A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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segunda-feira, 2 de maio de 2022

Aqueduto das Águas Livres - Alberto Landi

 




Aqueduto das Águas Livres

Alberto Landi

 

Todos nós sabemos que a água é fundamental para a vida de todos nós.

Atualmente é um ato de irresponsabilidade abrir uma torneira e deixar a água fluir livre ao desperdício.

No passado não foi sempre assim, as águas corriam livres sem nenhum zelo a preservação e estocagem.

Levar água às populações passou a ser uma preocupação contínua. Surgiu a necessidade de uma estrutura na criação de adutoras na captação e no transporte.

O dia 22 de março é o dia mundial da água, o elemento mais importante para o sistema de vida no universo, e que a cada dia se torna mais escasso.

Uma verdadeira obra de engenharia, o Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa, um monumento que vai resistindo ao longo dos séculos, uma arte fantástica, onde as águas correm livres, saciando a população lusitana.

Em 1755, quando um terremoto arrasou grande parte da cidade, a notícia se espalhou rapidamente pela Europa toda, causando uma consternação geral.

Essa tragédia resultou numa intensa produção literária e filosófica.

O que mais se destacou foi Voltaire, gostava de imortalizar os aquedutos através de sua obra literária, e Lisboa tornou-se o destino de muitos escritores que fizeram daquele momento o carro chefe de suas obras e relatos.

Naquele cenário de devastação, há um monumento que se destacou intacto, foi esse Aqueduto. Ganhou notabilidade e é uma das mais magníficas obras de construção moderna na Europa. O sentimento de admiração é algo indescritível, creio que nos falta capacidade para descrever com detalhes.

Autêntica obra de arte se igualando com castelos e palácios, diria que é uma engenharia e arquitetura praticada com verdadeira magia, superando monumentos modernos construídos com recursos tecnológicos da atualidade.

Construído durante o reinado de D. João V para fornecer água a Lisboa, viria a ser terminado em 1744, tendo resistido ao terremoto.

Incluía uma passagem para que os habitantes pudessem atravessar o vale de Alcântara, desde Lisboa até Monsanto, chamado Passeio dos Arcos.

Em 1844 foi fechada essa passagem motivada pela presença de um serial killer, de nome Diogo Alves, natural da região de Galícia. Ele roubava quem passasse e lançava suas vitimas do alto do aqueduto, simulando suicídio.  O bandido do aqueduto como foi chamado, em 1840 foi condenado à morte.

Essa ação criminosa lembra o famoso fora da lei, o cangaceiro Lampião, que morreu emboscado pela polícia, depois de aterrorizar o nordeste brasileiro.

Desde o tempo dos romanos que a água potável era bem escassa em Lisboa, mas o problema agravou-se quando esta se tornou a capital de um império.

No século 18, D. João V incluiu na sua política de opulência uma solução monumental para abastecer a cidade, um gigantesco aqueduto inspirado no Tratado de Vetrúvio.

Marco Vetrúvio Pollio, viveu no século 1 a.C., ele foi arquiteto, engenheiro, agrimensor, pesquisador e teórico romano. Ficou conhecido pelo tratado da arquitetura, é o único tratado europeu do período Greco-romano que chegou aos dias atuais, sendo inspiração aos elementos arquitetônicos e estéticos das construções, são 18 volumes.

Essa ambiciosa obra hidráulica teve engenheiros português, italiano, alemão e húngaro, iria ligar 58 nascentes do concelho de Sintra a Lisboa e levaria esse bem à zona ocidental da cidade.

Os romanos foram os maiores especialistas nesse tipo de construção, tinham deixados testemunhos vários espalhados por Portugal.

Desenhos, maquetes e plantas de aquedutos da cidade de Roma, foram consultados para desenhar o de Lisboa. Este se tornou resistente ao grande terremoto, admirado por pintores e viajantes como obra de arte, sobre o vale de Alcântara.

Iniciado em 1732 e terminado em 1799, recebe ainda apontamentos do barroco, e um passeio público ao longo dos grandes arcos, onde se chegava a Monsanto.

No final a água era armazenada no reservatório das Amoreiras de onde partiam galerias subterrâneas que serviam os novos chafarizes.

Tem 58 km de extensão, uma obra ambiciosa que nasceu para abastecer a cidade e cumprir a visão de um rei.

São 21 arcos de volta perfeitos e 14 arcos centrais em ogiva. Abastecia 34 chafarizes.

Era o reino mais rico da Europa, até então a água vinha de poços, de fontes e da chuva acumulada em cisternas.

Com ouro e diamantes vindos do Brasil, não foram suficientes para financiar a totalidade do projeto, então, durante mais de 70 anos, é cobrado à população um imposto adicional chamado o Real de água.

Durante 220 anos abasteceu a capital portuguesa, quando foi desativado pela Empresa de Águas Livres.

Uma das mais importantes obras do Brasil colonial, inspirada no de Lisboa, mas apenas com 270 metros de extensão, foi o aqueduto da carioca, ligando o morro de Santa Tereza ao de Santo Antonio, inaugurado em 1750 com o objetivo de levar água à população. A partir de 1896, passou a ser utilizado como viaduto para os novos bondes de ferro.

O vale de Alcântara representa uma importante estrutura sobreposta ao sistema hídrico e um relevante eixo verde, ligando a área planáltica e a frente ribeirinha, na zona de Campolide a Alcântara.

O Aqueduto das Águas Livres continua sendo um dos grandes monumentos e símbolo da capital portuguesa!





AQUELA VOZ MISTERIOSA - Helio Fernando Salema

 



AQUELA VOZ MISTERIOSA

Helio Fernando Salema

 

Cheguei a casa mais tarde do que o normal. Preocupado em responder, sem titubear, ao infalível questionário da Dona Ciumenta.

Por sorte estava dormindo, ou quem sabe, fingindo. Fui até a cozinha para fazer um café e comer um pedaço do pão que ela avisou que faria. Assim, menos suspeita talvez ficasse, ao perceber que o saboreei.

Quando comecei a elaborar o meu impecável lanche, o celular tocou. Saí correndo com receio de que ela acordasse. Uma voz feminina dizia:

— Eu sei de tudo… Eu sei de tudo.

 A voz abafada, com certeza para que não fosse identificada. Desligou rapidamente.

Não imaginei quem poderia ser. Carminha certamente não era, pois pela hora que saí da casa dela já estaria dormindo.

Preparando o lanche e pensando quem poderia ser?  A voz não me ajudava em nada. Será que vai ligar novamente e dar mais detalhes? Comendo meu lanche e pensando. Cada mordida era mais forte ainda, como querendo extrair do pão o que a memória não me revelava.

Durante toda à noite aquela voz martelava meus tímpanos, neurônios e a consciência. Cada vez que acordava vinham nomes de pessoas que ultimamente tiveram algum contato comigo.

Clientes, amigos, amigas íntimas, outras não tão próximas. Tudo em vão.

Depois de um curto sono levantei o mais rápido que pude, antes que a inquisidora acordasse. Temi que ela também tivesse recebido o maldito telefonema, e eu, certamente, não saberia o que dizer.

Quando cheguei ao trabalho, uma luz finalmente surgiu. Vi no meu celular o número da ligação da noite anterior. Anotei num papel e imediatamente fiz a ligação. Tocou o tempo todo sem que ninguém atendesse. Insisti por mais alguns minutos sem êxito.

Minha secretária entra na minha sala e avisa que chegou a Dra Cláudia. Um forte temor apossou-se de mim tão rápido, que só o percebi ao sentir minhas pernas bambas, coração disparando e uma pequena dor no peito.

Dra. Cláudia era minha cliente e ultimamente demonstrava insatisfação com os resultados do meu trabalho.

Ao me recuperar pedi à secretária que a fizesse entrar. Assim que passou pela porta levantei-me e fui em sua direção. Ela com um sorriso me cumprimentou e disse que estava com pressa. Que desejava apenas me pedir desculpas, pessoalmente, pelo que me dissera, pelo telefone no dia anterior.

 Silenciosamente suspirei fundo. Disse que ela não precisava se desculpar e que eu entendi tudo o que ela havia dito como um desabafo. Com sorrisos e apertos de mãos nos despedimos.

Assim que ela transpôs a porta, atirei-me na cadeira e elevei as mãos ao céu. Senti que tudo estava resolvido, nada mais a me preocupar.

Até que o celular toca. Era aquele número maldito. Pensei que o problema estivesse sanado e eis que me ressurge, com certeza, ainda pior. Novamente os tremores e a dor no peito.

 Era aquela voz feminina, agora bem nítida:

— Desculpe o que fiz ontem à noite. Foi engano.

COMPORTAMENTOS ESTRANHOS - Leon Vagliengo

 


COMPORTAMENTOS ESTRANHOS.

Leon Vagliengo

Existem hábitos que permanecem desde a infância. Alguns são esquisitos.

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        Acordou com o toque insistente e distante do telefone. Sábado, quatro horas da manhã! Isso não é hora de alguém telefonar, a não ser que seja algo muito importante, pensou, alarmado, o sonolento e gordinho Waldemar.

        Olhou para a esposa, Luciana continuava a dormir a sono solto. “Dorme, meu amor, você merece, você é muito especial. Só mesmo você para aceitar e ainda achar graça dos meus costumes”, pensou, enquanto vencia a preguiça de sair da cama.

O toque era do telefone fixo, lá embaixo, na sala. Waldemar desceu as escadas apressado, de chinelos, ainda meio adormecido e carregando com alguma dificuldade o excesso de peso acumulado em seus trinta e oito anos de vida, arriscando-se a um tombo.

        ― Alô! – Atendeu, ansioso, mas não a tempo: a ligação caiu. Soltou um palavrão, com raiva e frustração pelo insucesso, mas logo a seguir o telefone tocou outra vez.

        — Alô! — Atendeu, novamente ansioso, agora já completamente desperto. Do outro lado, uma voz desconhecida, meio ameaçadora, e meio zombeteira, lhe disse:

        — Eu sei de tudo! — Disse e desligou.

        De imediato, Waldemar ficou surpreso e preocupado: “Tudo o quê? ”, estremeceu.

Superado, porém, o espanto do primeiro momento, pensou bastante no que ouvira; e quanto mais pensava, mais se convencia de que a misteriosa e sutil ameaça não podia ser verdadeira, não tinha fundamento. Em toda a vida sempre primou pelo bom comportamento, pela seriedade e pelo respeito a todos; por mais que refletisse não encontrava lembrança de ter cometido qualquer irregularidade, social ou profissional, e, com certeza, não haveria nada escuso que alguém pudesse saber dele para poder ameaçá-lo.

        A não ser... a não ser que o interlocutor soubesse de algo de sua vida pessoal e que estivesse querendo explorar a sua privacidade.  Mas o quê? Matutou bastante sobre o que poderia ser, mas também nada lhe veio à cabeça, considerava-se uma pessoa absolutamente normal, como todo mundo.

        — Acho que ligaram para o número errado, não era comigo — concluiu.

        Mais tranquilo após ruminar aquele susto sem nada encontrar que pudesse comprometê-lo, bastante cansado pelo sono interrompido e pela tensão que experimentara, resolveu voltar para a cama; subiu as escadas e voltou para o quarto. Beijou os lábios de Luciana suavemente para não a despertar, colocou novamente a chupeta na boca, ajeitou a camisola, deitou-se e dormiu, abraçado ao ursinho de pelúcia; dormiu profundamente, dormiu o sono tranquilo daqueles que não têm nenhum peso na consciência e não devem nada a ninguém.

        Aquele beijo delicado não despertou Luciana, mas o leve sorriso que imediatamente surgiu em seu rosto revelou que ela sentiu profundamente o carinho que tinha recebido. Algumas horas depois ela acordou, esticou todo o corpo espreguiçando longamente, e saiu da cama. Waldemar ainda dormia profundamente, de chupeta e camisola, abraçado a seu ursinho. Luciana olhou para ele divertida e compreensiva, sorriu ternamente e disse, bem devagarinho, para si mesma, em voz baixa:

        — Esse meu marido é uma figura...!


Colosso de Rodes - Alberto Landi

 



Colosso de Rodes

Alberto Landi

 

Considerada uma das sete maravilhas do mundo na Antiguidade, foi erguida em homenagem ao deus Hélios, para comemorar a vitória dos gregos da ilha contra os macedônicos de Demetrio I.

Os macedônios tinham uma descendência direta dos gregos, falava o macedônio antigo, um idioma parecido com o eólico, um dos dialetos.

A estátua totalmente em bronze, levou 12 anos para ser concluída, mas ficou de pé por menos de 60 anos, pois foi destruída por um terremoto em 225 A.C.

Bem mais tarde, os árabes invadiram, levaram as peças, e as venderam. Tinha um tamanho equivalente a um prédio de 10 andares.

Sua construção foi feita sob uma base de mármore, as pernas ocas, tinham por dentro colunas de pedra, para dar sustentação.  Montanhas de terra foram colocadas ao redor, para que os operários pudessem trabalhar na construção e pudessem ir subindo conforme avançavam.

A maior parte do ferro utilizado veio dos armamentos deixados pelos macedônios, as partes ocas foram preenchidas com entulho e pedras.

Ao final, para conclusão da cabeça, o resto do corpo foi totalmente coberto por terra, para que os operários tivessem acesso aos trabalhos na mesma.

Depois de concluída, a terra foi retirada e a mesma pôde ser limpa e polida.

Um terremoto atingiu a ilha, destruindo o colosso.

Localizada próximo ao mar Mediterrâneo, estava posicionada encarando o oceano que banha a costa norte da ilha grega de Dodecaneso, erguida na entrada do porto de Mandraki.

Dodecaneso é um grupo de ilhas gregas na extremidade leste do mar Egeu, junto à costa sudoeste da Turquia. O nome originalmente corresponde às Cyclades, mas foi transferido às presentes ilhas durante o período otomano.

Significa 12 ilhas, mas na verdade são 15.

Seu escultor foi Carés de Lindos.

 

O espaço entre as pernas do colosso seria a entrada para o porto. Numa das mãos, havia uma grande tocha com função de farol, cuja função era de iluminar as embarcações.

Vasco da Gama compara o gigante Adamastor a Rodes, pois estes vigiavam as embarcações que passavam. O Colosso tinha 30 metros de altura, pesava 70 toneladas. Hélios, ficava com os pés apoiados em cada margem do canal que dava entrada para a ilha; nenhuma embarcação no mar Egeu entraria sem passar embaixo de suas pernas. Erguida também como símbolo da vitória sobre os inimigos, e como oferenda ao deus Sol, o principal objetivo da construção.

Atualmente há uma equipe de arquitetos e engenheiros, que já fizeram todo o planejamento da reconstrução, avaliado em 286 milhões de euros, esperando somente patrocinadores para isso.

Haverá biblioteca, museu com relíquias da historia grega, painéis solares, o que a tornará autossuficiente em energia e sistema para protegê-la de terremotos, terá 126 metros de altura.

No topo da cabeça, haverá um farol em forma de coroa.

Essa reconstrução que deverá acontecer muito em breve, deverá fomentar o turismo local e internacional, além da criação de empregos.

O custo da obra não recairá sobre os habitantes locais.

Instituições gregas e internacionais devem financiar a obra, sendo que também empresas e pessoas que contribuírem, terá seus nomes cravados nas colunas do Colosso!     

 

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