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segunda-feira, 22 de julho de 2024

VOLTA AO PASSADO - Adelaide Dittmers

 

 



VOLTA AO PASSADO

Adelaide Dittmers

 

O olhar do rapaz percorria os campos de trigo, absorvendo com prazer a fresca aragem da manhã, que fazia as espigas douradas dançarem brandamente em um belo espetáculo da natureza.

Sentado nos degraus da casa da fazenda, já gastos pelos anos, as sublimes lembranças de sua infância vividas naquele lugar vieram aos borbotões.  Os rostos dos avós meio apagados pelo tempo apareciam em sua mente, trazendo momentos que a vida deixou para trás.

O avô, um homem alto, de barba e cabelos brancos, voz áspera, mas quente, mãos grandes e calejadas de agricultor, mas macias no carinho que lhe dava.

As pescarias no rio que serpenteava pela propriedade, que aquele homem destemido tanto gostava de praticar. A suavidade com que o ensinou a manejar a vara e a ter paciência para fisgar um peixe. A alegria ao conseguir, que fazia aquele homem rude abrir um sorriso e bater nas suas costas para incentivá-lo a continuar.

A volta pelos estreitos caminhos de terra entre o trigal, onde às vezes um sapo saltava, fazendo com que ele também pulasse para trás, provocando a gargalhada do avô. O doce aroma do campo.

A satisfação de se deliciar com os pescados, que a avó preparava como ninguém.

As tardes em que, ao entrar na grande cozinha, seus olhos saborearam o cheiro do bolo de fubá, que saia do forno de lenha.

A grande cama que o abraçava, cheirando a palha, que recheava o macio colchão. O canto do galo ao amanhecer.

As histórias intermináveis e divertidas, que o avô contava, de tantos casos e lendas, que povoavam a imaginação das gentes do campo.

Aquele homem simples, mas cheio de sabedoria, muito lhe ensinou sobre a vida, não só com palavras, mas com exemplo.

Agora, sentado ali, a nostalgia de tempos que jamais voltarão, deu-lhe um banho de saudade. Num ímpeto, sacudindo a cabeça, levantou-se e foi até o barracão, que ainda guardava os instrumentos de pescaria.  Pegou a vara, que pertenceu ao avô, apertou-a como quisesse sentir a mão forte, que tantas vezes a segurara. Olhou em volta, um sorriso brotou em seus lábios, que, ao mesmo tempo, sentiram o gosto das lágrimas, que sorrateiras desciam pela sua face. 

Um forte suspiro irrompeu de seu peito e com passos firmes e alma trêmula foi até o rio.


UMA TARDE EM VIENA - Alberto Landi




UMA TARDE EM VIENA

Alberto Landi

 

Em uma tarde ensolarada na cidade de Viena, Sofia passeava pelas ruas da cidade encantada com a beleza e a música que ecoava por todos os cantos. Ao passar em frente ao imponente Teatro da Ópera, viu um cartaz anunciando um concerto do famoso compositor Mozart.

Curiosa e animada, decidiu comprar ingresso e assistir ao concerto naquela mesma noite.

Ao entrar na majestosa sala de concertos, sentiu seu coração acelerar de emoção. As luzes se apagaram, o maestro subiu ao palco e finalmente Mozart começou a reger sua própria obra.

Os acordes envolventes, as melodias encantadoras e a genialidade do compositor tocaram o coração de Sofia de uma maneira indescritível.

Ela fechou os olhos e se deixou levar pela música, sentindo como se estivesse em um mundo mágico, onde cada nota era uma emoção única.

Ao final do concerto, ela estava extasiada. Foi então que, ao sair do teatro, viu uma figura elegante se aproximando: era Mozart em pessoa.

Ele sorriu para ela e agradeceu por assistir ao concerto. Ela mal podia acreditar que estava diante de seu ídolo.

Em meio a uma conversa amigável, Mozart percebeu o brilho nos olhos de Sofia e viu o quanto a música havia tocado sua alma. Com um gesto gentil, ele pegou um papel e uma pena e escreveu algumas notas musicais, entregando a partitura para ela.

— Que estas notas inspirem você a seguir seus sonhos e a encontrar a beleza na música, disse Mozart, com um sorriso afetuoso.

Sofia guardou aquela partitura como um tesouro precioso, lembrando para sempre do dia em que conheceu o compositor e da magia da música que uniu seus corações naquela noite inesquecível!

O PRESENTE DIFERENTE! - Dinah Ribeiro de Amorim


 


O PRESENTE DIFERENTE!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Eric gosta de brincar até tarde da noite, na rua. Escondem-se em casas abandonadas e tentam achar uns aos outros.

Procuram provocar medo, soltam gritos e urros, mas nada temem. Caem na gargalhada.

Em noite de brincadeira, Eric entra sozinho, numa casa escura e vazia e, de repente, ela se ilumina fortemente, como se o esperasse.

Assustado, fecha os olhos com a claridade. Quando os abre, percebe um ser estranho, meio homem, meio bicho, que lhe joga uma varinha, avisando-lhe que é mágica e poderosa. A varinha obedece a tudo o que ele mandar, mas só para o bem. Se ordenar algo mal, acabará o podê-la.

O menino, segurando-a, não tem tempo de perguntar nada, o ser estranho desaparece e a casa escurece.

Com a varinha na mão, Eric pensa em voltar para casa, fugir dos amigos. E, de repente, ele está em seu quarto, fazendo lição.

Sente fome, lembra-se que ainda não jantou. A melhor macarronada lhe aparece à frente.

Come depressa e desce à sala, onde estão o pai, a mãe e o irmão Lucas, com quem briga constantemente. É mais velho e não se dão nada bem.

Lucas assiste na televisão um jogo que Eric detesta e a um sinal seu, com a varinha, o canal muda e aparece o seu filme predileto.

Todos o olham, muito espantados, e querem saber tudo sobre essa varinha.

Eric é obrigado a contar a verdade, um ser estranho, numa casa estranha, deu-lhe essa varinha para fazer o bem.

A mãe, encantada, já a quer emprestada para levar ao hospital, de manhã, onde trabalha como voluntária.

O pai, também a quer para solucionar alguns problemas dos empregados da firma, que estão com dificuldades.

Lucas, o irmão, enciumado, quer emprestar a varinha para ganhar brigas com colegas da escola.

Eric responde que a varinha só funciona com ele, e para fazer o bem. Não poderá emprestá-la a ninguém e, muito menos, para fazer o mal.

No dia seguinte, o menino vai para a escola e repara, pela primeira vez, no coleguinha que manca de uma perna. A professora o chama até a lousa.

Silenciosamente, pede à varinha, escondida dentro da mala, que o livre dessa aflição.

Imediatamente, quando o menino se vira, volta curado e andando normalmente, até a carteira.

Todos o aplaudem, achando que o novo tratamento que faz curou sua perna.

Eric sente uma estranha alegria com esse gesto e milagre da varinha mágica. Quanta coisa boa poderá fazer com ela!

Sai pelas ruas meio aturdido, rindo sozinho, espantando os transeuntes.

Avista na esquina um velhinho que, sentado no chão, pede esmolas com o chapéu. Parece cansado, desiludido e tristonho, aguardando a hora de morrer. Solicita à varinha mágica que o anime, solucione os problemas de sua vida, embora continue idoso, sem poder alterar a ordem dos anos.

A varinha demora um pouco a se manifestar e Eric pensa que não há mais solução para ele, mas percebe que é uma varinha pensante.  Olha o rosto do idoso e o percebe corado, luminoso, demonstra alegria. Dentro do seu chapéu surgem inúmeras notas valiosas em dinheiro, para garantir uma velhice mais tranquila.

Mais adiante, uma senhora aflita, deseja atravessar a rua com um bebê no carrinho e, o semáforo está quebrado. A indecisão da mulher se manifesta em suas idas e voltas, sem coragem de ir. Eric deseja ajudá-la e, imediatamente, o farol se acende, para os carros e ela atravessa sossegada.

O menino sente novamente aquela sensação de felicidade nunca sentida antes, o prazer em desejar o bem. Segura a varinha contra o peito e a aperta, carinhosamente. Por que será que foi o escolhido para merecê-la? Não sabe.

Volta para casa e encontra a mãe à porta, de saída ao hospital. Vendo-o tão radiante, lembra-se da varinha mágica e convida o filho para ir com ela. Quem sabe farão coisas muito úteis, nesse dia.

A primeira visita que fazem, é uma idosa que caiu e fraturou quase todos os ossos da face. No momento, sofre dores horríveis.

Eric, ao vê-la, impressiona-se muito, acostumado somente a brincar com os amigos. Aperta, emocionado, sua varinha, que o acode rápido, colocando os ossos do rosto machucado, no lugar.

Dra. Ângela, a médica que a socorre, já planejava a sua cirurgia e, ao vê-la, quase desmaia de susto. Pergunta o que aconteceu. A mãe de Eric, emocionada, responde-lhe: “Vontade de Deus, doutora! Essa senhora é muito fervorosa! ” E saem depressa dali.

No quarto ao lado, um menino, bastante magro e carequinha, aguarda tristonho uma sessão de terapia. Tem câncer na medula, essa doença miserável que ataca também as crianças. A mãe de Eric, Dona Paula, costuma contar-lhe histórias engraçadas, infantis, para alegrá-lo um pouco. Leva também revistinhas em quadrinhos, com vários desenhos bonitos, fazendo com que se distraia e esqueça, por momentos, a doença.

Eric, também ao vê-lo, pensa, tristonho: “Quantos problemas em um hospital, sem a gente saber. Precisei de uma varinha mágica para conhecer tanta gente necessitada”.

Ao senti-lo, a varinha, além de mágica, pensante, é também sensível, capta os seus sentimentos; transforma aquele quarto numa sala de brinquedos, como um pequeno parque, com carrossel e tudo, tirando aquela criança da dor e fazendo-a viver horas felizes. Quando a enfermeira chega para atendê-lo, leva muito tempo para tirá-lo dali e levá-lo à químio. Quando volta, avisa aos pais que o médico que o atende irá lhe dar alta por uns tempos. Teve grande melhora.

Dona Paula e Eric saem dali cansados, mas felizes também, encaminham-se para casa. A mãe não se esquece de que tem que esconder muito essa varinha, cuidar dela para não ser roubada ou perder.

O filho responde, calmo: “Só funciona comigo, mãe, não sei o porquê, e também para o bem! Com outra pessoa, se transforma numa varinha qualquer! ”

Os dois chegam em casa e encontram o pai, preocupado com a demora, já adiantando o almoço, e Lucas, o irmão rebelde, enraivecido com a demora em comer. “A mãe, agora, só se preocupa com Eric e sua varinha!”

Após o almoço, Eric, cansado após tantas emoções, vai para o quarto e adormece um pouco. Pelo jeito, sua vida se transformou e há muito trabalho pela frente. Encontra, na mãe, poderosa aliada. Sente-se grato por isso.

Adormece e sonha. Aparece-lhe, em sonho, um lindo anjo branco, brilhante, de asas azuis. Sussurra-lhe, suavemente, para não se descuidar da varinha, atrai o ciúme e a atenção dos outros, que não desejam usá-la para o bem, mas para o mal, e ela, roubada, perde seu poder.

Lucas, entrando no quarto, vê o irmão dormindo profundamente. Instintivamente, sua primeira ação é verificar onde Eric esconde a tal varinha mágica. Observa-o bem. Verifica que está dentro de sua jaqueta escolar. Com delicadeza, a apanha, a examina bem e dúvida dos seus poderes. Resolve testá-la no quintal.

A primeira coisa que vê é o gato da vizinha revirando o lixo de sua casa. Enraivecido, quer chutá-lo para longe, mas lembra da varinha e ordena-lhe que mande o gato embora. A varinha não o obedece.

Ainda com muita raiva, Lucas acredita que é uma falsidade que o irmão inventou e, bastante bravo, joga a varinha mágica dentro da lixeira.

O lixeiro passa nessa hora e a leva embora. Acaba-se assim o poder maravilhoso que seu irmão estava realizando.

Quando Eric acorda, alertado pelo anjo, a primeira coisa que fez foi procurar sua varinha. Não a encontra mais. Desesperado, procura a mãe para saber se a pegou. “Não, ela responde. Nem a vi!”

O menino anda pela casa toda e, nada, não a vê mais. Desconfia do irmão, mas este disfarça logo e vai saindo.

Desesperado, volta à noite na casa abandonada, escura, e nada acontece.

Acabou-se o sonho de curar todos e fazer somente o bem. Que tristeza sente durante dias, até que sua sábia mãe o aconselha a continuar ajudando outras pessoas, principalmente no hospital, mesmo sem a varinha mágica. Quem sabe foi a vontade e um chamamento que teve de Deus.

Eric torna-se um grande voluntário no auxílio aos sofredores dessa vida. 

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