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quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Hércules e suas decisões - Hélio Salema

 


 

Hércules e suas decisões

Hélio Salema

  

Após uma discussão com a esposa, Hércules sai de casa aborrecido, muito triste. Não tem a menor ideia de como resolver o problema financeiro. Ela diz que é culpa dele, ele reclama que ela não economiza.

Caminhava na praça à procura de um lugar afastado, uma sombra com uma paisagem agradável para poder sentar e meditar sem perturbação. Ao se aproximar do banco escolhido é abordado por um senhor estranho, que pede licença e se apresenta como um mensageiro de uma boa oportunidade para ele ganhar uma grande quantia.

Desconfiado, se afasta sem dar atenção, mas o desconhecido o segue e lhe mostra um envelope contendo muitas notas de valor máximo. Hércules para, examina o rosto do estranho, olha para o envelope e fixa atentamente nos olhos do homem., que lhe parecem confiáveis. Ameaça pegar o envelope e pensa como seria bom se pudesse agarrá-lo e sair correndo. Balança a cabeça, sai andando. O homem o segue dando lhe mais detalhes:

— São apenas quinze dias.

Hércules senta no banco mais próximo. O insistente também. Continua demonstrando as vantagens. Finalmente Hércules se rende aos argumentos. Pega o envelope lê as primeiras instruções e segue para uma aventura nunca antes imaginada por uma pessoa como ele. Sempre muito criterioso e cauteloso em suas ações.

Entra num carro que já estava ali perto aguardando. O motorista muito educado o cumprimenta e avisa que será uma viagem muito agradável. Pela internet ele recebe a rota que deverá seguir, o tempo estimado e onde deverá fazer as paradas.

Poucas horas depois o motorista fala sobre a expectativa de concluir a viagem, voltar para casa e curtir a família que não vê há mais de um mês. Isso quando Hércules se concentrava na aventura da viagem e o fez lembrar da família. Um princípio de arrependimento bateu em seu coração. Mas o motorista também mencionou alguns bons momentos que desfrutou nas viagens durante esse período.

Ao chegar na primeira cidade, Hércules se espantou, era muito maior e mais bonita do que ele imaginava. No hotel se despede do companheiro de viagem, e entra. Ao se apresentar recebe as chaves número 13. Ao entrar no quarto fica admirado pela aparência e vários objetos sobre a mesa. Mala, caixa com muito dinheiro, roupas para experimentar. Mais tarde receberá instruções dos próximos passos.

À noite vai até uma determinada igreja para assistir ao culto. Em poucos minutos estava conversando com várias pessoas como se fossem amigos há muito tempo. Muito atencioso com as senhoras logo chamou a atenção de uma delas. Concentrado na tarefa de fazer muitas amizades não deu muita importância ao fato.

No dia seguinte foi visitar um orfanato de meninas. Conversou com as funcionárias longamente e ficou sabendo como funcionava. O contato com as crianças foi muito agradável para todos.

À noite foi para o aeroporto e embarcou para uma longa viagem. No dia seguinte novamente templos e casas de abrigados. Assim foram os próximos dias. Visitando e anotando tudo detalhadamente. A noite fazia e enviava o relatório.

Numa manhã ao passar por uma banca de jornais vê pessoas comentando sobre a notícia de que o prêmio da Mega Sena saiu para uma pequena cidade. Trinta milhões. O valor o assustou, mas não tomou sua atenção.

Fez a tarefa, já rotineira, com a sensação de que a cada dia a executava com mais habilidade. Assim ia percebendo o seu progresso, aumentando sua satisfação.

À noite ligou para a tv para saber das notícias, enquanto se preparava para fazer o relatório do dia. No momento em que começava a reportagem, sobre o prêmio da Mega, algo prendeu sua atenção. A rua e a casa onde morava a dona que supostamente, teria sido a ganhadora. A casa estava fechada e a repórter dizia que a dona, provavelmente, teria saído da cidade.

Hércules ficou completamente atordoado. Aquilo não podia ser real. De jeito algum. Logo depois dele ter se ausentado? Provavelmente, por causa de sua ausência, para não ficar só, teria resolvido ir para a casa da única irmã. Sem dúvidas. Procurou se concentrar no relatório, mas a cada momento ficava mais difícil. Depois de ter concluído a tarefa foi dormir.

Assim que deitou toda a reportagem lhe veio à memória, a rua, a casa, não havia dúvidas. Uma lembrança e uma certeza. Sua mulher de vez em quando apostava em jogos na loteria.

Noite longa, pensamentos diversos, corpo cansado sem dormir e o dia começando a clarear. Num pulo só, foi ao banheiro tomar banho e tomar uma decisão. Pegar avião com destino a sua cidade. Casado com a ganhadora sua parte seria de quinze milhões. Nem que tivesse que ir à justiça.

Assim que o avião aterrissou pegou um táxi até a rodoviária. Comprou passagem, o ônibus para sua cidade sairia em 15 minutos, que sorte. Uma viagem muito diferente daquelas que tinha feito nos últimos dias. Porém uma semelhança, não sabia o que o destino lhe reservava.

Quando o ônibus se aproximava da cidade percebeu que começava a escurecer. Poderia chegar em casa sem chamar atenção dos curiosos. Assim aconteceu. A casa estava fechada, como já havia previsto. Foi pelos fundos e constatou que estava totalmente às escuras. Sabia que a porta da cozinha não era muito resistente. Foi ao armário de ferramentas e encontrou o que precisava. Com muito cuidado para não fazer barulho, foi forçando lentamente, até que conseguiu abrir.

Usando apenas a lanterna do celular, quando necessário, para não chamar atenção dos vizinhos. Vistoriou toda a casa e constatou que sua esposa saiu levando poucas roupas. Mas não esqueceu de levar os documentos. Encontrou os seus e os separou. Na cozinha encontrou biscoitos e material suficiente para fazer café.

Ficou meditando no sofá onde ela poderia ter ido. A melhor hipótese seria que foi para casa de sua irmã que morava numa fazenda em outra cidade. Lugar afastado e de difícil acesso.

Antes de clarear o dia, saiu em direção à rodoviária. Conseguiu pegar o ônibus em direção à cidade de sua cunhada. Lá chegando tomou um táxi e foi até a fazenda. Não houve surpresa. Lá estava sua esposa. Que também não se surpreendeu, sabendo que ela era a ganhadora, um dia, certamente ele apareceria.

Ficaram os dois casais conversando por muito tempo, sobre coisas banais, evitando assuntos importantes. Quando ficaram a sós ele não se conteve:

— Vamos para nossa casa?

— Lógico que não. Você sumiu, não deu notícias. Não quero mais voltar pra lá.

— Vai morar onde?

— Não decidimos!

Ele pergunta em voz alta.

— Como não decidimos?

A cunhada e o marido chegam:

— Nós decidimos. Só estamos esperando passar mais alguns dias. Vamos para um lugar distante, onde ninguém possa nos encontrar. Nem você!

Um silêncio caiu como um raio sem trovões. Hércules percebeu a situação. Depois de muito pensar, olhando para a esposa arriscou:

— Eu tenho direito a metade.

A resposta veio como uma flecha espetando-lhe o peito com um bilhete de aviso:

— Não se atreva! Você sabe que posso acabar com sua vida sem dificuldades.

Sua esposa completa:

— Pode ficar com a casa.

Sem pensar, rapidamente levanta e sai em direção ao táxi que lhe aguardava.

Direto para a rodoviária. Assim que se aproxima do guichê alguém com uma voz bastante suave:

— Tenho uma proposta para o senhor ganhar muito dinheiro.

Em seguida lhe mostra o envelope. Hércules olha atentamente para o envelope que não lhe é estranho. Pega o, e com uma voz forte e decidida:

— Fui…


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