A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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domingo, 17 de janeiro de 2021

O TÍMIDO ESQUELETO BRANQUINHO Um conto bem infantil - Leon Vagliengo

 


O TÍMIDO ESQUELETO BRANQUINHO

Um conto bem infantil

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Branquinho é um esqueleto muito especial. Vive sozinho, não tem filhos, não é casado. Recebeu esse nome justamente porque é, mesmo, muito branquinho. Seu corpo é absolutamente magro, feito só de ossos, e ele não tem medo de engordar, como as pessoas geralmente têm, porque não come nada. Nada mesmo. Além de ser branquinho é também completamente careca, o que o deixa muito engraçado e simpático. É um pouco tímido, mas está sempre sorrindo, e os seus dentes brilham e se destacam em sua cabeça redondinha. Com essa aparência tão leve e inofensiva, não entende porque as pessoas fogem dele apavoradas quando o encontram pelas ruas em seus passeios. Isso o deixa muito triste, porque parece que ninguém gosta dele.

Para evitar que isso aconteça, sabendo que as pessoas geralmente têm medo de locais escuros, quando vai passear prefere sair à noite e andar por ruas menos iluminadas, tentando não cruzar com ninguém. Mas sempre aparece alguém que se assusta ao vê-lo e sai correndo, em desespero, deixando-o cada vez mais chateado.

Ele não, não tem medo do escuro. O que lhe dá medo, de verdade, é encontrar-se com algum cachorro faminto quando sai para passear. Na verdade, ele gosta de cachorros, e tem muita vontade de brincar com eles como fazia quando era uma pessoa inteirinha, mas para um esqueleto esses bichinhos são muito perigosos porque gostam de roer ossos. Sabendo como os cachorros gostam de roer ossos, Branquinho já imagina o quanto os cachorros gostariam dele. Mas, que pena! Desse jeito não, não é assim que ele espera ser querido.

Uma vez ele resolveu se aventurar. Aproveitou que estava chovendo um pouco, criou coragem e se arriscou a sair em plena luz do dia, pois estava com muita vontade de passear e não esperou o anoitecer. Para não ser visto e não espantar ninguém, como sempre, caminhou pelas ruas que lhe pareceram mais tranquilas, com a esperança de que as pessoas não estivessem circulando por causa da chuva. Levou um grande guarda-chuva preto, que serviria para que não se molhasse e também para escondê-lo, caso encontrasse alguém no caminho. Se surgisse alguém, abaixaria o guarda-chuva e ficaria atrás dele.

Quase deu certo. Passou uma pessoa, ele se escondeu atrás do guarda-chuva e não foi visto; depois passou outra, também não o viu escondido. Foi fácil porque eram poucas pessoas. Porém, com a atenção voltada para o movimento na calçada, não se lembrou de se esconder de quem passasse de carro.

E não é que vieram dois carros ao mesmo tempo, um de cada lado? Quando os dois motoristas viram aquele esqueleto, caminhando pela rua em plena luz do dia e ainda segurando um guarda-chuva, se assustaram, perderam o controle da direção e deram uma bela e barulhenta trombada: BLUUUM!

Percebendo que tinha provocado um acidente, Branquinho também se assustou, arrependeu-se de ter saído para passear durante o dia e resolveu correr de volta para casa; mas errou o caminho, entrou numa rua movimentada, cheia de gente. Naquela corrida maluca os seus ossos estalavam, fazendo muito barulho plec, plec, plec chamando a atenção de todo mundo por onde passava e causando um grande alvoroço, muita gente fugindo e gritando, assustada com aquele esqueleto que apareceu de repente correndo por ali.

Era tudo o que Branquinho não queria.

Nesse momento a chuva diminuiu e agora era apenas uma garoa, mas ele ainda estava longe de casa. Foi quando começou um vento muito forte, carregando muitas folhas das árvores bem na direção da sua casa. Então, teve a ideia de levantar o guarda-chuva para que o vento o carregasse também, pois é levezinho e iria muito mais rápido, sobrevoando aquela gente toda.

E assim foi.

Logo, ao passar por uma esquina voando pendurado no guarda-chuva, viu um jacaré verde que estava lambendo um sorvete de morango. Indignou-se com aquela invasão, mas não conseguiu parar para discutir, pois a ventania o levava. Porém, não conteve a exclamação:

Que atrevimento! Esta não é história de jacaré! E ainda mais de um jacaré tomando sorvete!  Será que eu vi direito? Que absurdo!

Por sorte, justamente aquele jacaré verde que apareceu de repente na história errada, todo lampeiro, chupando sorvete de morango sem ligar para a chuva, serviu para apavorar ainda mais as pessoas, que já estavam assustadas com o esqueleto e agora corriam e gritavam também com medo de levar uma mordida do jacaré. Bobagem delas, era um jacaré bem mansinho.

Foi a maior confusão!

Pendurado no guarda-chuva e levado pelo vento, Branquinho foi deixando tudo para trás e finalmente conseguiu chegar a sua casa, parar segurando-se no galho de uma árvore e aterrissar em seu quintal. Seu alívio foi tão grande que até achou graça quando se lembrou do jacaré e nem ficou bravo com a invasão de sua história. Mas desse dia em diante nunca mais se esqueceu do tremendo susto e das fortes emoções que teve ao sair à luz do dia. Agora só passeia à noite, mesmo.

            Por falar nisso, quem sabe você ainda se encontra com o Branquinho numa rua escura qualquer noite dessas, hein?     

RAIVA ARDE E NÃO ACABA BEM - Claudionor Dias da Costa

 

                                                 


RAIVA ARDE E NÃO ACABA BEM

Claudionor Dias da Costa            

                  

                    Sentado na varanda de casa naquela tarde quente e tranquila de verão, tomando gostosa cerveja gelada e olhando nuvens de formatos curiosos, as imagens de minha alegre infância vinham à mente aos borbotões. Fiquei matutando com a cara risonha do Zé Pudim, folclórico amigo de infância. Como era bom aquele menino tímido e, por ser um tanto quanto rechonchudo surgiu o apelido, pois quando corria balançava a barriga e era motivo de risadas da turma endiabrada de moleques daqueles bons tempos.

                     A nostalgia me faz cismar sobre a personalidade daquele amigo que sempre procurava ajudar e agradar e não fazia conta do apelido e das gozações. Ele participava de todas as brincadeiras e até no futebol não era tão mau jogador e, quando disputávamos partidas contra a turma da rua de cima aparentava ser forte e nossos adversários até o respeitavam.

                    Ele foi criado por sua tia Lilica, que por sua vez tinha três filhos e uma filha, tendo sido abandonada por seu marido, assumindo a responsabilidade de criar todos. Era uma mulher de fibra, trabalhadora e muito amorosa e conseguia manter a disciplina deles.

                     Assim, aquele garoto tinha a simpatia de nosso grupo e dos vizinhos adultos pela sua educação, amabilidade e sorriso franco. Enfim, o que se denomina “um boa praça”.

                     A seguir, conto o que aconteceu conosco e principalmente com o Zé Pudim.

                   Nesses pensamentos surgiu a aventura vivida por nossa turma num dia em que combinamos de provocar os cães do rabugento velho Menelau Ortega. Nós o apelidamos de Menelau “Urtiga”, aquela planta que arde demais quando tocada, devido ao seu temperamento. Muito raivoso, mal-educado, conservava sempre um olhar ameaçador. Este homem não se dava bem com nenhum vizinho e não tolerava proximidade dos outros. Casado com Dona. Hermengarda, que para variar, apelidamos de “Espingarda”. Formavam um casal perfeito, voltados para tudo que era ruim na nossa avaliação infantil e que se pudéssemos os expulsaríamos do mundo.

                    A antipatia daquele casal era um prato cheio para que em nossas maquinações do que aprontar, tivessem um sentido de vingança que nos dava mais satisfação por aumentarmos aquele rancor naquela pessoa ignorante.

                    Assim, à noite como era nosso costume fomos à rua brincar.

                    Com nosso plano perfeito, sorrateiramente nos dirigimos à casa do velho Urtiga. Nossos corações batiam mais aceleradamente e ficávamos empurrando uns aos outros para ver quem ia na frente. Sobrou para o Zé Pudim.

                     A casa antiga estava situada num terreno bem grande, possuía uma lateral de cada lado que ia ao fundo do quintal. Já sabíamos que do lado esquerdo, poderíamos ter acesso porque possuía um portão gradeado de ferro e os cães não teriam acesso. O muro de entrada na rua era baixo.

                    Desta forma, pulamos facilmente e caminhamos pela lateral até os fundos.

De repente, os cães nos viram e vieram correndo até o gradil latindo muito e rosnando com agressividade. É o que queríamos para provocar.

Aquele ruido agudo fez com que o velho Urtiga olhasse pela janela de cima do sobrado. Se deu conta do que acontecia, urrou como uma fera e principiou a descer ameaçadoramente. Disparamos desabaladamente, saímos à rua e quando olhamos para trás vimos o Urtiga com uma espingarda na mão, soltando muitos palavrões. O medo tomou conta da turma e tratamos de nos safar. O Zé Pudim, coitado ficou para trás e bem mais próximo do perigo. Só escutamos um tiro e vimos nosso amigo cair ao chão, gritando muito. Até paramos e pudemos ver o velho ir embora apressadamente, talvez por medo das consequências.

Nesse momento, o Sr. Álvaro, nosso vizinho se aproximou e fomos todos ver o que havia acontecido com o Zé Pudim. Ele chorava muito e o Sr. Álvaro examinou e viu que ele havia recebido um tiro nas nádegas. Para alívio nosso ele exclamou:

                        — Deve estar doendo muito, mas, foi um tiro de sal. Este era um procedimento usado para espantar intrusos.

                           Zé Pudim foi levado ao médico e tratado voltou para casa.

                           Nos dias que se passaram fomos visitar nosso amigo que nos contou a sensação de dor, precisava dormir de bruços e o bom tratamento que recebia da mãe.

                           Os protestos de todos contra o velho Urtiga foi se tornando intenso por esse fato e outros. Tanta pressão redundou na mudança dele para outra cidade. Trabalhou de meeiro numa fazenda e se meteu em brigas e confusões. Até que soubemos que foi morto numa dessas ocasiões devido ter agredido um outro agricultor.

                           Quanto ao Zé Pudim, teve que aguentar as gozações da turma que passaram a chamá-lo de “Bundão carimbado”. Até ele achava engraçado

                           Éramos felizes e esse personagem de nossa infância bondoso e amigo de todos surpreendeu mais ainda por ter se transformado num grande médico cirurgião.

AMADO, O JACARÉ PROTAGONISTA Versinhos infantis - Leon Vagliengo

 



AMADO, O JACARÉ PROTAGONISTA

Versinhos infantis

Leon Vagliengo

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Olá, meu amiguinho!

Permita que eu me apresente:

Eu sou um jacarezinho,

Mas sou muito diferente.

Não moro numa lagoa,

Nem mesmo moro num rio.

Não fico dormindo à toa,

Pode dizer quem me viu.

Mas onde será que eu moro?

Você vai me perguntar.

Tua paciência eu imploro

Para poder te explicar.

Eu moro nos livros de história,

Trabalho aqui como ator.

Você me terá na memória

Se eu despertar teu amor.

Um jacaré personagem

Parece um pouco esquisito.

Mas te oferece a viagem

A um mundo muito bonito.

Nesse mundo existe ilusão,

E há também muita alegria,

Que aquecem a imaginação

E alimentam a sabedoria.

 

Aqui não existe impossível.

Cada coisa que acontece!

Por mais que pareça incrível,

Você nunca se aborrece.

Onde mais você acharia

Jacaré lambendo sorvete?

Por mais que você sorria,

Saiba que tem no livrete.

Uma vez eu me enganei

E entrei na história errada.

Um esqueleto assustei

Que passava em revoada.

Ele pareceu não gostar

Dessa minha intromissão.

Nem pude me desculpar,

Parecia um avião!

Num guarda-chuva pendurado

E levado pelo vento,

Foi-se embora apressado

Sem nenhum entendimento.

Isso pode acontecer,

Mas não prejudica em nada.

A história dá mais prazer

Quando é assim contada.

 

Espero que tenha gostado

De minha apresentação.

Meu nome é Jacaré Amado,

A sua disposição.


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