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quarta-feira, 2 de março de 2022

O REI DA TAPIOCA - Henrique Schnaider




O REI DA TAPIOCA

Henrique Schnaider 


Juarez nasceu dentro de um lar pobre e totalmente desestruturado. A mãe Rita era carinhosa, dava atenção em tempo integral ao filho, enchendo-o de mimos e carinhos. Dizia “ por pior que seja a situação na vida, sempre mantenha o bom humor e a alegria de viver”.

O pai Antunes, bêbado inveterado, não parava em emprego nenhum. Vivia no boteco do Cabeção, pendurando a conta que só crescia. Lá pelas tantas, cambaleando chegava em casa, e do nada arrumava motivos para agredir a família.  

O que mais irritava a Antunes é que apesar de ele infernizar a mulher e o filho, os dois continuavam a sorrir não perdendo o bom humor. Isso acabava por desconcertar ao pai que tratava de ir dormir.

Juarez às vezes ficava triste devido à miséria e à vida infeliz que levavam., ele e os pais. Mas, logo lembrava dos conselhos da mãe, um bálsamo na vida do pobre menino. Devido à vida de humilhação, o objetivo dele era de um dia ser rico. Este sentimento agora crescia, um bolo bem-feito com a ajuda do fermento.

A família, para não passar fome, vivia de doações. Rita aceitava de bom grado tudo que recebia. As roupas e sapatos que Juarez usava, eram números bem acima do dele. Quando ia para a escola muito malvestido, os colegas não o perdoavam e caçoavam dele, inclusive lhe apelidaram de Patatí (palhaço famoso pelo sapato enorme que usava).

Apesar das tantas agruras, Juarez vivia demonstrando seu bom astral.  Aos 15 anos começou a trabalhar, além de estudar. Ajudava em casa, e conseguia juntar uns caraminguás, para poder comprar roupas e sapatos usados, mas que eram seu número. Assim, a aparência melhorou.

Trabalhou no mesmo emprego dos 15 aos 18 anos, sempre ajudando em casa, onde as coisas iam de mal a pior. O pai de tanto beber, acabou morrendo de cirrose hepática. Juarez, agora mais do que nunca, além de manter e ajudar a mãe, poupava um pouco de dinheiro para realizar o sonho de fabricar e vender tapiocas.  “Vou ficar muito rico com esse negócio! ”.

Finalmente, com um bom dinheiro guardado, largou o emprego e começou em casa, com a ajuda da mãe, a fazer e vender tapioca. Era um empreendimento modesto ainda, mas Juarez estruturou muito bem sua carteira de clientes.

Dessa forma o negócio progrediu, e se ampliou a tal ponto que Juarez ficou conhecido como o rei da tapioca. Chegou a ter 50 empregados. 

Acabou conhecendo o luxo e a riqueza, mas sempre mantendo o lema de sua mãe já falecida, do bom astral, alegria e sempre com um sorriso no rosto. Casou-se e a felicidade se completou com a chegada dos 3 filhos, mas parece que os bons tempos não duraram para sempre.

Juarez acabou metendo os pés pelas mãos em maus negócios nos quais foi sempre aconselhado por um vigarista que lhe deu um golpe enorme e Juarez perdeu tudo. Voltando à miséria, ele e a família. Apesar do desastre financeiro, o agora empresário falido, não esqueceu o lema de sua mãe e não perdeu o sorriso e a esperança de superar as dificuldades.

Dessa forma aquele menino que tanto sofreu na infância, mas que aprendeu, que sempre haveria uma forma de conseguir ultrapassar, tudo de ruim que a vida lhe proporcionasse. Agora já um homem na casa dos 50 anos de idade, outra vez na miséria e sentado numa cadeira de balanço, na varanda da casa onde estavam morando de favor, fechou os olhos, lembrou da querida mãe, já tão distante em outro mundo, e de suas sábias palavras de incentivo. Sorriu com a certeza de que bons tempos viriam de novo.


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