A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quarta-feira, 4 de outubro de 2023

O VIOLINISTA NO TELHADO - Henrique Schnaider

 



O VIOLINISTA NO TELHADO

Henrique Schnaider

 

Conde Wlad, possuía vários castelos na região da Valáquia, atual República da Moldávia. Era um homem poderoso, muito cruel, com fama de empalar seus inimigos. Era um guerreiro que só conhecia vitórias, percorria suas terras, visitando seus domínios, demonstrando poderio.

Seus aldeões, sentiam o cheiro do sangue pestilento da morte, quando de sua passagem. Se algo lhe desagradasse, os castigos eram severos, terríveis. Havia um sentimento muito grande de medo por parte do povo. Era um misto de temor, respeito e admiração pelo Conde Wlad, dicotomia entre sentir-se protegido pelo seu Grão-senhor, e temor pelas atrocidades de que era capaz.

Suas façanhas eram muitas, a fama corria com a força do vento dentro e fora de seus territórios. Era admirado e temido.

Certa feita, o Conde atravessava a região da antiga Bessarábia, próxima da Aldeia de British One, região da Transilvânia, e chamou-lhe atenção um violinista no telhado. O músico tocava uma melodia judaica tão leve que parecia plainar ao vento. As notas encantaram os ouvidos do guerreiro.


Wlad ordenou que trouxessem aquele mago do violino para ter com ele. O dom da música, Deus dera a um homem simples que ao tocar o violino, imediatamente seduzia quem ouvisse.

Wlad perguntou ao violinista qual era seu nome, ao que ele respondeu, coçando a espessa barba ruiva, numa simplicidade de olhar altivo incomum a uma pessoa do campo: — Moisés, senhor.

Contou que aprendera a tocar com seu pai, que por sua vez, aprendeu com seu avô, e assim, este dom vem através de muitas gerações.

O Conde ordenou que ele tocasse algo, para que apreciasse. Moisés não era apenas um músico, era inteligente e esperto. Então, tocou uma antiga melodia judaica, que justamente falava das crueldades dos senhores feudais, e do Conde Wlad.  Tocou, mas não cantou a melodia, e Wlad que não conhecia a letra, não tinha conhecimento do significado da história que havia por trás daquela música. E, na verdade, o som do violino de Moisés era de uma beleza tão grande que impressionava a todos, que a letra era quase desnecessária.

O Conde Wlad ficou tão maravilhado, que o convidou para seguir com ele sua viagem, e depois, quando voltassem, Moisés poderia morar no castelo onde o Conde fixava residência, na Aldeia de Brina, na região da Transilvânia.

Lá a fama que corria entre os lavradores, era de que o castelo era mal-assombrado, o Conde praticava crueldades contra os inimigos prisioneiros, e os empalava da forma mais cruel possível.

Foi neste ambiente que Moisés foi acolhido por Wlad. Foi lá que passou a morar. Num ambiente com fama de possuir almas penadas, onde a lenda o Conde Wlad que dormia num caixão podia ser verdadeira. Onde, diziam, que às noites, o Conde rondava o castelo matando os prisioneiros e sugando-lhes o sangue, se transformando, em seguida, em um tipo de um morcego Vampiro.

Embalado pela suavidade da música vindo das cordas do violino, o Conde Wlad seguia com muita sede de sangue, o que o levou a atacar a cidade de Corneja, onde uma grande batalha o esperava.

O encontro dos exércitos, foi terrível, sanguinário. Wlad e seus soldados eram implacáveis, não haveria prisioneiros, apenas mortos.

Foram dois meses de atrocidades, até que o Conde tomou de vez a cidade de Corneja, que passou a fazer parte dos territórios do Guerreiro.




Os homens de Corneja sentiram a mão-de-ferro, o amargo sabor da derrota, a terra arrasada, muitos mortos, muitas perdas. O chão de onde brotavam alimentos, agora não nascia sequer o pasto. 

Luta ganha, e o Conde voltou para o castelo na Transilvânia, trazendo com ele centenas de prisioneiros, fonte de abastecimento de sangue.

No trajeto de volta, passou pela Aldeia de British One, onde morava Moisés. Desta vez, Moisés dedilhou uma música de sua autoria. A melodia transcendia o tempo tocando o coração dos ouvintes. A emoção foi tamanha, que o Conde deixou-se chorar, os olhos duros amoleceram.

Novamente, Moisés não cantou a letra, pois, certamente, se o Conde a conhecesse, mandaria matar o violinista.

O músico nem poderia imaginar no sucesso que a letra da música ganhou, foi imortalizada, através dos tempos. E, essa música, cuja Wlad tanto gostara, atravessou séculos e chegou até nosso tempo.  Revelava a letra a história do Conde Drácula, que se transformava em vampiro, que era imortal, voava como morcego, sugava o sangue das pessoas transformando-as em novos vampiros. Drácula só morreria junto com sua maldição, com uma estaca em cruz cravada no peito.     

Dizem as várias lendas que a melodia do violino que Moisés tocava, era tão pura que foi traçando novas emoções nos corações duros. A música foi provocando sentimentos bons, de tal forma que o Conde Wlad e seus vampiros mudaram de vida e pararam de praticar tanto mal. O castelo do Conde Wlad passou a receber as pessoas necessitadas, acolhê-las, e ajudá-las.

E, Moisés viveu ali até seus últimos dias, sempre tocando o violino para manter a paz no coração do Conde Wlad e de seus vampiros. E, o castelo, assim, se viu livre do mal.


* Veja aqui parte do filme O Violinista no Telhado: 

https://www.youtube.com/watch?v=RBHZFYpQ6nc&t=65s

* Veja aqui algumas curiosidades do Conde: https://segredosdomundo.r7.com/vlad-o-empalador/

 

SERIA ASSUSTADOR SE NÃO FOSSE CÔMICO - AULA DE 04 DE OUTUBRO DE 2023

 








Sempre soubemos que as histórias de terror, fantasmas, castelo abandonado, cemitério, escuridão, neblina, gemidos, gritos, ruídos indecifráveis, esses e outros pontos dariam ao texto um ar sombrio ou assustador. Com esse tempero, faz-se um texto de terror, é sabido. 

Mas um cenário desses pode servir também para um texto cômico, não acha? Para testar essa teoria, vamos colocar um protagonista num desses lugares para amedrontá-lo.

No entanto, nosso personagem cético, do tipo durão, prepotente, não acredita em nada que não seja real. Em suma, só acredita vendo.


O QUE O TEXTO EXIGE:



TEXTO CÔMICO: Atmosfera típica, que provoque sensações no leitor.

Personagem do tipo durão, cético, realista.

Ele, de alguma maneira, está num cenário de terror, daqueles assombrosos. No entanto, ele não acredita no que ouve, no que acha que viu, nos odores, não acredita em nada. Ele é de tal forma incrédulo, que chega à prepotência, e isso provoca alguns sentimentos nos “fantasmas”: baixa-estima, insegurança, raiva...

E, quanto mais os fantasmas tentam assustar o personagem, mais ridicularizados eles ficam.

Explorar as figuras de linguagem / Brincar com o ritmo / Utilizar palavras com sonoridade engraçada / Inspirar-se em momentos engraçados da sua vida.


Uma Incrível Aventura - Adelaide Dittmers

 



Uma Incrível Aventura

Adelaide Dittmers

 

Catania é uma bonita e antiga cidade da Sicília, estendida aos pés do Monte Etna, que expele suas chamas de maneira constante, o que a faz receber turistas do mundo inteiro atraídos pelo fascínio de ver de perto um vulcão em atividade.

No aeroporto movimentado, dois jovens brasileiros, com mochilas nas costas, caminham pelos extensos corredores, conversando animados.  Vão realizar um sonho há muito acalentado: chegar quase às bordas da grande cratera do Etna, para assistir ao belo espetáculo do fogo, que salta das entranhas da montanha.

Saem, brincando e provocando-se mutuamente, de quem seria o mais corajoso ao escalar a montanha.  Tinham contratado uma excursão para fazerem esse passeio com segurança. Lá fora, chamam um táxi para levá-los até ao centro da cidade, mas antes admiram a imponente montanha que parece dominar tudo a sua volta.

No percurso, os olhos curiosos passeiam pelo lugar, através das janelas do carro.  A beleza da antiga arquitetura dos prédios e casas provocam comentários entusiasmados dos rapazes.

Ao alcançar a Piazza del Duomo, descem do táxi para continuar a pé até o hostel, onde se hospedarão. Param para fotografar a diferente Fontana dell’Elefante, que exibe a estátua do animal, esculpida com as cinzas do vulcão.

A longa viagem aérea não reflete nenhum cansaço no rosto dos dois.  Ao contrário, Matheus e Thiago vibram a cada descoberta pelo caminho, mas a emoção maior é a visão do majestoso Etna, reinando sobre a cidade, como um grande senhor sobre os seus súditos.  

Chegam ao lugar da hospedagem, tomam um banho e saem para conhecer melhor a cidade. Percorrem vários pontos turísticos.  Deliciam-se com a boa comida italiana.  Paqueram as bonitas jovens que passam por eles e ao fim do dia voltam para descansar e enfrentar no dia seguinte a subida até a cratera daquele senhor irritado, que despeja sua raiva pelos ares.

Aquele 28 de fevereiro amanhece frio.  Os dois jovens despertam ansiosos, empolgados pela viagem que os levará ao topo da intempestiva montanha. Rindo e brincando, engolem rapidamente o café e comem o pão pelo caminho. 

Às oito horas em ponto, pegam o ônibus, que os levará na primeira metade da viagem, até ao teleférico. O guia avisa a todos, que está sendo esperada uma forte erupção para aquele dia e que não poderão chegar perto da grande cratera.  As trilhas de acesso estão proibidas.  Por segurança o passeio será mais curto.

Matheus e Thiago se entreolham.  Uma comunicação silenciosa é feita entre eles.  Afinal, o objetivo de terem vindo era apreciar uma erupção de perto.

Uma hora depois, já no teleférico, se maravilham com a bela vista da cidade, mas o fogo, que sobe para o céu do pico da montanha, atrai os seus olhares como um poderoso imã.

Chegam à altura permitida e são novamente avisados para não se distanciarem do guia.  Os dois seguem o grupo pelos arredores. Em certo ponto do caminho, Thiago aponta com discrição uma trilha, em que há uma tabuleta, que indica o acesso à grande cratera. Os dois diminuem os passos e, sem serem vistos, entram na trilha. 

A escalada é feita em silêncio para não serem percebidos. Apenas o som da respiração forçada pela forte subida é ouvido.  Um leve tremor os desequilibra e eles riem divertidos. A excitação apaga o perigo iminente a que estão expostos. Os olhares não se desviam do belo e tenebroso espetáculo das barulhentas explosões, que levam as chamas para as alturas.

Subitamente, uma explosão violenta sacode a montanha, um grande e intenso fogaréu é expelido e pedras voam pelos ares. Os rapazes são atirados ao chão.   Atordoados, levantam-se devagar e assustados. Matheus quase não consegue firmar o pé.  Uma dor lancinante o faz gemer.  Agora, ao invés de risadas, uma máscara de terror cobre os rostos deles. Não conseguem descer rápido, o tombo não só machucou Matheus, como feriu a região das costelas de Thiago, que procura não se queixar para não assustar mais o amigo. A trilha íngreme é salpicada de pequenas e grandes pedras, em que tropeçam e quase caem, aumentando a dor dos ferimentos. 

A cada explosão, a montanha estremece e os desequilibra, e num desses momentos uma pequena estaca ao lado do caminho se enrosca nas roupas deles, rasgando-as.

Uma nuvem espessa de fumaça negra os atinge.  Os dois começam a tossir e cobrem o nariz e a boca com os panos rasgados das camisetas na tentativa de não sufocarem.  Os olhos começam a lacrimejar, atrapalhando a visão de ambos.  Sentindo que a vida está por um fio, esforçam-se em quase correr, apesar da dor que estão sentindo.

Matheus cai de novo e quer desistir.  Thiago o puxa com a força que lhe resta e o ampara, animando-o a continuar.

Enfim, conseguem chegar ao final da trilha, exaustos se arrastam até o teleférico, que está parado.  Não há mais ninguém lá. Consternados eles colocam as mãos na cabeça e abrem os braços em um movimento de impotência.  Thiago, então, lembra do celular e o procura no bolso, mas não o encontra. Perdeu-o no caminho. Matheus abre a pochete, que milagrosamente, estava ainda presa na sua cintura e retira o dele. As mãos trêmulas mal conseguem digitar o número para pedir socorro. A atenção está presa no gigante, que cospe o seu poderoso fogo interno. Enfraquecidos, seguram-se mutuamente.

Depois de alguns minutos, que lhes pareceu uma eternidade, o teleférico começou a se mover. Os jovens se jogam nas cadeiras, que os levarão para longe daquele inferno. Quando chegam embaixo, um grupo de homens os esperam e os amparando, levam-nos até um carro de bombeiros, que acabou de chegar.  Com a sirene ligada, o carro desce veloz o resto da montanha. No trajeto até o hospital, colocam neles máscaras de oxigênio para limpar os pulmões dos perigosos gases inalados. Matheus perde os sentidos, mas é prontamente atendido.

No hospital, são examinados.  Matheus tem um rompimento em um tendão do joelho e Thiago, duas costelas quebradas e, pelo corpo, ambos sofreram várias escoriações. Mas os médicos os felicitam por estarem vivos. 

Dias depois os ousados rapazes se despedem da bela cidade. Matheus equilibra-se nas duas muletas pelo aeroporto.  Thiago empurra um carrinho com as duas mochilas.  Às vezes uma careta mostra a dor que sente pela fratura das costelas.  Parecem soldados, que voltam de uma guerra.  Afinal, quiseram desafiar o gigante.

Ao sobrevoarem a cidade, olham pela janela do avião o majestoso Etna, que agora, mais calmo, ilumina o céu noturno.  Entreolham-se sorrindo e fazem uma continência respeitosa ao velho vulcão. 

A incrível e perigosa aventura está ficando para trás, mas jamais a esquecerão.

 

 

 

 

 

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