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terça-feira, 16 de maio de 2017

QUE SUSTO! - Dinah Ribeiro de Amorim


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QUE SUSTO!
 Dinah Ribeiro de Amorim


  — Moço, o Senhor sabe onde moro? É que eu não sei!

   Perguntei aflito, aos quatro anos, ao dono da banca de peixes, na feira perto de casa.

  Insisti com mamãe que queria acompanhar Dorita nas compras da feira, prometendo não largar da mão dela, até chegar em casa. De tanto ouvir falar que na feira tinha muita novidade, frutas gostosas, fiquei curioso em conhecê-la, como se fosse um shopping ou loja de brinquedos.

Dorita levou uma lista de coisas para comprar e eu ia segurando na sua sacola para não me perder.

 Fiquei meio atrapalhado com tanta gente falando e caminhando, misturando frutas, verduras, dinheiro, sacolas, discutindo preços, vozes altas demais. Dorita sempre me olhando e avisando para não sair de perto dela. Grudei forte em sua sacola, mas era tanta gente empurrando, ora eu ia para um lado, ora para outro.

 De repente, passamos por uma senhora muito gorda, maior que a Dª Ivete, lavadeira lá de casa, e fui jogado para trás, soltando minha mão e perdendo Dorita de vista. Tentei encontrá-la,  mas não consegui. Feira é um lugar perigoso para crianças, pensei! A gente fácil, fácil, se perde.  Nem sei como voltar para casa. Tomara que ela esteja me procurando! Acho melhor ficar aqui, no canto, até ela me achar.

 Esperei um tempão, assustado, no meio de tanta gente estranha... Todos vinham falar comigo: “Que criança engraçadinha!” “ Cadê sua mãe!” “ Está perdido! “ Até que um menino grande, desses que ficam rondando por aí, aproximou-se de mim, querendo puxar papo. Fiquei com medo e me aproximei da primeira banca que encontrei, era o homem que vendia peixes. “Será que me ajudaria a chegar em casa!” Perguntei.

  Ele coçou a cabeça, alisou seus bigodes pretos com as mãos sujas de escamas e respondeu:

—Não sei onde mora, garoto, mas espera um pouco que vou chamar um guarda e ele logo acha quem trouxe você  aqui! Pegou um alto falante, barulhento demais e avisou que tinha um menino perdido na banca de peixes! Morri de vergonha e logo avistei Dorita, toda descabelada, afastando todo mundo e chegando até nós, desesperada.

— Onde se meteu, Jorginho! Sua mãe vai ficar louca comigo! Estou cansada de tanto procurá-lo, sem saber como fazer para encontrá-lo no meio de tanta gente.

  E eu, que nunca tinha me perdido antes, fiquei também sem saber como contar para mamãe o susto que passei e o que tinha realmente achado dessa bendita feira “perto” de casa!


 Com calma, mais tarde, mamãe achou melhor que eu andasse sempre com uma correntinha no pescoço, com nome e endereço gravado, quando saísse de casa com empregada, parecendo o cachorrinho de raça da vizinha, para não ser colocado na carrocinha. Desejei crescer logo! Não gostei muito de ser comparado ao cachorrinho. O melhor era não sair mais de casa! Por enquanto!

É difícil perdoar? - Hirtis Lazarin


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É difícil perdoar?
Hirtis Lazarin

          Cresceram juntos, na mesma rua, na mesma escola, na mesma classe.  Leo e Renato tornaram-se inseparáveis e cúmplices.  Nas coisas certas e nas molecagens.

          Tornaram-se hábeis em pular muros.  O preferido era o do orfanato, no horário em que as freiras e as internas se dedicavam às intermináveis orações matinais.

          O que os atraía era uma mangueira prodigiosa.  Seus galhos carregados de mangas, envergavam com o peso até alcançar o chão.  Era ali que os meninos faziam a festa.

          Uma vez por semana, no mínimo, iam à periferia da cidade.  Ruas sem calçamento e esburacadas eram perfeitas para o "rally" de bicicleta.  Não havia pneus que resistissem a tanto sofrimento.

          Nos estudos, as aptidões tomaram rumos diferentes. 

          Renato brincava com a matemática.  "Debaixo dos caracóis de seus cabelos" havia uma mente onde os números pipocavam.  O rapaz, com destreza, jogava-os pra cima, deixava outros caídos ao chão pedindo socorro, encaixava um "x" aqui, eliminava o "y" trapalhão, arredondava a raiz quadrada e a equação estava resolvida.  Seu jeito de lidar com as ciências exatas refletia no seu jeito de vestir.  Gostava de calça social, camisa bem passada e sapatos intocáveis no brilho.

          Leo era descolado.  Vivia de jeans desbotado, camiseta e tênis desamarrado.  Era o artesão das palavras.  Juntava palavras aqui, eliminava outras ali, encaixava algumas roubadas de Machado de Assis, copiava outras do vocabulário de Suassuna, inventava muitas inspirado em Guimarães Rosa.  Embaralhava estilos e no papel surgia uma obra de arte.  Houve tempo em que andava pra baixo e pra cima com Fernando Pessoa.  Deu pra escrever poesias.

          Os dois já rapazes, se complementavam como o côncavo e o convexo.  A lealdade entre os dois era coisa bonita de se ver.  A lealdade leva tempo pra se instalar.  Só acontece quando há verdade, entrega e sinceridade no relacionamento.

          Leo tornou-se responsável por uma coluna no jornal da cidade.  E, pra socorrer os pais em dificuldades financeiras, aceitou trabalhar num editora fazendo traduções do português para o inglês e vice-versa.

          Nesse período Leo afastou-se das festas e diversões e sobrava pouco tempo pra namorada Helena.  Era Renato quem, muitas e muitas vezes, acompanhava-a às festas.   A juventude quer a felicidade a qualquer custo.  Parece que o mundo está prestes a acabar.  Não há tempo pra perder.

          Bem, o tempo passou... As pessoas mudaram... A vida também.

          A situação financeira da família de Leo foi resgatada e ele, nos próximos dias, deixaria a editora pra cuidar da própria vida. No momento, o vestibular e a Helena eram sua prioridade.

          Enfim chegou o seu primeiro final de semana livre.  Sabia que Helena passaria alguns dias fora.  Procurou Renato e não o encontrou.  Ninguém sabia informar seu paradeiro.  Nem seus familiares.  Achou estranho. Um sempre sabia do outro.

          Uma semana inteira passou e Leo recebeu um postal.  Helena e Renato estavam juntos.  O convívio entre os dois foi transformando amizade em amor.  Foi evitado, negado, mas não teve jeito.  Aconteceu.  E era amor de verdade.  Foram leais e fiéis até quando deu.

          Difícil foi contar a verdade.

          Se a amizade vai continuar, não sabemos.  Só o tempo dirá.



BENDITA TRANSFORMAÇÃO! - (Amora)



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BENDITA TRANSFORMAÇÃO!
 (Amora)

Uma lagarta muito feia, escura  e espinhosa, caminha, lentamente, com suas pernas curtas, pelo jardim.

Encontra de repente, uma árvore de tronco largo, folhas e galhos verdinhos, apetitosa, resolvendo subir nela.

Escolhe um galho e lá permanece, iniciando seu casulo feito da baba que lhe escorre pela chamada boca!

Estando pronto, penetra nele permanecendo fechada e, escondida, como se estivesse morta.

Podia-se avistar um casulo marrom, pendurado no galho da árvore, por muitos dias! 

Vários meninos da redondeza atiram pedras nele, tentando acertá-lo. Felizmente, nenhum consegue.

Após vários dias, esse casulo arrebenta, aparecendo uma cabecinha, louca para sair. Vai quebrando-o aos poucos.

Quando se liberta totalmente, surge uma bela borboleta de asas coloridas, voando lindamente, cintilante ao sol. Rodeando a árvore e, alçando voo, para mais longe, baila, graciosamente, sobre as flores, enfeitando a paisagem!

Bendita transformação!

O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...