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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

ADELAIDE DITTMERS - PROJETO MEU ROMANCE - O INVESTIGADOR

 




PROJETO MEU ROMANCE


O INVESTIGADOR 

Adelaide Dittmers

Barbosa tinha um copo na mão e sorvia a bebida lentamente, o olhar perdido pelo bar cheio e barulhento. O caso que lhe apresentaram parecia difícil e exigiria muito trabalho na investigação. Como sempre, Sandra, sua mulher, iria reclamar de seu distanciamento.  Não aguentava mais ser cobrado e, ao mesmo tempo, ter que enfrentar os perigos a que era frequentemente exposto ao ter que decifrar um crime e chegar ao culpado.

O caso do homem, que foi encontrado morto no interior da garagem do prédio, onde morava, estava nas manchetes dos jornais da cidade.

Por que aquele homem milionário, muito ligado a trabalhos sociais, fora assassinado? Esta pergunta ressoava pela cidade.  Era conhecido e admirado por todos.

Barbosa sacudiu a cabeça, expulsando os pensamentos, pediu a conta e saiu do bar.  Precisava de ar fresco, antes de ira à casa da vítima.

Andou por uma hora pelas ruas arborizadas do bairro de classe alta.  Acendeu um cigarro e, a cada tragada, levantava os olhos, concentrado no que iria encontrar e observar.

Chegou diante de um prédio de alto padrão.  Apertou o botão do portão.  Deu uma última tragada e jogou o que restava do cigarro no chão, apertando-o com o sapato.

A voz do porteiro soou forte:

— Pois não!

— Por favor, avise o apartamento 112 que o inspetor Barbosa da polícia está aqui.  Já estão me aguardando.

Depois de uns minutos o portão se abriu.

Barbosa entrou, observando o jardim cuidado, onde flores coloriam a grama verde e aparada.  Chegou a um hall decorado com esmero.  Apertou o botão do elevador, que o levou ao décimo primeiro andar. O piso de mármore contrastava com o colorido de um pequeno tapete persa. Na parede, um quadro Benedito Calixto.  Tocou a campainha.  Uma empregada abriu a porta e pediu que sentasse que a patroa logo viria atendê-lo.

Sentou-se meio desconfortável e, tamborilando as mãos nas pernas, olhou em volta. A grande sala era decorada com o mais fino gosto.  Uma grande varanda, em que o verde das plantas completava móveis claros e confortáveis distribuídos com simétrica harmonia.

Alguns minutos depois, a dona da casa apareceu.  Barbosa levantou-se para cumprimentá-la, mas ao encará-la, seus olhos se arregalaram.  À sua frente estava Helena, ex-namorada de muitos anos atrás, colega da faculdade de direito.  Seu grande amor da juventude. 

Ela olhou para ele e o espanto se espalhou pelo seu bonito rosto. Parou rígida.

— Não é possível! É você, Luis Carlos! E estendeu a mão para cumprimentá-lo.

Também estou pasmo! 

Ela estava abatida, as mãos trêmulas apertaram as dele.

— Sente-se! Então você é inspetor de polícia!

— Sim.  De advogado criminalista, tornei-me detetive.  Caçar culpados sempre me atraiu.

— Me disseram que você é ótimo para a solução de investigações complicadas.

— Procuro fazer o melhor que posso. Mas me diga como aconteceu isso.  Seu marido foi encontrado no carro por vizinhos, que ao verem sua cabeça sobre o volante, pensaram em um mal súbito, mas ao se aproximarem, constataram que levou um tiro…

Helena desabou em um choro convulsivo.  As mãos sobre o rosto.

— Foi horrível! Vieram me chamar. Quase perdi os sentidos. 

— Ele tinha algum desafeto?

— Que eu saiba, não! Tinha muitos amigos e era cercado por pessoas competentes e amistosas tanto na empresa como em uma fundação, que criara para beneficiar crianças carentes. Porém, ultimamente, parecia mais nervoso e algumas vezes o surpreendi tomando seu uísque com um ar preocupado e distante.  Quando lhe perguntava o que tinha. Respondia com indiferença na voz:

— Negócios, negócios… Não se preocupe, há solução para tudo.

Barbosa a fitou com piedade.  Não costumava se envolver com parentes da vítima, mas Helena fizera parte de sua vida. Fora uma intensa paixão, queriam se casar após terminarem a faculdade. Ela pertencia a uma família abastada, ele não.  Os pais se esforçaram muito para que chegasse a um curso universitário.  Quando o pai dela, muito rígido e arrogante, descobriu a sua origem humilde e a intenção de se casarem, mandou Helena completar os estudos fora do país e com o tempo a correspondência foi rareando e os laços que os uniam foram sendo desfeitos para decepção de Barbosa.

Abruptamente, voltou de suas divagações. E prometeu-lhe que faria tudo para descobrir o assassino do marido, ao que ela agradeceu com um sorriso triste.

Seus olhos notaram que ele continuava um bonito homem, mais forte, mais maduro. Só o olhar estava diferente, mais firme, mais duro, havia perdido a doçura dos velhos tempos.

Barbosa se levantou e apertou as mãos de Helena. O rosto sério.  Ela o acompanhou até a porta.

Ao chegar à rua, voltou caminhando até o bar. O encontro inesperado revolucionou sua alma.  Tinha que se concentrar na investigação e procurar pistas para chegar ao assassino.  Era seu trabalho.

Chegou à casa. A cabeça corria em círculos: o crime, Helena, o local em que tinha sido praticado. Algo lhe dizia que o nervosismo de Rodolfo, marido de Helena, tinha a ver com a causa do assassinato.

Sandra estava à sua frente com um ar de poucos amigos.

— Barbosa, você chega e nem me enxerga.  Boa noite, querido!  Diz irônica.

— Desculpa! Estava imerso em meus pensamentos.

— Outro caso, garanto.

— Sim! É como ganho nosso sustento.

A voz firme demonstrava o desagrado pela incompreensão da mulher.

Na manhã seguinte, ele saiu cedo de casa.  Negócios, negócios, essa resposta não saia de sua cabeça.  Que negócios?

Foi até a empresa de Rodolfo e disse à recepcionista, mostrando a carteirinha de inspetor de polícia, que queria conversar com a secretária do presidente assassinado.

Uma mulher séria e com expressão de tristeza o esperava em uma ampla sala.  Ele pediu-lhe informações sobre os contatos do chefe e quem, além da diretoria e funcionários, frequentava aquele escritório.

Ela franziu a testa e apertou os lábios e o informou que Rodolfo recebia também o dirigente da fundação, que criara para dar oportunidade às crianças de uma comunidade de desenvolver aptidões musicais ou esportivas.

O inspetor perguntou-lhe se ela o sentiu mais tenso nos últimos tempos, ao que ela respondeu que às vezes o surpreendeu com o rosto muito carregado, o olhar frio, parecendo divagar e quando notava sua presença, voltava a si, sacudindo a cabeça, como querendo expulsar os pensamentos.

Barbosa pediu-lhe o endereço da Fundação e dirigiu-se para lá.  Entrou acompanhado de seu amigo inseparável, o cigarro, que, segundo ele, o ajudava a pensar.

Uma mulher de uns cinquenta anos, alta, magra, com os cabelos revoltos, o recebeu com um olhar feroz.

 — Aqui não se fuma.  Só lá fora.  Leia a placa! E indicou com o braço a porta para a rua.

— Me desculpe! E apagou o cigarro.

— O que o senhor deseja?

— Sou o investigador do caso do Sr Rodolfo.  Preciso fazer umas perguntas para o dirigente daqui.

A mulher levantou da cadeira, revirou os olhos e com a voz alterada despejou sua indignação. Que ninguém ali tinha a ver com a morte de Rodolfo.  Que todos eram pessoas de bom caráter e ligados a uma boa causa e que serem investigados era uma afronta.

Barbosa a encarou com calma e frieza.  Essa reação não era normal.  Algo deveria existir atrás disso.

Um homem apareceu atraído pela gritaria e ela apontando para o detetive lhe informou a que ele viera. O homem cumprimentou Barbosa e o dirigiu ao seu escritório.  No caminho pediu desculpas pela atitude da mulher, dizendo que ela tinha problemas mentais, mas era uma boa auxiliar. Disse estar chocado com o assassinato do benfeitor, que era querido por todos ali.

Barbosa, no entanto, não gostou daquele discurso pronto, que parecia ensaiado.  Algo, no jeito dele se expressar e no movimento da cabeça e das mãos, que se apertavam demonstrou uma certa impaciência e nervosismo, que a mansidão da voz procurava disfarçar.

Várias perguntas foram feitas pelo investigador sobre o funcionamento da Fundação e como eram financiados os trabalhos lá realizados. A maior parte do dinheiro vinha de Rodolfo e a outra parte de um grupo de doadores.

As respostas eram dadas com segurança, mas o homem desviou os olhos várias vezes do olhar penetrante de Barbosa.

Terminado o interrogatório, o investigador saiu.  Quando passou pela mulher destemperada, ela o encarou com desconfiança e raiva.  Quando ele desapareceu de sua visão, ela entrou na sala do chefe.

Lá fora, um segurança vigiava a entrada.  Barbosa dirigiu-se a ele.

— Olá! Você trabalha aqui há muito tempo? Ele assentiu com a cabeça.

— O Sr. Rodolfo vinha muito aqui?

— Uma vez por mês e se reunia com o Sr. Camargo. Era um homem bom.

— E o Sr. Camargo e aquela mulher louca?

— A Olívia? Não é louca não. É bem esperta! Finge que é maluca.

— O Sr. Camargo sabe disso?

— Claro.  Os dois estão sempre juntos.

— Você não gosta deles?

— Não.  Tem muita coisa errada aqui.  As pessoas falam, mas não podem fazer nada.

— Como assim?

O segurança lançou um olhar preocupado para o prédio. Barbosa perguntou-lhe a causa da preocupação e ele revelou que se eles o vissem conversando com o investigador, iriam interrogá-lo.

— Só uma última pergunta. O que as pessoas falam?

— Entra muito dinheiro aqui, mas os professores recebem os salários atrasados e equipamentos somem da noite para o dia. Algum tempo atrás, um professor ouviu uma discussão muito forte entre o Camargo e o Sr. Rodolfo.

Barbosa agradeceu ao homem.  Talvez ali estivesse o motivo do crime, mas como alguém conseguiria chegar à garagem daquele prédio sem ser visto.

Foi até lá.  Entrou e percorreu o jardim, observando a altura dos muros. Uma grande casa era vizinha de um dos lados. O muro era alto, mas poderia ser escalado por alguém ágil. Para a escalada, o invasor deveria ter as mãos nuas, se não, escorregaria.  Precisava verificar se tinha impressões digitais.

O celular tocou.  Era Helena, avisada pela portaria, de que ele estava no prédio.  Pediu que subisse. A voz trêmula demonstrava nervosismo.  Um arrepio percorreu seu corpo inteiro.  Como depois de tantos anos, aquela mulher ainda conseguia mexer com ele.

Ela abriu a porta. O rosto aflito o surpreendeu.  Desnorteada, segurou as mãos dele e, quase chorando, disse-lhe que soube que era a maior suspeita do crime.

— Calma! Vamos conversar.  Como o crime foi na garagem, é previsível que você seja alvo de suspeição.

— Eu amava e respeitava meu marido pela integridade de seu caráter.  Ele me ajudou no momento mais difícil de minha vida…

Aquela declaração incomodou Barbosa, que desviou a conversa, informando-a ter um suspeito em mira, mas ainda não podia revelar o que estava averiguando. Tranquilizou-a, afirmando que a verdade viria à tona.

O alívio descontraiu as feições de Helena, que derramou um olhar de gratidão em Barbosa. Nesse momento, um jovem entrou na sala.  Com um balançar de cabeça, cumprimentou o detetive. E comunicou à mãe, que iria para a faculdade fazer um trabalho e não demoraria.  Os olhos do rapaz espalharam tristeza pelo ambiente. A morte do pai o atingira duramente.  Uma perda violenta nessa idade fica gravada na alma da pessoa para sempre, pensou Barbosa.

— Seu filho é um bonito rapaz, Helena.

Um sorriso enigmático e tímido surgiu no rosto dela. Ele se levantou para ir embora. Ela segurou o braço dele e pediu que sentasse novamente. A surpresa fez com que largasse o corpo na poltrona, desajeitadamente:

— Preciso te fazer uma revelação. Não me sentiria bem se não o fizesse.

O inspetor a encarou confuso.  Ela suspirou fundo, como se estivesse procurando coragem e começou a falar com voz trêmula e emocionada.

— Naquele ano, em que meus pais me mandaram para Nova York, fiquei arrasada, como você soube pelas minhas cartas. Comecei minha pós-graduação e lá conheci Rodolfo.  Ficamos amigos.  Ele se apaixonou por mim, mas expliquei-lhe o que acontecera conosco.  Ele respeitou minha situação.

Tempos depois, comecei a me sentir estranha e descobri que estava grávida. O desespero encolheu meus sentidos.  Como daria essa notícia a meu pai.  Chorando, contei tudo a Rodolfo.

O corpo de Barbosa se enrijeceu:

— Mas vocês eram só amigos!

— Acorda, Inspetor! Ainda não entendeu?

— O que você quer dizer com isso? Os pensamentos rodopiando loucamente.

— O filho é meu… Não é possível! Por que não me contou? A raiva entrecortou suas palavras.

— Eu não sabia o que fazer.  Fiquei em estado de choque. O medo da reação de meu pai me paralisou. Sabia que ele seria capaz de me obrigar a abortar. Jamais mataria uma criança e ainda mais um filho seu.  Foi o tempo mais doloroso de minha vida.  Comecei a não responder suas cartas. Estava confusa e apavorada. O apoio de Rodolfo me salvou da depressão, que me estava abocanhando. Ele me pediu em casamento.  Casei para salvar nosso filho. Comunicamos nossa decisão aos meus pais.  Meu pai ficou possesso e chocado com o casamento inesperado, mas como sempre foi obcecado com posições sociais, aceitou Rodolfo ao saber que era herdeiro de uma grande fortuna.

O silêncio se abateu sobre o ambiente, quando ela terminou sua confissão. O cansaço vibrava no rosto de Helena.  Barbosa recostou-se na poltrona e levantou a cabeça, fixando os olhos no teto. Estava sem palavras. O destino estava o esbofeteando sem piedade. Tirou o maço de cigarros: 

— Preciso fumar!

— Me perdoe! Eu era muito jovem e me senti completamente perdida.

Ele não respondeu.  Acendeu o cigarro e o tragou como quisesse sugar aquela revelação. Levantou e andou de um lado para outro, tentando digerir o que lhe estava sendo revelado.

— Rodolfo aceitou o menino como se fosse seu filho.  Caio não sabe sobre sua origem.

Barbosa não respondeu. A revolta embrulhou seu estômago e deu um nó em suas cordas vocais.  Estava investigando um crime e descobriu um segredo do passado.  De repente foi em direção à porta.

— Estou indo! Disse cuspindo as palavras.

— Por favor, me perdoe.

— Não se preocupe, vou seguir com a investigação!

E saiu batendo a porta.  Foi para um bar. Bebeu de um trago, um copo de cerveja gelada, como se quisesse esfriar os sentimentos, que borbulhavam em seu corpo e sua alma. Vários copos foram esvaziados. Saiu do bar.  Entrou no carro e apertou o volante.  Aquilo parecia um pesadelo.  Não podia dirigir naquele estado.  Resolveu caminhar até um parque próximo.  Precisava colocar a cabeça no lugar. A segurança e a frieza de sempre pareciam andar em uma corda bamba. Depois de uma longa caminhada, sentou-se em um banco.  Patos deslizavam em um lago à sua frente, mas ele não os enxergava, a imagem do filho reverberava dentro dele. O passado e o presente se misturavam.  De repente, levantou-se, apesar de sua revolta, ele tinha que continuar a investigação para descobrir o assassino.  Era sua missão, que estava acima da turbulência, que acontecera no caminho.

Andou até o carro com passos firmes.  Quando chegou à casa, o dia já cumprimentava a noite, que chegava. Empurrou a porta com violência.  Sandra estava na cozinha fazendo o jantar.  Ele foi direto para o banheiro.  Queria tomar um banho, antes de enfrentá-la.

Ao entrar na cozinha, a mulher dirigiu-se a ele, espantada:

— Não vi você chegar! Nossa, que cara é essa?

Barbosa a fitou com piedade.  Sandra era ranzinza, mas era uma boa companheira.  Tinha uma grande frustração de ser estéril. Qual seria sua reação ao saber que tivera um filho com Helena?

— Precisamos conversar! O rosto contraído e o olhar sério a assustaram.

Ela segurou a colher, que estava em sua mão, no ar. A surpresa e o medo, estampados no rosto.

— O que aconteceu? Ela sentou-se com a colher ainda em sua mão.

Barbosa pausadamente contou tudo o que acontecera naquele dia. A mulher pousou a colher. Sempre soubera de Helena, mas o que aconteceria agora que ela reapareceu na vida dele e ainda com um filho, que ela não pudera lhe dar. O estupor cobriu sua face.  Sacudiu a cabeça como voltasse a si:

— Você vai reconhecê-lo como filho?

— Não.  Já chega o golpe de ter perdido aquele que pensa ser seu pai.

— E quanto a Helena? O medo amargando sua boca.

— Não sei. Ainda estou tentando assimilar tudo. Tenho que focar em descobrir o criminoso.

O silêncio se abateu sobre o jantar. Cada um encerrado em seus pensamentos.

No dia seguinte, Barbosa voltou ao prédio da vítima, acompanhado por um policial, que procurou digitais no muro e mediu as pegadas, que ainda permaneciam no solo. Os rastros revelaram que a pessoa calçava 37 ou 38. Não podia ser do dirigente da Fundação, que era um homem alto e grande. Verificaram também onde ficava a escada, que levava à garagem.

Foram para a Fundação. Barbosa tinha a certeza de que o assassino era de lá.

Olívia os recebeu séria e contida. 

— Quero falar com o Camargo e com você.

O rosto dela empalideceu. Camargo os recebeu calmamente. O detetive foi direto ao assunto e disse precisar das digitais dos dois. Virando-se para Olívia, perguntou:

— Quanto você calça?

— 37! Respondeu com os olhos apavorados.

Conferiram as digitais dos dois.

— Você está presa pelo assassinato de seu patrão.

— Não fui eu! Não fui eu! E olhou para Camargo como que pedindo ajuda.

O homem ficou impassível e, desviando o olhar, permaneceu em silêncio.

Barbosa o encarou:

— Você também está detido para averiguações.

— Eu não fiz nada.

— Isso vamos ver

Olívia foi submetida a um intenso interrogatório e acabou por confessar que ela e Camargo possuíam uma loja de artigos para pets, onde lavavam o dinheiro desviado. O estabelecimento estava em nome de uma funcionária a quem prometeram participação nos lucros.

Rodolfo, ao ir à Fundação verificar os trabalhos, notou uma displicência na administração. Equipamentos que não eram consertados e sentiu a insatisfação dos que lá trabalhavam. Enviou, então, um auditor da empresa para analisar o que estava acontecendo e o rombo nas finanças apareceu. A discussão entre ele e Camargo foi fria e muito séria, em que ele ameaçou de entregá-lo a polícia.  Logo que ele saiu, o dirigente chamou Olívia para tramarem o assassinato de Rodolfo.

Barbosa saiu da delegacia exausto.  Aspirou o ar fresco vigorosamente.  Mais um caso resolvido. Entretanto, este deixou marcas profundas em sua vida. A descoberta de um filho desordenara seu caminho.  Amara tanto Helena e ela simplesmente o colocara de lado ao primeiro obstáculo. Apesar disso, precisava avisá-la de que o caso estava encerrado e os assassinos foram presos.

A porta do apartamento foi aberta por Helena, cujo olhar faiscava sentimentos opostos, um sorriso embaraçoso e triste disfarçava o prazer de tornar a vê-lo.

O inspetor a fitou sério:

— Os assassinos de seu marido já estão presos.

A aspereza de sua voz atingiu-a como uma bofetada. Com delicadeza, pediu-lhe que sentasse e trêmula agradeceu seu empenho. Ter sido feita a justiça era o único consolo para ela e Caio.

— Luis Carlos, não tenho conseguido dormir: a morte de Rodolfo, tornar a vê-lo depois de tantos anos…

Ele tentou retrucar, mas ela levantou a mão para não ser interrompida.


— Acho que será justo para você e Caio, que ele conheça a verdade.  Nesses dezoito anos, travei uma batalha íntima por ser tão covarde em enfrentar minha família, ao mesmo tempo, em que era grata pela dedicação e amor que meu marido nos dedicava.


— Helena, nossos caminhos se afastaram há muito tempo. A realidade hoje é outra. Não acho certo contar isso ao Caio, agora, em que ele tem que absorver a morte daquele que ele considera seu pai.  Seria outro grande abalo para o menino.  Talvez depois de um tempo… Respirou fundo e acrescentou: de ele ter vivido seu luto.

Levantou-se, segurou carinhosamente as mãos de Helena:

— Temos um elo, que nos unirá daqui para frente. A amizade pode ser mais profunda que uma paixão.

Não tinha mais raiva dela, apenas compaixão.  Virou-se e saiu.

 

 




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