A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

O segredo - Adelaide Dittmers

 


O segredo

Adelaide Dittmers

 

Rogério atendeu ao telefone no escritório.  A expressão de seu rosto tornou-se dura e contrariada.  De forma gélida e ríspida, disse à pessoa do outro lado, que não podia conversar naquele momento.  Mentiu que estava em reunião. Uma voz estridente soou no seu ouvido.  Com raiva, desligou o telefone.

Colocou as mãos sobre o rosto.  Isso não podia continuar.  A pressão que estava sofrendo estava ficando cada vez mais insuportável, mas como poderia resolver a situação sem revelar o segredo que guardava há anos e que, se tornado público, iria desestabilizar sua vida e colocar em risco a fama de homem honesto e de caráter ilibado.  Tinha que achar uma solução para que não viesse à tona.

Tentou ler os papéis, que cobriam a escrivaninha, mas não conseguiu se concentrar.  Levantou-se, pegou o paletó e saiu da sala, avisando a secretária, que tinha um compromisso particular.

Chegou à casa com um semblante carregado.  Luísa, sua mulher, olhou-o surpresa.  Ele nunca chegava tão cedo.

— O que você tem?  Aconteceu alguma coisa?

— Estou com uma baita dor de cabeça.  Vou tomar um comprimido e me deitar um pouco.

Preocupada, ela argumentou:

— Você nunca tem dor de cabeça.  Será que não é melhor ligar para o Dr. Osvaldo?

— Imagina!  Tive insônia à noite.  Estou com um problema difícil de resolver no trabalho.  Acho que é estresse.

O olhar penetrante e interrogativo de Luísa acompanhou-o enquanto ele subia as escadas. Ultimamente andava estranho e nervoso.  Irritava-se por qualquer coisa.  A justificativa do problema no trabalho não a convenceu.  Sempre foi um homem seguro e hábil em resolver questões desafiadoras.

Sentou-se na poltrona da sala de estar e pegou um livro e antes de abri-lo olhou em volta.  O ambiente tinha mobília leve e clara.  Tapete, objetos e quadros em perfeita harmonia.  A casa era um retrato dela.  A vida devia ser assim, com tudo no seu devido lugar.  Colocou o livro no colo e começou a divagar.  Tinha uma vida boa, fez várias viagens pelo mundo, partilhava momentos felizes com muitos amigos, nada lhe faltava: roupas caras, joias e tudo o que o dinheiro pode comprar.  O único empecilho para sua paz, no entanto, era o segredo, que guardava há tanto tempo, que amargava seu caminhar e que não podia contar a ninguém para sua vida não desabar como um prédio velho e mal construído.

Nesse momento, Diana entrou na sala, como um furacão, mochila nas costas, as chaves do carro na mão.  Bonita e, cheia de energia, estava sempre correndo, como se a vida fosse lhe fugir.  Estava no último ano da faculdade de jornalismo.  Inteligente, curiosa e ativa iria se dar bem na profissão escolhida, pensou a mãe sorrindo para ela.

— Oi mãe! Tudo bem?  Tive que fazer uma entrevista com um político do alto escalão.  Foi demais! Acho que me saí bem.  Despejou ela, quase sem respirar, sobre a mãe.

— Parabéns, filha!

— Estou fazendo tudo para ser contratada depois do estágio.  Imagina, mãe, eu trabalhar nesse jornal tão importante no país.

Beijou a mãe e continuou:

— Vou subir para tomar um banho! Já volto para contar tudo para você.

A jovem e a mochila foram pela escada acima.  Luísa seguiu com um olhar carinhoso.  Que ela nunca descobrisse o segredo.  Então a mãe gritou:

— Não faça barulho, seu pai voltou do trabalho com dor de cabeça!

Diana parou pensativa em um dos degraus, e depois continuou a subir mais devagar.  No quarto, jogou a mochila na cama.  Despiu as roupas, que foram jogadas em uma cadeira e foi para o chuveiro.  A água tépida caiu como uma bênção no seu corpo. Foi um dia exaustivo e desafiador. Estava feliz com a profissão que escolhera.  Sempre colhia elogios dos professores. A única pedra em seu caminho era o segredo, que descobrira há pouco tempo, deixando-a arrasada.  Às vezes, tinha vontade de atirá-lo aos quatro ventos, mas a coragem lhe faltava.

Mais tarde o jantar foi servido.  O silêncio reinava na sala. Somente o ruído dos talheres era ouvido.   Diana, quis quebrar o gelo, perguntando ao pai como se sentia.

— Estou melhor! - E sem levantar a cabeça, continuou a comer.

Ela, então, começou a contar como a entrevista transcorreu, mas percebeu que Rogério estava longe. Apenas balançava a cabeça para disfarçar que não estava ouvindo. Diana parou de falar e mãe e filha trocaram olhares preocupados.  Terminado o jantar, Rogério levantou-se e deu boa noite para as duas mulheres.

— O que está acontecendo com ele?

— Não sei.  Disse que era um problema de trabalho.

No dia seguinte, Rogério saiu muito cedo e recusou o café da manhã, no entanto só chegou ao escritório às onze horas.  Entrou apressado, fisionomia fechada.  Um “bom-dia” seco foi jogado à secretária, que notou a palidez no rosto do chefe.  Chamou-a e disse que não queria ser incomodado.

Tirou o paletó, sentou-se e afrouxou o nó da gravata.  Sentia-se sufocado.  O que aconteceria se fosse revelado o que guardara por tanto tempo.  Era refém daquele maldito segredo.

De repente, uma dor aguda apertou o seu peito, o suor escorreu pelas têmporas, tentou aspirar o ar, que lhe fugia.  Com dificuldade chamou a secretária, que se assustou ao ver o estado do chefe.  Com rapidez, ligou para o departamento médico e logo Rogério foi atendido, mas apesar dos esforços do médico, não resistiu.

O velório estava cheio.  Muito estimado, ninguém se conformava com a morte súbita dele.  Luísa e Diana muito abatidas aproximaram-se do caixão.  Abraçadas, consolavam-se mutuamente.  A mãe olhou para o marido, que foi o amor de sua vida.  Quanto sofrimento ela aguentou firme.  A filha pensou que agora o segredo nunca seria revelado.

Nesse momento, uma mulher desconhecida e dois jovens adolescentes entraram e chegaram perto do morto.  Luísa e Diana fixaram o olhar nela.  A mulher sustentou o olhar de mãe e da filha, com os olhos cheios de ódio e depositou uma rosa no peito do morto.  Os jovens tentavam esconder as lágrimas que teimavam em deslizar pelos seus rostos.

Luísa e Diana entreolharam-se, e Diana puxou a mãe para fora da sala.  No jardim, que cercava aquele lugar lúgubre, novamente uma olhou para a outra com compaixão e perceberam que ambas sabiam de tudo e intimamente se perguntaram se aquele segredo iria morrer com Rogério ou seria revelado.

 

O SEGREDO DE REBECA - Henrique Schnaider

 



O SEGREDO DE REBECA

Henrique Schnaider

Rebeca era uma pessoa de gênio bom, cordata e desde menina, a santinha aos olhos da família. Ia muito bem em tudo e desde os primeiros estudos, já se destacava das outras meninas. Era sempre a primeira da classe, exemplo para as coleguinhas. Dessa forma sempre recebia prêmios como melhor aluna da classe.

Sempre se destacando, chegou à Faculdade fez vestibular e entrou com um pé nas costas em primeiro lugar no curso de Psicologia. Durante os estudos conheceu Aníbal, colega de classe, inteligente e culto, se destacando assim como ela dos demais colegas.

Rebeca se interessou pelo rapaz, pois além de bom aluno era um homem atraente. A recíproca foi verdadeira já que Aníbal viu em Rebeca a mulher dos seus sonhos. Começaram a sair e os encontros se tornaram frequentes.

O amor desabrochou na vida dos dois. Na paixão e na admiração pelas pessoas que eram. Depois do namoro veio o noivado que logo aconteceu com o apoio da família de ambos. A vida dos dois exalava felicidade, amor e encanto.

Na formatura de ambos, Rebeca foi escolhida para a Paraninfa da turma com o apoio entusiasmado de Aníbal. Se casaram logo depois numa festa de arromba inesquecível. Queriam os dois que aquele momento não terminasse nunca.

Depois de dois anos de convivência feliz, nasceu Dora, fruto do amor, uma linda menina.

Tudo ia na mais completa felicidade e harmonia. Dora cresceu num lar perfeito e já estava com doze anos quando os fatos trágicos se sucederam. Sempre tem um “mas”.

Tinham como vizinhos Armando e Nilda, casal sem filhos. Com o tempo a amizade foi crescendo e se tornaram muito próximos. Rebeca começa a sentir uma atração crescente por Armando. Ele por sua vez demonstrou o mesmo interesse por ela e assim começaram os encontros furtivos.

Certo dia Rebeca e Armando estavam na casa dele se beijando loucamente certos de Nilda não estivesse em casa, quando de repente ela entra na sala e pega os dois numa situação inexplicável. O clima se tornou pesado e começou uma discussão violenta entre Armando e Nilda. Em seguida Armando agrediu violentamente a esposa que caiu batendo a cabeça na quina da escada, causando um traumatismo craneano.

Armando e Rebeca ficaram ali se olhando por um tempo sem saber o que fazer. O rapaz despertou daquele choque, pois não teve intenção de matar a esposa. Imediatamente colocou a mulher no carro e partiu em desabalada carreira rumo ao Hospital.

Para infortúnio do Armando, Nilda já chegou morta sem chances de ser socorrida. O marido declarou que a mulher quando se dirigia à escada, tropeçou e bateu com a cabeça na quina.

O álibi foi perfeito e a polícia encerrou o caso sem maiores problemas, acreditando na versão de Armando que disse que Rebeca tinha vindo visitar Nilda e viu quando a tragédia aconteceu. Ele não teve mais coragem de olhar e conversar sequer com Rebeca. Armando tratou de mudar-se dali para bem longe e nunca mais se viram.

Rebeca nunca mais teve paz na vida e possuía um sentimento múltiplo arrasando com ela, um misto de arrependimento pela traição ao marido. Por ser testemunha participante de um crime culposo que nunca mais deixaria seus pensamentos e a torturava o tempo todo. Também pelo fato de ter se omitido de revelar a verdade ao Delegado.

O marido Aníbal e a filha Dora desconfiavam que Rebeca guardava um segredo sobre os acontecimentos trágicos na casa vizinha e por mais que a pressionassem, não conseguiam arrancar dela uma única palavra,  e pensava ela:

“Como poderei contar o verdadeiro acontecido? Traição, omissão, incapacidade de superar tudo pelo que passou.”

Rebeca estava desesperada ao ponto de pensar em suicídio ou revelar toda a verdade. Até que um dia, já à beira da loucura, pediu ao marido e a filha que fossem junto com ela à delegacia pois queria prestar um testemunho sobre a verdade de tudo o que havia acontecido naquele fatídico dia.

Será que a polícia iria atrás de Armando por não ter contado a verdade no seu depoimento? Aníbal e Dora depois de tomarem conhecimento de toda a verdade, vão perdoar Rebeca e a vida poderá voltar como era antes? Aguardem os próximos capítulos. 

 

FÉ E DESCONFIANÇA - Helio Salema

 


FÉ E DESCONFIANÇA

FÉ em DEUS, desconfiança das pessoas

Helio F. Salema                   

 

   CAPÍTULO UM

 

No início do outono, às tardes, a temperatura era mais agradável. Senhoras colocavam cadeiras nas estreitas calçadas, para “pegar uma fresca”. As pessoas eram forçadas a passar bem devagar e assim não deixavam de cumprimentar as moradoras. Algumas até paravam e entrosavam uma prosa. Aquelas que não queriam conversa passavam pelo meio da rua, apressadas. Era assim a vida naquela pequena cidade.

Como um trovão que chega sem o menor sinal de chuva, carros da polícia passavam pelas ruas da tranquila cidade de Santa Felicidade assustando os moradores. Ninguém conseguia imaginar a razão de tantas viaturas.

Nem as mais afinadas fofoqueiras suspeitavam do motivo. Alguns mais afoitos seguiram na mesma direção para serem os primeiros a saberem das últimas.

O comboio parou em frente à igreja. Os policiais desceram e se posicionaram junto à porta, como se esperassem alguém lá de dentro sair. Minutos passaram e mais pessoas foram se concentrando na praça em frente à igreja.

Vários policiais se dirigiram apressadamente para o lado da igreja, onde o padre, por uma porta, saía vestido com roupas de cidadão comum. Ao ver os policiais correu em direção à mata. Foi capturado minutos depois. Sem demonstrar qualquer sinal de reação, caminhou lentamente de cabeça baixa e entrou na viatura.

Nesse momento chegou ao local o Sr. Prefeito. O oficial de justiça comunicou-lhe que o falso padre era um prisioneiro. Também lhe foi dito que uma pessoa, na capital, havia pedido investigação sobre o padre. Ao apresentar a foto de um batizado, imediatamente, foi reconhecido o fugitivo. Condenado como golpista e por tentativa frustrada de estupro.

 

                      CAPÍTULO DOIS

 

O falso padre chegou à cidade poucos dias após o falecimento do padre Hilário. Foi direto à igreja e se apresentou como o substituto. Por ter estudado em colégio religioso, não teve dificuldades de adaptação. Bom de conversa foi logo conquistando a confiança das pessoas mais ligadas à igreja.

Falava de sua infância de menino pobre, sem presentes, sem roupas novas, só as usadas quando alguém de bom coração doava. Não passou fome, mas muitas vezes um pequeno pão era dividido para quatro.

Tinha imensa e inabalável fé em Deus, e até confessou ser devoto de São Sebastião, padroeiro da cidade. O que o teria deixado muito feliz ao saber que viria, justamente para esta paróquia. Preocupado com o futuro da humanidade defendia a família e os bons costumes.

Sendo um bom ouvinte e atento a todos que o procuravam, não teve dificuldades em obter a confiança dos fiéis. Além de padre, também era um amigo para todas as horas e situações. Várias vezes foi chamado para resolver briga de vizinhos ou até mesmo de família.

Sua calma, voz suave e paciência para ouvir, muito contribuíram para resolver os conflitos. Assim foi conseguindo a confiança total das pessoas que o procuravam, em momentos difíceis ou de desespero.

Aquela situação de salvador de todos o fez, aos poucos, mudar sutilmente seu comportamento.

Ao perceber que era respeitado e admirado, passou a se interessar em saber tudo sobre todos. Mas percebeu que eram poucos os que se confessavam com frequência. Então passou a exigir de cada frequentador a confissão pelo menos uma vez por semana.

Conseguiu aumentar bastante a participação dos fiéis na confissão semanal. Algumas pessoas não tiveram dificuldades em relatar coisas que até aquele momento, jamais haviam pensado em revelar. Outras com muito custo, e graças à insistência do padre, se expuseram a tal ponto de mencionar fatos que antes não tinham sequer coragem de pensar. E assim com bastante habilidade conseguiu estimular até confissões íntimas.

Para aquelas que não aceitavam tal exigência, por não terem facilidade em se expressar ou por não verem necessidade, ele alegava ser necessário, sim, para o desenvolvimento espiritual de cada um ou ficaria esse sofrendo junto aos maus espíritos.

 

                CAPÍTULO TRÊS


No entanto, havia um grupo que resistia a cumprir esta exigência.

Entre eles estava Severino, que sempre participou das atividades desde sua adolescência. Depois de casado, junto com a esposa, que também era católica fervorosa. Após o falecimento da esposa, ele encontrou na igreja e nos fiéis, um apoio que lhe valeu muito.

Desde a chegada do novo padre ele sempre manteve certa distância, pois o mesmo não lhe parecia confiável.

Mais preocupado ficou quando numa noite ao passar próximo à igreja viu uma senhora saindo apressada da porta lateral da igreja, justamente a que dava acesso aos aposentos do padre. Assim que ela virou a esquina, Severino correu para tentar alcançá-la. Mas ao chegar à esquina viu a rua totalmente deserta. Caminhou até o final e constatou que todas as casas estavam às escuras reinando absoluto silêncio. Ficou por alguns segundos pensando se era uma pessoa, apenas um vulto, assombração ou alma de outro mundo.

Desesperançoso e ofegante voltou para casa. Assim que entrou, ajoelhou-se e rezou por um longo tempo. Aquela cena não saía da sua cabeça, cada dia que passava, mais intrigado ficava. Por vários dias ficou tentando lembrar-se de detalhes. Altura, tipo de roupa, mas nada de especial que pudesse ajudar na identificação. Até mesmo a sombrinha era semelhante às outras que ele via na rua.

Resolveu então caminhar à noite passando várias vezes pelo mesmo local e em horários diferentes. Os dias foram passando e o desânimo aumentando.


           CAPÍTULO QUATRO

 

Com a chegada da Semana Santa várias famílias vieram à Santa Felicidade aproveitando o feriado para rever os familiares e amigos. Foram dias de muita alegria para os moradores daquela pequena e sossegada cidade.

Severino pôde rever amigos, saber das novidades da capital e também sentir a falta de outros que desta vez não vieram.

Foi grande a satisfação em rever Agostinho, sobrinho de sua falecida esposa, há muito tempo residindo na capital. Lembranças do tempo que este era seu companheiro nas pescarias, época que pescar era a principal distração de ambos.

Também Agostinho disse que sentia saudades de quando Severino lhe ensinava técnicas importantes para o jogo de damas, geralmente após o jantar. A cada momento que eles se recordavam de algum momento especial, riram como duas crianças no dia de Natal.

Agostinho, porém, interrompeu a euforia quando perguntou sobre o padre:

— Tio quem é esse padre novato que está querendo “bagunçar” com a fé e a cabeça das pessoas?

— Ehh!  Também a minha cabeça anda “sacolejando”. Não sei onde isso vai parar.

— Ainda bem que eu não frequento igreja, mas acho que as pessoas precisam ser respeitadas.

Subitamente, chegam até eles outros amigos do Agostinho.

Após um pouco de prosa, eles se despediram de Severino e seguiram para se reunirem com outros amigos de infância.

 

    CAPÍTULO CINCO

 

Passadas algumas semanas, Severino resolveu voltar a frequentar a igreja. Mesmo a contragosto decidiu fazer a comunhão semanal. Aproveitava também para numa longa conversa com o padre, talvez ganhar a confiança dele, e quem sabe, em algum momento, ter uma revelação. Eram assuntos dos mais diversos. Assim eles foram trocando informações pessoais.

Foi numa dessas confabulações, que Severino distraidamente relatou um fato guardado em segredo por muitos anos. Uma tentativa de estupro não concretizado. Impedido por familiares da vítima. Para evitar ser agredido teve que sair, imediatamente, daquela localidade, às pressas, e nunca mais voltar.

Na primeira missa, após a confissão de Severino, com a igreja lotada de fieis, durante o sermão, o padre falou do terrível pecado do estupro. Mesmo sendo impedido. O fato de haver a insana intenção já era objeto de condenação sumária. Prosseguiu dizendo que alguém ali presente havia sido autor, em outros tempos, o que não o eximia da culpa.

Severino sentiu a punhalada, forte e certeira, no seu coração. Minutos depois saía arrasado e se arrastando, moralmente.

 

             CAPÍTULO SEIS

 

Após a saída dos policiais, os curiosos se aproximaram do Sr. Prefeito para ouvir o que ele relatava aos seus amigos mais chegados. Severino que a tudo observava de longe, também se aproximou.

Ouviu atentamente as perguntas dos mais afoitos e toda a explicação do Sr. Prefeito, principalmente quando disse que o falso padre fugiu da cadeia e que havia sido condenado por práticas de golpes e tentativa de estupro.

Severino ergue a cabeça, fixa os olhos na torre da igreja e quase sussurrando:

— A JUSTIÇA DIVINA tarda, mas não falha.

 

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