A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

segunda-feira, 22 de maio de 2023

SURPRESA NO CASAMENTO - Helio Fernando Salema

 


SURPRESA NO CASAMENTO

Helio Fernando Salema

 

Numa pequena cidade, um grupo de jovens estava numa festa de igreja, em plena década de trinta do século XX.  Um deles ficou admirando uma menina que ao perceber o interesse do rapaz também ficou estimulada.  Um dos colegas conhecia a família da menina e começou a debochar do rapaz:

— E aí medroso… Só porque ela é a filha do Coronel Pedro, você ficará só olhando de longe?

Augusto pensou seriamente em aproximar-se dela, que no olhar demonstrava interesse recíproco. Respirou fundo, como se recebesse um vento de coragem e foi até Lourdes.


Ela abaixou a cabeça logo ao perceber que ele vinha em sua direção, assim que ele parou, ela ergueu os olhou e seus lábios, com um largo e lindo sorriso, deu-lhe as boas-vindas. Imediatamente começaram a conversar. Pouco depois Lourdes disse que ele precisava ir falar com o pai dela:

— Agora?

— Melhor lá em casa, agora ele está com amigos. Durante a semana falo com ele que você irá procurá-lo.

 

ENCONTRO COM O CORONEL

 

Após trabalhar a semana inteira na fazenda de seus pais, Augusto no sábado à tarde foi até a fazenda do temível coronel. Ao ser recebido, disse que conheceu sua filha Lourdes e que ficou encantado por ela. O coronel após olhá-lo de cima para baixo:

— Conheço sua família…. Aqui em casa não tem namoro. Você quer casar com minha filha?

— Sim! Respondeu o jovem demonstrando convicção.

— Então vou falar com o Padre Francisco para marcar o casamento.

 

Foram semanas de expectativas para ambos os jovens. No dia marcado, pelo Padre, Augusto e familiares foram até a fazenda do coronel.  Assim que o Padre chegou, todos se reuniram aguardando a chegada da noiva.

Augusto leva o maior susto de toda sua vida ao ver que a noiva não era a Lourdes. Olha para o coronel e baixinho:

— Não é esta!

— Aqui! Primeiro casam as mais velhas.

O Padre ao ouvir fica parado e assustado. O coronel com a mão direita sinaliza para dar prosseguimento a cerimônia. Tudo transcorreu na mais absoluta normalidade.

Augusto não viu Lourdes e nem ela presenciou o casamento dele com sua irmã mais velha, Mariana.

Após a cerimônia a noiva trocou de roupa, pegou suas coisas, conforme seu pai ordenou, e seguiu com os familiares, do agora seu marido, para a fazenda do sogro.

Como D. Mariquinha era uma senhora muito frágil e doente, sua filha Mariana era a que mais se preocupava com a situação dela. Poucas semanas após o casamento, Mariana convenceu Augusto da vontade dela de visitar e ver como estava sua mãe. Augusto gostou da ideia e resolveram passar alguns dias na fazenda do Coronel.

Foram dias de aparente tranquilidade. Augusto e o coronel conversaram bastante sobre gado, lavoura e a situação das fazendas da região. O coronel ficou impressionado pelo conhecimento do jovem a respeito daqueles assuntos. Porém, quando o sogro falou de política, o genro ficou em silêncio. Não era assunto que lhe agradava, pois em sua casa não se discutia política nem religião. Seu pai e irmãos gostavam do que produziam e tinham ambições de adquirir outras propriedades.

A partir daí era comum todo mês o casal passar alguns dias na propriedade do coronel. Até que D. Mariquinha faleceu. Poucos meses depois Mariana ficou grávida e assim não ia à fazenda do pai. Com a ausência da esposa e da filha mais velha começou a sentir-se só, já que Lourdes e Lúcia pouco conversavam com o ele. Elas preferiam os assuntos das empregadas.

Então o pai teve uma brilhante ideia. Como a mulher de um dos seus colonos era uma parteira muito experiente e respeitada por todos das fazendas próximas, resolveu sugerir a Mariana e ao Augusto que viessem morar com ele, para ficarem perto da parteira e assim teriam mais tranquilidade quando do nascimento e cuidados da criança. Coisas que na fazenda da família do genro, sua filha não teria.  

Mariana, que sempre concordava com o pai, ficou impressionada com a ideia. Seu marido, a princípio, ficou pensativo tentando entender aonde seu sogro queria chegar com essa sugestão. Além, é claro, da sua própria reação ao rever Lourdes, como também de como ela se comportaria, mas concordava com os argumentos do coronel. Poucos dias depois o casal mudou-se.

 

CORONEL E A POLÍTICA

 

Alguns meses antes da eleição, o Coronel Pedro ficava alguns dias viajando pelas cidades da região em busca de apoio para o seu partido, que havia perdido na última. Contava ele que seu genro conduziria os negócios na fazenda tão bem quanto ele próprio, assim aconteceu.

Sempre que retornava, recebia com surpresa e alegria tudo que Augusto lhe comunicava. Ao contrário do sogro, que era muito severo com as pessoas da casa e funcionários da fazenda, o genro tratava todos com muita educação. Antes de tomar qualquer decisão, gostava de ouvir a opinião daqueles que estavam acostumados a fazer o serviço. Assim foi conquistando a simpatia e confiança de todos.

Quando Mariana começou com as dores do parto, a parteira já estava residindo na casa, por sugestão de Augusto. O parto foi tranquilo, como a própria parteira havia dito, logo nos primeiros dias em que chegou. Assim nasceu um menino robusto, chorão e faminto.

Por sugestão da mãe foi registrado como Pedro Antônio para homenagear os avôs. O pai não se manifestou.

O coronel, que chegou hora depois, viu o neto e ficou encantado. Chegando a dizer que:

— Até que enfim teremos um homem aqui!

Mariana ficou contente por ver seu pai tão feliz… As irmãs nem tanto.

 

SEMANA DA ELEIÇÃO

 

Como era de se esperar, foi uma semana conturbada. O coronel não conseguia dormir e reclamava de dores no peito. Na véspera da eleição, ele e dois correligionários foram alvos de uma emboscada ao retornarem de um comício muito agitado. O coronel levou três tiros no peito e os outros amigos foram atingidos nas pernas. O coronel faleceu no local.  

Dias depois veio a notícia de que o partido do coronel, mais uma vez, perdeu.

Na fazenda foi uma semana de muita tristeza. Mariana, a que mais sentiu a morte do pai, distrai-se com o filho que lhe tomava muito tempo. A medida que o menino ia crescendo diminuía sua aflição.

Augusto, concentrado na administração da fazenda e do pessoal, principalmente com os residentes da casa, pouco se abalou. Depois da missa de trinta dias tomou algumas decisões importantes. Preocupado pelo fato dele, como genro, possuir um terço da propriedade, enquanto as cunhadas, o maior quinhão.

Sugeriu e foi acatado por todas, que o jantar seria servido com a presença dele e das três irmãs. Com isso ele podia, após o jantar, relatar a situação da fazenda, que melhorava a cada dia. O que lhe rendeu, ainda mais, a confiança das cunhadas.

Em poucos meses a fazenda parecia outra. Mais bonita e melhor cuidada em todos os sentidos. Com o resultado financeiro crescendo a cada mês, Augusto comunicou que uma pequena propriedade vizinha estava a venda e que no dia seguinte iria saber dos detalhes.  O que causou uma alegria geral numa noite de muita expectativa das mulheres.

Pouco dias antes de Pedro Antônio completar um ano, Lourdes deu à luz a um menino, cujo nome ela mesma escolheu — AUGUSTO DOS SANTOS FILHO.

 

  

O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...