A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

sábado, 28 de novembro de 2020

A POLÊMICA - CONTO DE ARTUR AZEVEDO

 



O Romualdo tinha perdido, havia já dois ou três meses, o seu lugar de redator numa folha diária; estava sem ganhar vintém, vivendo sabe Deus com que dificuldades, a maldizer o instante em que, levado por uma quimera da juventude, se lembrara de abraçar uma carreira tão incerta e precária como a do jornalismo.

Felizmente era solteiro, e o dono da "pensão" onde ele morava fornecia-lhe casa e comida a crédito, em atenção aos belos tempos em que nele tivera o mais pontual dos locatários.

Cansado de oferecer em pura perda os seus serviços literários a quanto jornal havia então no Rio de Janeiro, o Romualdo lembrou-se, um dia, de procurar ocupação no comércio, abandonando para sempre as suas veleidades de escritor público, os seus desejos de consideração e renome.

Para isso, foi ter com um negociante rico, por nome Caldas, que tinha sido seu condiscípulo no

Colégio Vitório, a quem jamais ocupara, embora ele o tratasse com muita amizade e o tuteasse, quando raras vezes se encontravam na rua.

O negociante ouviu-o, e disse-lhe:

- Tratarei mais tarde de arranjar um emprego que te sirva; por enquanto preciso da tua pena.

Sim, da tua pena. Apareceste ao pintar! Foste a sopa que me caiu no mel! Quando entraste por aquela porta, estava eu a matutar, sem saber a quem me dirigisse para prestar-me o serviço que te vou pedir. Confesso que não me tinha lembrado de ti... perdoa...

- Estou às tuas ordens.

- Preciso publicar amanhã, impreterivelmente, no Jornal do Comércio, um artigo contra o

Saraiva.

- Que Saraiva?

- O da rua Direita.

- O João Fernandes Saraiva?

- Esse mesmo.

- E queres tu que seja eu quem escreva esse artigo?

- Sim. Ganharás uns cobres que não te farão mal algum.

A essa palavra "cobres", o Romualdo teve um estremeção de alegria; mas caiu em si:

- Desculpa, Caldas; bem sabes que o Saraiva é, como tu, meu amigo... como tu, foi meu companheiro de colégio...

- Quando conheceres a questão que vai ser o assunto desse artigo, não te recusarás a escrevê-lo, porque não admito que sejas mais amigo dele do que meu. Demais, nota uma coisa: não quero insultá-lo, não quero dizer nada que o fira na sua honra, quero tratá-lo com luva de pelica.

Sou eu o primeiro a lastimar que uma questão de dinheiro destruísse a nossa velha amizade.

Escreves o artigo?

- Mas...

- Não há mas nem meio mas! O Saraiva nunca saberá que foi escrito por ti.

- Tenho escrúpulos...

- Deixa lá os teus escrúpulos, e ouve de que se trata. Presta-me toda a atenção.

E o Caldas expôs longamente ao Romualdo a queixa que tinha do Saraiva. Tratava-se de uma pequena questão comercial, de um capricho tolo que só poderia irritar, um contra o outro, dois amigos que não conhecessem o que a vida tem de áspero e difícil O artigo seria um desabafo menos do brio que da vaidade, e, escrevendo-o, qualquer pena hábil poderia, efetivamente, evitar uma injúria grave.

O Romualdo, que há muito tempo não pegava numa nota de cinco mil-réis, e apanhara, na véspera, uma descompostura de lavadeira, cedeu, afinal, às tentadoras instâncias do amigo, e no próprio escritório deste redigiu o artigo, que satisfez plenamente.

- Muito bem! - exclamou o Caldas, depois de três leituras consecutivas.

- Se eu soubesse escrever, escreveria isto mesmo! Apanhaste perfeitamente a questão!

E, depois de um passeio â burra, meteu um envelope na mão de Romualdo, dizendo-lhe:

- Aparece-me daqui a dias: vou procurar o emprego que desejas. - A época é difícil, mas há de se arranjar.

O Romualdo saiu, e, ao dobrar a primeira esquina, abriu sofregamente o envelope: havia dentro uma nota de cem mil-réis! Exultou! Parecia-lhe ter tirado a sorte grande!

Na manhã seguinte, o ex-jornalista pediu ao dono da "pensão" que lhe emprestasse o Jornal do

Comércio, e viu a sua prosa "Eu e o sr. João Fernandes Saraiva" assinada pelo Caldas; sentiu alguma coisa que se assemelhava ao remorso, o mal-estar que acomete o espírito e se reflete no corpo do homem todas as vezes que este pratica um ato inconfessável, e aquilo era uma quase traição. Entretanto almoçou com apetite.

À sobremesa entrou na sala de jantar um menino, que lhe trazia uma carta em cujo sobrescrito se lia a palavra "urgente".

Ele abriu-a e leu:

"Romualdo. - Preciso falar-lhe com a maior urgência. Peço-lhe que dê um pulo ao nosso escritório hoje mesmo, logo que possa. Recado do - João Fernandes Saraiva."

Este bilhete inquietou o ex-jornalista.

Com certeza, pensou ele, o Saraiva soube que fui eu o autor do artigo! Naturalmente alguém me viu entrar em casa do Caldas, demorar-me no escritório... desconfiou da coisa e foi dizer-lhe...

Mas para que me chamará ele?

O seu desejo era não acudir ao chamado; alegar que estava doente, ou não alegar coisa alguma, e lá não ir; mas o menino de pé, junto à mesa do almoço, esperava a resposta... Era impossível fugir!

- Diga ao seu patrão que daqui a pouco lá estarei.

O menino foi-se.

O Romualdo acabou a sobremesa, tomou o café, saiu, e dirigiu-se ao escritório do Saraiva, receoso de que este o recebesse com duas pedras na mão.

Foi o contrário. O amigo recebeu-o de braços abertos, dizendo-lhe:

- Obrigado por teres vindo! Estava com medo de que o pequeno não te encontrasse! Vem cá!

E levou-o para um compartimento reservado.

- Leste o jornal do Comércio de hoje?

- Não - mentiu prontamente o Romualdo. - Raramente leio o Jornal do Comércio.

- Aqui o tens; vê que descompostura me passou o Caldas!

O Romualdo fingiu que leu.

- Isso que aí está é uma borracheira, mas não é escrito por ele! - bradou o Saraiva. - Aquilo é uma besta que não sabe pegar na pena senão para assinar o nome!

- O artigo não está mau... Tem até estilo...

- Preciso responder!

- Eu, no teu caso, não respondia...

- Assim não penso. Preciso responder amanhã mesmo no próprio Jornal ao Comércio e, se te chamei, foi para pedir-te que escrevas a resposta.

- Eu?...

- Tu, sim! Eu podia escrever mas... que queres?... Estou fora de mim!...

- Bem sabes - gaguejou o Romualdo - que sou amigo do Caldas. Não me fica bem...

- Não te fica bem, por quê? Ele com certeza não é mais teu amigo que eu! Depois, não é intenção minha injuriá-lo; quero apenas dar-lhe o troco!

No íntimo o Romualdo estava satisfeito, por ver naquele segundo artigo um meio de atenuar, ou, se quiserem, de equilibrar o seu remorso.

Ainda mastigou umas escusas, mas o outro insistiu:

- Por amor de Deus não te recuses a este obséquio tão natural num homem que vive da pena!

Tu estás desempregado, precisas ganhar alguma coisa...

O Romualdo cedeu a este último argumento, e, depois de convenientemente instruído pelo

Saraiva sobre a resposta que devia dar, pegou na pena e escreveu ali mesmo o artigo.

Reproduziu-se então a cena da véspera, com mudança apenas de um personagem. O Saraiva, depois de ler e reler o artigo, exclamou: - Bravo! Não podia sair melhor! - e, tirando da algibeira um maço de dinheiro, escolheu uma nota de duzentos mil-réis e entregou-a ao prosador.

- Oh! Isto é muito, Saraiva!

- Qual muito! Estás a tocar leques por bandurra: é justo que te pague bem!

- Obrigado, mas olha: recomendo-te que mandes copiar o artigo, porque no jornal pode haver alguém que conheça a minha letra.

- Copiá-lo-ei eu mesmo.

- Adeus.

- Adeus. Se o Caldas treplicar, aparece-me!

- Está dito.

No dia seguinte, o Caldas entrou muito cedo no quarto do Romualdo, com o jornal do Comércio na mão.

- O bruto replicou! Vais escrever-me a tréplica!

E batendo com as costas da mão no jornal:

- Isto não é dele... Aquilo é incapaz de traçar duas linhas sem quatro asneiras... mas ainda assim, quem escreveu por ele está longe deter o teu estilo, a tua graça... Anda! Escreve!...

E o Romualdo escreveu...

Durante um mês teve ele a habilidade de alimentar a polêmica, provocando a réplica, para que não estancasse tão cedo a fonte de receita que encontrara. Para isso fazia insinuações vagas, mas pérfidas, e depois, em conversa ora com um ora com outro, era o primeiro a aconselhar a retaliação e o esforço.

Tanto o Caldas como o Saraiva se mostraram cada vez mais generosos, e o Romualdo nunca em dias de sua vida se viu com tanto dinheiro. Ambos os contendores lhe diziam: - Escreve!

Escreve! Eu quero ser o último!

Por fim, vendo que a questão se eternizava, e de um momento para o outro a sua duplicidade podia ser descoberta, o Romualdo foi gradualmente adoçando o tom dos artigos, fazendo, por sua própria conta, concessões recíprocas, lembrando a velha amizade, e com tanto engenho se houve, que os dois contendores se reconciliaram, acabando amigos e arrependidos de terem dito um ao outro coisas desagradáveis em letra de forma.

E o público admirou essa polêmica, em que dois homens discutiam com estilos tão semelhantes que o próprio estilo pareceu harmonizá-los.

O Caldas cumpriu a sua promessa: o Romualdo pouco depois entrou para o comércio, onde ainda hoje se acha, completamente esquecido do tempo que perdeu no jornalismo

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA - Henrique Schnaider

 



LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA

Henrique Schnaider

 

A pequena cidade de São Jose da Barra era um lugarejo de coração bom, onde havia paz e tranquilidade. Uma igreja matriz, e lá todos se conheciam, havia algumas lojas em volta da praça, todos estudavam na única escola inclusive eu, com o nome pomposo de Prudente de Morais, passei pela professora Alma, figura marcante, que ficou para sempre na memória de nossas vidas.

Passei lá minha gostosa e doce infância, meu pai, homem rústico, trabalhador do campo, saía com o despontar do sol brilhante, de um amarelo dourado, voltava suado, cheirando a trabalho duro, no pôr do sol de cores pálidas, que terminava a lida diária de dar vida ao nosso planeta.

Minha mãe, todos a chamavam de Ritinha, um doce de criatura. Fomos criados eu e minha irmã Sonia, por ela, que nos transbordou de tanto amor e carinho, dedicava toda atenção, para que tivéssemos do bom e do melhor, quando papai voltava da luta diária, lá ia ela se desmanchar toda para ele, preparar seu banho de água morninha cheirando a rosas.

Moravam conosco, meus avós, adorávamos ouvir as longas histórias que ele contava, sempre com final feliz, sentado na cadeira de balanço. Suas histórias prendiam nossa atenção, e nos enchiam de medo, durante a narrativa, com seu longo cachimbo preto, do qual saiam longas baforadas de cheiro forte do fumo trançado.

A vovó cheirava a vovó, que delícia de pessoa, com seu vestidinho de chitão vermelho rubro, como quem fosse uma pessoa antiga. Durante as histórias do vovô, ela trazia guloseimas dos deuses, aquele bolo de fubá cremoso quentinho, um aroma que dominava o ambiente.

À noite, todos com banho tomado, eu e minha irmã, corríamos para cozinha grande, com fogão cheio de lenhas, que pululavam e crepitavam barulhentas labaredas, crept, crept, crept, para ver e sentir a mistura de sabores e aromas que enchiam o ambiente de delícias. A negra Paulina ajudando mamãe e dando o toque final nas iguarias.

Todos, na sala grande onde havia estofados em capitonê, tapetes felpudos de tom vermelho maçã, uma cristaleira com muitos cristais e louça portuguesa, talheres de prata, tudo herança de pai para filho há muitas gerações. Meus pais e avós eram católicos fervorosos, iam todos os domingos na missa, rezavam antes da refeição e ao término também. Papai depois do jantar, deixava eu e Sonia, bebericarmos o licor de jabuticabas, feito em casa, aroma inconfundível, e sabor inigualável. Nesse momento a conversa rolava solta, o ar tomado pela fumaça dos cachimbos dos homens da casa, enquanto nós dois corríamos em volta da mesa numa brincadeira de crianças felizes.

Depois de uma boa conversa, íamos para nossos quartos, onde havia duas camas, com colchões recheados com paina e travesseiros com pena de ganso, mamãe vestia nossos pijamas coloridos e com desenhos infantis, contava histórias de duendes, fadas brilhantes e reluzentes, até a gente pegar no sono, depois saia pé ante pé para não nos acordar.

De manhã lá vinha a Ritinha nos acordar, com a delicadeza de um veludo, nos ajudava a trocar de roupa, íamos para cozinha degustar um café da manhã com tudo que gostávamos, depois como íamos para escola só depois do almoço, dava tempo para que eu e Sonia fôssemos brincar no jardim encantado de nossa casa, com flores dos mais variados perfumes, horta, árvores frutíferas, podíamos brincar de pega-pega e esconde-esconde.

Tempo bom que não volta mais, nos mudamos para a capital, mas meus pais, nos deixaram esta herança preciosa, esta casa maravilhosa que nos deu um passado que está preso aos nossos corações, sempre que podemos, voltamos à nossa casa querida, onde ficamos por horas lembrando do passado.  

 

SIMPLICIDADE - Hirtis Lazarin

 

        




SIMPLICIDADE

Hirtis Lazarin                                                                                                                  

 

Cheguei finalmente ao vilarejo incrustado bem no alto da montanha.  O caminho pedregoso e escorregadio, cheio de curvas estreitas e serpenteantes, fez o táxi demorar mais do que o previsto.

A chuva havia cessado e a lua crescente, num sorriso cheio, apareceu entre nuvens velozes e banhou-nos, instantaneamente, com sua luz incerta.  Algumas estrelas atreveram-se a aparecer.   O céu ouvia e via tudo calado: os grilos a trinar saltando, às escondidas, entre a vegetação rasteira; as cigarras irritantes envolvidas numa cantoria monótona, a coruja a postos fingindo ser a guardiã dos animais.

A pousada onde passaria os dias era toda de madeira e com um só andar.  Rodeada de salgueiros e hortênsias parecia mais um ateliê de artista.

Adormeci cedo junto com os pássaros.  Os lençóis brancos, fios egípcios, acariciavam-me o sono cheio de pensamentos bons.

Assim que o clarão da manhã primaveril entrou no meu quarto por um vacilo das cortinas mal ajustadas, saltei da cama.  Tinha muito a desfrutar.

À primeira vista, o lugarejo cabia num só olhar.  Mais parecia um quadro pintado ou um cenário fotográfico.

Uma paisagem pitoresca e cheia de magia como se tivesse parado no tempo.  Conservava o charme bucólico do passado.  As casinhas seguiam padrão arquitetônico.  Todas pintadas de branco com sacadas suspensas e ornadas com floreiras ornamentais.  Passava-me a impressão de competição prazerosa entre os moradores.

A Igrejinha... Ah! A igrejinha, não cabiam mais que trinta pessoas. Na sua lateral leste, a sombra adocicada de uma castanheira em floração.  Atração aos pássaros e borboletas.  Foi construída em estilo local, tijolos pintados de vermelho e um telhado que descia bem baixo sobre as janelas como um chapéu a protegê-la do sol.

No final da rua principal, lá embaixo, o mar espreguiçava em seu momento de sesta para não espantar um bando de gaivotas que caminhava indiferente ciscando entre as pedras em busca do que comer.

Era início de temporada.  Poucos turistas, quase só moradores transitavam pelas ruas estreitas e calçadas com paralelepípedos.  Gente simples e hospitaleira, de fácil conversa.  As pessoas andavam devagar, o cachorro e o gato também, o dia passava devagar.  Não havia pressa.  Dava tempo para apreciar o café da manhã, conversar com hóspedes, brincar com as crianças.

Momentos propícios para se valorizar a simplicidade.  Encontrar alegria no simples que expõe a beleza crua e o gosto pela vida do jeito que ela é.  Ter tempo para ouvir nossa alma.

 Uma borboleta amarela?

 Ou uma flor seca que se desprendeu e não quis pousar?

A ESCOLA DA MINHA VIDA - Claudionor Dias da Costa

 



A ESCOLA DA MINHA VIDA

Claudionor Dias da Costa

 

                      Nos meus sessenta anos e carente de sentimentos de resgate de momentos passados, tomei a decisão e fui para a rodoviária a caminho de minhas memórias.

                      Após algumas horas de asfalto irregular, mudei para aquele ônibus sacolejante na poeirenta estrada para reviver minha juventude feliz.

                      A cidade onde nasci é pequena e pacata, bem diferente do tamanho da emoção que senti quando cheguei.  Um turbilhão  brotou rapidamente em minha cabeça e procurei me acalmar  , fixando o olhar na igreja do padre Jerônimo , tão generoso e melhor conselheiro das  famílias de lá, que fez história com suas andanças e amizades .Aquela torre amarelada que na época me parecia tão alta,  de repente tornou-se  tão pequena como o meu olhar perdido  naquele transe ao lembrar o lugar que deixei um dia.

                    Entrei num dos bares que rodeiam a praça Florença e enquanto me dedico a saborear um sorvete de limão, pergunto ao rapaz atendente sobre as oportunidades de estudo na cidade. E ouço o que parece palavras já de a muito tempo:

                  - Tem apenas uma escola pública de dois andares, recentemente reformada antes da eleição, que fica colorida durante o ano letivo pelos uniformes azuis que sobem a escadaria

                    Naquele instante, não perdi mais tempo, pedi para guardar minha mala e caminhei em direção à escola. Passei pela rua lateral da praça, desci a ladeira passando atrás da igreja e olhei à frente. Surgiu imponente ainda conservando a fachada antiga.

                    A escadaria em frente à porta principal é a própria saudade do tempo vivido ali.

                    Os amigos com seus apelidos malucos pareciam ainda circular ruidosamente por aquele prédio e não mais que de repente lembrei dos olhos azuis da Maria das Graças que causava inveja até para seu uniforme daquela cor. 

                    Entrei nos corredores largos por onde corria tantas vezes, recebendo broncas da Dona Albina, a severa inspetora de alunos. Acho que esta profissão de bedel nem existe mais. Ou existe? Bem, segui em frente olhando aquele piso de cerâmica quadriculada, confuso como boa parte de minha vida. Parei em frente da sala em que fiz o quarto ano. As carteiras são mais modernas, coloridas e anatômicas, bem diferente daquelas de nosso tempo de madeira envernizada com vãos nos assentos e duras. As janelas altas são as mesmas e fiquei olhando para fora contemplando as arvores e o gramado lateral, como se os anos não tivessem passado.

                   Aquelas paisagens não muito diferentes de tantos lugares, mas, que nos namoricos pelos cantos com a Maria das Graças traziam visões esfumaçadas como se o paraíso fosse ali.

                   Com a formação no colegial parti para a cidade grande e com sacrifícios consegui trabalhar com Contabilidade e prossegui pela vida, conseguindo depois meu próprio escritório.          

                   Após dois anos, casei-me com a Maria das Graças e aquela menina dos olhos azuis radiante com alma generosa caminhou pela vida ao meu lado. Tudo isto parecendo um pequeno instante mesmo após trinta anos. E um dia de Outono aquele Amor se foi...Era um anjo que voltava para algum lugar naquele imenso céu.

                 Nossos dois filhos que nos deram muitas alegrias partiram como águias em suas asas de aventura para tentar a vida no exterior. Eu me aposentei.

                  E agora, estou aqui refletindo na escola que parece parou no tempo e eu junto com ela. Conclui que é o cenário de fundo da minha vida.

                  De repente parece que acordei. Caminhei apressado pensando em pegar minha mala no bar e chegar à casa de meu primo que me acolheria.

Na rua, não resisti e olhei para aquele prédio onde ainda parecia morar a felicidade como se quisesse fixar na memória e voltar a viver aquelas grandes emoções novamente. E falei sozinho com a garganta engasgada:

              - É... foi a escola da minha vida.

Como empregar os numerais no texto - NUMERAIS

  

Numeral – O que é

Os numerais são palavras que se referem ao número de seres ou ao seu número de ordem.

Classifica-se o numeral em:

a) cardinal
b)
 ordinal
c) 
multiplicativo
d)
 fracionário

Quanto à flexão o numeral pode ser:

O NUMERAL CARDINAL

É aquele que indica a sucessão natural dos números. São eles: um, dois , três., quatro, cinco, seis, sete, etc.


O NUMERAL ORDINAL

É aquele que indica ordem numa série. São eles: primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo…

O NUMERAL MULTIPLICATIVO

É aquele que indica multiplicação da quantidade numérica. São eles: duplo ou dobro, triplo ou tríplice, quádruplo, quíntuplo, sêxtuplo, séptuplo, óctuplo

NUMERAL FRACIONÁRIO

É aquele que indica, exprime e dá ideia de divisão de quantidade fracionária. São eles: meio ou metade, terço, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo…


Como distinguir: ARTIGO UM e NUMERAL UM?

UM – UMA só são numerais quando designamos a unidade

Exemplo:

Com uma só mão, Pedro levantou a saca de café.

Reparem que neste caso ele se opõe a dois, três, quatro, etc.

As formas de plural: uns, umas pertencem exclusivamente ao artigo indefinido.

Podemos portanto dizer que: sempre em dada frase, pudermos passar para o plural as palavras um – uma e exigir o emprego de uns ou umas, trata-se de artigo indefinido e não de numeral. E se o plural de um , uma for dois, duas, ou melhor, se opõe a dois, três, quatro, é um numeral

Algumas observações

Em se tratando na nomenclatura de papas, reis, e na designação de séculos, capítulos de livro e artigos e parágrafos de lei, os numerais ORDINAIS são sempre empregados até DEZ e os numerais CARDINAIS de ONZE em diante

Exemplo:

D. Pedro primeiro.
Luís quinze.
D.. Henrique Oitavo
Papa Pio Nono
Papa Pio Doze
Papa João Oitavo
Papa João Vinte Três
Quarto século
Século XX (= Século vinte)
Artigo nono.
Parágrafo quinto.
Artigo treze
Parágrafo quinze.


 Nota – Geralmente, até dez, vem o cardinal antes do substantivo e por extenso na indicação do século. Porém, de onze em diante, o CARDINAL é usado em numeração ROMANA e depois do substantivo.

O numeral MEIO flexiona en gênero e número com o substantivo a que ele se refere, passa a ser numeral adjetivo.

Exemplo:

Comprei quatro quilos e meio de galinha.
Falei três horas e meia.
Andei três horas e meia
Há numerais que indicam coleção.
Casal, dezena, centena, cento, par, milhar, dúzia, grosa, ambos, quarteirão (= grupo de 25), semana, quinzena, quarentena.

Estes numerais flexionam-se em número como:

Casais
Dezenas
Centenas

Numeral – Palavra

Numeral é a palavra que quantifica exatamente os seres ou indica a sua posição relativa numa série: dois, dez, cem, décimo, quíntuplo, dobro, dois terços, um quarto, um vinte avos, ambos etc.

Cardinais: esclarecem a quantidade

Os numerais cardinais um, dois e as centenas a partir de duzentos sofrem flexão de gênero.

um balão dois balõesuma bola duas bolasduzentos homens duzentas mulherestrezentos carros trezentas motos

Milhão, bilhão e trilhão têm flexão de número.

um milhãodois milhõestrês bilhõescem trilhões

Ambos (que substitui o cardinal os dois) sofre flexão de gênero.

Trazia ambos os chapéus sujos. Usava ambas as mãos para cumprimentar.

Ordinais: indicam a ordem em determinada série.

Todos os numerais ordinais sofrem flexão de gênero e de número.

primeira mãosegunda mãovigésimo diavigésimos colocados

Multiplicativos: indicam a multiplicação

Os multiplicativos são invariáveis se usados como substantivos. Sofrem flexão quando usados como adjetivos.

Tenho o dobro disso (dobro = substantivo)  Pedira dois uísques duplos. (duplos = adjetivo)

Fracionários: indicam o fracionamento, uma divisão

Os fracionários flexionam-se conforme a flexão do numeral cardinal que faz parte da fração.

um quartodois quartostrês quartos
meio deve concordar em gênero com o designativo da quantidade de que é fração. Duas quadras e meia [quadra]. Meio-dia e meia [hora].


CardinaisOrdinaisMultiplicativosFracionários
UmPrimeiro(simples)
DezDécimoDécuplodécimo
Catorzedécimo quartocatorze avos
Setecentosseptingentésimoseptigentésimo


Coletivos

Os coletivos indicam um conjunto de elementos com número exato.

Bíduo (período de dois dias)decálogo (conjunto de dez leis)trinca (agrupamento de três coisas)

Leitura e escrita dos numerais

Para os cardinais devemos intercalar a conjunção e entre as unidades, as dezenas e as centenas: 46 = quarenta seis 763 = setecentos e sessenta e três

Entre o milhar e a centena, não se emprega a conjunção e: 1996 = mil novecentos e noventa e seis

Emprega-se a conjunção e entre os elementos de uma mesma ordem, omitindo-a quando ordens diferentes: 862 743 = oitocentos e sessenta e dois mil, setecentos e quarenta e três.

Numeral – Frase

Entre as palavras que se relacionam, na frase, ao substantivo há também o numeral.

Exemplo

Comprou duas caixinhas de música.

Numeral é a palavra que se refere ao substantivo dando a ideia de número.

O numeral pode indicar:

Quantidade

Choveu durante quatro semanas.

Ordem

terceiro aluno da fileira era o mais alto.

Multiplicação

O operário pediu o dobro do salário.

Fração

Comeu meia maça.

Classificação do Numeral

Cardinal: Indica uma quantidade determinada de seres.

Ordinal: Indica a ordem (posição) que o ser ocupa numa série.

Multiplicativo: Expressa a ideia de multiplicação, indicando quantas vezes a quantidade foi aumentada.

Fracionário: Expressa a ideia de divisão, indicando em quantas partes a quantidade foi dividida.

 

Quadro dos principais numerais

Numerais Cardinais

Numerais Ordinais

Numerais Multiplicativos

Numerais Fracionários

um

primeiro

dois

segundo

dobro

meio

três

terceiro

triplo

terço

quatro

quarto

quádruplo

quarto

cinco

quinto

quíntuplo

quinto

seis

sexto

sêxtuplo

sexto

sete

sétimo

sétuplo

sétimo

oito

oitavo

óctuplo

oitavo

nove

nono

nônuplo

nono

dez

décimo

décuplo

décimo

onze

undécimo

undécuplo

onze avos

doze

duodécimo

duodécuplo

doze avos

treze

décimo terceiro

treze avos

quatorze ou catorze

décimo quarto

quatorze avos

quinze

décimo quinto

quinze avos

dezesseis

décimo sexto

dezesseis avos

dezessete

décimo sétimo

dezessete avos

dezoito

décimo oitavo

dezoito avos

dezenove

décimo nono

dezenove avos

vinte

vigésimo

vinte avos

trinta

trigésimo

trinta avos

quarenta

quadragésimo

quarenta avos

cinqüenta

qüinquagésimo

cinqüenta avos

sessenta

sexagésimo

sessenta avos

setenta

septuagésimo

setenta avos

oitenta

octogésimo

oitenta avos

noventa

nonagésimo

noventa avos

cem

centésimo

cêntuplo

centésimo

duzentos

ducentésimo

ducentésimo

trezentos

tricentésimo

trecentésimo

quatrocentos

quadringentésimo

quadringentésimo

quinhentos

qüingentésimo

qüingentésimo

seiscentos

seiscentésimo

sexcentésimo

setecentos

septingentésimo

septingentésimo

oitocentos

octingentésimo

octingentésimo

novecentos

noningentésimo

nongentésimo

mil

milésimo

milésimo

milhão

milionésimo

milionésimo

bilhão ou bilião

bilionésimo

bilionésimo



Flexão do Numeral

Variam em gênero: os cardinais um, dois e os de duzentos a novecentos; todos os ordinais; os multiplicativos e os fracionários quando expressam uma idéia adjetiva em relação ao substantivo.

Exemplos:

um-uma.
dois-duas.
segundo-segunda.
septuagésimo-septuagésima.
João deu um salto duplo e um triplo e tomou uma dose quádrupla de vitaminas.
Comi meio abacate e meia banana.

Número do Numeral

Variam em número: os cardinais terminados em ão(bilhões de dólares foram perdidos com a crise), todos os ordinais(as primeiras pessoas passaram no teste), os multiplicativos com função de adjetivo(Tomei dois copos duplos de leite), os fracionários, dependendo do cardinal que os antecede(Gastou dois terços do salário).

Numeral – Classe

Classe que expressa quantidade exata, ordem de sucessão, organização.

Os numerais podem ser:

Cardinais

Indicam uma quantidade exata

Exemplo: quatro, mil, quinhentos

Ordinais

Indicam uma posição exata

Exemplo: segundo, décimo

Multiplicativos

Indicam um aumento exatamente proporcional.

Exemplo: dobro, quíntuplo

Fracionários

Indicam uma diminuição exatamente proporcional

Exemplo: um quarto, um décimo

DICAS

Numeral (cinco, segundo, um quarto) é diferente de número (5, 2º ,1/4). Evite usar números em seu texto. Eles deverão ser usados para dados, estatísticas, datas, telefones…

Leitura dos numerais

Numeral antes do substantivo

A leitura será ordinal: X volume- décimo volume; XX página- vigésima página

Numeral depois do substantivo

A leitura será ordinal de 1 a 10:

volume X– volume décimo
página XX
– página vigésima

A leitura será cardinal de 11 em diante:

pauta XII
pauta doze
século XX
século vinte

Numeral – Quantidade

Palavra que indica quantidade, número de ordem, múltiplo ou fração.

Classifica-se como:

Cardinal (1, 2, 3, …)

Ordinal (primeiro, segundo, terceiro, …)

Multiplicativo (dobro, duplo, triplo, …)

Fracionário (meio, metade, terço).

Além desses, ainda há os numerais coletivos (dúzia, par etc.)

Valor do Numeral

Podem apresentar valor adjetivo ou substantivo. Se estiverem acompanhando e modificando um substantivo, terão valor adjetivo. Já se estiverem substituindo um substantivo e designando seres, terão valor substantivo.

Ex.: Ele foi o primeiro jogador a chegar. (valor adjetivo) / Ele será o primeiro desta vez. (valor substantivo)

Emprego

Ordinais como último, penúltimo, antepenúltimo, respectivos… não possuem cardinais correspondentes

Os fracionários têm como forma própria meio, metade e terço, todas as outras representações de divisão correspondem aos ordinais ou aos cardinais seguidos da palavra avos (quarto, décimo, milésimo, quinze avos etc.)

Designando séculos, reis, papas e capítulos, utiliza-se na leitura ordinal até décimo; a partir daí usam-se os cardinais. (Luís XIV – quatorze, Papa Paulo II – segundo)

Observação

Se o numeral vier antes do substantivo, será obrigatório o ordinal (XX Bienal – vigésima, IV Semana de Cultura – quarta)

Zero e ambos /as (chamado dual) também são numerais cardinais. 14 apresenta duas formas por extenso catorze e quatorze.

A forma milhar é masculina, portanto não existe “algumas milhares de pessoas” e sim alguns milhares de pessoas

Alguns numerais coletivos

grosa (doze dúzias)

lustro (período de cinco anos)

sesquicentenário (150 anos)

Um – numeral ou artigo?

Nestes casos, a distinção é feita pelo contexto. Numeral indicando quantidade e artigo quando se opõe ao substantivo indicando-o de forma indefinida

Flexão

Varia em:

gênero
número

Variam em gênero

Cardinais: um, dois e os duzentos a novecentos; todos os ordinais; os multiplicativos e fracionários, quando expressam uma idéia adjetiva em relação ao substantivo

Variam em número

Cardinais terminados em -ão; todos os ordinais; os multiplicativos, quando têm função adjetiva; os fracionários, dependendo do cardinal que os antecede

Os cardinais, quando substantivos, vão para o plural se terminarem por som vocálico (Tirei dois dez e três quatros).

Fonte: www.graudez.com.br/br.geocities.com/www.weblinguas.com.br

Origem desta publicação: PORTAL SÃO FRANCISCO




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