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sexta-feira, 9 de março de 2018

O Zorro de Itaoca - Suzana da Cunha Lima





O Zorro de Itaoca
Suzana da Cunha Lima


João Teodoro era seu nome. Pacato, leal, modesto. Não se dava valor nenhum nem sequer cogitava que um dia poderia ser alguém importante ou necessário em sua cidade. Cidade muito pequena, aliás, um lugarejo que conhecera dias melhores. Estava arruinada por dois motivos principais; Resultado do êxodo dos jovens para cidades maiores em  busca de melhores oportunidades, e a ausência de oferta de serviços públicos essenciais: até para casar e enterrar tinham que ir à cidade próxima. Faltava hospital, ambulância, escola e transporte público confiável. Os impostos iam todos para os bolsos do prefeito e sua quadrilha de vereadores vendidos.  Doía-lhe o coração ver o progressivo declínio de sua amada Itaoca. E agora, até o delegado resolvera ir embora!!!

Em pouco tempo a bandidagem começou a agir. Povoada por muito idoso e gente pobre, o dinheiro que circulava por ali era do Bolsa-família, pouco, mas certo. E só havia um caixa eletrônico para atender este pessoal.  Sem gastar um tiro, os marginais roubavam este suado dinheirinho.  É como tirar doce de criança – gabavam-se.

João parecia pobre, mas na verdade era até rico. Ninguém sabia que tinha muito gado nas fazendas vizinhas e uma boa participação em postos de combustíveis. Ficara em Itaoca aquele tempo todo porque gostava da solidão e da vida simples.

Mas agora a situação estava insustentável e ele chegara ao seu limite.  Não quis tomar o lugar do delegado, porque sabia que era um posto de fachada, sob as ordens dos chefões políticos.

Então deu asas à imaginação e resolveu ser o Zorro do local. Lutar contra o mal e devolver à Itaoca a dignidade perdida. Com seu dinheiro, arrumou rotas de fuga, esconderijo seguro e um ajudante de confiança. Como tinha servido no Exercito quando moço, sabia manejar armas e tinha noções de estratégias. Começou a caçar bandidos, tanto os de colarinho branco quanto os de pés descalços. Usava disfarce também, às vezes uma meia enfiada na cabeça, outras vezes máscara ou capuz.  Não queria ser reconhecido.

Um sobrinho distante veio para ser seu ajudante, adorando aquela aventura que durou uns três anos. E não é que ele resolveu mesmo a situação? Pôs para correr os corruptos e as gangues locais, todas compostas de meliantes analfabetos, sem a menor noção de um plano militar.  Teve que matar alguns e dar uns sustos pesados em outros para adquirir respeito. Quanto aos políticos, dava uma prensa e ameaçava denunciar à Lava-Jato.

-Tem gente que só entende violência, dizia para o sobrinho.

Mas sabia que sem educação, o povo ia cair nas mesmas armadilhas, acreditando em tudo quanto era promessa.

- Vamos construir boas escolas e remunerar direito nossos professores, porque a ignorância é a mãe de todos os males.

 E a lenda do Justiceiro cresceu e teve o maior apoio da população. Muitos retornaram e juntos conseguiram colocar Itaoca, outra vez, na rota do progresso e desenvolvimento. Aí João voltou para seu anonimato, atento, no entanto, à qualquer recaída. O segredo do progresso em Itaoca é a eterna vigilância, pontificava ele, replicando um famoso estadista.

 (O segredo da liberdade é a eterna vigilância - Thomas Jefferson)



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