocência, os corações dos que possuem poderes para conter o Mal.

Há uma verdadeira e profunda ligação entre estas duas crianças: ambas fugiam da opressão de seus governos totalitários, ambas buscavam um espaço de liberdade para viver seus sonhos e cumprir sua missão.

O mundo caminha entre o Bem e o Mal desde que o primeiro homem pisou neste planeta.  O Mal se impõe pela violência e o Bem age pela paz.

Estamos nesta encruzilhada, é o que me vem à mente nesta época em que celebramos o nascimento de Jesus, cada vez mais angustiados e desesperançados diante da extrema crueldade como o Mal se manifesta.

Será que chegou a hora de nós, homens e mulheres do Bem, nos levantarmos contra a barbárie e desembainharmos também nossas espadas?

Espadas de coragem e inconformismo, oferecendo o que temos de melhor, nossos talentos, nossa voz e nossa arte, para que não aconteça mais outros Aylans Kurdi.

(Baseado em fatos reais)

Suzana da Cunha Lima

3º lugar - NATAL 2020 - Hirtis Lazarin

 


3º colocado

CONCURSO DE NATAL ICAL 2020

Natal  2020

Hirtis Lazarin


E, de repente, o mês de março acordou apavorado.  O noticiário e as redes sociais anunciavam que um vírus poderosíssimo e traiçoeiro, o corona vindo da China, espalhava-se por todo o planeta numa progressão geométrica alarmante.

Em poucos dias, a Terra parou e a população, em pânico diante do inimigo invisível e desconhecido, se recolheu.

As ruas esvaziaram-se num deserto silencioso; os hospitais despreparados superlotavam-se; os cemitérios não davam conta de enterrar tantos mortos...

E, em meio à pandemia, os meses se passaram e o Natal chegou.  Momento de nos juntarmos pela tolerância, pelo perdão, pela esperança e certeza de que a cura virá.

Feliz Natal aos profissionais de saúde que, devotos do silêncio e do compromisso com a vida, pernoitaram incansavelmente nos leitos enfermos dos hospitais transformando-os em leitos de hortênsia e colibris. 

Feliz Natal aos incansáveis pesquisadores, estudiosos e cientistas que se debruçaram nos livros e no  desconforto dos laboratórios em busca do leque infinito da possibilidade da cura.

Feliz Natal àqueles que, em respeito à dignidade humana, foram solidários e souberam compartilhar.

Feliz Natal a todos que choram a perda inesperada e repentina de entes queridos que chegaram precocemente ao final de sua história.

Feliz Natal a todas as famílias que aceitaram se resguardar em câmaras secretas e reaprender e aceitar um novo jeito de viver.

Feliz Natal aos semeadores da paz que humildemente seguiram e divulgaram os conselhos dos que sabiam aconselhar; 

Feliz Natal aos poetas que perderam inspiração, aos músicos sem melodia e aos escritores sem palavras.

Feliz Natal também aos que, infelizes cativos do desapreço ao próximo, não cumpriram o distanciamento social e aos que se rebelaram contra o uso de máscara na irremediável preguiça de amar.

Queira Deus que, com a ingenuidade das crianças, renasçamos com o ”MENINO” que se aconchega, ternamente, em corações desenhados na forma de presépios.

O SONHO TAMBÉM PODE TRANSFORMAR ALGUÉM - Henrique Schnaider

 

HONRA AO MÉRITO

CONCURSO DE NATAL ICAL 2020

 

O SONHO TAMBÉM PODE TRANSFORMAR ALGUÉM

Henrique Schnaider


Josias era um homem muito bem na vida, ficou rico explorando as pessoas, além de tudo era um pão duro.

Ele era casado com a Rita, tinha dois filhos, levava todos numa tremenda dureza. Economizava em tudo e não poupava ninguém. Esmola, nem pensar. Josias tinha um coração de pedra! Na empresa, os empregados sofriam nas suas mãos, ele sangrava todos, tirava o máximo deles e dava o mínimo.

Na noite de Natal Rita e os meninos tentariam amolecer aquele homem durão, e assim, passariam à uma comemoração de fé, fartura e felicidade. Para isso, planejaram convidar dois moradores de rua para passarem a festa junto com eles.

Já próximo da meia noite, Rita pediu ao marido para deixá-la convidar os dois moradores de rua que ficavam ali perto, para passarem a noite de Natal com eles e usufruírem de um lar, e da comida que seria a mais frugal possível, um franguinho, arroz e salada.

Os olhos de Josias brilharam de raiva foi quando disse a Rita:

— De jeito nenhum, mulher! Eles que fiquem na rua da amargura, isso não é meu problema, quem mandou eles não trabalharem e fazer seu pé de meia. Eu lutei muito nesta vida para conseguir ter o que eu juntei e agora não divido nada com ninguém.

Deu meia noite e aquela casa mais parecia um velório.  Rita e os filhos com aspecto triste, recolhidos ao canto. E, Josias nem aí! Não convidou a família para fazer a oração, atacou o prato e comeu com voracidade. O homem não percebeu nada do que se passava com a mulher e os meninos que não controlavam as lágrimas tristes rolando nas faces.

Josias foi dormir não se importando com o clima ruim que dominava a casa. Deixou a família na sala, sentindo aquele momento amargo que era para ser de alegria e de comunhão entre todos.

Nesta noite Josias dormiu um sono profundo, teve um sonho real pois era como estivesse vivenciando tudo o que se passou. Sonhou que era muito pobre e junto com a esposa e os filhos, moravam debaixo de uma ponte. Dali viam todas as casas iluminadas e as luzes piscando numa alegria incontida. Era Natal!

Eles com um frio tremendo, sem abrigo, desamparados a barriga roncando de fome, querendo receber o calor fraterno recheado de amor e carinho. Lágrimas rolaram no rosto de Josias uma tristeza cortando o coração, esperando o milagre de alguém aparecer e convidá-los para a ceia de Natal.

De repente, do nada, aparece um velho usando roupas vermelhas, era gordinho com barbas brancas,  e Josias emocionado, coração aos pulos: “Meu Deus é Papai Noel! Mas, não pode ser, ele não existe! Mas eu estou vendo, está aqui na minha frente” .

— Oi, Josias, boa noite, estava passando com meu trenó acima das nuvens, ouvi o apelo sincero de ajuda que recebi do coração de vocês, resolvi descer e ver o que fazer nesta noite tão especial de Natal, como já fiz todas as entregas de presentes, estava voltando para casa. Agora estou convidando para que venham fazer a ceia de Natal comigo. Vamos, subam no trenó. E, as renas se alvoroçaram.

Partiram todos rumo à felicidade na casa de Papai Noel. Foi uma noite inesquecível, tinha de tudo, quitutes maravilhosos e comidas variadas doces gostosos. A conversa calorosa do bom velhinho era para não mais esquecerem. Terminada a festa Papai Noel levou-os de volta para o mesmo lugar,  e se despediu dizendo:

— Até o ano que vem, meus queridos. Oh Oh Oh.

Josias acordou na maior felicidade, algo havia mudado no mais íntimo do seu ser, jurou que daquele dia para frente seria outro homem.

Mandou vir para o almoço do Natal iguarias de todos os tipos, disse a Rita que chamasse os dois pobres que ela havia mencionado, e que a partir daquele dia tudo seria diferente, pois aprendeu uma lição para nunca mais esquecer. 

UM NATAL DIFERENTE! - Dinah Ribeiro de Amorim

 


HONRA AO MÉRITO

CONCURSO DE NATAL ICAL 2020

UM NATAL DIFERENTE!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Estamos em 2020, dezembro, está próximo o dia de Natal.

Pedrinho e Paula, dois irmãos alegres e festeiros, aguardam ansiosos a data. Fazem planos, escolhem presentes, relembram com saudade os Natais anteriores, sempre na casa da vovó.

A mãe, aflita, sem saber como explicar, sabe que nesse ano, o Natal será diferente. Não sairão de casa, não visitarão lojas, não terão enfeites e presentes... Época de pandemia.

Até os cuidados com a vovó são rigorosos, nada de festa, visitas e bolos.

As crianças percebem alguma coisa diferente e perguntam, curiosas, por que a mudança? Ninguém explica.

As lojas estão fechadas, as ruas sem enfeites, os pais preocupados, quando saem, usam máscaras. As pessoas não se cumprimentam, afastam-se uns dos outros.

Sentem saudade dos coleguinhas da escola, das brincadeiras da rua, ficam o tempo todo em casa, assistem televisão. Ouvem conversas adultas, uma tal de pandemia, não entendem a palavra, o que significa?

Coisa boa, não é, com certeza. Causa muita tristeza, todo mundo tem medo dessa tal pandemia!  E ficarão sem Natal. Que saudade dos brinquedos novos, dos docinhos da vovó, de ver os enfeites coloridos na árvore de Natal.

Roupa limpa toda hora, cheiro de álcool gel, dentro de casa, chinelos, sapatos só no quintal.

De onde será que vem, essa peste ruim, ninguém sabe como é, onde fica, que forma tem? Gente pobre, gente rica, idosos e até criancinhas, ela não respeita ninguém. Que acontece no mundo que nem vacina tem?

Pedro e Paula entristecidos, tomam uma decisão. Farão no canto da sala, pequena comemoração. Pegam um galho florido, enfeitam com muitas estrelas, lembram, com saudade, a noite de Natal. Chamarão os pais preocupados, para receberem presentes, os desenhos e poesias que fizeram; preparam com alegria.

O Natal de 2020 não será um triste dia!

 

O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...