A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Não foi um dia qualquer - Hirtis Lazarin

 



Não foi um dia qualquer

Hirtis Lazarin

A noite foi longa e o sono não vinha. A ansiedade tinha razão. No dia seguinte, minha primeira entrevista de emprego.

Um terninho clássico, cabelos presos e um brinco de pérolas miúdas era o meu “look”. “Discrição”! - Conselho de mãe.

O ônibus estava quase vazio e meu pensamento cheio de incertezas. Treinei uma série de respostas, nada de improvisação na hora da entrevista. Era assim que eu pensava.

Desci do coletivo e só, então, percebi que nuvens cinzentas e pesadas se juntavam. Era chuva pesada que cairia. E logo.

Mal percorri alguns metros e a tempestade desabou.

Abri a bolsa, mas cadê a sombrinha?

Corri em busca de um abrigo. Não deu tempo. Um vento forte e indiscreto despiu-me quase por inteiro. A água escorria pela rua e pelo meu corpo.

Senti dó de mim...

Não sei se por vergonha, desespero ou irritação, sentei-me na calçada. Tomei consciência: perdi minha primeira chance de trabalho. E eu tinha certeza de que tudo daria certo.

Na rua, o fluxo de carros aumentou. Buzinas funcionando a todo vapor. Um caos e todos querendo chegar e, eu ali, sozinha e abandonada, querendo ficar.

Lembrei-me, então do meu “Nono” e orei.

Orei todos os palavrões que ele esbravejava quando uma pedra chutava o seu dedão.

 

 

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

O ENVELOPE LACRADO Henrique Schnaider

 

 


O ENVELOPE LACRADO

Henrique Schnaider

 

Lá pelos idos de 2016, fui para Israel e pela primeira vez nesta vida, reuniu-se toda minha família, de cerca de 40 pessoas. Estavam presentes meus dois irmãos, Salomão e Paulo, ambos falecidos. Também suas esposas Ilana e Judith, e muitos sobrinhos e sobrinhos netos.

Estava presente eu e minha finada esposa Lourdes. Nesta ocasião a reunião foi no Kibutz onde morava meu filho Ariel que preparou um churrasco maravilhoso com tudo do bom e do melhor e a confraternização foi grande e onde revi muitos sobrinhos que não via desde crianças e conheci outros que ainda não tinha conhecido.

Foi então que fiquei sabendo que meus irmãos haviam preparado um documento que estava num envelope lacrado e nós três assinamos no envelope. Este envelope que não sei o que estava escrito, iria ser enterrado dentro duma caixa para ser aberto daqui a 40 anos, isto é, em 2056, provavelmente pelos nossos descendentes.

Assim se passou, a caixa foi enterrada num cerimonial com forte emoção em que todos os presentes foram às lágrimas. Deve ser de ter a sensação de que é efêmero e a nossa vida é curta. O churrasco continuou e todos nós gostamos muito daquele encontro onde ainda ficamos por várias e várias horas.

Os anos se passaram e simplesmente me esqueci deste fato e do segredo contido e enterrado naquela caixa. E como a professora Ana pediu para escrevermos sobre um fato que causou muita emoção na minha vida e foi aí que me lembrei do que se passou naquele encontro emocionante por todos os aspectos da reunião da família e a caixa com o envelope que passou a ser um segredo a ser desvendado no futuro.

Como não sei quem da família ficou encarregado de passar às novas gerações o local onde foi enterrada a caixa e na época marcada alguém irá se encarregar de tirar a caixa e ver revelado finalmente o que foi escrito naquele envelope lacrado.

Como me lembrei deste fato ocorrido na minha vida, entrarei em contato com minhas cunhadas Ilana e Judith, para em primeiro lugar saber delas se ainda se lembram do fato ocorrido nas nossas vidas. E do que foi feito, e quem se encarregou de passar aos nossos descendentes o que ficou combinado naquele encontro da família que nos levou a muita emoção e curiosidade.

Não sei, e provavelmente nunca vou saber, qual foi a intenção dos meus irmãos ao deixar para as futuras gerações da família Schnaider e nem porque decidiram fazer isto e o que deixaram escrito naquele envelope.

 

O GATO QUE NÃO MIAVA - Helio Fernando Salema

 


O GATO QUE NÃO MIAVA

Helio Fernando Salema


Era uma vez uma aldeia rural, onde cada lavrador tinha seu pedaço de terra para cultivar as mais variadas espécies de alimentos. Uma vez por semana, eles se reuniam e transportavam para a cidade mais próxima a produção colhida. Não era muita, mas o suficiente para se manterem. Sempre que havia algum problema com qualquer morador, os demais corriam para socorrê-lo. Tudo transcorria em plena harmonia.

 

Entretanto, nos últimos meses, estava ocorrendo uma redução na colheita, pois eles faziam questão de só levar o que fosse de boa qualidade e assim conseguir um bom preço. O resultado financeiro a cada semana diminuía. Este problema estava incomodando muito a ponto de realizarem reuniões para encontrar uma solução. Todos concordaram que a terra talvez estivesse cansada pelos anos que já teria produzido. Porém, o aumento na quantidade de adubação natural não foi suficiente, também, o rodízio das plantações não produziu o efeito esperado.

 

Um dia quando caminhava pelo campo, uma menina viu um gato muito bonito. Ficou encantada pelo animal, que até então ela nunca tinha visto, pois não havia nenhum naquela região. Aproximou-se dele com todo cuidado e, como ele parecia manso, logo começou a acariciá-lo. O animal, também encantado com ela, aceitava com muita satisfação. Ela fala mansinho com ele que parecia entender o que era.

Acostumada com outros animais e aves, resolveu levá-lo para sua casa, depois de ter brincado com ele por alguns minutos.

 

Quando seu pai retornou da lavoura no final do dia, ficou surpreso, e ele que conhecia esta espécie, mas não tinha a menor simpatia por gatos, disse que aquele animal não poderia ficar na casa. Imediatamente o colocou para fora aos berros. A menina começou a chorar e como era obediente foi para o seu quarto.

 

Na manhã seguinte, assim que o pai saiu para trabalhar, ela pode então ir à procura do bichinho, que na véspera lhe deu muita alegria e tristeza. Não sabendo como atraí-lo seguia caminhando pelo campo, emitindo os mesmos sons que usava para chamar as galinhas, os patos e outros animais. Embora não obtendo êxito, também não desistiu e, ao lembrar-se do lugar onde o havia visto pela primeira vez, foi correndo, e ao chegar teve uma surpresa… O gato olhava para ela com um olhar de espanto e alegria. Ela lentamente foi em direção a ele, que também se movia para junto dela.

 

Depois de ficarem juntos por alguns minutos se acariciando, a menina teve um lampejo de tristeza. Como evitar que o pai ao ver o animal, que ele tanto detestava, não pensasse em “dar um sumiço com ele”. Olhando atentamente para o gato, ficou imaginando como mantê-lo próximo dela e longe dos olhos e dos pensamentos do pai. Surpresa ao ver que o animal olhava nos olhos dela e parecia que entendia seus pensamentos e também tudo que ela dizia, pois a obedecia imediatamente.

 

Lembrou-se de que no rancho em que o pai guardava as ferramentas e os produtos da lavoura, havia uma porta de tábuas pela qual o seu animal queridinho poderia entrar e sair. Foi andando naquela direção e à medida que caminhava ele a acompanhava.

 

Ao chegarem ao galpão, ela mostrou para o gato um local bem escondido, onde ela colocou alguns panos velhos para que ele ali pudesse ficar. Explicando para ele que ia buscar água e comida e que ele deveria ficar ali escondido e, mais uma vez, ela se surpreendeu com o olhar atento do animal. Assim o manteve escondido, perto dela e fora do alcance dos olhares do pai.

 

Como por um milagre, as plantações começaram a demonstrar melhora não só na qualidade como também na quantidade. Aos poucos os lavradores perceberam a mudança e por mais que tentassem, não obtiveram uma resposta. A satisfação de todos era maior a cada semana, aumentada e comentada. Planos não faltaram para a aquisição de bens, que até pouco tempo não imaginavam.

 

 Até que um dia, quando o pai saiu para levar as mercadorias para a cidade, a menina aproveitou e foi até o galpão e lá ficou brincando com o gato, despreocupadamente, inclusive deixando a porta do galpão aberta.

 

O pai, quando percebeu que havia esquecido de levar uma ferramenta para devolver a um amigo, volta correndo e, terrivelmente assustado fica ao ver o galpão aberto. Logo pensa em coisas ruins. Entra correndo… Ao ver a filha sentada no chão… Se espanta. Ao olhar para o outro lado vê o gato, volta em direção à filha e, aos berros:

— O que este animal está fazendo aqui?

Uma voz estranha e suave ecoa:

ESTOU AQUI PARA COMER OS RATOS QUE ESTRAGAVAM AS PLANTAÇÕES.

 

BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES DE ITAQUERA - Henrique Schnaider

 


BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES DE ITAQUERA

Henrique Schnaider


Os sete anões de moravam num casebre muito simples dentro da mata, no bairro de Itaquera na periferia de São Paulo e lutavam com muita dificuldade pela sobrevivência, numa cidade que é cruel com os moradores pobres e onde milhares deles passam fome, sem nenhuma assistência, vivendo das chamadas quentinhas, isso quando conseguem se alimentar pelo menos uma vez por dia.

Justamente pelo fato de serem anões, enfrentam também o preconceito, para encontrarem trabalho. A única vantagem que tinham, é que como anões, acabavam vivendo de pequenas apresentações em circos mambembes, estes em verdadeira extinção. Lá muito longe, na periferia da grande cidade.

À noite, cansados, porém dispostos, iam os sete em fila indiana cantando músicas Rap e Fank numa caminhada longa de duas horas até chegarem na Escola Estadual Mirela Silveira. Ficavam todos na mesma classe para fazer o curso de Alfabetização de jovens e adultos, pois eram completamente analfabetos.

Não sabiam sequer escrever seus nomes que mais pareciam apelidos que receberam quando nasceram.  Eram conhecidos como Atchim, Dengoso, Dunga, Feliz, Mestre, Soneca e Zangado, mas pareciam felizes com seus nomes.

Os sete não se comportavam direito nas aulas, já que eram brincalhões, dando muito trabalho para a professora que ralhava com eles a todo momento. Mas o que tinham de pequenos, sobrava em inteligência e acabavam indo bem nas provas, se destacando dos demais alunos.

Um dia ao voltar para casa, depois da aula. Voltavam cantando na mesma algazarra de quando vinham. Porém no meio do caminho se depararam com uma cena inesperada de uma menina caída desfalecida na calçada. Tentaram reanimá-la, mas ela não melhorou.

Foi então que, condoídos, pela situação da pobre menina, resolveram levá-la para casa. Todos juntos, lá se foram em direção ao  casebre  carregando a menina..

Depois de acomodarem a menina numa caminha que eles mesmos fizeram. Finalmente ela acordou e deram à ela uma sopinha quente. Eles fizeram mil perguntas, mas a pobrezinha parecia meio confusa e mal conseguia responder.

Conversaram entre eles numa pequena conferência e decidiram dar o nome a ela de Branca de Itaquera. E assim começaram a cuidar dela e a Branca teve uma grande evolução. Tornou-se falante, alegre e chamava a todos de papai:

— Papai, Zangado, dá um sorriso para mim.

E ele não resistia e abria seu melhor sorriso para ela.

Tudo ia bem na casa dos anões que de dia saiam para fazer alguns bicos e à noite iam para a Escola. Enquanto isso, a Branca cuidava da casa mantendo a mesma um brinco.

Certo dia ao voltarem para casa, tomaram um grande susto, pois havia invadido a casa um homem muito mal-encarado, um verdadeiro lobo mal, dizendo-se pai da Branca e que a levaria embora, pois ela o ajudava a pedir esmolas nos faróis das ruas.

Os anões encararam o homem pois eram muito bons na luta de ringue nos circos. E deram uma tremenda surra no sujeito que saiu em desabalada carreira e nunca mais ousou voltar lá.

Hoje Branca de Itaquera é uma linda mulher. Estudou e se formou professora. Vive ainda com seus papais anões já velhinhos, dos quais cuida com muito amor e carinho e nem pensa em se casar, preferindo viver com eles.

 

 

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

A BELA ADORMECIDA - Alberto Landi

 


A BELA ADORMECIDA

Alberto Landi

 

Havia uma linda menina chamada Cloe. Ela morava num apartamento próximo ao grande e agradável parque da Aclimação, onde suas amigas costumavam praticar caminhadas e brincadeiras.

Porém, ela quase não ia se reunir com elas, porque vivia conectada ao celular e tablet.

Na escola gostava de se sentar ao fundo da sala de aula, para cochilar, em casa dormia demasiadamente, e assim ela ganhou o apelido de “a bela adormecida”.

Todos os familiares se preocupavam com isso, e insistiam para que ela se reunisse com as demais amigas no parque.

Cloe finalmente aceitou a sugestão, mas fazia tudo vagarosamente com as amigas de sua idade, muito a contragosto, mais para contentar seus familiares.

Numa das caminhadas, esbarrou em Lucas, um garoto mais velho, praticante de esportes e muito ativo.

Cloe ficou impressionada com a sua desenvoltura, e combinou com esse novo amigo manter contato.

Com o passar do tempo os dois se aproximaram, e Lucas mostrou a ela a importância de viver uma vida com energia e disposição, e o apelido foi esquecido, uma vez que ela mudou totalmente..

Muitos anos se passaram, e ambos já adultos se aproximaram ainda mais, se apaixonaram, casaram, e se tornaram donos de uma academia de ginástica. Formaram um casal unido pela energia, que contagiava a quem frequentasse a academia.

A alegria voltou à sua alma, como volta para a arvore, a verde rama!

 

Branca de Neve e os sete cãezinhos vira-latas - Hirtiz Lazarin

 

                                                     




Branca de Neve e os sete cãezinhos vira-latas

Hirtis Lazarin


Sou um cão vira-lata.  Eu estava cheio de sarna e as pessoas me expulsavam de perto. Vivia me arrastando, perdido e sem rumo. Até que uma família amorosa me resgatou da rua e cuidou de mim. Ganhei casa, comida e muito carinho.

A garotinha Jack, de cinco anos, deu-me o nome de” Cokie”.  Eu adorei e me senti muito importante.

Eu circulava livremente pela casa e observava tudo que acontecia.

Depois de um período de intensa alegria, a casa acinzentou de tristeza. Seu Guilherme e a pequena Jack voltaram pra casa sem a Dona Helen e o bebê recém-nascido. Uma tragédia no parto.

O quartinho preparado para o menino ficou fechado por um tempo bem comprido.  Como eu não sei fazer conta...

Eu andava pela casa meio que escondido e quase se esqueceram de mim.

A vovó morou um tempo com a gente, mas não muito. Ela tinha uma casa com quintal bem grande e criava galinhas. As galinhas tinham nome. Tinha uma que se chamava Anita. Era exibida e vivia correndo atrás do galo.

Ouvi seu Guilherme resmungando muitas vezes:

— Os retalhos que ficaram têm que ser ajuntados para que a vida possa continuar.

Bem, eu não entendi que retalhos são esses, mas ele sabe o que fala.

Levou tempo, mas a poeira foi se assentando, Jack voltou a brincar com as bonecas e comigo também.

O pai trocou os móveis do quarto e até comprou uma casinha nova pra mim. Senti-me novamente parte da família.

Um caminhão branco com letras vermelhas pintadas na carroceria levou tudo embora.

Nada ficou como era antes porque eu não ouvia mais dona Helen cantando e conversando sozinha na cozinha.  Mas a casa saiu do silêncio: ouviam-se música e risadas.

 E uma nova mulher veio morar com a gente. Acho que falava demais. Meu faro apurado percebeu que ela não gostava muito de mim. Quando estávamos sozinhos, jogava a água e a ração dos meus pratinhos. Cheguei a ficar um dia inteirinho sem comida.

Mas, eis que outra tragédia atinge a família. Seu Guilherme viajava, às vezes, a trabalho. Numa dessas voltas pra casa, o pneu estourou, o carro capotou várias vezes e ele ficou preso nas ferragens.  

Vou ser sincero: não sei contar os detalhes de como tudo ficou. Escondia-me pelos cantos e a tristeza era tanta que meu rabo e minhas orelhas nem paravam em pé.

Jack já era adolescente, ficava o dia todo na escola e, acreditem se quiser, apareceu um novo morador na casa. Ele tinha os braços cheios de desenho que não se apagavam nem quando tomava banho. Os braços eram tão grossos que as pelotas apareciam mesmo debaixo  da camiseta. Usava tanto perfume que eu nem podia chegar perto. Espirrava tanto que Jack dizia:

 Cokie tem renite.

Eu nunca vi esse Thomas trabalhar. Só de pernas pro ar. Tinha tempo pra paparicar a menina e muito...muito mesmo. Principalmente, quando a madrasta não estava em casa.  Eu já vi o moço elogiando e beijando fotos dela. Achava aquilo bem esquisito e eu sabia que não terminaria bem.

Jack, na sua inocência, aceitava os carinhos. Sentia muito a falta do pai.

A dona da casa, que não é boba nem nada, começou a esconder-se atrás das portas, a fingir que saía e não saía. Sua raiva foi crescendo e virou um plano macabro: acabar com a enteada.

Eu, de mansinho, fingindo ser o bobo da corte, acompanhava as caretas de ódio que ela fazia e tive certeza de que algo muito ruim estava prestes a acontecer.

Na nossa rua, há uma academia. Vi a mulher conversando na calçada com um frequentador.  Era o “RUK” em pessoa.

Pra mim ficou tudo muito claro.

Bolei uma estratégia com meus amiguinhos da rua, seis vira-latas que sempre passam pela nossa casa e são alimentados.

Às sete horas da noite, Jack chega da aula de inglês e o nosso pedaço anda escuro por conta de lâmpadas queimadas. Nós, os sete vira-latas, escondemo-nos atrás de duas árvores.

E, tudo aconteceu como eu previra. No momento em que o gigante chegou e, sorrateiramente, imobilizou Jack, nós o atacamos com unhas e uma centena de dentes afiadíssimos. Era sangue que escorria de todos os orifícios daquele corpo deformado.

Uma gritaria e uma correria.

Vizinhos assustados ligaram pra polícia.

Jack desmaiou e com a força dos nossos dentes, a arrastamos pra bem longe daquele lugar.

Já faz um tempão que isso aconteceu e, hoje Jack vive com a avó. E nós, os sete vira-latas também.

 

 

 

 

STORYTELLING NA PROPAGANDA - OMO - COMO MONTAR UMA EQUIPE

 

STORYTELLING NA PROPAGANDA - OMO - LIBERTEM NOSSAS CRIANÇAS

 

STORYTELLING NA PROPGANADA - PASSAT 2012

 

A HUMANIDADE FOI FORJADA ATRAVÉS DE HISTÓRIAS



Storytelling 

A humanidade é e sempre foi apaixonada por histórias. Houve épocas em que os homens olhavam para o alto, tentando entender o que eram aqueles pontos luminosos que enfeitavam o céu noturno. Então olhavam para o mar profundo e sonhavam com as possibilidades submersas. E, possivelmente, olhavam para dentro deles mesmos e indagavam o que ainda repetimos: 

Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? 

E aí criamos deuses e entidades cósmicas dotadas de poderes sobrenaturais e capazes de feitos miraculosos. Essas histórias foram compartilhadas e algumas delas são conhecidas ainda nos dias de hoje. 

A consciência humana foi forjada com base nessas histórias. 

As histórias vieram com apelos emocionais, com objetivos, elas serviam e ainda servem para moldar o outro, ou para aproximá-lo de algo. Têm as histórias propósitos de ensinamentos, diversão, de validar a cultura de um povo. 

Quando você encontra um amigo que há tempos não vê, são as histórias, as ocorrências dos laços de amizade entre vocês, que vêm à lembrança. 

A ficção, contos e romances que criamos, não são diferentes. Todos esses textos são baseados em vivências, experiências reais, que fazem as histórias ficarem mais parecidas com a realidade do leitor, que, por conseguinte, criam empatia com o enredo. A tecnologia veio para facilitar o caminho e expandir o trajeto que as histórias traçam. 

Hoje em dia o mercado da propaganda se utiliza do storytelling para vender produtos para um número cada vez maior de cliente. Mas, TODAS as histórias precisam do apelo emocional para segurarem o leitor. Esse apelo pode ter vínculo com a família, com os relacionamentos amorosos, com amizades, com o sucesso de carreira, a luta que se empenha para vencer obstáculos, a vida ou a morte. 

TAREFA: CRIAR UM CONTO BASEADO EM UMA HISTÓRIA QUE VOCÊ OUVIU, LEU OU CONTOU. Não esqueça de fundamentar seu enredo nas emoções das pessoas.

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

O PATINHO FEIO


O patinho feio (1843)

O conto, de origem dinamarquesa, foi escrito por Hans Christian Andersen e publicado pela primeira vez em 1843.

A obra conta a história de um filhote de cisne que foi chocado em um ninho de patos. Como era diferente dos demais, foi zombado e perseguido por todos.

Cansado de tanta humilhação, resolveu ir embora. Durante o seu percurso, foi maltratado em todos os lugares por onde passou. Certa vez, foi acolhido por camponeses, mas o gato da família não reagiu bem à sua presença e ele teve de ir embora.

Um dia, viu um grupo de cisnes e ficou deslumbrado com a beleza deles. Ao se aproximar da água, viu seu reflexo e percebeu que tinha se tornado uma belíssima ave e que, afinal, não era um pato diferente, mas sim um cisne. Desde então, passou a ser respeitado e se tornou mais belo do que nunca.


(Toda Matéria)

O GATO DE BOTAS


O gato de botas (1500)

O conto teve origem oral e foi publicado pela primeira vez pelo italiano Giovanni Francesco Straparola, em 1500. Ao longo dos anos, a obra passou por adaptações. As mais famosas foram escritas por Giambattista Basile (1634), por Charles Perrault (1697) e pelos irmãos Grimm.

O conto relata a história de um gato falante que foi recebido por um jovem rapaz como parte de uma herança. Ao questionar o que faria com o animal, foi surpreendido ao perceber que o próprio gato estava respondendo sua pergunta.

O felino disse que se recebesse um par de botas, um chapéu e uma espada, faria de seu dono um homem rico.

Devido a algumas artimanhas, o rei acaba convencido a conceder a mão de sua filha ao dono do gato de botas.


(Toda Matéria)

JOÃO E MARIA


João e Maria (1812)

O conto é de origem oral alemã e foi publicado pelos irmãos Grimm, em 1812.

Trata-se da história de dois irmãos que foram abandonados em uma floresta. Ao tentarem voltar para casa, João e Maria decidiram que seguiriam as migalhas de pão que tinham espalhado para marcar o caminho. No entanto, tais migalhas haviam sido comidas pelos pássaros.

Os irmãos se perderam e acabaram por se deparar com uma casa feita de doces e biscoitos. Como estavam caminhando há bastante tempo sem comer nada, devoraram um pedaço da tal casa. Nela, foram acolhidos por uma senhora aparentemente gentil, que inicialmente os tratou bem.

Passado algum tempo, descobriram que a tal senhora era, na verdade, uma bruxa que os tinha acolhido com a intenção de devorá-los. Em um momento de distração da bruxa, empurraram-na para dentro de um forno em chamas. Depois de se livrarem dela, os irmãos fugiram e finalmente encontraram o caminho de volta para casa.

(Toda Matéria)

CHAPEUZINHO VERMELHO


Chapeuzinho vermelho (1697)

A primeira versão impressa do conto foi publicada por Charles Perrault, em 1697. No entanto, a versão mais popular é uma adaptação realizada pelos irmãos Grimm, em 1857.

A obra conta a história de uma menina que usa uma capa com capuz vermelho e passeia pela floresta a caminho da casa de sua avó.

Durante o trajeto, ela é interceptada por um lobo. Ele descobre onde a avó da menina mora e segue diretamente para lá, a fim de devorá-la.

Quando Chapeuzinho chega ao local, também é devorada pelo lobo. Ambas são salvas por um caçador que percebe a presença do lobo na casa e corta a barriga do animal, libertando assim as duas vítimas.


CINDERELA


Cinderela (1634)

Também conhecido como A gata borralheira, a primeira versão literária do conto foi publicada por Giambattista Basile, em 1634. As versões escritas mais populares são a de Charles Perrault, publicada em 1697, e a dos irmãos Grimm, de 1812.

Cinderela foi impedida de participar de um baile realizado por um príncipe, pois sua madrasta queria que o rapaz notasse as filhas dela, e receava que a beleza da jovem chamasse mais atenção. Conseguiu comparecer graças a uma fada madrinha, mas teve de sair de lá às pressas e deixou ficar para trás um de seus sapatos. Ao achá-lo, o príncipe percorreu toda a região até finalmente encontrar a jovem. Eles se casaram e viveram felizes para sempre.


BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES


Branca de neve e os sete anões (1634)

É um conto alemão do século XIX, cujo primeiro registro escrito é de Giambattista Basile. A versão mais popular foi uma adaptação publicada pelos irmãos Grimm, em 1812.

O conto relata a história de uma bela jovem cuja beleza é invejada por uma madrasta que tenta matá-la. A jovem Branca de neve se esconde na floresta, na casa de 7 anões, mas é descoberta e acaba por comer uma maçã enfeitiçada que recebe da madrasta. A fruta a faz engasgar e desfalecer. Tida como morta, foi colocada em um caixão. Enquanto era transportada, sofreu um solavanco e o pedaço de maçã se desprendeu de sua garganta. Assim, voltou a respirar.

A versão mais popular do conto é uma adaptação de 1617, feita para um desenho animado. Nessa história, a maçã envenena a jovem e faz com que ela adormeça em um sono profundo. O feitiço só chega ao fim quando a moça é beijada por um príncipe


A BELA E A FERA


A bela e a fera (1740)

O conto é de origem francesa e foi escrito originalmente por Gabrielle-Suzanne Barbot. A versão do conto que se popularizou é uma adaptação feita por Jeanne-Marie LePrince de Beaumont em 1756, e fala sobre a relação entre uma criatura (a fera) que se apaixona por uma jovem (a bela). Ao ter seu amor correspondido, a criatura se vê livre de um feitiço que a transformara em monstro e volta finalmente à sua forma humana.


(Toda Matéria)

A BELA ADORMECIDA

 


A bela adormecida (1634)

O primeiro registro escrito do conto é de autoria de Giambattista Basile e foi publicado em 1634. A obra foi adaptada por Charles Perrault (em 1697), e depois pelos irmãos Grimm (em 1812). A versão do conto que se popularizou foi a dos irmãos Grimm. A adaptação conta a história de uma princesa que, quando bebê, é amaldiçoada.

De acordo com o feitiço, aos 16 anos a jovem furaria seu dedo, cairia em um sono profundo e só despertaria com um beijo de amor. O feitiço se desfez assim que a princesa foi beijada por um príncipe

(Toda Matéria)

O fantástico resgate do amor de uma mãe - Alberto Landi

 



O fantástico resgate do amor de uma mãe

Alberto Landi

 

Charlotte, nascida em 1920 em Castle Combe, interior da Inglaterra, pertencia a uma família de protestantes.

Ela tinha sonhos frequentes que a deixavam triste, deprimida, sonhava com seu próprio falecimento.

Estava desesperada, pois com quatro filhos não tinha o suporte e orientação necessária do marido, ex combatente da primeira Guerra mundial, que após retornar da guerra se entregou a bebida, um pai infeliz  e marido ausente.

O sonho, ao lado de certas lembranças que surgiam no estado de vigília, fazia parte de seu quotidiano, influenciando desta maneira o seu desenvolvimento psicológico, emocional e social.

Aconteceu que prematuramente o sonho tornou-se realidade, deixando os filhos pequenos.

 

Muitos anos se passaram...

Marta, americana natural e moradora de San Diego, tem dois filhos.

Sua profissão jornalista, fotógrafa e escritora.

Num determinado dia, viu um anuncio no jornal local: Vende-se uma casa no interior da Inglaterra, por um euro, no pequeno vilarejo de Castle Combe.

Como requisito seria necessária uma pequena reforma e fixar residência pelo menos por seis anos.

Como ela sempre quis conhecer esse país, entusiasmou-se pela publicação e começou a pesquisar.

Por ser uma escritora, achou que seria o local adequado para exercer a profissão.

Nesse lugar havia um pequeno castelo, que os moradores diziam ser rico em historias e lendas imaginarias.

Castle Combe se assemelhava a um cenário visto em filme de suspense, Psicose, ficava no alto de uma colina, com características bem sinistras. Um vilarejo que nasceu com os celtas e que até hoje nenhuma construção foi alterada e ou complementada.

Aproveitou um programa de incentivo do governo e adquiriu a casa.

Ela desde criança tinha visões com Charlotte e vivia dividida entre uma vida atual e passada. Era como um quebra-cabeça com certas peças apagadas, outras fora de lugar e outras nítidas, mas fáceis de se encaixarem.

Geralmente, nas pessoas as lembranças de infância assomam de forma desordenada sem nenhuma cronologia.

Dentre suas lembranças, destacava-se um chalé onde morava com filhos e marido.

Lembrava com muita clareza o lugar em que vivia bem como suas ocupações diárias.

Esses sonhos passaram a dominar sua vida, pois eram imagens claras de uma família, num pequeno lugar da Inglaterra.

Ela procurou um terapeuta. O analista, após submete-la a sessões de regressão, concluiu:

--Não são sonhos, são lembranças de vidas passadas!

Com o apoio da família, Marta viaja para averiguar a casa, em busca de pistas de seu passado.

Ela pressentia que os filhos de Charlotte que apareciam nos sonhos poderiam estar vivos e ela teria um papel relevante junto àquelas crianças de ontem. O sonho mostrava o local, justamente o mesmo do anuncio do jornal. 

O objeto central de suas preocupações eram os filhos deixados. Ela tinha lembranças de pessoas, lugares....

A dor da separação dos filhos devia ter sido tão intensa, aflitiva por deixá-los no mundo tão grande, o sentimento de culpa por não conseguir superar a morte e deixá-los desprotegidos.

Penso que o passado espiritual interfere diretamente sobre nossa existência atual.

Ela se recordava de que Charlotte gostava de ler, escrever pequenos contos infantis.

A jovem escritora, por sua vez sem muita aprendizagem escrevia desde pequena e demonstrava com livros, habilidade que constituía herança da existência anterior.

Tinha necessidade de encontrar sua família da vida passada.

Aquelas crianças tinham sido privadas ainda na infância daquilo que seus filhos atuais estavam desfrutando agora, por isso, sentia que tinha que fazer algo a respeito.

A intensificação das lembranças ocorreu na mesma faixa etária, 32 anos quando Charlotte faleceu.

Com o material recolhido das regressões e das lembranças espontâneas, deu inicio a uma grande busca, os filhos de sua vida anterior.

O quebra cabeça começava a mostrar contornos mais nítidos.

Escreveu várias cartas para os moradores locais, indagando sobre uma mulher chamada Charlotte, que teria vivido num chalé na década de 30, num determinado lugar do vilarejo.

Com o passar do tempo, apenas uma carta foi respondida e decisiva.

A mulher foi identificada como, Charlotte e os filhos tinham sido enviados para orfanatos diferentes.

A sua busca mostrava algum resultado.

Conseguiu o nome e data de nascimento dos quatro filhos: George, Oliver, Elizabeth e Bridget.

Certo dia recebeu um telefonema inesperado, de um de seus filhos da sua existência anterior, George.

O encontro com ele foi com muita emoção, ela com apenas 32 anos seria uma revelação um tanto quanto alucinatória para qualquer pessoa.

Apesar de certa confusão no inicio, este forneceu o endereço e numero do fone de Oliver, mas o paradeiro das meninas naquela ocasião era desconhecido, pois foram para outro orfanato diferente dos irmãos.

George então com 71 anos, demonstrou grande reserva e ceticismo diante desses fatos.

Ela revelou coisas que somente ele, seus irmãos e a mãe sabiam, como que levava as crianças para passear num pequeno lago, contava historias infantis, e que George, uma ocasião trouxera para casa uma pequena cabra, e ainda que uma das meninas havia se ferido na perna subindo a colina.

Ele ficou atônito com tudo que ela contava em detalhes. Não teve dúvidas, é minha mãe que voltou!

As irmãs foram localizadas e já com idade acima de 60 anos.

O contato presencial com George foi na pequena igreja local. As pessoas mais chegadas e até o pároco, ficaram conhecendo a historia e compareceram a esse encontro. Num longo abraço caíram num choro emocionado. Após algumas horas chegaram Oliver e as irmãs, e as emoções continuaram.

Conseguiu reunir em torno de si, os filhos de outra vida, reatando laços que nem o tempo nem a morte, foram capazes de extinguir.

É uma historia de busca e amor de uma mãe pelos seus filhos!

Abelha rainha - Hirtis Lazarin

 

Abelha rainha

Hirtis Lazarin

 

Quem diria que aquela garotinha se transformaria numa jovem tão inconsequente?  Uma garotinha que chegou a esse mundo pra trazer esperança, alegria e vida a um casal que a esperou por quase dez anos?

Uma criança mimada que cresceu não num quarto infantil rodeada de brinquedos, mas num aposento de princesa.

Ana Vitória descobriu bem cedo que tinha superpoderes naquela família. Usou e abusou deles.

Aos quatro anos, quis muito fazer balé,  igualzinho à menina do desenho animado.  Mas não entendia que bailarina não combina com pratos de macarronada acompanhados de brigadeiro.  A sapatilha de ponta sofria cada vez que era obrigada a acomodar aqueles pesinhos gorduchos. Vi muitas e muitas delas descartadas no cesto de lixo, boca aberta pedindo socorro. A desistência só aconteceu depois de uma queda roliça no “PLIE”.

Na adolescência foi a vez do piano.  “Quero um piano.   A Júlia tem piano. Adoro o som do piano. Quero também tocar piano”.   A ladainha  durou alguns meses,  até os pais conseguirem a quantia necessária.  Professores?  Vários.  Impossível tolerar tanto capricho e nenhum talento.

Depois veio a pintura e outras artes...

Eu me angustio quando me lembro daquele corpinho jovem e gracioso carregando uma menina que não sabia ouvir Não;  que esperneia  e dá vexame se contrariada. Pais batendo a cabeça nas paredes e cheios de culpa  quando o erro foi só amar demais.

Ana Vitória não se dava por vencida. A mente criativa e alerta, um farol iluminando o mar bravio, criou um perfil falso nas redes sociais, uma rede de intrigas e fofocas que se tornou a brincadeira mais gostosa de jogar. Misturava verdades e mentiras, um jogo de xadrez onde movimentava as peças ao seu bel prazer. Criar conflitos, brigas, inimizades era muito divertido.

Além de embaralhar a vida dos amigos e colegas, mirava também a vida dos vizinhos. Da janela do seu quarto de frente pra rua e protegida pelas cortinas, ela via, ouvia e arquitetava planos. Bisbilhotar era o verbo que movia suas ações.

Era uma noite chuvosa. Ela abriu parte da janela para o último cigarro. A rua arborizada cobria-se de folhas soltas e levadas pela ventania intensa e passageira. Um carro com faróis desligados apontou na esquina. Deslizava silenciosa e morosamente. Parecia à procura de algo sem chamar a atenção.  Ana Vitória apagou a luz e o cigarro. Escondeu-se atrás da cortina. Não perderia essa oportunidade de ouro, uma boa história de suspense pra espalhar. Do seu jeito, é claro.

O carro parou onde havia sacos de lixo empilhados à espera do coletor que viria só ao amanhecer.  O ouvido  aguçado prestou atenção no “tec tec” da maçaneta que se abria. O motorista olhou pra todos os lados, rua vazia e silenciosa;   abriu a porta e desceu.  Conferiu novamente a solidão,   tirou uma mala grande do banco de trás e escondeu-a  entre os sacos de lixo acumulado.

Ao retornar ao veículo, relâmpagos simultâneos fotografaram, detalhadamente, o rosto do rapaz.  Ana sufoca um grito antes que ele denuncie sua presença ou acorde os pais. Ela conhece o rapaz que, sorrateiramente, entra no carro e desaparece na escuridão. Aquilo não lhe cheirava bem. Ali rolava um mistério.

Ela reacendeu o cigarro não fumado. Mil pensamentos... O primeiro foi sair e abrir a mala. Caminhou até a porta da sala e abriu-a cuidadosamente. Já descia as escadas quando desistiu. Ainda bem que o bom senso   nessa hora venceu a curiosidade. Tentou dormir, mas como?  Pegou o telefone e ligou ao serviço policial e fez denúncia anônima. Sua ansiedade só diminuiu quando dois carros policiais estacionaram em frente ao endereço indicado.

Sem dificuldade, encontraram a mala e arrastaram-na   até o poste de luz mais próximo.  O zíper estava quebrado.  O couro resistente demorou a ceder.   Foi um tempo agonizante até que conseguiram abri-la.  Dentro estava o corpo desmembrado de uma mulher.  Só foi retirado do local quando o sol já ia alto e com autorização da polícia técnica.

Durante as investigações, muitos moradores da rua foram convocados pra depoimento, inclusive Ana Vitoria. Um “conflitaço” atormentava-a. A fama de fofoqueira, de inventar e distorcer fatos e brincar com a vida das pessoas conspirava contra ela. Não contou a ninguém o que viu. Essa decisão custou-lhe noites e dias de tortura. A consciência pesava e a razão gritava: “Não conte nada”.

Numa dessas noites em que não conseguia pregar os olhos, a perturbação era tanta que não sabia mais o que fazer. Acendeu a luz, tomou um calmante e, displicentemente, buscou um livro na estante. Qualquer um serviria.  Um deles veio ao chão aberto numa página qualquer.

A moça nem se deu ao trabalho de ler o índice e começou a ler o texto que se apresentou espontaneamente. E, ali, num canto “ESCONDIDO”,  estava escrito: “ Síndrome de Abelha – tem gente que pensa que é rainha, mas é apenas um inseto”.

Ela leu e releu essa frase milhões de vezes.  Copiou-a num cartaz em letras garrafais e colou-o em seu quarto.

Hoje, é na terapia intensiva que Maria Vitória busca forças pra se libertar do prazer que o vício da fofoca lhe proporciona e da sensação de empoderamento que a faz sentir superior aos outros.

E, quem sabe, esclarecer o assassinato da mala, até então não esclarecido.


O sapo Bempuru, rei da lagoa Cachingó - Henrique Schnaider

 


O sapo Bempuru, rei da lagoa Cachingó

Henrique Schnaider

 

O sapo Bempuru tinha uma vida muito boa, na lagoa Cachingó.

Dormia boa parte do dia de papo pro ar e, quando estava acordado, seu prazer era coaxar: croc, croc, croc.

Se a barriga roncava, saía em busca de alimentos. Gostava dos mais variados bichinhos: aranhas, besouros, gafanhotos, moscas: tudo que encontrava pelo caminho. Após a farta refeição, cochilava bem satisfeito.

À época do namoro, saía todo empolgado à procura da sapinha Beleli. Seu maior prazer era cortejá-la. Emitia sons o mais alto que podia, mergulhava e rodeava-a todo cheio de si.

Beleli envaidecida não resistia aos encantos de Bempuru. Acabaram se casando e, dessa união, nasceram cinco sapinhos.

O casal orgulhoso saía a passear com eles em fila. Um verdadeiro cortejo real.

Mas toda história tem um “mas”.

Certo dia, apareceu na lagoa o lagarto Creck. Muito prepotente e terrível queria, a todo custo, tomar o poder de Bempuru.

A vida calma virou um enorme tumulto.

Bempuru soltava seu grito de guerra, o mais alto que podia. Creck mostrava sua língua comprida   desafiando-o. A guerra foi longe.

Até que, numa tarde bem ensolarada, apareceu uma águia rondando a lagoa.  Estava faminta e voava pra cá, pra lá só analisando qual dos dois iria comer.

A ave de rapina, esperta e inteligente, decidiu:

— O sapo é venenoso. O lagarto é bem mais apetitoso!

E, num voo rasante e mortal, abocanhou Creck. Voou pra bem longe e, sossegada em seu ninho, saboreou-o tranquilamente.

A paz voltou à lagoa Cachingó e o sapo Bempuru assumiu seu lugar de rei.

 

 

 

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