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sexta-feira, 22 de maio de 2015

AS INTRIGAS DO PADRE ALBERTO - Dinah Ribeiro de Amorim


AS INTRIGAS DO PADRE ALBERTO
Dinah Ribeiro de Amorim

Padre Alberto foi encaminhado ao seminário por promessa da mãe. Acostumou-se com aquela vida equilibrada, farta, sem resistir, embora não possuísse fé.

  Como sempre frequentasse boas paróquias, pessoas educadas e simpáticas, não reclamava, adaptando-se facilmente.

  Houve mudança repentina na direção na Igreja e, seus superiores, resolveram mandá-lo para um lugarejo muito pobre, com muitos problemas,  grande  teste à sua fé!

  O padre não gostou nada da mudança. Igreja pequena e feia, necessitando de reparos, pessoas carentes que o solicitavam muito, não o deixando sossegar e levar a vida tranquila de outrora.

  No início sua paróquia encheu-se, todos querendo conhecê-lo para pedir orações. Aos poucos, diante de sua falta de simpatia, sumiram e voltaram a procurar uma antiga socorrista do lugar, Ofélia, célebre por seus unguentos, comidas, aconselhamentos e curas.

  Isso despertou inveja no padre e curiosidade em saber o que fazia, chamando-a de bruxa e excomungando quem a procurasse. O povo, acostumado à orientação da velha, não o obedeceu.

  Padre Alberto começou a espionar a casa da mulher, observar o que fazia, quem entrava e saia.

 Ficou tão obcecado nessa ideia que, rodeando seu casebre, avistava-a na cozinha, à noite, com um livro de receitas nas mãos, iluminada apenas por um pequeno lampião, óculos na ponta do nariz, mexendo suavemente pequeno caldeirão de sopa,  exalando  um perfume forte e gostoso, através da janela aberta. “Deve ser uma bruxa velha mesmo”, dizia o padre para si mesmo, enquanto segurava sua batina que balançava ao ritmo do vento forte da escuridão. Quando ameaçou ir embora, temendo um belo resfriado, apareceu alguém à  porta de Ofélia, pedindo a sopa para um doente necessitado de cuidados.

  Através da porta, entreaberta, verificou que possuía um crucifixo pendurado em pequeno canto, um genuflexório, local onde fazia suas orações, uma  caixinha com papéis escritos e, ao lado, sob uma mesa coberta com uma toalha rendada, envelhecida Bíblia, amarelada de uso.

  Eram apenas esses os instrumentos que a pobre Ofélia usava. Suas armas principais eram amor ao próximo, e grande fé em Deus.

  O padre, decepcionado com o que viu e desconfiando de sua fé, resolveu levantar suspeitas sobre seu trabalho e ignorar suas boas intenções de ajuda e cura. Não era certo o que fazia sozinha, sem cumprir ordens, a serviço de quem? Só poderia ser de algo maligno.

  Começou a dirigir seus sermões aos poucos frequentadores, em ataques ao trabalho de Ofélia, explicando-lhes que não era de Deus, talvez orientada por algum espírito mal, querendo enganá-los e fazê-los perder o céu.

  Tanto falou, tanto fez, que o povo humilde e medroso, afastou-se da idosa, embora sentisse falta dos seus segredinhos de saúde e orações.

  Ofélia sentiu-se magoada a princípio. Fizera muito por eles. Trouxera crianças ao mundo, ajudara a curar muitas dores e febres, levantara pessoas quase moribundas com seus chás e comidas, enquanto era a única, na região. Com a chegada do padre Alberto, achava que teria um aliado e não um inimigo seu a serviço de todos.
  O tempo foi passando, ela cuidando dos bichos e da plantação, recorrendo ao trabalho na  roça como esquecimento da tristeza sofrida. Mal nascia o sol e já estava em pé, preparando  café com ovos, pão quentinho e cheiroso, mingau de aveia e mel, colhido ali mesmo, na sua colmeia.
  Padre Alberto, satisfeito e orgulhoso, com certa popularidade, dedica-se às suas tarefas com mais afinco, tentando fazê-los esquecer Ofélia.

  Certa manhã, quando levanta-se para abrir a Igreja e rezar a primeira missa, sente uma leve tontura e cai ao chão, quase não conseguindo se mexer. Assustado, mal consegue chamar um moleque que o ajuda, às vezes, Carlinhos, pedindo para levá-lo até a cama.

  O menino, muito assustado, corre a ampará-lo e pergunta se quer que chame alguém. O padre pensa um pouco e diz: “Chamar quem? O médico mais próximo fica há quatro horas daqui.” O tempo passa e o padre sente dores. Com medo, pede a Carlinhos que chame Ofélia. Resolve deixar seu orgulho de lado.

  _Chamar quem, padre? Ofélia? O senhor vive falando mal dela.

_Ande Carlinhos, quem sabe consegue fazer algo por  mim também.

  O menino, correndo, chega à casa de Ofélia, surpreendo-a com o pedido. Colocando a necessidade do padre em primeiro lugar e sabendo que uma epidemia de cólera estava ameaçando a região, vai atendê-lo, lembrando antes de levar seu livro de consultas.

  Pelo estado do pároco, percebe que ele contraiu a doença. Sua febre, dores no corpo, demonstram que tomou água contaminada ou comeu alimentos crus lavados nessa água. Sua experiência e intuição fazem-na perceber. Manda Carlinhos ferver bastante água e servir ao padre.

 Amassa 2 dentes de alho, deixa de molho durante algumas horas e manda que tome 3 xícaras por dia, junto às refeições. O mesmo fez com cebola e suco de limão, que deveriam ser tomados em jejum. Aconselhou comer goiaba, laranja, maçã e pitanga. Chás de pó de mico e tejuco, até aguardarem o médico que viria vê-lo. Carlinhos, assustado, obedece.

  Seguindo as orientações de Ofélia, o padre foi melhorando. Quando o médico chega, encontra-o bem. Pessoas estavam morrendo por causa dessa infecção.


  Padre Alberto, quase curado, volta à casinha de Ofélia, arrependido e agradecido, convidando-a para ser sua auxiliar no tratamento daquele povo. Transformou a imagem má que fizera dela em sua salvadora, dando-lhe, novamente,  justo valor.

O INVERNO NA FAZENDA! - Dinah Ribeiro de Amorim


O INVERNO NA FAZENDA!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Todo mês de julho, passávamos férias na fazenda dos meus avós. Julinho, meu irmão mais novo, Sofia, maiorzinha, já trocando os dentes da frente e, eu, o mais velho, encarregado de ajudar vovó Bela no cuidado com as crianças. Apesar da tristeza do inverno, divertimo-nos muito, pois Orestes, o capataz, fechava portas e janelas quando ventava forte, protegendo-nos da chuvarada e trovões que esbravejavam lá fora, afastando o medo do temporal com histórias de sua vida pelo sertão, enquanto aguardávamos o bolo de fubá com canela e o chazinho de capim cidreira, feito por vovó.

  Hoje, já crescidos, lembramos com saudade desse tempo. Julinho, semi-adormecido ao pé da lareira, não prestava muita atenção no que se dizia. Sofia, arteira e esperta, curiosa demais, perguntava sobre tudo. Se existia mesmo Mulas sem cabeça, Negrinho do pastoreio, Saci- Pererê e outras curiosidades que os meninos do mato contavam. Até sobre a Cobra grande, que aparecia no lago, queria saber.

  Orestes, caboclo falador e contador de  casos, adorava uma platéia e, não perdia  oportunidade. Punha-se a falar coisas estranhas e, quando não sabia, inventava. Era repreendido por vovó que dizia: ”Não amedronte as crianças com essas bobagens!  Depois nem dormem à  noite!”

  Eu ficava meio desconfiado, não acreditava muito, mas Sofia, aguçava os ouvidos e arregalava os olhos.

  Dava um trabalho danado, pois só dormia quando se enrolava na minha cama, implorando um cantinho, morrendo de medo.

  De dia, muito corajosa, querendo saber tudo. À noite, gritando por qualquer barulho. Fazenda é muito boa ao sol claro,  mas à noite, para quem não está acostumado, bem estranha. Estala tudo: madeira da porta, armário, janela, ventos  uivam, aves, e por aí vai. Isso quando vovô não surgia de repente, em pijamas, tentando matar algum pernilongo.

Sofia quis conhecer uma história diferente, das terras de Orestes. Ele, entusiasmado, explicou que havia coisas muito interessantes de onde viera, perto do Velho Chico, o rio São Francisco. Desta vez, sim prestei também mais atenção.

“As embarcações têm o calado, seu fundo, muito pequeno. O barqueiro empurra o barco com uma vara comprida, atingindo o leito do rio. É um trabalho duro, mas ele canta enquanto trabalha. Na parte da frente, recurvada, a carranca protetora.”

_”Carranca protetora! O que é isso?” Pergunta Sofia. “Nunca ouvi falar nesse nome!”

    “As carrancas dos barcos são esculturas em madeira, com desenhos de monstros, bichos desconhecidos, fantásticos, poderosos, para assustar o Bicho d´água, virador das embarcações.” Respondeu Orestes. “Eles acreditam que ela dá um aviso, três gemidos, quando vão afundar. Quem ouve, escapa do naufrágio.”

  _E você, Orestes, já ouviu? Perguntei aflito. Estava achando tudo bem curioso.

 _ “Eu, não, mas tive amigos canoeiros e pescadores que ouviram e escaparam sãos e salvos. Um milagre!” respondeu.


  Fomos interrompidos por vovó que mandou todo mundo pra cama, receando que Sofia desse, outra vez, trabalho à noite. Acho que sonhar com barcos afundando e Bichos d´água, eu também vou.

O LAGO DE TUALATIN - Alberto Landi

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